Desejo com ardência escrever um Manifesto para a humanidade
Um Manifesto para a Eternidade
Num Manifesto escreve-se
Escreve-se para que poucos leiam e
Poucos sintam enquanto
Nenhuns praticam
Redige-se nas areias límpidas da beira-mar
Em tempo de marés vivas
Nem na gandaia um sem-abrigo olhará as suas letras a formar palavras indecifráveis
Nem um letrado filósofo da beira-mar se dignará prestar-lhe atenção
Nem os cães que passeiam seus donos junto à rebentação das magníficas ondas irão sentir seu odor ilusório
Um Manifesto escritura-se
De preferência num papel velho
Digno
Com cheiro a catedral
E fisionomia de monumento nacional
Protegido por leis obsoletas
Saudosamente anacrónico
Um Manifesto é sempre extemporâneo
Como navio calafetado no fundo dos mares
Ou vela acesa num qualquer meio-dia de Primavera
Tem-se esperança num Manifesto
Como mãe que aguarda o nascimento de um filho
Ou a sua chegada da guerra
Um manifesto é um nado-morto
Um corpo num ataúde
Numa urna de chumbo
Carregado além-mar
Crivado de fragmentos
E marcas de dor oculta
Sangrada por estilhaços de vida sem significado
Apenas conheço três palavras
Que podem mudar o mundo
Apenas três palavras cheias e não ocas
Porque as ocas são apenas palavras
E as palavras não são as coisas
Nem sentimentos nem emoções
As ocas são o reflexo da humanidade
No espelho poeirento sujo e deformado
Do cérebro do tempo
Apenas conheço três palavras
Capazes de abranger o Universo
AMOR LIBERDADE BELEZA
Se algum dia as atingir em sua verdadeira essência já não mais serei eu
Serei Um-Com-Deus
E quando for Um-Com-Deus não perderei tempo a escrever
Deus não sabe ler
E a Alma não especula
JOSÉ MARIA ALVES
http://www.homeoesp.org/
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