há dias que o céu não tem luzes a aldeia dorme tranquila os olhos fechados como casebres doridos pela serrania isolados
os pastores foram-se esses loucos tão simples homens de deus e criados de senhores coitados
conheci tantos com as suas flautas celestes e terços baratos encomendados aos peregrinos as cabras tão doidinhas e as ovelhas deitadas à sombra das oliveiras
sonos de palha em casebres esburacados por soldo um prato de caldo e outro tanto de soro
os cães esfaimados
no inverno sempre molhados
ao domingo confessavam em silêncio os seus pecados a alguns vi-lhes a escorrer pelo rosto grossas lágrimas enquanto comungavam o corpo do senhor de tão solitários sabiam que deus via tudo o que faziam e sabia todos os seus pensamentos
e que a solidão gratifica os pobres
quando os sinos em uníssono dobram a finados
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