Download dos textos de ANTIPOESIA ou a insustentável arte da falsa erudição em –
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de todas vós vou aos poucos delineando rostos corpos a íntima profundidade das taças repletas do mais precioso dos néctares
nesta visita ao passado na desconstrução das imagens e dos sonhos sinto o hálito real do presente a percorrer a mente ébria a febre de cada momento sem nomes corpos tantos incontáveis
os vícios da boémia e de uma vida de desatino onde não morava o tédio com as suas farpas medonhas
cresceram em mim os lírios da devassidão as experiências fantásticas dos antigos romanos e dos bárbaros do norte meretrizes filhas de boas famílias nobres damas casadas viúvas divorciadas e solteiras todas boas e más camas
modelos ocos e estilistas da frivolidade vulvas de oportunidade
ah como me eram caros os prazeres da carne e como ainda hoje me apraz a luxúria
durmo como e com quem quero fruto de árdua imaginação e firmeza de carácter
tenho numa única mulher todas as mulheres do mundo descida dos sentidos aos infernos ascensão do espírito ao paraíso sem passagem paga pelo pensamento ao purgatório
o meu corpo espraia-se para além do sonho viagens interiores que se deslocam no espaço a visitação da matéria original e dos prodígios milenares de tanta lascívia
imagens que se sucedem nas imagens que desfolho que só eu vejo palavras que se pregam ao papel branco da inocência manchando-o
indulgência dos anos a quem a si se basta e por se bastar tem tudo o que o mundo exterior pode ofertar ao tédio do já-visto e vivido
amálgama de memórias e ilusões que vagueiam nas palavras soltas e derramadas neste leito que tanto tem de macio como de elevada calosidade
de noite
despido
visto o teu corpo
como-te as entranhas
e apenas porque é noite
branda de veludo
na escuridão
se tudo nos é permitido
diz-me espelho meu
se alguém ama como eu
tão vívidas e esparsas as lembranças de noites fulminantes
o amor não se compra não se vende talvez não exista ou exista no sexo que pende do coração em lágrimas pieguice dos poetas e dos romanceiros tristes
quixotescas ilusões de cavaleiros sem montada
naquela tarde
sequiosa
fizemos amor
nas margens
arenosas
do ribeiro
tudo fizemos
já que amar
tudo consente
sem pecar
lavámo-nos
em águas
gélidas
e
de costas
voltadas
jurámos
mão na mão
o que fazer
nos faltava
a separação
porque a paixão
também mata
o amanhã virá com as suas alegrias e tristezas
há uma chuva outonal de folhas variadas no jardim o banco de granito tinge-se de verde
não podemos ficar a lua esconde-se atrás do velho carvalho e uma brisa fria percorre o lago outrora povoado de peixes dourados
vamos que os nossos corpos se unam no amplexo da eternidade
o agora porquê desperdiçar o amor
será que o sol nos irá encontrar aos dois num
aquele beijo
foi
só
um beijo
o primordial
criação do mundo
na boca que se abriu
língua à língua colada
lábios salivados
dentes suados
e eu que crescia
em mim
dentro de ti
nesse desejo
tão desejado
oiço o teu riso sufoca-me a culpa e o remorso em tantas noites me amaste sem quereres mais ninguém
querias-me tanto que te bastava teres-me a teu lado
tinhas nas mãos brancas os laços da paixão
arrependo-me não do amor que te dei nas noites consumidas em segredo mas de te ter dado a esperança vã de eternamente te ter nos meus braços
nunca fui homem de uma só mulher
nunca me irei curar desta doença
vidros gélidos
na casa de inverno
a noite cai sobre
os seios pequenos
do vale
lá longe
um pastor
assobia a flauta de cana
os lençóis são os de ontem
neles as tuas formas amarrotadas
o cheiro da almofada branca
varre a velha cama
de olhos cerrados vejo-te
inclinada
os cabelos no meu pénis
a boca amordaçada
esperma que se derrama
num clitóris tumefacto
quando as línguas se conhecem
as salivas nascem quentes
os seios erectos
quando o membro cresce
a vagina se humedece
e espasmos a cruzam
num movimento alado
um corpo novo renasce
das cinzas do passado
agora que te conheço
iludo o espaço
que vai dos seios aos joelhos
dos teus lábios aos artelhos
pernas que se abrem
desejo impresso na carne
espasmo violento
que do teu ventre
nasce sedento
o sopro da tua alma
no meu sexo
dissolve do mundo o espaço
falta-me o teu corpo
a tua alma
teus gritos
as amarras com que me sugas
os rios de saliva
os sorrisos e risos
de teus orgasmos
os membros contorcidos
as palavras silenciadas
nesta tarde de outono
faltas-me tu
falta-me tudo
tudo é verde
nesta tarde infernal
as paredes
a mantilha
a coberta
as uvas
da tua vinha
o sabor
da tua boca
o odor
da tua língua
a cor
do teu colo
a espuma
dessa gruta
tão macia
que ao mais
suave toque
estremece
se contrai
e rejubila
tudo é verde
neste instante
o olhar
que me alumia
o ar
que me alimenta
o sexo
que me acaricia
o orgasmo
que me mata
e me dá vida
o vácuo das razões a violência dos instintos a espada que te trespassa
eis o fogo da noite na fissura dos tempos
em toda a parte o centro do amplexo dos corpos em toda a parte e em parte nenhuma
o espelho convexo
os dedos na tua boca morde-os louca
o membro no teu rabo
morde a almofada de cristal abafando sons roucos uivos de gozo imperceptíveis a cabeça na cabeceira
não há nada que eu não queira
deita-te
despe-te
amante
amiga
bica-me
sorve-me
lambe
chupa-me
dolente
macia
fode-me
alivia-me
o desejo
é o grito
a adaga da liberdade
hino ao sem-limite
a contradição
opaca insistência
de espasmos-sem-razão
o líquido viril
a voragem
navio gemente
na tempestade
do coração
negreiro vil
da cristandade
cinza
odor
luz
calor
virtude e pecado
com que te
rasgo
pernas
pescoço
o ventre raso
e encostando-te
à parede
em súplicas de sede
tomo-te o vaso
despe-me a camisa
beija-me os braços
desata-me as calças
desce teus cabelos
une-os aos meus
com a rosa orvalhada
morde-me os lábios
inventa novos gestos
a língua descuidada
tão faminta tão desejada
és daquelas
muitas mulheres
de quem recordo o corpo e
esqueci o rosto
bebo o vinho
rejeito o mosto
nem sempre o que te apetece me apraz por vezes o que te recreia me desagrada e o que quero rejeitas mas à noite em sonhos quando o anjo do amor desce nem tu me enjeitas nem de ti fujo e os nossos corpos feitos um nada negam fazem tudo
da tua boca
nascem golfadas de azul
um azul tão macio
que é vício
no ofício da arte de amar
o pulso dos dias
estagna nas tuas pernas redondas
os gemidos do quarto
afogam os orgasmos
e nessa febre salivada
há um mar imenso
tão meigo desordenado despido
que ao grito do prazer
se queda no tempo
estagnado
desmaia a luz no quarto de hotel conspurcado o ar do último hóspede não sei quem mesmo assim nado no teu corpo viro e reviro-te ponho e tiro suspendo o orgasmo e nessa loucura nesse desatino venho-me contigo
o frio veste-te de lã macia e aconchegante mais macia a tua pele
no sossego da tarde aqueces-me a alma
os dedos vibram no meu corpo
tristemente cai a noite vais-te mais bela do que nunca
beijo o ar perfumado e sonho com teu corpo dourado
naquele
dia
de chuva
foi na mesa
de granito
abriste as pernas
perdi o siso
e sôfrego indeciso
ora to metia ora te consumia
essa franja
que serpenteia
entre o olho
e a sobrancelha
que tão suave
se meneia
entre a boca
e o meu falo
deixa-me mudo
deixa-me surdo
torna-me cego
sem que saiba
ou oiça
o urro
em que resvalo
estás tão triste
moça
nos portais
dessa ermida
todo o amor que não nos assiste faz dó
mata o que sofre
naufragante no mar cinzento da desventura
não estejas
bebe vento
bebe sol
as estrelas do firmamento
cobre o teu corpo com o meu lençol
suga-me o alento depois exausta adormece no meu ombro calma distendida saciada a mão no meu ventre desce em sonho até à haste erecta e florida
enquanto ainda palpitam as rosas que dão sentido à vida
como são doces os muros intocados de cristal
as torres de marfim do mais torpe dos palácios
e plácidos os movimentos em ascensão
o rouxinol doirado
no parapeito lazúli
canta ao mundo
o orgasmo
que pelo toque
nasce
verde tão verde
esverdeado e doce
grácil e
profundo
o colar
que usaste
nas noites quentes
à beira-mar
mão no peito
poisada
o anel azul
de noivado
teus olhos
azuis
inundam
o coração
que me asfixia
lembrança do muito
amar
do tanto que te dei
e do outro tanto
que deixei de te dar
se a mim te ofereces
ou me apartas
e a outro preferes
já pouco me importa
que a vida é curta
o tempo escasso
e a saudade morta
ponho-te as mãos no peito
arrasto-as para as pernas
subo-as ao sexo
abraço o teu braço
teu joelho
teu pescoço
e rosto
enquanto tua boca
desce ao meu ceptro
ao céu exposto
sonho e o meu sonho é antigo e vejo-os talvez me veja também a mim não sei
estão velhos
susana
mas não estão mortos
e à visão
do teu corpo
transfiguram-se os rostos
agitam-se as mãos
e os sexos
pelo tempo envelhecidos
renascem
erguem-se
em terrível excitação
terras de vera cruz
onde o grande mar oceano
termina
a primeira coisa que vi
foram os montes
tão redondos
tão perfeitos
na areia da praia deserta
valeu a dor da viagem
a fome da jornada
a partida da pátria amada
perdi o que tinha
bens amores vontade
nasceu-me no coração
eterna saudade
morreu-me a paz
e a calma
mas quando te vi
mais do que perdi
ganhei
tenho-te a ti
e uma nova alma
visito-te nem sempre o prazer das noites solitárias impede-me há uma serenidade na minha casa que não encontro em lado algum
dispo-me enquanto tu já desnuda tamborilas com os dedos no leito apresso-me
morre a paz e nasce o prazer de te comer por trás
eu dentro de ti
tu dentro de mim
assim te vejo assim me vi
nesse espelho te vês
fera adormecida por leito
com tua nudez te deleitas
e no meu coração lês
a dor que me sangra o peito
na ilusão do prazer
de quem não amas
e com quem te deitas
na luz da casa deserta
contra fria parede
tua nudez
emudece a sombra
da alma púrpura
que solitária te penetra
e que na íntima tristeza
da pele orvalhada
não te sente a beleza
de costas te tocas
de costas consentes
de costas te prendes
de costas me negas
de teu corpo as pregas
nos
umbrais
do anseio
teus braços
te envolvem
teus seios
se erguem
corpo seminu
de pássaros
cinzentos
crepuscular instinto
triste é a espera
da solidão
no incenso extinto
do fim de tarde
deponho
um beijo
no teu hálito
a mão no teu peito
e num cerimonial
casto
num hábito
perfeito
desço às pernas
que abro
de modo
tão lento
num tão intenso
querer
que me perco
desfaleço
e sinto
como ninguém
de quem tendo
o que tem
mais nada ter quer
o punhal enterrado no corpo cobre os cortinados debruados a carmim
não há lucidez no prazer na cegueira dos odores que se misturam em mares desfeitos
e há o leito dos mareantes a palma da escuma nunca constante
os corpos diferentes numa mesma alma
a língua rompe-se
na fissura do tempo
os lábios da vulva
apartam a madrugada
cheiras a canela
primavera molhada
toda tu és pressa
ajoelhada
boca de lua cheia
travo de rosmaninho
o teu hálito no meu peito
não és mulher
és deusa
o ouro da manhã
nos teus cabelos
a mão branca e pura
na tua alma
no rosto o traço
da compaixão
aprendi a amar-te
em espírito
na imagem
na terna viagem
do sonho
donde nasce
o amor beatífico
que por ti tenho
e a mais ninguém
pelos deuses doado
em cada amante há um tecido bordado
que se rompe se desfia e desfaz
em cada amor acabado
o cabelo apanhado
os ombros
a cintura fina
as formas arredondadas
viras-te de costas
no velho sofá
entregas-te
no todo em ti
quero que sejas minha
que gemas que grites
que digas
põe-mo por trás
aperta-me as nádegas
quero foder
como tu
nessa beleza nesse querer
poucas há
sentas-te de costas
as mãos
nas minhas pernas
molhas-te
moves-te
na vagina um sorriso
na boca um gemido
corpo nu como no berço elevado belo e delgado
corpo que aguarda por túnica meio-coberto
ao desejo aberto
tenho saudades dos teus cabelos loiros
dos caracóis novelos de lã pura
do teu corpo de sereia
lábios de cotovia
ah se eu pudesse
se não te tivesse perdido
cantava-te uma melodia
deitava-te na cama vazia
e noite dentro
umas vezes amava
outras fodia
visitam-me teus seios
erectos
perfeitos
e eu
nesta hora de dor
neste sentimento
de morte eminente
nesta angústia larvar
de quem toda a fortuna perdeu
por já te não poder amar
a penumbra na vagina
a sombra no pénis
uma língua inteira
os seios abertos
o vestido na cadeira
o espectro no espelho
a oferenda que se receia
nos braços que apertas
os cabelos descobertos
no ventre em que me acolhes
os ombros redondos
da vulva em movimento
sémen que escorre
lânguido e lento
amargurada tarde amorosa
deixaste os filhos em casa
o marido no trabalho
com eles
são tristes as horas que vives
pisas as ruas da cidade
cabisbaixa
perturbada
sem carinho
que te alivie
sabre que te fenda
nem o anjo
do amor
te pode valer
em tão intenso
padecer
porque quando
uma mulher chora
fá-lo chorar
a ele
eu sou a sede a fome
sugamos e engolimos
esse desejo
que nos consome
penetro-te sem pressa
tão devagar quanto a eternidade
nasci para te amar
degraus da tua fome marcam os seios nos caminhos desertos lábios espessos
nas mãos cheias de vento o riscado da tua gula cabelos nos ombros dormentes
tempo de romãs em que me ergo
tempo de medo
o segredo do amor
naquilo que faço
e desfaço
ato e desato
desejo que nasce
no corpo em que nos dias renasço
ao longo das tuas pernas ato o chicote das tranças rubras
desato o corpete eis o teu ventre
a memória do sangue
o sabor das lâminas
o odor do vício
o abrigo
a floresta verde-ardente
em que escrevo
amo
peco
me venho
e fico
sabes bem como fazê-lo
enterrá-lo metê-lo
a deslizar na vagina
um calafrio percorre-me
contrais-te
levas-me ao paraíso
e vens-te
no teu sorriso
uma flor
aberta
outra
a florir
um coração
que desperta
um sexo
que se agita
de teu corpo conheço todos os lugares
as vértebras esguias copas das árvores
ramagem florida de teus peitos
sulcos abertos no leito os teus
o fogo do regaço sagrado
mais abaixo a água nascente escorrências das virilhas
cintura que se esgueira
que aperto e seguro
orgasmos de mil ilhas desertas
contracções e frémito
das palmeiras despovoadas do teu sexo
o perfume da transparência
nas formas arredondadas
é o sonho das experiências
há tanto tempo perdidas
não durmo
não desisto
sonho
acordado
contigo
esse corpo
que se acaricia
que provoca
as tuas mãos
passado
que era delícia
e que hoje
é ilusão
provocação que mata
que mói
as entranhas
deste ausente
que te ama
vagabundo
de terras estranhas
de outros corpos
outras sementes
dum nada
que lhe valha
podeis ser amigas
podeis ser amantes
sois mulheres
tristes e sozinhas
agora dois seres
que vivem enfeitiçados
dois corpos
que se gostam
que se alcançam
e se amam
que interessa
o que fazem
como fazem
e se o fazem
se mal se bem
a quem interessa
senão a elas
e a mais ninguém
aqui me deito
aqui te debruças
esfregas-me
com teus peitos
sorves o que rejeito
na explosão
do momento eleito
sonhei contigo
num verso cruel
tu viva
eu morto
incompreendida
saudosa
e eu
envolto em noite escura
sem te poder amar
sem amor viril
sem forças para um poema
que te possa doar
a memória das ondas no pontão
do meu pénis em erecção
colado à tua saia subida
tempestade na barra
uma sereia despida
o corpo é carne
espaço que consome
o que outra carne come
o corpo é ausência
sonho em sono vivido
na invenção da permanência
é razão iludida
em vivência nobre e suja
é vida que se esvai das mãos
carne que asas busca
no templo da escuridão
razão vencida
que não deixa de ser razão
de ti
só tenho os seios
o silêncio
das palavras
nos olhos enfurecidos
mais me não é permitido
enganei-te traí-te
é justo o castigo
a lama do rio
inunda os corações
o barco move-se
entre amarras
estás molhada
entre-pernas
a língua marítima
ilumina-se
recolhe-se
entre lanternas
o delírio dos corpos na sombra da tarde lembra com ternura inocente e pura a verdade da língua alada e da saliva de brando gosto que brota de tua boca e escorre pela vulva e pela virilha que esfregada se mancha
que posição é essa
que indecisão a tua
com que indiferença me feres
nessa nudez
de quem não está nua
afinal queres ou não
já minha alma
não tenho
vivo e não sou ninguém
neste corpo solitário e vazio
vegeto no campo
na sujeira da cidade
onde há tanto
e tão pouco
tantas as mulheres de rua
e eu sem ti
nu
neste ermo perdido
perdi o norte ao destino
assassinei o espírito e deixei-o a apodrecer no vale
dos mortos
que me interessa a justiça e a misericórdia
tenho as tuas formas por companheira
amemo-nos como animais inocentes na clausura de
nossos quartos
não há em lado algum paz tão verdadeira como a
nossa
a meio da noite
insisto
arrasto-te a mão
ensino-te o caminho
inclino-me à taça
de que bebo
esse vinho
doce e aveludado
dou-te a mão
beijo-te os seios
sem saber
se sonho acordado
ou se o sono
me sustenta
acordado a alma
em corpo alado
se fosse rude primitivo
grosseiro
no que penso
e
ao que vejo
não amaria
nem teria paixões
teria desejo e
a cada dia seu afã
seu prazer
em cada noite
uma mulher
talvez isso fosse
talvez seja isso que eu seja
sois três invertidas e deitadas
de costas para mim voltadas
não sei se dormis se estais
acordadas se me enganais
despertando em mim o
anseio
escolho a do meio
por me parecer a mais perfeita
e porque se a amar duas mãos tenho
as outras duas
quero acariciar
dia do coração amantes de filigrana do prazer prateado em que só nossas ocultas partes doiravam sol e pecado
na cama púrpura rendada
não sei nem saberei se o teu corpo de âmbar
é sonho ou realidade mentira ou verdade
assim sentada mantilha
à cintura os olhos em mim
fixados geras-me a dúvida não sei
não sei se me queres
se ofendida me rejeitas
e à minha companhia
preferes estar só
sem ser amada
lembras-te da noite na ilha em que o sono nos não venceu lembras-te das penetrações blandícias em posições sucessivas de me teres dito amo-te tanto não me deixes faz-me o que me fazes sempre isso isto e na madrugada corpo lavrado de prazer na glória exaltada saudaste o sol nascente com teus cabelos doirados alagados de suor lembras-te
vá fode-me mete-me esse caralho todo dizias
o teu corpo tremia caniços ao vento no canavial o canto dos gemidos a luz dos gritos os desejos infindos come-me essa cona o cu também deixa que te chupe sou tua de mais ninguém
na aragem do pinheiral a voragem dos corpos em cama de tenros fetos os rebentos aguados do roseiral abandonado às velhas parede da escola sem miúdos renascida nesse teu orgasmo doce violento e tão lento como estrela em céu cinzento que se repete a cada momento
acaricio-te as pernas neste carinho que devagar inventa o fascínio do sabor do teu peito há sombras nas vidraças que se abrem sedentas à brisa da tarde
dá-me a tua língua teus dentes perfumados a mão em frenesim
deixa que tropece no teu sexo que te cheire e que te enrede que te enleie
chama-me louco sim enquanto o meu súbito desejo em ti se implanta
toca-me
devagarinho
no peito
no ventre
no sexo
aperta-me
joelhos
coxas
braços
deixa
que te penetre
fundo
tu de costas
com as pernas
fechadas
eu
suspenso
eréctil
louco
do teu movimento
grita
grito
e agora
de bruços
para cima deitada
ou de lado
com teus dedos
prolongas
teu orgasmo
e meu espasmo
belos os corpos que se colam na unidade de múltiplos orgasmos em sucessivos espasmos pelos dedos dos afectos tocados
são os teus ombros que mais aprecio também esses cabelos que te correm pela fronte olho-te a olhar-te e aguardo o momento o tempo certo o fim da noite o princípio do dia
tinhas os cabelos compridos encaracolados e negros a face trigueira e o sorriso ligeiro lá fora fazia frio de inverno
na sala da braseira o regaço coberto pela mantilha deslizaste os teus dedos pelo meu pénis virgem
eras tão nova e eu também
a tia dormia ou fingia
fizeste-o como ninguém
e essa erecção foi tão forte
como nenhuma outra tive
nem terei até à morte
o corpo penetrado sem tempo
três cavalos brancos na lezíria
o vento sopra no meu peito
entre as pernas
na febre da vagina
no lençol de papel escrevemos nossos êxtases
o princípio e o fim das noites gementes
onde os corações se incendeiam
pétalas acompanham a lentidão da língua na flor dos lábios
inventámos as posições sem vereda a sagrada pira
consumámos o grito surdo do orgasmo
silenciámos o universo na sua prepotência
e destruímos o pecado que do corpo nasce e no corpo respira
banhando-se juntas a pele de bronze no brilho da água
esponja que desce nas formas que se tocam
primeiro modo tímido e casto de olhares dedos seios
que aos poucos perdem o receio
vem meu amor de hoje
vem ver o sol-posto
beija-me o rosto
que amanhã
quem o sabe
o dia é de outro
põe-te de bruços
afasta os joelhos
cresce-me o sexo
o anseio a vontade
fecha-os cerra-os
bem cerrados
envolve-me o pénis
desliza o rabo
move-te engole-o
tens três portas
agora lambe-o
aperta-o depois
como só tu sabes
ejacula teu líquido
branco como água
treme grita contorce-te
suga-me a vida
alivia-me
morre a noite nasce o dia
na boca e na vagina
desejas o que desejo
um rio de prazer
um mar de beijos
o prédio dormia
vieram as duas
pela calada da noite
sem vozes ou gestos
despiram-me
bem sabiam
ao que vinham
nesse amor interdito
enovelam-se as línguas
em terno pecado
os meus dias são redondos e magros como mirtilos silvestres framboesas do queixume abrunhos tombam incertos nas palmas das mãos abertas quero a marca dos teus caninos rente à minha vontade
a secreta arte
do caminhante do deserto
os rubis que se escondem
nas grutas cruéis
a cruz que nos prende à terra estéril
a vertiginosa cisterna esmeralda lábios marítimos donde te ergues
agora é tarde limito-me a escutar o som que se incendeia no teu corpo virgem a saudação do teu regaço
o que teces e o que desfazes
ao luar
nua no terraço
o odor da tempestade na boca entreaberta
na porta escura do amor as lágrimas da saudade
com brandura abro as tuas pernas a língua adoço nas gengivas
adormeço acordo navego neste dócil sonho azul
há um vício
em cada palavra
acto
movimento
inclinada
para a frente
a cabeça
submersa
mordes
a almofada
de bronze
e gritas
silvo surdo
dos espasmos
que se dispersam
pelos corpos
descontrolados
quando uma
não basta
duas
são poucas
tantas quero
que me perco
nas vulvas do desejo
o amor não tem limites
tua boca no meu sexo
a minha no teu
saciando todos os apetites
seguro-te a cintura
o ventre macio
e com os lábios
exploro a gruta vazia
levantas os braços aos céus perguntas às nuvens pelo teu amado estás só o corpo vazio o desejo morto o sexo frio
quando um navegante parte
nem deus sabe
se regressa morto se vivo
na fina areia das dunas extenso areal um corpo ao sol
não o conheço não quero saber de quem se trata
é tão-somente um corpo de formas magistrais que recebe as bênçãos do mar
olho-o de longe e penso como quem não pensa nem sabe o que há-de pensar ah se eu pudesse se eu fosse capaz de amar
levanta-se veste-se caminha por entre as ondas em rebentação a água está fria porque é setembro
marés-vivas do coração
vou-me com as pequenas nuvens brancas que adornam os deuses ao som das vagas na espuma que nasce no horizonte
vou-me com a tua imagem presente
dizes
que é o meu cheiro
a fome de amar
a erecção constante
o vício de dar
de morder
um prazer que é teu
mas que antes de o ser
é sempre meu
é o meu pénis
que te satisfaz
que faz da terra
o paraíso
no orgasmo
que se dissemina
corpo que sobe
aos céus
ao angelical azul
que vagueia pelas nuvens
que desconhece o mal
voz silente
mansidão do olhar
as pálpebras ardentes
as mãos a acenar
abertas as pernas
os seios pendentes
boca na boca
boca no sexo
lentamente desperta
o êxtase que liberta
laço que encurta
que mata e faz variar
o tempo-espaço
e nos ensina
o verbo amar
desço a mão
desço a tua
seguro teus dedos
toque que se insinua
no teu sexo quente
acaricio o meu
tocam-se as coxas
nas línguas viciosas
matamos a sede
bocas que se unem
que crescem
se mordem
acesas na escuridão
os corpos hasteados
tremulam febris
e um a um
explodem
como leite espargido
és tão bela senhora
nesses cabelos doirados
tão formosa tão desejada
e se teu olhar desconfiado
me inibe não consente
e cala ao ver-te o seio
branco descoberto
sinto-me como se outro
fosse nem rejeitado
nem triste deserdado
mas o que sonha
acordado
com vida contigo deitado
tira a blusa
a saia
tudo o que tapa
o silêncio do fruto
despe a carne
abre a alma
fende o espírito
rasga o vestido
desce a boca
ao ventre do vento
geme louca
na chama do momento
o corpo é uma rosa
por anjos vivido
tua língua uma asa
que me colhe o membro
onde tudo tem sentido
o que é
o que será
e até
o que já não lembro
teu corpo a minha oração e o meu maior vício
tenho defeitos incontáveis desejos subterrâneos e cios que não findam não sei a quem mais orar eu animal humano que me abandono ao prazer das tuas mãos
que me importa agora se os deuses existem ou não
tenho-te em mim e creio na exactidão que nasce dos corpos suados encharcados em sangue quente
como é pobre a mente
na tua casa
tudo é transparente
os móveis as paredes
objectos e gente
debruças-te na realidade
e procuras
um amante
amigo
que não seja opaco
que
seja meigo
dócil
homem
de uma só palavra
companheiro de uma vida
amado verdadeiro
cúmplice eterno
do amor satisfeito
entretanto
juntas as pernas
eu
de joelhos
teus pés no meu peito
o teu corpo num arco
o meu ao teu
aconchegado
venho-me
num espasmo
em ti
meu amor
meu desejo
minha dor
não chores mulher
em cada rua
em cada esquina
há uma abandonada
não és única
és mais uma
pela fortuna
não bafejada
espera
hoje não
amanhã talvez
te visite
e ame essa nudez
porque cada corpo
é palácio donde
brotam flores
nos cumes regadas
retomam seu voo
na pele seca e frágil
e fazem de cada mulher
amada que se renova
na nostalgia das enseadas
com o sexo exposto
bocas que te sugam
harmoniosos mamilos
mãos que dedo a dedo
se aproximam
desse canteiro florido
donde a vida nasce
com amor
e dor de parto
naquela mesa de pedra plantada no velho jardim ao som do vento nas rosas no silêncio da fonte a brotar do mais profundo de mim te penetrei horas e horas num tão lento amar querendo sempre e somente fugir do fim
esse corpo no meu sentado a fragrância do sexo orvalhado os teus joelhos nas minhas mãos as tuas nos meus queixos e um orgasmo a vibrar em mim nesse movimento deitado
espasmo após espasmo contorce-se o corpo nas linhas do espelho nas palmas das mãos em desejo profundo mergulhas no divino prazer te moldas
belos os gemidos
com que me acordas
dizes que és minha
descontrolada
enquanto o orgasmo perdura
em suores alagada
repetes com ternura
exausta e ainda nua
sou tua
lá fora
na rua deserta
um cão uiva
uma mulher à janela
a solidão da noite
na porta entreaberta
e quantos não esperam
no mais louco dos amores
confessar o que se confessa
quando julga que se ama
esperma
de bronze
a fenda dividida
hálito de vidro
a crescer no ventre
húmido esculpido
a língua no joelho
o odor do desejo
artelho desfolhado
hálito que invade
o umbigo o céu da boca
lambido bebido
revolto como mar
em perigo sede de paixão
que se deita se despe
se consome
e perece ao nascer do dia
na última erecção
não suporto a tentação
perfume presença sabor
como é cego o amor
de costas o varandim do quarto as mãos apoiadas nas ancas os teus longos cabelos
a noite foi longa e eu deitado com o teu aroma colado
posso sentir-te tocar-te fazer amor apertar o teu peito contra o meu
para hoje e para sempre
tu e eu
és tão bela
porque te masturbas
deixa que te ame
não te iludas
provocas-me
morena
sabendo que o
meu desejo
é tão intenso
tão profundo
das entranhas o silvo
que ao negares-me
o teu corpo
prefiro-me morto
a vivo
encapuçada enquanto a cidade morre lentamente afrontas o amor que não serpenteia em humanos caminhos
amor que morre às mãos do prazer e dos sentimentos vencidos
são de esmeralda e rubi as lágrimas que verto
não têm razão têm sentimento
vero corpo ausente que não invento
ficou-me na memória a tua fotografia esverdeada
enevoada pelo tempo
a saliva desprende-se dos lábios ressequidos
mais uma noite
o incenso alastra-se pelo aposento
o luar arrasta-se pelo soalho
pesaroso dolente
e nos lençóis
alumia-se no membro o intento
dá-me a tua boca bebe comigo o néctar dos deuses
às vezes penso
quando sofro e estou sozinho
como seria leve o teu toque no meu sexo
teu sabor caldeado com o do meu vinho
vejo-vos velho cadeirão tão gasto
a janela colorida de prazer
donde vos olho abismado
e vós sentadas
uma nas coxas da outra
mão em retesado mamilo
outra no seio por inteiro
rosa que se abre
ao vosso anseio
e tu a mais jovem como és bela
no retrato
da vida
não és uma
és muitas
tantas
que me perco
e a todas desejo
porque a razão elege
mas o instinto não
esse recanto da minha casa antiga deveria ser o lugar de repouso de um santo
um templo no muro cavado no granito das almas de meus antepassados mas aí estás tu límpida inocente indiferente ao mundo às ilhas perdidas da paixão
às gentes a mim à pesada vida que corre pelas veias tensas da minha suja visão
o desejo na tua boca o meu sexo aberto aos lábios rubros de fogo na eternidade daquele momento em que o amor se transforma em verdade
lavro o teu corpo a saliva percorro-o com os lábios a língua molhada beijo-te os pés subo aos joelhos detenho-me no sexo que ora lambo ora penetro
encosto a face ao teu ventre branco tão suave macio
com lentidão cerro as pálpebras
as pétalas da voragem
a boca nos seios hirtos
na viagem das mãos aperto-te as nádegas as costas e os braços
os meus desejos são os teus gritos
a minha paz o teu descanso
afeiçoei-me ao meu corpo
aos membros e ao tronco
acendi incenso no leito
tomei o veneno do quebranto
lembrei-te deitada
com a camisa decotada
nua
as tuas mãos nas minhas
as minhas em mim
dizendo faz-me
isso assim
nesta manhã de verão
o corpo bronzeado
na ternura do sono
alimenta a lira
com mansidão dedilhada
na loucura do amor
de ti só quero
as formas bordadas a luz
e sentir na tua pele
o bater do meu coração
estou aqui neste mundo pardo
obrigado a amor fazer operário do sexo a arar campos ressequidos
a boca atola-se na terra que queima as paredes do quarto rústico
as tuas pernas nas minhas
um sorriso uiva no papel amarelecido desfeito em lágrimas de esperma
não posso dizer não não posso
negar-te o músculo que me entrega o destino fatal
irrevogável é a vereda deste pobre mortal
perdido nas horas
espasmo após espasmo
construo no hábito
a ilusão do amor
e grito
o amor que tenho quando te possuo é diferente do que te tenho na ausência as memórias de menina nos ciprestes avisados nos muros caiados do coração a tua voz aceito o gozo da solidão do corpo que contra o meu estreito perdida a hora aperto-te devorador o seio no peito vazio espero que a saliva percorra o labirinto orgíaco da tua face plana vê a caixa de madeira pintada onde guardámos os segredos da infância
simples te penetro à luz do dia
na coberta cinzenta
espalham-se teus cabelos
os seios descobertos
as coxas em súplica
ao meu olhar atento
ao meu pénis erecto
passeias-te nesta arma que ama e não mata
sorves-me o sumo que alimenta a tua boca e o teu ventre
suave é o milagre
a beleza do sol no teu sorriso
apaga-se à minha traição
fez-se no mundo tristeza ódio ilusão
findaram as horas lado a lado
as palavras ditas em silêncio
os momentos de êxtase e verdade
terminámos
anunciada é a morte definitiva da paixão
em ti o pranto talvez raiva
em mim o sofrimento calado
e na tua falta
debaixo dos lençóis de tudo me dispo
pensamentos roupas instinto
e na sem-razão silente
com dedos de veludo
me masturbo
me sujo
me limpo
morrendo para o passado outra que vem
como sempre
ocupar a metade do coração abandonado
o quarto tem o odor das florestas queimadas o mobiliário delirante envolve-nos transforma-nos e suga-nos para o inferno de saliva ensanguentada somos animais ferozes em desacato no gozo pleno dos espasmos alagados fendemos o silêncio temível dos dedos encrespados as pernas em leque os joelhos dobrados
ah os desejos tão desejosos tão desejados
lavro-te o coração e a alma
semeio em ti o anseio
colo amor e cama te dou
o cheiro da terra molhada na erva que rebenta
árvores que se beijam pela brisa de oeste agitadas
um ribeiro nascente espalha-se na encosta e contempla a poente
as serras nuas desertas de gente
aproximamo-nos num olhar
as mãos deslizam para o sexo
roupas espalhadas no giestal
rígido e erecto penetro na gruta do amplexo o bramido da palavra amar
a escuridão
assombra o quarto
uma vela acesa
no canto
anuncia a madrugada
a lareira
vai morrendo
lentamente
como gente
enquanto
o frio aumenta
saciada
vestes tuas roupas
ainda suada
houve um tempo em que te amava nas horas perdidas tempo de sossego de harmonias em que tudo era tão verdade
a saliva escorria no canto das cotovias como deus na eternidade
fazia-se manhã noite tarde
nada nos cansava tédio ou fastio
porque tudo era novidade
de tudo te fazia
digo
vira-te
lambo-te os seios
o pescoço
os pés
os joelhos
outra vez
fecha as pernas
aperta-me o sexo
move-te
depressa depressa
redondo o fruto
circular o movimento
pénis erecto
duro lenho
espera espera
que me venho
as palavras que te disse
tão vívidas e sentidas
no momento em que te tive
e me vim
foram apenas palavras
com um princípio
um meio
mas sem um fim
fico tão silencioso quando te vais
tão triste tão choroso
saudoso dessa partida
de que guardo a despedida
na memória o teu olhar
a floresta dos teus cabelos
a maciez da tua pele
os longos actos de amar
esperma que espalhas
nas coxas ventre e lábios
no corpo em oração
a pele dolorosa e dorida
nos lençóis de vidro
solidão onde me estiro
a nudez arrasta-se lânguida pelos candelabros do salão antigo eu conheço a chama dos corpos vivos a febre do esperma a cobrir o dorso das palavras que se constroem na rigidez dos membros bebo o vinho da tua boca rasgada num mar revolto de desejo oferto-te os meus braços e invento um poema com o sabor do sal das ínsuas beijo-te a boca cravo os meus dentes nas letras ritmadas
sugo-te o ventre
tenho sede lava-me as entranhas suga-me a vida
a tua boca no meu sexo
língua descoberta e palpitante
contudo
o meu coração está distante
toco no teu peito
reclino-me no teu ombro
sinto a delicadeza de teus dedos
erguesse-me o anseio
afagas teu seio direito
beijo-te o esquerdo
treme-me a mão
ao toque subtil
pouco falta para a consumação
uma lágrima
em tua doce face
de branca rocha polida
lúgubre penitência do pecado
que me algema e tolhe a alma
nesta insalubre tarde de domingo
não tenhas preocupações que nada te afecte
estamos novamente juntos lá fora o luar banha as cerejeiras em flor não há dor que resista à força vegetal do nosso amor
a tua boca arrasta-se pela minha pele rosa das rosas a mais bela
um castiçal acende-se no toucador e um pau de incenso perfuma a antiga estatueta de gesso deuses espreguiçam-se ao canto da lareira
tomando a seu cargo o preço de quem demais ama
numa sofreguidão tão justa e certeira
tudo tão nítido como cena de amor corrida em branca tela
o teu rosto rubro como vinho
sorve-me a razão os instintos não
pernas que se abrem
mãos que se unem
a angústia do abandono
no curto espasmo
por dóceis dedos cavado
pernas que se entrelaçam
suave é a mão na deleitável
curva dos seus seios
bocas que se unem
flores ao vento
na brisa do suão
a percorrer
os extensos filamentos
dessa juventude
a quem
tudo é permitido
mesmo o sem-sentido
porque me olhas assim
como se fosses ferido veado
por infame lança penetrado
não é por mim
é por ti que o faço
é na extensa noite
que as estrelas tremulam
no teu leito
um candelabro incendeia
fios talhados a mirra
depositados no teu peito
e eu sem saber
quem sou
nem onde estou
o líquido da vida
no teu ventre sagrado
em êxtase derramo
mão que vacila e paralisa no veludo desse corpo nu
a voz crepita no gemido da tua cintura
na penumbra prossigo
quebro o elo da tua entrega
avanço animal feroz na prisão de teu vestido
o delírio abrasa-me a alma
queima o espírito
e porta a porta vez à vez
de ti tudo tenho
e já nada entendo
quando a morte vier por esse oceano de espuma que parta comigo a visão de teu corpo nu
costas ao mundo voltadas porque quem deveras ama só tem olhos para o amado que para sempre partindo tão pesado lhe é o fardo que carrega do coração destroçado como o esperma que nas algas de linho assevera a aterragem na terra prometida
naquela noite rosada
levaste-me contigo
levas-me sempre
quando o coração chora
conheces-me
conheces a minha hora
o meu anseio
a ansiedade
do meu corpo
o volteio
a agitação
o orgasmo
a extensa
erecção
e sabes tão bem
bem melhor do que eu
dos dias os momentos
em que sou apenas teu
por ti sulco os oceanos
navego o azul dos céus e dos mares
e a cada bordo te tenho de borco
no mais louco dos prazeres
nos beijos que se incitam
na febre do corpo
no silêncio da razão
tenho saudades tantas de saudades não ter do amor que me deste de tudo o que me fizeste com tão exaltado prazer
boca com boca
as brasas na lareira
agora a eira deserta
acendemos a carne nos montes bordados a pétalas cálidas
os ossos da terra repousavam ao mel do sol poente
o quartzo dos ombros contrastava com o granito róseo de tua vagina lagoa nas alturas
os arbustos brandiam os braços à nudez do rio indisfarçável
bebi-te em todas as águas do tempo silente
no teu ventre adocicado germinaram relvões em estilhaços
fizemo-nos chuva trovão relâmpago furacão
no ar os seios voláteis
arrebatados por mãos frementes
hálito disperso à superfície das águas
nos meus braços a tua sombra
na minha boca o sabor
da tua vagina em flor
***
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