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ARTE

sexta-feira, 18 de junho de 2010

PENSAR OU NÃO PENSAR EIS A QUESTÃO





Já pensei quase tudo o que há para pensar
Parece-me
Apesar do que parece
Nem sempre
Ser o que parece

Poderei ou não estar errado
Como tudo
Numa vida inconsistente
Na impermanência dos dias consumidos
Como quem consome sem saborear um cigarro
De fumo invisível
Ou viaja junto ao mar encapelado e apenas espreita a estrada suja de asfalto

Afinal o pensamento não é ilimitado
E a imaginação é o erro do desesperado


Pensei o já pensado
Em caminho poeirento
Por muitos trilhado
Em jornada com rasto de sangue vivo

O pensamento é dor acutilante pressiva
É a enxovia torturante da inocência
Da candidez e da castidade


Pensei o que muitos outros pensaram
Mas ninguém sabe que o pensaram
Por terem guardado esses pensamentos numa gaveta sem fundo
Na torre subterrânea dos desejos inconscientes
Nas masmorras abissais das entranhas sórdidas
No espaço insignificante de seus bolsos rotos

Pensei e penso que não vale a pena escrever
Que não me irão ler
Que não irão ter paciência
Livros há-os em demasia
Como riqueza e pobreza

Neste mundo tudo é demais
Por excesso ou insuficiência


No entanto
A questão de Deus
O Deus verdadeiro que não o dos homens
Continua a ser a minha questão central
Quando eu
Eu mesmo
Deveria ser por ora o objecto de minhas inquietações


Quem sou
Donde venho
Para onde vou

Se sou ou não
Se vim ou não vim
Se vou ou não vou

Se Ele é
Se eu sou Ele
Ou Ele sou eu

Se existimos
Ou não existimos
Por ludibriados sermos

Se tudo é ilusão
O sonho realidade
A realidade sonho e

No desvario do engano
Se embromado estou
Porque padeço atroz

E porque algo permanece
Em vez do nada
Do vazio pacificador

E se nada existisse que voz se levantaria a questionar que corpo ou mente sentiria dor


Também a questão da alma
Merece especulação
E se quem conhece a Alma
Conhece Deus
Fico-me com um único mistério
O da Alma-Deus ou o de Deus-Alma

Tanto faz
Se o que penso só serve
Para alimentar a confusão
E o que escrevo
Não passa de incoerência
Ou de pura ilusão
De quem pensa ser e não é

Melhor seria
Exterminar o desassossego

Melhor seria não pensar


JOSÉ MARIA ALVES
http://www.homeoesp.org/

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