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ARTE

segunda-feira, 1 de março de 2010

O MOVIMENTO SURREALISTA DE LISBOA






O Manifesto do Surrealismo de André Breton foi publicado no ano de 1924. O surrealismo é indubitavelmente um movimento “revolucionário” nas artes – lembremos aqui o recurso ao automatismo psíquico com todas as suas consequências.
Breton e Soupault, nomearam-no em homenagem ao poeta Guillaume Apollinaire.

Podemos dizer, que existiu em Portugal um verdadeiro movimento surrealista, movimento de vanguarda, conhecido como movimento surrealista de Lisboa (Perfecto E. Quadrado, “A Única Real Tradição Viva, Antologia da Poesia Surrealista Portuguesa”, Assírio & Alvim).
Passou por algumas vicissitudes, como é aliás natural no desenvolvimento estrutural e conceptual de qualquer grupo que se organize doutrinalmente.

O Movimento terá dado os seus primeiros passos nas reuniões do Café Herminius, no ano de 1940. Reunia-se aí, um grupo de estudantes da Escola António Arroio: António Domingues, Cruzeiro Seixas, Fernando de Azevedo, Fernando José Francisco, José Leonel Rodrigues, Júlio Pomar, Mário Cesariny, Pedro Oom e Vespeira.
Em 1947, ter-se-á constituído, “apadrinhado” por Alexandre O´Neill, António Domingues, António Pedro, Azevedo, Cândido Costa Pinto – que foi expulso do grupo -, José-Augusto França, Mário Cesariny e Vespeira.
Cerca de um ano depois, Cesariny rompe com o grupo, agregando ao seu redor, nomes como o de António Maria Lisboa e Pedro Oom. Em 1951 é a vez de O´Neill. Contudo, a sua poesia nunca omitiu a sua influência.


O Manifesto do “Aviso a Tempo por Causa do Tempo”, de António Maria Lisboa, exemplifica-nos a atitude dos surrealistas portugueses:

Declara-se para que se saiba:

1.º - que não apoiamos qualquer partido, grupo, directriz política ou ideologia e que na sua frente apenas nos resta tomar conhecimento: algumas vezes achar bom outras achar mau. Quanto à nossa própria doutrina, os outros hão-de falar.

2.º - que não simpatizando com qualquer organização policial ou militar achamo-las no entanto fruto e elemento exacto e necessário da sociedade – com quem não simpatizamos igualmente.

3.º - que sendo nós indivíduos livres de compromissos políticos permaneceremos em qualquer local com o mesmo à-vontade. Seremos nós os melhores cofres fortes dos segredos do estado: ignoramo-los.

4.º - que sendo individualmente e portanto abjeccionalmente desligados das normas convencionais, temos o máximo regozijo em ver essas mesmas normas nos componentes da sociedade. Assim delas daremos por vezes testemunho e mesmo ensino.

5.º - que não somos assim contra a ordem, o trabalho, o progresso, a família, a pátria, o conhecimento estabelecido (religioso, filosófico, científico) mas que na e pela Liberdade, Amor e Conhecimento que lhes preside preferimos estes.

6.º - que a crítica é a forma da nossa permanência.

(...)
- António Maria Lisboa, Poesia, Assírio & Alvim.

Em Abril do ano de 1950, finalizando o “Comunicado dos Surrealistas Portugueses”, assinado por Artur do Cruzeiro Seixas, João Artur Silva e Mário Henriques Leiria, lê-se:
“Para a pátria, a igreja e o estado a nossa última palavra será sempre: MERDA."



Mário Cesariny, diria que “o Homem só será livre quando tiver destruído toda e qualquer espécie de ditadura religioso-política ou político-religiosa e quando for universalmente capaz de existir sem limites.
Então o Homem será o Poeta e a poesia será o Amor-Explosivo.”

Numa entrevista, diz o mesmo Mário Cesariny:
“ (...) o surrealismo é o que existe de mais parecido com a poesia. Não se ensina, não é possível. Tudo o que é pedagógico é muito mau. Tudo o que nasce como revolta é um tormento. O surrealismo foi um convite à poesia, ao amor, à liberdade, à imaginação pessoal.
(...)
Aquilo a que se chamou o surrealismo existiu sempre.”


Vamos editar na sequência deste artigo, um conjunto de poemas de alguns surrealistas, suprindo uma lacuna, ainda que de modo parcial, já que alguns estão representados nos mais de 1000 poemas do sítio, v.g. Alexandre O´Neill, António Maria Lisboa, Mário Cesariny e Pedro Oom.

JOSÉ MARIA ALVES
http://www.homeoesp.org/

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