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ARTE

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

A CIDADE DAS ÉPOCAS MORTAS



voltar atrás

sonhei que estava de volta
à cidade das épocas mortas
com as suas danças
e ânforas de vinho novo
as festas de verão nas ruas
coretos de raparigas nuas

voltar atrás      amorável generoso e recto
com o perdão nas palmas das mãos
indiferente ao desejo e à aversão        os passos luminosos a penetrarem aparências e o coração vitorioso como um longo poema que fala de si no rebuliço dos dias isentos das enfermidades enviesadas

a tua etérea presença repleta de múltiplas flores nas faces rosadas      o puro canto do sabor dos nossos beijos nas alças do destino vindo do mar      a maresia pacífica da tua presença a permanecer na vida colhendo as lágrimas do desalento e da injustiça       os meus erros meu pecado

voltar atrás límpido como os cumes nevados das mais altas montanhas num passado violentado
no jardim de inverno a sedução da sarça ardente e dos grupos sangrentos de antigos gladiadores e das mulheres obesas dos pintores de outrora expulsos na rebelião dos portos atlânticos

os pulsos cortados
os ventres vazios
o matagal desbastado
a ilha deserta
mares que não foram navegados
florestas incendiadas      derrubadas as árvores de grande porte
restar-nos-á
o consolo da morte nas cinzas das rosas




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