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ARTE

quarta-feira, 24 de março de 2010

GUILLAUME APOLLINAIRE - SOBRE AS PROFECIAS






Conheci algumas profetisas
Madame Samajour aprendera a deitar as cartas na Oceania
Foi lá que ela teve ocasião de participar
Numa saborosa cena de antropofagia
Embora não conte isso a toda a gente
Nunca se enganava em relação ao futuro

Uma cartomante de Cêret Margarida não sei quê
É igualmente hábil
Mas Madame Deroy é mais inspirada
A mais precisa
Tudo o que ela disse acerca do passado estava certo e tudo o que ela
Me predisse veio a verificar-se
Conheci um homem que lia as sombras mas não deixei que interrogasse a minha
Conheço também um feiticeiro um pintor norueguês chamado
Diriks
Espelho quebrado sal entornado ou um pão que cai
Possam esses deuses salvarem-me sempre
No resto não creio mas olho e escuto
E notai que leio bastante bem a mão
Porque eu não acredito mas olho e se possível escuto

Toda a gente é profeta meu caro André Billy
Mas há tanto tempo que se fez acreditar às pessoas
Que elas não têm futuro ignorantes para sempre
E idiotas de nascença
Porque se escolheu um caminho e a ninguém ocorre
Perguntar-se se conheço o futuro ou não
Não há espírito religioso
Nem nas superstições nem nas profecias
Nem nisso que se chama ocultismo
Há antes de tudo uma maneira de observar a natureza
E de interpretar a natureza
Que é muito legítima

Tradução de Jorge Sousa Braga

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