Estando eu a coser na minha almofada,
Com agulha de ouro e dedal de prata,
Veio cavaleiro pedindo pousada;
Se lha meu pai dera, estava bem dada,
Deu-lhe minha mãe, que muito me custava;
Fui fazer a cama no meio da sala.
Era meia-noite, a casa roubada,
Dos três que nós éramos, só a mim levava.
Eram sete léguas, nem fala me dava,
Lá para as oito é que me perguntava:
- Lá na tua terra como te chamavam?
«Lá na minha terra eu era morgada,
Cá nestas montanhas serei desgraçada.»
- Por essas palavras serás degolada,
Ao pé dum penedo serás enterrada,
Coberta de rama, bem enramalhada.
No fim de sete anos por ali passava,
E a todos que via lhe perguntava:
- Dizei-me pastores que guardais o gado,
Que ermida é aquela que além branquejava.
- É de Santa Iria bem-aventurada,
Que ao pé dum penedo morreu degolada.
- Oh minha Santa Iria, meu amor primeiro,
Perdoa-me a morte, serei teu romeiro!
«Não te perdoo, ladrão carniceiro,
Que me degolaste que nem um carneiro;
Veste-te de azul, que é cor do céu,
Se ele te perdoar, perdoar-te quero.»
ROMANCE POPULAR
JOSÉ MARIA ALVES
http://www.homeoesp.org
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