a noite pergunta quem eu sou.
sou o seu profundo segredo,
inquieto e negro, seu rebelde segredo.
meu ser escondi dentro do silêncio.
meu coração envolvi em conjecturas
para aqui fiquei, pálida, inerte,
a ver os séculos que se interrogam:
quem sou eu?
o vento pergunta: quem sou eu?
sou o seu assombrado sopro, renegada do tempo,
tal como ele, não tenho lugar.
sem fim seguimos caminhando,
eternamente passando e, lá no cume,
encontramos apenas o limite da miséria
e então o vazio.
o tempo interroga-se: quem sou eu?
como ele, sou uma altiva que devora os tempos
e lhes confere vida novamente.
retrato o longínquo passado
como esperança fácil, sedutora,
e volto eu própria a sepultá-lo.
assim posso forjar-me um ontem diferente
e um futuro perplexo.
meu ser pergunta-se: quem sou eu?
como ele caminho, fixa nas trevas
sem nada receber da paz.
e vou sempre perguntando
mas a resposta é ela também uma miragem,
e embora a creia próxima – como sempre –
ao aproximar-se, dissolve-se.
desaparece.
morre.
Tradução de Adalberto Alves
Sem comentários:
Enviar um comentário