Na gaiola empoleirado,
um mimoso passarinho
trinava brandos queixumes
com saudades do seu ninho.
«Nasci para ser escravo
(carpia o cantor plumoso),
não há ninguém neste mundo,
que seja tão desditoso.
Que é do tempo, que eu passava,
ora descantando amores,
ora brincando nos ares,
ora pousando entre flores?
Mal haja a minha imprudência,
mal haja o visco traidor;
um raio, um raio te abrase,
fraudulento caçador!
Em que pequei? Porventura
fiz-te à seara algum mal?
Encetei, mordi teus frutos,
como o daninho pardal?
.........................................
Ah! Se a vossa liberdade
zelosamente guardais,
como sois usurpadores
da liberdade dos mais?
...........................................
Mas ah triste! Ah malfadado!
Para que me queixo em vão?
Que espero, se contra a força
de nada serve a razão?
Aqui parou de cansado
o volátil carpidor;
eis que vê chegar da caça
o seu bárbaro senhor.
Trazia encostado ao ombro
o arcabuz fatal, e horrendo,
e alguns pássaros no cinto,
uns mortos, outros morrendo.
..............................................
O preso vendo a tragédia,
coitadinho, estremeceu,
e de susto, e de piedade
quase os sentidos perdeu.
Mas apenas do soçobro
repentino a si tornou,
cos olhos nos seus finados
estas palavras soltou:
«Entendi que dos viventes
eu era o mais infeliz:
que outros têm pior destino
aquele exemplo me diz.
Da minha sorte j´agora
queixas não torno a fazer:
antes gaiola que um tiro,
antes penar que morrer».
BOCAGE
JOSÉ MARIA ALVES
http://www.homeoesp.org
2 comentários:
tem um pedaço muito grande do poema faltando !
Boa tarde Amigo
Bem ou mal, falta.
Aliás, percebe-se pela inclusão
..................
Foi cortado propositadamente por ser para crianças e jovens de tenra idade.
Um abraço
Zé Maria Alves
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