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ARTE

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

TEIXEIRA DE PASCOAES - IDÍLIO



A luz do teu olhar,
Funde meu corpo em sonho, em lágrima e luar!
Teu divino sorriso
É voz de anjo a mandar-me entrar no Paraíso...
Teu sorriso que lembra a doce aurora,
Minhas lágrimas tristes evapora
E nos teus olhos fica a tua imagem bela...
Assim o fresco orvalho matutino
Onde encantado vive o sol menino,
Deixa nas brancas rosas uma estrela...

Ao descobrir-te, flor,
Todo me exalto e elevo em cânticos de amor,
Perco-me na amplidão...
Sou asa entontecida, aroma, comoção,
Se me tocam, de leve,
Os teus olhos de chama e as tuas mãos de neve!

Sou como gota de água,
Que, sob o teu olhar, se esvai em clara mágoa;
E em neve cristaliza,
Quando a beija, no outono, um teu suspiro, - a brisa.

Todo o meu ser palpita,
Chora, canta, dá luz, soluça e grita;
É oração, queixume,
Relâmpago, nevoeiro, onda do mar, perfume,
Quando da tua face
Alegre rosa nasce.

E de ti se desprende o encanto da manhã
Que é a tua sombra mística e pagã;
Quando teu corpo, flor, aos ventos estremece
E aureolado de beijos, resplandece
E lembra o sol a arder.

Ó Primavera! Imagem de mulher!
Deslumbra a noite, as nuvens incendeia
E a morta lua cheia...
Quebra as marmóreas tampas sepulcrais!
Que regressem à vida os corpos espectrais.
Liberta os arvoredos
E as ondas abraçadas aos penedos!
Faz chorar de ternura
Os abutres no ninho, os leões na selva escura!
As almas embriaga;
Infiltra-te no mar, sensibiliza a fraga
E ouvi-la-ás chorar!
Embebe-te na luz e muda-a em doce olhar.
Seja no Azul profundo
Lágrima a tremular e a cintilar o mundo;
Enternecida esfera,
Toda ela a palpitar de amor e primavera.

Estrela, flor, mulher!
Mulher, ave a cantar, aurora a resplender!
Mulher, rio sonhando ao longo das campinas.
Mulher, névoa tentando as asas matutinas.
Mulher, árvore piedosa;
Mulher, triste martírio, enamorada rosa!
Mulher, onda do mar bailando com o vento.
Mulher, brisa outonal, crepúsculo cinzento,
Floresta que ao sol canta e ao luar murmura...
Mulher, esperança, dor, amor, graça e candura.
Mulher, fonte que chora e que deseja,
Mulher, mulher, mulher, é a terra que o sol beija.


JOSÉ MARIA ALVES
http://www.homeoesp.org

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