de pequenino longe das montanhas que hoje vejo são tão poucas as lembranças
recalquei sublimei substituí pelo vazio inócuo as memórias da cidade
desta restou-me o rio com as suas asas de cristal erguidas na barra a mesma fome e sede de mar terras do além-oceano com as suas árvores gigantes pássaros exóticos no sorriso amplo de longínquos habitantes coloridos
neste vale que agora se corrompe por míseras trinta moedas vagueava o rapazito de calções à chuva ao vento ao sol e aquelas dores de cabeça horríveis e constantes como tições acesos no crânio a habituação a algumas provações e sofrimentos por amor ao calvário alegria dos caminhos sinuosos de pinheirais dos vinhedos em flor das cestas de vime no ribeiro a caçar cabeçudos
na cidade a fronte baixa voltada para a calçada calcária numa angústia profunda e aquela tristeza que só a tem o sol poente
cresci entre a serra e o mar numa vida vária ergui castelos ao luar segui o rastro das estrelas inocente tal rei mago em demanda do salvador amei pobres e tresloucados os que sofrem isentos de pecado fugi dos desalmados das crianças que são cruéis e dos adultos desleais como cardeiros e silvados
amei e fui amado e odiado
vivia o dia
das plantas
dos animais
o agora que nascia
a cada segundo
numa emoção tão forte
que deixava vencida
toda a morte
porque morria
a cada instante e
a cada momento
renascia
sempre um novo
josé maria
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