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ARTE

quinta-feira, 12 de março de 2009

QUESTÕES FILOSÓFICAS - COSMOLOGIA



Desde tempos imemoriais que o homem se tem questionado, entre outros, quanto à origem do universo, à sua própria origem, à existência da alma e da sua sobrevivência à morte corporal, à existência de Deus e dos seus atributos.
Mitologia, filosofia, teologia e ciência, têm buscado respostas para questões aparentemente insolúveis.
Bertrand Russel, entendeu a filosofia como algo que se situa entre a teologia, que tem por objecto uma problemática inatingível pelo conhecimento experimental, estribando-se na tradição e na revelação, e a ciência, que domina o conhecimento definido. Será assim, uma “terra sem dono” isenta da impertinência e arrogância da teologia e das “certezas” incertas da ciência.
Nesta perspectiva, a filosofia não deve nunca ater-se à autoridade, quer da revelação quer da tradição. Não é teologia, não é ciência, não afirma dogmaticamente o conhecimento onde apenas vigora a ignorância, nem se assume como conhecimento estabelecido ou definido pela experimentação. É indubitavelmente o meio termo destas duas realidades.
A teologia responde com uma enorme ligeireza a todas ou praticamente todas as questões que inquietam o limitado cérebro humano, deixando-nos numa maior incerteza e inquietude do que a que possuíamos antes de nos debruçarmos sobre a temática que aborda. As escrituras sendo produto do pensamento humano, são tão sagradas, como qualquer outro livro existente nos escaparates das livrarias, ou como quaisquer obras humanas. Assim, as suas “certezas”, quando analisadas por cérebros lúcidos, apenas geram mais incertezas e extrema desilusão. O medo fez com que criássemos deuses, que justificámos com revelações, e o pensamento instituiu as crenças na reencarnação e na ressurreição, qual delas a mais ilógica e desesperada.
A ciência com as suas exigências de experimentação não responde às perguntas elaboradas desde que o homem ganhou consciência de si nos tempos concernentes à evolução da espécie.
A filosofia se o faz, debate-se com um problema irresolúvel e inelutável: a limitação da razão; o cérebro e o seu produto, o pensamento, encontram-se limitados pelo espaço-tempo, e este não pode entender o que é integral, o Absoluto, ou tudo o que esteja para além do palpável, visível ou demonstrável.


Comportamo-nos como senhores do Cosmos, quando nalguns milhares de anos de “civilização” não desvendámos a maioria dos mistérios mais apetecidos.
Estamos, quer queiramos quer não, reduzidos ao que efectivamente somos: seres congestionados de conhecimentos falíveis e isentos de sabedoria. Provavelmente, Montaigne, aproxima-se com acurada consciência das inatas limitações do ser humano:
O que é que se pode imaginar de mais ridículo, que esta criatura mesquinha e miserável, que não é sequer dona de si mesma e está exposta às ofensas provenientes de todas as coisas, que se afirma dona e senhora do universo, quando nem sequer tem a faculdade de conhecer a mínima parte deste, quanto mais de o dirigir?!



As questões que infra enunciamos são a comprovação da ineficácia do pensamento, e não são de modo algum exaustivas. Experimentai responder-lhes sem que vos estribeis em um qualquer dogmatismo.

O que havia antes do big bang?

Porque existe alguma coisa em vez de nada?

O universo foi criado ou foi produto de mera casualidade?

O cosmos – entendido aqui como o espaço que poderá abarcar inúmeros “universos”, já que no infinito há sempre lugar... – existiu sempre ou foi criado?

Já antes do nascimento do universo, haveria um projecto específico dependente de um ser superior, tendo por objecto a criação das estrelas, planetas, vida em geral e, do próprio homem?

Como se formou o mundo?

O universo é finito ou infinito?

O universo seria no princípio já infinito?

Tem o universo unidade ou fim?
Evolve para algum objectivo?

O mundo acessível aos nossos telescópios será uma ínfima fracção do universo inteiro?

A eventual incomunicabilidade entre os mundos habitados é meramente casual ou fruto de desígnio de um Criador inteligente?

O universo encontra-se em expansão contínua, diluindo-se até ao inexorável desaparecimento da vida?
Ou contrair-se-á retomando a sopa original de partículas geradora de nova organização de matéria e de novos mundos?

Seremos tão somente filhos das estrelas e irmãos dos planetas?

A vida que terá surgido na terra há cerca de quatro mil milhões de anos é um fenómeno casual ou inevitável?
Se surgiu por acaso, será Deus o próprio acaso?
Ou é um facto sem explicação?

Como surgiu a vida na terra?
Terá a vida sido trazida para a terra, por um objecto vindo do espaço, tal como um meteorito – teoria da panspermia –?

O homem é um acidente na longa evolução da vida?

Se a nossa espécie dura há aproximadamente dois milhões de anos, como será dentro de 2, 10, 100 ou mil milhões de anos?
Desaparecerá o homem dando lugar a novas espécies?

Não cabia nos desígnios do universo o objectivo de ganhar consciência de si próprio através do cérebro humano?

Há outros mundos habitados com formas de vida diversas das da terra? –vista a possibilidade de existirem só na nossa galáxia milhões de planetas que à semelhança daquela podem propiciar o desenvolvimento da vida.

Existe de facto a sabedoria ou não passa de requinte derradeiro de loucura?

Se não existisse consciência humana como seriam as coisas e os animais?

Há realmente leis da natureza ou cremos nelas devido ao nosso inato amor da ordem?

As mudanças devem-se ao acaso ou são fruto da existência de leis naturais?

Haverá uma vontade ou um sentido por detrás daquilo que acontece?

É o homem o que parece ao astrónomo, um pequeno conjunto de carvão impuro e água, a arrastar-se impotente sobre um pequeno planeta sem importância? Ou é o que pensava Hamlet? Será as duas coisas?

A vida eterna significa existência em cada momento do tempo futuro?
Ou é um modo de ser independente do tempo em que não há antes nem depois, e portanto não há possibilidade lógica de mudança?

Na imensa duração dos tempos humanos – imensa na nossa perspectiva e não na cosmológica –, até Buda, Cristo ou Maomé, como encarar a salvação?

Há um tipo nobre e um tipo baixo de vida, ou são todos meramente fúteis? Se um deles é nobre, em que consiste e como realizá-lo?

Deve o bem ser eterno para poder ser apreciado, ou merece procurar-se ainda quando o universo caminhe inexoravelmente para a morte?

Como devemos viver?

Quem sou eu?

Donde venho?

Para onde vou?

Mesmo que saibamos donde viemos pode tal facto ensinar-nos para onde vamos?

O homem é composto de três princípios?
O físico de origem terrestre (corpo)?
O astral, de origem astral (corpo subtil)?
E o espiritual, de origem divina (o espírito)?

Tu és o teu corpo?
Ou és uma combinação de carne e espírito?
Ou és alma pura?

Este corpo, tal como um pote de argila, não será um objecto?

A mente, que tem princípio e fim, que está sujeita às modificações, que é caracterizada pelo prazer e dor, não será um objecto?

Haverá “vida” depois da morte?

O que é o espírito e o que é a matéria?

Estará o mundo dividido entre espírito e matéria?

O homem possui uma alma imortal?
Essa alma existe desde sempre?
Ou foi criada?
Se o foi, qual o momento atinente à sua criação?

As características da alma serão:
Existência, Inteligência e Felicidade Absolutas?

A minha alma e o universo, serão outra coisa que não Deus?

Está a alma sujeita à matéria, ou tem energias independentes?

Pesquisar a alma é pesquisar Deus?
E pesquisar Deus é pesquisar a alma?

O prazer e a dor são a essência do ego?
A Felicidade é a essência da alma?

Deus existe?

Deus é:
Existência, Inteligência e Felicidade puras.
Felicidade suprema, não criada, eterna e indivisível. Ele é a única realidade. Só ele existe. O resto é ilusão. É a ignorância que nos faz ver a diversidade.
O substracto de todos os fenómenos. O que assume formas inumeráveis.
O Um sem segundo.
O incondicionado, a Paz silenciosa, o ilimitado, que não tem princípio nem fim. Infinito, eterno, omnipresente.
A testemunha.
Inexprimível, imutável, sem nome, sem forma, que transcende o espaço, o tempo e os objectos dos sentidos, que não é composto de partes, indestrutível, que não está sujeito ao nascimento, crescimento, morte, ao sofrimento e à doença.
O que não cessa de existir. Que é sempre livre?

Deus é inteligência pura. Inteligência pura. O que é que isto quer dizer?

Deus é um ser de paz e de pureza.
Tu és esse Deus?

Todo este universo procede de Deus – a única Realidade -?
O universo é Deus ele mesmo e Deus sem mais?

O que é o Reino dos Céus?

O que é o Nirvana?
É um estado sem pensamentos?
É o apaziguamento e o conhecimento perfeito de si próprio?

Se o desejo é a raiz de todos os males, desejar atingir o Nirvana, a Iluminação, não é por si mesmo um mal, enquanto desejo?

Não é Deus que nos julga?
Somos nós que nos julgamos a nós próprios?

O Céu – paraíso – não será um lugar, mas uma presença: a de Deus que ama?

O que é o Inferno?

Depois da morte corporal, subsistirá um magma psíquico individual?

Há reencarnação?
Reencarnamos em função das nossas existências anteriores?
O que é que volta a encarnar?

Podemos reencarnar num animal ou planta ou só em corpos humanos?

Há ressurreição? – que é o retorno à vida, uma vida nova e eterna depois da morte corporal, num corpo imaterial, “glorioso”.

Qual vai ser a evolução material e espiritual do homem?

Tudo acaba?
Ou só a matéria se decompõe enquanto o espírito perdura?

Concorda que existem três estados na vida do homem – o estado de vigília, de sonho e de sono profundo -?
A existir, não será a alma a testemunha destes três estados?

No estado de vigília, tomamos conhecimento do que nos rodeia, por intermédio de quê?
E no estado de sonho o que é que acontece? Quem ou o que é que cria os sonhos?

No estado de sonho, é a própria mente que cria os diversos elementares que compõem um universo inteiro. Haverá alguma diferença entre este estado e o estado de vigília?

No sono profundo há actividade mental?
O “eu” desaparece?
Se desaparece o que é que fica?
Podemos chamar-lhe consciência pura?

Se o universo fosse real ele não deveria ser percebido no estado de sono profundo?

Como é que podemos viver plenamente?
Apreciando a vida de cada dia?
Aceitando a nossa condição?
Como meras testemunhas da existência?

O nosso “eu” real, não será o que assiste como espectador ao jogo do ego, da mente, etc., existindo mesmo no estado de sono profundo?

O mundo é o que vemos?
São todos os nomes e formas?
Ou é x + o mental, na fórmula expressa por Vivekananda?

Uma produção em overdose de neuromediadores no momento da morte, poderá dar origem a uma euforia paradisíaca natural?
Ou será a falta de oxigénio ou o excesso de dióxido de carbono?
Estariam assim explicadas as sensações de indivíduos que narraram as suas experiências no limiar da morte?

Com a morte de um ser vivo, as suas células desfazem-se e reorganizam-se noutras combinações físico-químicas ou orgânicas.
Por isso, não há, verdadeiramente morte?

Se vens de Deus, retornas a Deus.
Como é que isto se passa?
A realidade é um todo inseparável em constante movimento?

Todo o universo é um mesmo ser, uma substância única à base de energia, um organismo vivo?
A matéria está dotada de pensamento, de consciência?

A física moderna demonstrou que quando a matéria é investigada, se revela como sendo um oceano de energia e luz. A matéria é luz condensada ou congelada. Toda ela é uma condensação de luz em padrões deslocando-se para trás e para a frente a velocidades médias inferiores à da luz.
É provável que toda a vida seja única em sua essência; que os homens e todos os seres vivos sejam apenas participantes de um esquema de acção cósmica imensamente mais amplo do que aquele que conhecemos; que nós sejamos, de facto, apenas partículas de um todo infinito, de um imenso sistema universal que engloba milhões de mundos, todos repletos de formas vivas, o todo que evolui rapidamente em direcção a objectivos exactamente tão desconhecidos para nós como o são as mais inferiores formas devida?




Num texto, escrito há bem mais de dez anos – e que mantemos praticamente inalterado, sem corrigirmos os novos dados que a ciência desvendou, nomeadamente a idade do universo – apercebemo-nos da confusão que o pensamento tem gerado quanto às questões que mais assolam o espírito humano e da sua incapacidade para lhes responder, gerando inevitável angústia existencial. Nessa perspectiva, justifica-se no nosso entender a sua inclusão no presente blog.




Hesíodoautor de uma “Teogonia”, o mais antigo documento conhecido da cosmologia mítica grega – afirmou que “primeiro que tudo foi o caos”.
Para Ferecides de Siro (nascido cerca de 600 a.C.), sempre existiram Zeus – o Céu –, Ctonos – a Terra – e Cronos – o Tempo –. Zeus, transfigurado em Eros, cria o mundo.
Tales, homem de ciência, nascido por volta de 624 a.C., afirma que a substância originária ou primordial é a água.
Anaximandro (610 a.C. - a partir daqui, sempre que nada se diga, entende-se que a data se reporta ao nascimento) definiu como princípio o infinito, conjunto incomensurável e indistinto de matéria, de natureza divina, origem e retorno de todos os entes e objectos. Esta substância primeira ganharia configurações específicas pelo processo da partição, gerando-se assim inúmeros mundos finitos, em ininterrupta evolução e em encadeação eterna, mundos estes, infinitos no espaço. A Terra é um cilindro imóvel, que se encontra no meio do mundo. Anaximandro, tal como os outros filósofos gregos era extraordinariamente audaz nas suas reflexões.
Anaxímenes (546 a.C.) considera ser o ar, com a sua infinitude e movimento ininterrupto, o princípio de tudo, que circunda a Terra – em forma de disco –, fonte geradora do mundo nas suas destruições e regenerações periódicas.
Heraclito reconhece no fogo a substância originária, princípio activo e inteligente, mais do que corpóreo. Este mundo, continuamente em mutação, que não foi gerado por deuses, acende-se e extingue-se com ordem regular. Esta mudança é por si expressa de forma magistral: “Não é possível descer duas vezes no mesmo rio nem tocar duas vezes numa substância mortal no mesmo estado; pela velocidade do movimento tudo se dissipa e se recompõe de novo, tudo vai e vem”.
Pitágoras (nascido por volta de 571 a.C.) e os pitagóricos consideraram a existência de um fogo central, que intitularam “Mãe dos Deuses”, origem de todos os corpos celestes do mundo, que é uma esfera. O céu das estrelas fixas a esferas transparentes, que se move de Ocidente para Oriente é o que se encontra mais longe do fogo central, e cada vez mais próximo deste, os planetas visíveis a olho nu – Mercúrio, Vénus, Marte, Júpiter e Saturno –, o Sol – receptor e reflector da luz emitida pela “Mãe dos Deuses” –, a Lua, a Terra e a Antiterra – planeta inexistente, mas ficcionado para completar o número dez, sagrado para os pitagóricos –.
Para Xenófanes, o universo é unitário e imutável e todas as coisas têm a sua origem na terra e a esta volvem.
Em Parménides, a perpetuidade é a negação do tempo, mas o “ser” é finito. Contrariamente à tese de Heraclito, diz-nos que “o ser é e não pode não ser”.
Empédocles (492 a.C.) distingue quatro elementos : fogo, água, terra e ar. Na sua perspectiva existe um ciclo cósmico de união e desintegração.
Em Anaxágoras (499 a.C.) surge-nos um Deus inteligente que não é o mundo, mas é a sua razão evidente.
Para os atomistas, Leucipo e Demócritochegou a duvidar-se da existência do primeiro –, os átomos, indecomponíveis, eternos, em constante movimentação, dão origem ao nascer das coisas pela união e ao perecer, pela desagregação.
Platão afirma que a causa do mundo é um Deus que quer tão-somente difundir o bem. O mundo tem de ter sido criado por algo sagrado e não como consequência de causas físicas, que não podem nunca ser consideradas como o primeiro movimento.
Heraclides do Ponto, discípulo de Platão, modificou a doutrina atomista dizendo que Deus edificou o mundo com corpúsculos não coligados. Admitiu o movimento de rotação da Terra e preconizou o movimento de translação de Mercúrio e Vénus à volta do Sol.
Filipe de Opunte, também discípulo de Platão, admite que os corpos celestes são entidades vivas, com alma, conclusão que retira da perfeição do seu movimento.
Aristóteles (384 a.C.). Deus é o motor, o princípio que explica o movimento do primeiro céu. As coisas terrestres ou sublunares são compostas por terra, água, ar e fogo. Imediatamente a seguir ao fogo está a primeira esfera celeste, a da Lua – a partir daqui todos os corpos celestes são compostos por éter, que se move exclusivamente de forma circular –. A partir da Lua, como os corpos celestes são constituídos pelo éter – substância que se assemelha à de Deus –, temos um mundo único, finito, perfeito e eterno, que só tem por limite a esfera das estrelas fixas – antes desta, estão as de Mercúrio, Vénus, Sol, Marte, Júpiter e Saturno –. A partir da esfera das estrelas fixas, que demora um dia a circundar o nosso planeta, não há mais espaço. Esta teoria, persistiu até ao século XV, só tendo sido abandonada a muito custo, essencialmente por obra de Nicolau de Cusa.
Aristarco de Samos (310 a.C.). Tudo leva a crer que foi o primeiro pensador a considerar a existência simultânea do movimento de rotação e de translação da Terra, este último à volta do Sol. Heraclides do Ponto já havia admitido o movimento de rotação da Terra e o de translação, mas neste caso, de Mercúrio e de Vénus à volta do Sol.
Para os Estóicos (O fundador da escola foi Zenão de Citium – 336 a.C.), Deus é a causa de tudo. O mundo gerou-se pela diferenciação da matéria originária, tem a forma de esfera, sendo finito, com um ciclo de repetição perfeito, onde perante a sua destruição integral, voltam a ocorrer todos os acontecimentos, com os mesmos objectos e seres que tinham ocorrido no tempo do mundo “passado”.
Epicurismo - (o fundador da escola foi Epicuro - 341 a.C.). Os epicuristas rejeitam a divindade do mundo. Os mundos formam-se devido ao movimento dos átomos – Epicuro apropriou-se da doutrina dos atomistas – e não são eternos, estão sujeitos ao nascimento e à extinção.
Fílon de Alexandria (30 a.C.). Deus começou por criar a matéria indeterminada, caótica, para depois criar o Logos – mediador na criação do mundo – à sua semelhança, e com a sua cooperação criou o mundo, transmutando a matéria caótica em ordem.
Cláudio Ptolomeu (séc. II d.C.), foi um astrónomo egípcio que nos legou uma obra monumental nos domínios da astronomia, geografia, navegação e matemática. No que toca à astronomia, escreveu em treze volumes o “Almagesto”. Segundo ele, a Terra está imóvel no centro do mundo, girando à sua volta a Lua, Mercúrio, Vénus, Sol, Marte, Júpiter e Saturno. Depois, vem a esfera das estrelas fixas. Observando o céu, notou a variação de brilho dos planetas, e tendo chegado à conclusão que tal facto derivava da variação da sua distância ao nosso planeta, postulou que se moviam sobre uma circunferência menor – denominada epiciclo – cujo centro se movia numa circunferência maior – o deferente –. Este sistema, legitimador da doutrina aristotélica, vigorou por mais de mil anos.
Plotino, neoplatónico (cerca de 203 d.C.), considera que Deus permanece imóvel no centro da criação, sem qualquer acto voluntário ou intenção causal.


O Cristianismo motivou no mundo ocidental uma nova forma de encarar o mundo, a filosofia cristã, que já não é pesquisa e liberdade, mas revelação, donde deriva na melhor das hipóteses, uma investigação dirigida à sua compreensão, que se encontra em regra, limitada pelas interpretações da Igreja, nos dogmas estabelecidos conciliarmente. Para os protestantes, cada homem, por si, pode interpretar os textos sagrados, por via da sua própria ponderação.

O primeiro período é o dos Padres da Igrejaque contribuíram apesar de muitas vezes contraditoriamente, atenta a influência da última filosofia do período helenístico e doutrinas pagãs, para a existência de uma filosofia cristã –, denominado Patrística e que terminou no século VIII.
Justino (110 d.C.). Foi por intermédio do Logos – que está hierarquicamente abaixo de Deus, mas é coexistente com ele e por isso gerado antes da criação – que Deus criou o mundo.
Teófilo de Antioquia. Deus é o criador supremo. Foi tudo gerado do nada, por intermédio do Logos, com o objectivo da sua potestade ser reconhecida. Conseguimos reconhecê-lo na sua criação.
Irineu (cerca de 140), foi um dos filósofos que combateram a gnose – um dos maiores perigos contra a unidade espiritual do cristianismo, por considerar que o conhecimento é a única condição de salvação do homem –. Na perspectiva de Irineu, os gnósticos erraram notoriamente quando imputaram a criação do mundo a uma entidade subalternizada comparativamente a Deus, depreciando o seu poder, o que é de todo inconcebível. Deus não teve, nem tem carência de mediadores, para fazer seja o que for. Se assim fosse, estaríamos perante uma ineptidão que é contrária à sua essência.
Arnóbio teve uma concepção tão derrotista do ser humano que foi comparado a Pascal. Sendo Deus o autor da perfeição e da ordem do mundo, não poderia ter criado uma criatura vil, violenta, infeliz e miserável, mas antes, tal acto foi executado por uma outra divindade hierarquicamente inferior e com muito menos autoridade e majestade.
Lúcio Lactâncio foi discípulo de Arnóbio. Apesar do Filho ter sido gerado, constitui com o Pai uma única substância e agiu como aconselhador deste no intrincado desígnio da criação do mundo, sem que para tal tivesse necessidade de utilizar uma matéria preexistente, antes, criando-a.
Orígenes (cerca de 185). É nele que encontramos o primeiro sistema exaustivamente elaborado de filosofia cristã. Admite uma pluralidade de mundos, que são sucessivos e que em determinado momento se extinguem na sua corporalidade, passando à invisibilidade.
Basílio o Grande (cerca de 311), considera que Deus, o criador, não pôs toda a sua competência na obra da criação, tal como um pintor pode não aplicar todos os seus conhecimentos técnicos e aptidão estéticas na execução de um quadro. Daí, não ser possível mensurar a sua verdadeira potência.
Gregório de Nisa, irmão de Basílio o Grande, atribui a Deus a criação do mundo. Resolve a dificuldade de uma essência simplicíssima e imutável, gerar uma realidade composta, mutável e corpórea, pelos atributos e natureza do corpo – v.g. quantidade, qualidade, cor, que são em si mesmas incorpóreas –.
Santo Agostinho (354). Deus é o ser eterno, fundamento de tudo, criador de um mundo – através do Logos ou seu Filho – em constante mutação. Mas o que é que fazia Deus antes de criar os céus e a Terra? – questiona-se Agostinho –. Deus para além de eterno criou o tempo. Na eternidade não existe passado ou futuro, mas apenas um eterno presente.
Zacarias (séc. VI) refuta as doutrinas que consideram o mundo eterno, já que este não é forçosamente necessário, apesar de ter sido criado por Deus, que tinha a sua ideia desde sempre, ideia que poderia ou não pôr em prática, em conformidade com a sua querença – que neste caso o determinou pela afirmativa –.
João Damasceno (séc. VIII) – com quem termina a Patrística da Igreja Grega – declara que a criação advindo do nada, é mutável, por mudável ser a mudança do que não existe para a existência, implicando infalivelmente um criador, que é eterno e ingerado, omnipotente e ordenador do mundo.

Findo o período relativo aos Padres da Igreja, inicia-se o da Escolásticafilosofia cristã da Idade Média –, vocacionada para a instrução do clero, que demanda especialmente conduzir o homem à percepção possível da verdade que foi revelada.
João Escoto Erígena (cerca de 800). Deus é o princípio de tudo, é tudo – “ é tudo no mundo, tudo em volta do mundo, tudo na criatura sensível, tudo na criatura inteligível; é tudo ao criar o universo, está em todo o universo, está nas suas várias partes, porque é o todo e a parte e não é nem o todo nem a parte” (panteísmo) –, onde todos os entes e coisas se deslocam, revelando-se na criação, que é uma sua exteriorização. Mas, foi através do Verbo, que todas as coisas e seres foram gerados. O mundo foi criado, porque consta das Sagradas Escrituras e é imperecível, atenta a sua subsistência no Verbo e porque a razão o certifica. Conciliar criação e eternidade é algo que a nossa razão não pode alcançar, é um enigma divino.
Anselmo de Aosta (1033), na sua investigação, dá prioridade à fé sobre a racionalização: “... se antes não acreditar, não poderei compreender”. Mas, aquela tem de ser comprovada ou demonstrada, não basta crer pura e simplesmente. Todas as coisas procedem de Deus e a criação nasce do “nada”, porque se nascesse da matéria, esta derivaria de si própria – o que é de todo ilógico – ou da própria essência divina, que assim estaria votada à impermanência, o que não pode acontecer em circunstância alguma – afirma-o peremptoriamente a razão lúcida –. Anselmo perfilhou a exigência agostiniana “desejo conhecer Deus e a alma e nada mais”, mas faleceu quando tentava por todos os meios ao seu dispor aclarar a natureza desta.
Abelardo (1079). No seu entender, Deus apenas pôde criar o mundo da forma como o criou, ou seja, esse mundo necessariamente crido, não poderia ser mais perfeito do que aquilo que é.
Amalrico (séc. XII). Deus é a essência de tudo, identificando-se com o mundo na sua integralidade; criador e criatura identificam-se.
Hugo de S. Victor (1096). Tudo o que nasce e morre, não pode ser espontâneo, tem como causa necessária um criador, que tinha em si mesmo as formas da sua criação e a sua acção criadora, partindo de uma matéria informe, caótica, criação essa, que decorre não de uma acção necessária, mas de pura manifestação da sua benevolência. O mesmo ocorre com o espírito humano ao reconhecer que teve um princípio, não podendo ser ele a sua própria causa geradora. Acredita que Deus poderia ter gerado um mundo mais perfeito, à sua imagem, que é perfeição absoluta, só não podendo aquele, realizar o impossível, porquanto não poder o irrealizável, não é claramente um não poder.
S. Boaventura (1221), franciscano, admite que Deus na sua omnipotência é a causa primeira de todas as coisas e seres, do nada, e por tal motivo o mundo não é eterno – não pode ser eterno o que antes não era e que passa a ser –.
Alberto Magno (1193), defende que a criação do mundo do nada, que não é eterno, por ser precedido por Deus, é um acto livre.
S. Tomás de Aquino (1225). A criação provém do nada e é obra de Deus, sendo um dogma que não é passível de demonstração. Como todos os outros artigos de fé, não é explicável ou compreensível pela razão.
Rogério Bacon (séc. XIII). É o filósofo que melhor representou no seu século o experimentalismo – todas as coisas, sejam naturais ou divinas, devem ser investigadas com base na experiência, que se subdivide em interna ou externa, respectivamente derivada da iluminação concedida por Deus e percepcionada através dos sentidos –.
João Duns Escoto (1266) não tem certezas quanto ao início da criação. É um facto que a razão não alcança e como tal todo o juízo sobre o mesmo deve ser sustado.
Guilherme de Occam (cerca de 1290). É um dos últimos filósofos da Escolástica. Tal como Bacon, valoriza a experiência como fundamento do conhecimento. Pela primeira vez na história da filosofia ataca com firmeza o princípio aristotélico comumente aceite, de que os corpos celestes e os sublunares não tinham a mesma natureza. Considera que para além do nosso, podem existir inúmeros mundos, o que é atestado pela razão, já que Deus pode criar o que bem entender, no infinito e na eternidade – no que toca a esta última, resolve a contradição resultante da criação, com o facto de ser indeterminável o princípio do universo no tempo –.
João Buridan (séc. XIV). Julgou inúteis as múltiplas inteligências motoras que Aristóteles concebeu para explicar o movimento dos astros, já que o seu primeiro movimento, originado por Deus, não é minimizado ou ferido, face à inexistência de forças contrárias ao mesmo.
Nicolau de Oresme (séc. XIV). É o grande percursor de Nicolau Copérnico. Argumentou um bom número de razões demonstrativas de que a Terra se move com movimento diurno e o céu não.


No século XIV, gerou-se um movimento de “Renascimento” do espírito de liberdade, apanágio da época clássica, que se constituiu como o alicerce da investigação experimental, fundamentalmente com cientistas como Copérnico, Galileu e Kepler.
Em Montaigne (1533), encontramos por excelência, o regresso do homem a si próprio – que é uma das facetas principais do movimento filosófico renascentista –. Tem absoluta consciência das limitações humanas, quando diz: “O que é que se pode imaginar de mais ridículo, que esta criatura mesquinha e miserável, que não é sequer dona de si mesma e está exposta às ofensas provenientes de todas as coisas, que se afirma dona e senhora do universo, quando nem sequer tem a faculdade de conhecer a mínima parte deste, quanto mais de o dirigir?”. Vamos encontrar este pessimismo – realismo?! – em Pascal.
Nicolau de Cusa (1401) reconhece no homem a ignorância ou como lhe chama mais especificamente, “douta ignorância”. É indubitavelmente um dos precursores de Copérnico e Galileu. Na sequência das especulações de Occam, não admite a doutrina aristotélica da perfeição dos corpos celestes e da corruptibilidade dos sublunares. A Terra não é o centro do mundo e por isso é dotada de movimento, que é quase circular. É uma estrela “sui generis”, idêntica ao Sol, verificando-se nos outros astros a possibilidade de serem habitados por outros seres inteligentes, mas distintos de nós em espécie.
Nicolau Copérnico (1473). Até ao Renascimento, a doutrina da Igreja estribava-se nos ensinamentos de Aristóteles – o mundo era uma esfera finita, com a Terra ao centro –, colmatada pelos estudos de Cláudio Ptolomeu, que fez os possíveis e os impossíveis para descrever os movimentos dos astros através de órbitas rigorosamente circulares. Com Copérnico, cónego, médico e astrónomo, a já aguardada destruição da concepção aristotélica do mundo, aparece vertida na obra “De Revolutionibus orbium celestium”, dedicada ao Papa Paulo III e que surgiu com um prefácio de Osiander, que temeroso e por sua própria conta e risco, face aos seus escrúpulos quanto à matéria bíblica, a apresentou como mera hipótese astronómica. Dez anos antes da publicação desta obra, Copérnico fez circular entre os seus amigos, um resumo das suas teorias – Comentariolus –. Demonstrou como todas as dificuldades apresentadas pela cosmologia aristotélica eram facilmente resolvidas pela aceitação do movimento da Terra em torno de si mesma – contrariamente à doutrina que a referenciava como centro imóvel –. Reconheceu três movimentos: diurno em torno do próprio eixo, anual à volta do Sol, e o anual do eixo terrestre relativamente ao plano da elíptica.
Com Copérnico, cessa a astronomia antiga, que dá definitivamente lugar à moderna.
Tycho Brahe (1546), astrónomo dinamarquês, ainda sem os recursos do telescópio, num observatório construído na ilha de Hven, estudou a posição das estrelas e seguiu a trajectória de um cometa. Considerando que este se movia para além da Lua, deslocando-se entre os planetas – que por via deste facto não poderiam estar fixos em esferas transparentes –, numa trajectória oval – e não circular –, concluiu que a física aristotélica não tinha qualquer fundamento. No seu sistema, temos a Terra como centro do universo. Enquanto a Lua e o Sol giram à sua volta, os outros planetas giram à volta deste.
Johannes Kepler (1571) era um admirador de Copérnico. Foi assistente de Tycho Brahe, tendo-lhe sucedido no cargo de astrónomo imperial. E foi das observações do próprio Tycho, que retirou os elementos que lhe permitiram confirmar a doutrina copernicana – por via da descoberta das três leis reguladoras do movimento dos planetas –. As duas primeiras leis de Kepler foram publicadas na “Astronomia nova” em 1609 e a terceira surge no escrito “Harmonices Mundi”, em 1619. A primeira, também denominada lei das órbitas, diz-nos que os planetas se movem em torno do Sol descrevendo órbitas que são elipses, com o Sol situado num dos focos; a segunda, que uma linha que se estenda do Sol a um planeta, orientada nesse sentido, varre áreas iguais em intervalos de tempo iguais e a terceira, que os quadrados dos períodos da revolução dos planetas em torno do Sol são directamente proporcionais aos cubos das suas distâncias médias a este.
Galileu Galilei (1564). Há quem diga, que em bom rigor a investigação científica começa com Galileu, que não se limita apenas a observar. Observa e experimenta. Defende as teses de Copérnico. Fez várias descobertas na mecânica – estudando o pêndulo, o plano inclinado, a queda dos corpos, os movimentos acelerados, tendo demonstrado a falsidade da premissa aristotélica, segundo a qual os corpos caem com velocidade proporcional ao seu peso – e descobriu as leis da balística. Com uma luneta – que terá sido verdadeiramente inventada por um holandês, Hans Lippershey, não obstante possa ter sido aprimorada por Galileu –, que apresentou em Veneza no ano de 1609, descobre os satélites de Júpiter, as fases de Vénus – observando as fases de Vénus, deduz que este planeta tem um movimento de translação à volta do Sol –, as manchas solares – demonstrando que o Sol tem movimento de rotação –, as montanhas da Lua – cuja altura calcula por via das suas sombras –, e apercebe-se que a esfera celeste tem muito mais estrelas do que as visíveis a olho nu – dando-se assim conta de que a Via Láctea é um conjunto de estrelas e não “a estrada pela qual as almas subiam ao céu” –. Condensou todas as suas descobertas num pequeno livro de apenas 28 páginas, o “Sidereus Nuncius”. Face a tais descobertas é citado num processo do Santo Ofício, instaurado em 1633, que findou com a famosa abjuração, onde rejeitou para evitar a condenação, a teoria heliocêntrica: “Eu (...) Galileu, com setenta anos de idade (...) tendo diante dos meus olhos os sacrossantos Evangelhos que toco com as mãos, juro que sempre acreditei, que creio agora e com o auxílio de Deus, continuarei a crer em tudo o que defende, prega e ensina a Santíssima Igreja Católica e Apostólica (...). A falsa opinião de que o Sol esteja no centro do mundo e não se mova (...) dela abjuro de coração sincero e não fingida fé (...), maldigo e detesto tais erros e heresias (...) e se conhecer algum herege ou suspeito de heresia denunciá-lo-ei a este Santo Ofício ou ao inquisidor do lugar onde me encontre (...). Assino de meu punho e letra a presente cédula de abjuração, que recitei palavra por palavra em Roma, no convento Della Minerva, no dia de hoje, 22 de Junho de 1633”.


Falece em 8 de Janeiro de 1642, com a glória das descobertas realizadas, mas com a dignidade corrompida pela falta de coragem.

Isaac Newton (1642). Com Newton, a física terrestre é unificada com a celeste, quando demonstrou que a queda de um corpo na superfície da Terra, tal como o movimento da Lua na sua órbita, são explicados pela força gravitacional – força de atracção –, força esta, dependente da massa relativa a dois corpos e da distância entre os mesmos. Foi Newton, que construiu por volta de 1670, o telescópio reflector, telescópio em que se recorre a um espelho secundário plano, que desvia o feixe luminoso que se originou por reflexão na objectiva – espelho primário – fazendo convergir os raios luminosos no foco Newtoniano.
Gian Domenico Cassini (1625). É um dos fundadores da planetologia. Como a partir de 1664 pode dispor de bons telescópios, com diâmetros de cerca de dez centímetros e distâncias focais de alguns metros – o que diminuiu a aberração cromática das lentes –, descobriu o movimento de rotação de Júpiter – consumado em 9h e 56m –, de Marte, em 24h e 40m – tendo-se enganado neste, em apenas 2m e 38s para mais –, calculou as órbitas dos satélites daquele, descobriu quatro satélites de Saturno – Jápeto, Rea, Tétis e Dione –, tendo observado pela primeira vez a linha de tom escuro que divide os anéis deste planeta, e mediu com erro ligeiro a distância Terra-Sol.
Edmond Halley (1656). No seguimento de uma viagem que realizou à ilha de Santa Helena, elaborou um catálogo das estrelas meridionais, tendo sido o autor do primeiro mapa meteorológico da Terra. Com os elementos bibliográficos disponíveis, procedeu ao estudo das órbitas dos cometas que foram visionados entre 1337 e 1698, constatando que três, tinham trajectórias muito semelhantes, tudo levando a crer, tratar-se de um mesmo objecto a descrever uma órbita fechada com um período de 75 anos. Previu assim, o seu regresso para o ano de 1758, regresso que veio efectivamente a ocorrer no ano seguinte (1759). É o cometa Halley.
Friederich Wilhem Herschel (1738). Interessa-se tardiamente pela astronomia – com a idade de 35 anos –. Procurou construir telescópios com a máxima ampliação e capacidade de resolução, tendo o último que construiu um espelho com um metro e vinte e dois centímetros de diâmetro, um peso superior a uma tonelada, e uma distância focal de cerca de doze metros. Desenhou um mapa de todo o sistema estelar, descobriu numerosos cometas, as calotas polares de Marte, seis satélites de Saturno, o planeta Urano e dois satélites deste.
Charles Messier (1730). Foi o primeiro astrónomo que viu o cometa Halley, quando este regressou ao periélio em 1759. Para além deste, observou um grande número deles, tendo descoberto dezasseis. Com um telescópio de 18 cm, cuja eficácia pode hoje ser comparada à de um aparelho com 8 ou 9 cm, elaborou um catálogo com 45 objectos celestes, publicado em 1771. Posteriormente, com a colaboração de Pierre Méchain, publicou um novo catálogo com 58 novos objectos – terminando assim, com o n.º 103, o autêntico catálogo Messier, muito apreciado e utilizado por praticamente todos os astrónomos amadores contemporâneos, já que os objectos identificados podem ser visualizados com um pequeno telescópio –. A estes foram acrescentados 7, numerados de 104 a 110.
Urbain-Jean-Joseph Le Verrier (1811). Face à impossibilidade de prever com exactidão a órbita de Urano, provavelmente devido à presença de um corpo maciço ainda desconhecido e perto deste, no sistema solar, Le Verrier, estabeleceu a sua posição possível em Agosto de 1846, o que veio a ser confirmado por Gottfried Galle, em 23 de Setembro. Estava descoberto o planeta Neptuno.
J. Dreyer, director do Obsrvatório de Armagh, na Irlanda, compilou nos finais do século XIX, o “New General Catalogue” (NGC), com 7840 objectos, a que foram acrescentados 5386 agrupados no denominado “Index Catalogue” (I.C.).
Percival Lowell, em 1905, por intermédio de cálculo previu a existência de um objecto com sete massas terrestres a uma distância de quarenta e três unidades astronómicas do Sol. Já depois da sua morte, em Fevereiro de 1930, Clyde Tombaugh descobria Plutão, quando analisava duas chapas fotográficas, no observatório que tinha sido de Lowell.


A moderna representação do universo reporta-se ao ano de 1924, quando Edwin Hubble, astrónomo norte-americano demonstrou que para além da nossa galáxia existem muito mais – que se afastam de nós conduzindo, quer a um decréscimo da densidade quer da temperatura do universo –.
Nas fases de desenvolvimento actual, as galáxias são constituídas por estrelas com idades diferentes, com ou sem sistemas planetários, nuvens de pó frio ou pouco quente, e gases com temperaturas desiguais e níveis de concentração diversos. São normalmente classificadas em elípticas, espirais e irregulares. A Via Láctea faz parte de um pequeno conjunto de galáxias denominado Grupo Local, com cerca de 30 membros. É a nossa galáxia com um diâmetro de cerca 80.000 anos-luz e o Sol a 27.800 do centro galáctico. Terá qualquer coisa como cem mil milhões de estrelas. Nela existem agrupamentos de estrelas – os enxames estelares abertos e os enxames globulares – e nebulosas, para além, evidentemente, de estrelas solitárias, poeiras e gases. Os enxames estelares abertos são grupos de várias dezenas ou centenas de estrelas jovens que em alguns casos são facilmente observáveis com binóculos, pequenos telescópios ou até à vista desarmada. Os enxames mais vistosos e fascinantes são os globulares. Constituídos por um número muito elevado de estrelas – de 50.000 a alguns milhões – reunidas à volta de um mesmo centro de gravidade e com uma simetria quase esférica, proporcionam-nos um prazer contemplativo incomparável. As nebulosas podem ser difusas – nuvem de gás e de poeira que emite luz sob a acção de radiação de estrelas muito quentes que se encontram próximas –, obscuras – nuvem de gás e de poeira que oculta estrelas situadas por detrás dela – e planetárias – camada gasosa esférica, ejectada por uma estrela que explodiu –. As nebulosas denominadas planetárias – mas que nada têm a ver com planetas como erroneamente o seu nome poderia denunciar – são constituídas por material expulso por uma estrela que é visível no seu centro.

As equações formuladas por Einstein no âmbito da teoria da relatividade vieram demonstrar que a regra no Universo é a impermanência. E aqui, não resisto a citar Pessoa:
“ (...)
Mas o dono da Tabacaria, chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com o desconforto da cabeça mal voltada.
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, e eu deixarei versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, e os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de
coisas como tabuletas,
(...) “
Do poema “Tabacaria”.

Segundo a teoria do “big bang”, o universo terá tido início há cerca de 15 mil milhões de anos. É a partir daqui que se inicia a contagem do tempo. Este parece não ter qualquer significado antes daquele momento. A teoria da relatividade terminou com a ideia do tempo absoluto e fez constatar a sua interdependência do espaço.
Os fundadores da teoria do “big bang”, que se encontra em constante aperfeiçoamento, são Alexander Friedman, Georges Lemaitre e George Gamow. Este último prevê a existência da denominada radiação fóssil – se a imagem de um universo em arrefecimento, sugerida pelo movimento das galáxias, é correcta, e se há razão para o regresso ao passado até à era ardente, então no universo actual deverá existir um sinal dessa época sob a forma de uma radiação milimétrica –. As primeiras considerações foram tecidas no sentido de que a grande explosão ocorreu num momento em que o universo era infinitamente pequeno e denso. No ano de 1965, dezassete anos após a previsão de Gamow, Arno Penzias e Richard Wilson, quando efectuavam experiências com um detector de micro-ondas muito sensível, observaram a radiação fóssil, um clarão milimétrico que provinha de todas as direcções, sem reservas quanto ao tempo – dia, noite, mês, ano –, pelo que deveria ter a sua origem no exterior da nossa galáxia. Estavam confirmadas as previsões de Gamow e de Friedman.
Interpretando devidamente este facto, algo nos assalta o espírito: não pode haver um único ponto em explosão como sugere a teoria clássica do “big bang”. É certo, que a constatação de que o universo se encontra a arrefecer leva-nos a concluir que no princípio deve ter sido extraordinariamente mais quente. Esta temperatura elevadíssima conduziu os cientistas à ideia de uma explosão de matéria confinada num volume minúsculo. Um universo infinitamente pequeno e denso. Nesse momento a densidade e a curvatura do espaço-tempo teriam sido infinitas. Tratar-se-ia de uma singularidade, em que qualquer teoria falha. Como diz Reeves – Últimas Notícias do Cosmos, Gradiva – “Esta noção muito popular entre os divulgadores e cineastas, corre o risco de criar confusão pois faz intervir elementos que se aplicam à cosmologia e outros que não. Podemos reter a ideia de uma matéria quente (o explosivo) que arrefece numa expansão violenta. Mas (...) a imagem de uma matéria inicialmente confinada a um volume minúsculo e propagando-se no espaço vazio envolvente deve ser rejeitada. Se queremos conservar a imagem da explosão, é preciso modificá-la. Imaginemos antes um espaço contínuo em que cada ponto está em explosão. O universo é homogéneo e não tem centro”.
A teoria do “big bang” não foi aceite por todos os astrofísicos. A concepção de um universo em mutação, com nascimento e morte não agrada à inquietude humana – senão, vejam-se os esforços da Igreja para manter incólumes as doutrinas aristotélicas –.
Fred Hoyle, astrofísico inglês, formulou com Hermann Bondi e Tom Gold, a teoria do “estado estacionário”. Mesmo admitindo a rarefacção do universo – as galáxias ao afastarem-se levam a um decréscimo, quer da densidade quer da temperatura – compensam-na com a criação contínua de matéria. As galáxias afastam-se, mas no vazio inter-galáctico surgem novas aglomerações estelares geradas da matéria nova, em criação contínua.
Contudo, num universo infinito e estático não haveria noite. Olhássemos para onde olhássemos, encontraríamos sempre uma estrela e o seu brilho.
O próprio Einstein, quando formulou a teoria da relatividade, estava convencido de que o nosso universo era estático, ao que alterou os resultados que apontavam em sentido contrário, incluindo nas suas equações a denominada “constante cosmológica”.
Friedman, físico e matemático russo, contrariou esta constante cosmológica, enunciando duas proposições:
1ª - O universo é idêntico seja qual for a direcção para onde se olhe – proposição que foi demonstrada por Penzias e Wilson –;
2ª - Isto também ocorre, se observado de qualquer outra galáxia que não a nossa.
O universo não é, pois, estático.

O universo primordial seria algo sem forma, completamente desorganizado, um fluido sem estrutura, com a matéria extraordinariamente densa, quente e incandescente.
Alguns segundos após o “big bang”, a temperatura baixa para cerca de mil milhões de graus, momento em que protões e neutrões começam a combinar-se produzindo núcleos de átomos de hidrogénio pesado.
Posteriormente surgem os núcleos de hélio.
Algumas horas depois e talvez durante cerca de um milhão de anos, o universo expande-se e com o arrefecimento, os electrões e os núcleos começam a combinar-se para formar átomos. Sobre esta miscelânea inicial, com pequeníssimas variações de densidade, a gravidade exerce os seus efeitos. A matéria primordial era uma combinação quase homogénea de hidrogénio e hélio, que pela fragmentação em torno de núcleos de condensação deu origem às protonuvens galácticas. Os coágulos de matéria ligeiramente mais densos que os envolventes, atraem-nos e o fenómeno amplia-se por si mesmo. Mais massa, maior a força atractiva. Nascem assim, as galáxias, estruturas básicas do universo. Do nosso planeta, as únicas visíveis a olho nu, são a Via Láctea – franja esbranquiçada de forma irregular, que atravessa a abóbada celeste passando pelas constelações do Cisne, da Cassiopeia e do Cocheiro –, as nuvens de Magalhães – que iluminam com a sua luz ténue as noites do Verão austral – e a de Andrómeda, descrita no catálogo Messier como M31. Os outros milhares de milhões destes objectos, só podem ser avistados com instrumentos mais ou menos potentes.
O satélite COBE demonstrou a granularidade da radiação fóssil, o que parece ser um dos melhores argumentos para a explicação do nascimento das galáxias. Existem cerca de cem mil milhões de galáxias observáveis, com enormes espaços inter-galácticos.
Hubble, confirmou, por via do efeito Doppler-Fizeauas riscas espectrais dos objectos desviam-se para o azul, se a fonte emissora de luz se aproxima dum espectróscopio e para o vermelho se se afasta – a previsão que Einstein se recusara a admitir. As galáxias afastam-se e o valor do desvio para o vermelho não é meramente casual, mas antes, directamente proporcional à distância a que se encontram de nós – quanto mais longe, mais rapidamente se afastam –. Este afastamento conduz-nos a um decréscimo, quer da densidade quer da temperatura do universo.
Por outro lado, o facto de se afastarem de nós por todos os lados, não quer dizer que sejamos o centro do mundo. Em toda a parte está o centro e o ponto de retorno.
Há quem interprete o afastamento no sentido da expansão do próprio espaço geométrico. As galáxias são arrastadas pelo alongamento do espaço.
No interior das galáxias, o hélio e o hidrogénio dividem-se e entram em colapso como consequência do efeito da gravidade. A compressão progressiva do novo objecto, transforma a energia gravitacional em calor, até que a uma temperatura de cerca de 10 milhões de graus, funciona como um verdadeiro reactor nuclear, obtendo a energia da combinação de núcleos ligeiros com núcleos mais pesados. Aparecem elementos como o hélio e o carbono. Nascem as estrelas, de forma idêntica ao nascimento das galáxias.
Um astrofísico indiano, Sbrahmanyan Chandrasekhar, calculou que uma estrela que esgotasse o seu combustível e tivesse mais do que uma vez e meia a massa do Sol, não poderia manter-se contra a sua própria gravidade. Se a estrela tiver uma massa inferior àquele limite, no estado final, irá transformar-se numa anã negra ou numa anã branca. Se tiver uma massa superior – ou até cerca de 10 massas solares – teremos uma estrela de neutrões. O buraco negro pode surgir de uma estrela com algumas dezenas de massas solares. A ideia de buraco negro remonta a finais do século XVIII, quando John Mitchel publicou um estudo em que afirmava que uma estrela de densidade igual à do Sol, mas com um raio 500 vezes maior, teria um campo gravitativo tão intenso que não deixaria sair a luz produzida no seu interior. São astros, cujo campo de gravidade é tão intenso que nem a própria luz lhes pode ser extraída. É na definição de Stephen Hawking o conjunto de acontecimentos dos quais não é possível escapar para o infinito. A fronteira do astro é formada por trajectórias de raios de luz que não lhe conseguem escapar. Um buraco negro em rotação comportar-se-á como um redemoinho marinho, obrigando tudo quanto dele se aproxima a girar no mesmo sentido da sua rotação. Ao formar-se a singularidade espaço-tempo, poderá assumir a forma de um túnel, que a ficção tem utilizado para suscitar a ideia relativa à comunicação entre diferentes universos ou integrar uma viagem no tempo, no próprio universo a que pertence.
Algumas estrelas com várias massas solares, antes de atingirem o estado de estrelas de neutrões ou buracos negros, explodem na sua parte central, projectando os seus elementos no espaço. São as supernovas. Os elementos enviados para o espaço transformam-se em maternidade de novas estrelas.

A maternidade do nosso sistema é uma nebulosa protoplanetária, nuvem de gás e de pó interestelar que se começou a contrair, assumindo a forma de um disco achatado no centro da qual se formou o Sol – que é uma estrela solitária, por não pertencer a nenhum sistema binário ou duplo –. A formação do sistema solar remonta a 4500 milhões de anos. Os elementos da nebulosa, que não se precipitaram para o seu centro – onde se formou o Sol – como consequência do movimento de rotação, começaram a agregar-se formando pequenos glóbulos de matéria crescente devidos à atracção gravitacional. Daqui surgiram os planetas, à volta dos quais em determinadas circunstâncias, se repetiu o fenómeno.
O Sol é uma estrela que dista de nós 149,6 milhões de km, o que equivale convencionalmente a uma unidade astronómica. É constituída por cerca de 73% de hidrogénio, 25% de hélio e 2% de outros elementos mais pesados. À superfície tem uma temperatura de 6000º e no interior de 15 milhões de graus. Comparado com Betelgeuse, estrela supergigante da constelação de Orion, tem um raio 1100 vezes menor. Está longe de possuir a massa que o poderia levar a desencadear uma explosão de supernova. Expandir-se-á até Marte na fase de gigante vermelha. Ao perder a atmosfera, restará o núcleo, pequeno como um planeta. É a fase de anã branca. O seu decesso está marcado para daqui a cerca de 5 milhões de anos.
Mercúrio é o planeta mais interior do sistema solar, bastante parecido com a Lua, já que tem a superfície cheia de crateras resultantes do embate de meteoritos. O dia solar é de 176 dias terrestres. De dia a temperatura é de cerca de 500º C e à noite de 200º C. A olho nu aparece como um ponto amarelo alaranjado e é visto na aurora ou no crepúsculo nas proximidades do horizonte, o que também torna difícil a sua observação com telescópios, devido à distorção da imagem.
A superfície de Vénus é o que mais se aproxima do inferno. Uma pressão 90 vezes superior à da atmosfera terrestre e uma temperatura de cerca de 480ºC. A atmosfera é de dióxido de carbono e ácido sulfúrico. Roda sobre si próprio em sentido retrógrado, em 243 dias – o dia é maior que o ano –. Chamam-lhe a estrela da manhã ou da tarde. É de fácil observação devido ao seu brilho.

A Terra é o planeta que habitamos. Tem movimento de rotação e translação em volta do Sol, que percorre em cerca de 365,2 dias. Nasceu com o Sol há 4500 milhões de anos.
Sem que exista uma certeza neste domínio pensa-se que a vida tenha surgido há 3,8 milhões de anos – porque é essa a idade que os geólogos atribuem às rochas mais antigas que contêm carbonatos, elementos associados à vida –. Os primeiros seres, teriam uma única célula e viveriam em lagos e charcos, produzindo oxigénio por via da fotossíntese, que ao subir criou a camada de ozono da estratosfera, que filtra os raios ultravioletas. Os fósseis mais antigos de seres vivos rudimentares – algas – datam de há 3,5 mil milhões de anos.
Há 600 milhões de anos, atentas as condições propícias, dá-se a explosão da vida com o aparecimento de inúmeras espécies vegetais e animais.
Na era primária, alguns vertebrados libertaram-se do ambiente marinho original e muniram-se de pulmões, dividindo-se em dois ramos: os anfíbios ou batráquios e os répteis.
A era secundária foi a dos grandes répteis
A época terciária é dominada pelos mamíferos, onde encontraremos os antepassados dos primatas.
Há cerca de 20 milhões de anos, surgiram os Driopitecos, primatas muito parecidos com os símios modernos, donde descendem os ramapitecíneos. Será provavelmente a partir deste grupo que evoluíram os nossos antepassados.
Há 4 milhões de anos surgem os Australopitecos. Mediam cerca de um metro e vinte e tinham um cérebro com cerca de 400 cm3 – contra 1300 do nosso –. Alimentavam-se de frutos e raízes.
Um milhão e meio de anos depois, aparece um Antropiano, com o cérebro mais desenvolvido que o Australopiteco. Os utensílios que fabrica são relativamente perfeitos. É o homo habilis.
O Pitecantropo grande caçador e viajante viveu há 1,5 milhões de anos e o homem de Neandertal vive na Europa até há 40.000 anos.
Recuando 35.000 anos, encontramos o nosso antepassado directo, o homem de Cro-Magnon.
E a nossa civilização nasce apenas há 5000 anos na Mesopotâmia, entre os rios Tigre e Eufrates.

Seremos os únicos neste cosmos imenso? Drake, concebeu uma fórmula para calcular a quantidade de civilizações tecnológicas, que podem existir actualmente na nossa galáxia. Pelos seus cálculos – que se estruturaram na: possibilidade da galáxia ter 100.000 ou 300.000 mil milhões de estrelas; proporção de estrelas simples do tipo solar; percentagem destas estrelas que podem ter um sistema planetário; fracção de estrelas com planeta em posição adequada; percentagem de estrelas com um planeta habitável onde se desenvolveu vida; percentagem destes planetas em que se desenvolveu vida inteligente; percentagem dos que evoluíram para uma civilização tecnológica; duração média de uma civilização tecnológica –, obteve dois resultados, um pessimista e outro optimista. O primeiro, aponta no sentido de existirem 13.950 estrelas com planeta e civilização tecnológica, com uma distância média de 1790 anos-luz, enquanto que o segundo aponta para 192,5 milhões de planetas com civilizações tecnológicas a uma distância média de 75 anos-luz.
Não nos olvidemos, dos 100 mil milhões de outras galáxias visíveis, para além daquelas a que ainda não tivemos acesso e das que nunca iremos ter...

O futuro do nosso universo, dependerá directamente da sua densidade, que por sua vez deriva da matéria cósmica. Quanto maior a densidade, mais as galáxias se atraem. Quanto menor, mais se afastam, levando à rarefacção do universo.
Hoje é uma incógnita a questão relativa à eventual contracção ou rarefacção do cosmos, o que também decorre do desconhecimento do valor da sua densidade. Se esta for superior a três átomos por metro cúbico, o campo de gravidade mútuo das galáxias será suficiente para efectuar o retorno. Se inferior, a expansão prosseguirá indefinidamente – a densidade crítica é a que está no limite das duas situações –. Se porventura se vier a contrair, tal não ocorrerá em princípio, antes de 15 mil milhões de anos.


Albert Einstein, disse um dia, querer saber como Deus criou o mundo, “conhecer os seus pensamentos”. Mas faleceu na dúvida e na mesma ignorância em que irão falecer todos os da sua espécie.
É provável – ou se se quiser, improvável –, que o Cosmos seja eterno e infinito. No infinito há sempre lugar. Os mundos – aqui entendidos como “universos” – podem ser finitos, sucedendo-se na eternidade ou pode existir apenas um, infinito e eterno ou meramente finito. Nada nos garante, por outro lado, a inexistência de mundos paralelos.
Roger Penrose e Stephen Hawking, demonstraram que a teoria da relatividade geral, implicava que o “universo” tinha de ter um princípio e possivelmente um fim. Esta impermanência é uma provocação a profundas reflexões sobre a existência de algo, que esteja para lá das aparências e das mudanças.
Pode não existir um único mundo, mas infinitos, diferenciados entre si pelas configurações iniciais. Num de forças nucleares débeis, não se formariam elementos pesados e seria constituído por hidrogénio, enquanto noutro em que a força de gravidade fosse 10/30 mais débil que a eléctrica – no nosso esta relação é de10/39 – tudo seria muito mais pequeno – estrelas com massas de mil trilionésimas da massa solar – e com um ciclo vital inferior a um ano. As condições iniciais poderiam também levar a uma radiação cósmica de centenas de graus, inviabilizando a vida humana, quem sabe, permitindo outros tipos de existência.
Assim, as leis que regem um mundo, podem não reger outro, tendo cada um o seu conjunto de leis físicas. Nada nos diz, que existem regras de validade eterna e infinita. Os mundos podem ser como células num organismo que não tem forma nem limite e está para além do nascimento, de qualquer lugar, e da criação.
A maior parte das configurações iniciais, poderiam ser caóticas e irregulares. Inicialmente desordenadas, organizam-se ou mantêm-se naquele estado, divergindo as características e peculiaridades de cada uma. Num mundo em que a interacção forte fosse mais intensa que no nosso, o hidrogénio transformar-se-ia na totalidade em hélio, o que afastaria a possibilidade de existir água. Podemos multiplicar os exemplos conducentes à complexidade ou à “desorganização” – entendida esta última, no sentido de não ser propícia à eclosão da vida –.
No nosso mundo, as galáxias estão a afastar-se, presumivelmente pelo alongamento do espaço geométrico. Imaginemos uma célula em crescimento. As galáxias estão fixas no seu tecido. Não se movem relativamente à membrana celular. Contudo, afastam-se tanto mais rapidamente quanto mais longe estiverem do local da observação, fenómeno perceptível de todo e qualquer lugar.
Na infinitude, outras “células” poderão comportar-se de forma diversa, colapsando num curto período de tempo ou serem alimentadas por materiais componentes de mundos contíguos. O canibalismo cósmico dependerá das distâncias entre mundos e das velocidades de crescimento das “células”. Em mundos idênticos, os gases e o pó dos dois sistemas acabam por se fundir, enquanto as estrelas se limitam a alterar a sua trajectória nos subsistemas – galáxias –. O novo mundo, gerado por força da acção gravitatória, está ampliado e transforma-se numa armadilha mais eficaz do que os vizinhos de menores dimensões, cuja captura será apenas uma questão de tempo, caso as configurações por qualquer motivo a tal não obstem. Um mundo em rarefacção pode também nesta perspectiva ser alimentado pela matéria de um outro ou integrar-se nele, perpetuando determinadas estruturas.
Assim, o nascimento e a morte podem não ocorrer em todas as “células”, que consequentemente poderão participar da eternidade do todo. Apesar de serem um fluxo perpétuo, mantêm-se vivas, ainda que em constante mutação.
A matéria do mundo que habitamos, no princípio seria irregular e caótica. Originária ou derivada de contracção, colisão, expansão de outros espaços “celulares”. Poderia ser o resultado de um “big crunch”, em que as partículas constituintes de um sistema em colapso não colidiram integralmente formando uma singularidade, mas passaram ao lado, afastando-se de seguida e provocando a expansão a que agora assistimos. Ou pode ter existido desde sempre, aguardando que qualquer condição fortuita e obscura despoletasse o primeiro movimento.
O “big bang” é o limite do astrofísico e é também o limite da pesquisa metastronómica no que se desenrola para além dele. Com ele, começa um tempo específico, que não tem sentido fora da “célula” que habitamos. Não podemos falar de acontecimentos, prescindindo das noções de espaço e de tempo. Este último conceito, no domínio da teoria da relatividade não é absoluto, depende donde estamos e da forma como nos deslocamos.
Na primeira espécie de modelo de Friedman, o universo expande-se e depois contrai-se. O espaço é curvado sobre si próprio como a superfície da Terra. A sua densidade média é superior à densidade crítica. É um mundo finito na sua dimensão. Na segunda, a expansão é eterna. O espaço faz lembrar a superfície de uma sela e é infinito. A densidade média é menor que a densidade crítica. Na terceira, a expansão ocorre à taxa crítica e o espaço é plano e infinito.



Daqui por milhares de milhões de anos, o espaço contrair-se-á fazendo com que toda a matéria entre em colapso ou a expansão e consequente rarefacção fará com que se transforme num mundo completamente estéril, até que na melhor das hipóteses seja absorvido ou alimentado pela expansão de um vizinho?
Será a dissolução um retorno à origem, que não afectará o todo e a unidade, não alterando a mutabilidade da matéria a natureza do que é permanente?
Se tudo for Um, afinal quem nasce e quem morre?
Na eternidade e no infinito reina o princípio da incerteza. Todas as probabilidades podem ser tidas por lógicas.
Esta eternidade e infinitude existem por si ou são a emanação de algo, a quem chamamos Deus, Ser, Absoluto, Alá, Todo ou qualquer outro dos seus mil e um nomes?
O divino transcende a esfera da experiência humana. Há uma transcendência absoluta relativamente a tudo o que o homem conhece. É inapreensível, impossível de conceber, para além do raciocínio, da experimentação.
A perguntas, tais como, porque existe o universo? Porque existe alguma coisa em vez de nada (Leibniz)? Porque existimos nós? Donde vimos? Quem somos? Para onde vamos?, não responde a ciência, tropeça a filosofia em contradições sucessivas e induz-nos a teologia a crer que somos detentores da verdade, em atitude de impertinente arrogância.

Deus, a alma, a existência, criação, e destino do Universo, permanecerão para sempre como mistérios, pelo menos enquanto objecto do exercício da razão, do dogmatismo teológico ou da experimentação científica.
Talvez haja uma forma, que nos permita aceder ao conhecimento, sem recurso ao pensamento e aos seus múltiplos artifícios. Se houver, é incomunicável, constituindo-se como um trilho individual. Se houver, será cada um de nós, sem mestres, gurus, dirigentes, crenças e dogmas que a irá encontrar, sem que a procure ou quando menos a procurar.

JOSÉ MARIA ALVES
http://www.homeoesp.org/

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