Download dos textos de ANTIPOESIA ou a insustentável arte da falsa erudição em –
***
o cuco já canta –
inesperadamente uma nuvem
rouba-me o sol
***
a suave brisa
traz consigo
o perfume das mimosas
***
à porta do casebre
as bolsas-de-pastor
espelham a pobreza
do interior
na panela de ferro ao lume
cozem duas batatas
por leito palha
por mesa um velho banco
com um prato rachado e
uma colher
com a pobreza
vive o pobre pastor
algumas aranhas ratos
e outras criaturas
deus está nas alturas
***
naquele bairro
envelhecido
com as moradas enegrecidas pelo tempo
até os cães são humildes
***
sinto-me doente
a fadiga corrói-me os ossos –
só o sono me alivia
há um sem-sentido
em tudo o que me envolve –
na vida e na morte
os dias são todos diferentes –
amanhã nascerá uma nova estrela
e quem sabe
***
flores campestres
aos nossos pés –
cuidado não as machuques
***
ousados erros
um subtil pensamento
fenece na sua habitação
visão das coisas nunca vistas
incompreendidas
fórmulas ancestrais sem futuro
num bem arquitectado
por um mal amargurado
temos de ser cruéis
como crianças
***
para que queres que eu te conheça
deus meu
quando desobedecer é amar
***
os desejos suspensos
por detrás dos montes
bandos de aves sobrevoam
o areão branco do rio
o esplendor do degelo respira nas margens
a mente perde-se no azul infindável
***
as fontainhas desertas
a fonte quase seca –
o passado morre nela
***
quando chove no verão
os camponeses exaustos
choram de alegria
***
o ninho da árvore da vida
agita-se nos ramos incertos
folhas amarelas caem no regaço da terra húmida
uma única erva escuta a quietude da gota de orvalho ignorada
***
a madrugada brilha na floresta
que cresce nos meus dedos –
a sua beleza contém o segredo da verdade
***
o chamamento da natureza
da mente verdadeira
a flor abre-se exuberante ao mundo
enquanto culpo
os meus sonhos indecisos
***
festa na aldeia nova
vinho e frango assado –
fecho-me em casa
***
a lua guia os meus passos
pelo carreiro de saibro –
solidão afectuosa
***
cantava o amor
o som da flauta beijou minha alma sofrida
oprimido por pensamentos fugazes
senti a efemeridade da beleza
da terra florida e amamentada
pelo meu olhar primaveril
***
os arrozais de montemor
há alvoroço nas comportas
os peixes chegam com o crepúsculo
e o sono de luar veio com a noite
no espaço imenso
da serenidade inofensiva
***
as nuvens amam
quando libertam chuva
sobre as almas ressequidas
***
os sinos do templo estão silenciosos
em voz surda recitam-se sutras
monges de mil anos sorriem ao caminho
que começa no primeiro passo
e finda a cada curva
suja e poeirenta como terreiro
em fim de festa
***
não quero o teu amor
apenas a tua visão –
o amor paga-se a si próprio
***
anseio
por percorrer o grande caminho
não deveria desejar
que desejo desejam as árvores as montanhas os rios e o mar
nenhum
e nada lhes falta
***
a doença da alma
a preferência
a comparação
a interpretação
o julgamento
ah
o conflito que nasce
do pensamento
das emoções
dos sentimentos
***
as palavras perdem-se nos ventos
o pensamento tolda-nos a visão
os sentimentos são grosseiros –
o caminho desaparece no seu trilho
***
o que não tem princípio
nem fim
perfeito na eternidade circular
da vastidão do espaço
serei eu eu
quando nada peço
e nada recuso
eu
quando digo sim à vida
sem presente
passado
ou futuro
***
a copa da tília brilha ao sol –
no meu peito angustiado
o suplício da escuridão
***
surge a aurora –
desperta-me a alma
tão lenta e sonora
***
seguia pela eterna estrada onde
ajoelho os meus sonhos de criança
os sinos vibram e há gente
que ri no sopé da montanha
pobres diabos
tão inúteis como estrelas sem brilho
a minha voz chama-me ecoa no vale
ninguém me procura nas areias infindas do deserto
o feitiço no seu desvario avassalador engoliu o último verso enlouquecido
***
na mansão em ruínas
as estrelas rompem o espaço e
iluminam o meu coração
***
rugem os céus
lacrimejam nuvens
o vento invisível tropeça nas gentes
chagas de ânsias e desesperos amotinam-se
na atmosfera raivosa permanecem
os gemidos dos atormentados
***
aquela nuvem tem as suas
raízes no meu coração
***
dissimulam-se no jogo
rotineiro da vida
nascem para sofrer
sem abrigo
sem consolo
sem segurança
alguma
arrastam-se na pocilga do mundo
como porcos cevados
sorriem como cadáveres calcinados
sem túmulo
dependurados nas árvores nuas da morte
***
a cerejeira florida
nos ramos quase mortos –
que saudades do meu pai
***
para que servem os meus versos
se não respondem às tuas questões –
a vida é uma ilusão
***
ah aquela mente absurda
em que nada muda –
estúpida iluminação
***
uma azálea vermelha
um pinheiro com cem anos –
observo e envelheço
***
o som do sino penetra o ar
na manhã fria –
o anjo da morte visitou a aldeia
***
um dia disseram-me –
a tua poesia é cinzenta
não não é é negra como carvão
a arder na fornalha
de pobres operários
***
os raios atravessam o horizonte
iluminam o vendaval e incendeiam os trovões –
a casa da montanha estremece
***
sem eira nem beira
como são terríveis as manhãs
o negrume da humanidade
invade os muros construídos com relâmpagos gelo e presságios
o meu corpo recolhe à tua sombra
junto ao beirado
traindo a noite do amor
há séculos adormecido
***
as cicatrizes da mente por curar
são feridas que sangram pestilentas
nesta noite escura
***
vivo
tenho memórias
espinhos do tempo cravados na alma
o silêncio das flores primaveris assusta-me
na casa do vale ouve-se um rouxinol –
faz-me pulsar o coração
***
o homem rico ou pobre
só tem um poder –
a liberdade interior
***
na noite silenciosa
mergulho nos segredos ancestrais
nem uma brisa para agitar os ramos das pequenas árvores do jardim
os rebentos estão imóveis no velório do conhecimento e
as flores despertam o odor dos enigmas
a verdade agride o destino que implora misericórdia
reduzido a cinzas o pensamento pára
***
não esperar nada
uma ilha desaparecida
uma vida qualquer
sem ser por momentos
ou anos
uma eternidade florida
***
troco a minha morte
por um punhado de vida
e a minha vida por um dia de amor
***
olho para o mar com o mesmo olhar que uma criança tem
o azul da aparência funde-se com o céu
mas a sua essência está submersa nas alturas
***
o sol na linha do horizonte
traça os passos no areão
o espaço não apaga as formas nem o subtil movimento das marés
e o tempo das memórias
mesmo as que derrotadas exilaram para países desconhecidos
***
morreu –
agora não sei que fazer
com as suas roupas
***
o vento frio e seco
rasga-me
as rugas da face
***
nesta aldeia antiga
o lume da lareira
desperta
as vívidas saudades do passado
***
penetrar a mente verdadeira
sem a buscar sem preferências
ela não está dentro
nem fora
no céu ou na terra
não está em lugar nenhum
e está em toda a parte
***
para quê amar ou odiar –
a dança dos contrários
obscurece o caminho
***
o reino dos céus está aqui começa aqui neste sinal na terra queimada
sem princípio nem fim
invisível
estável
sem mim
***
a via láctea cintila –
olho-a com a pálida tristeza da solidão
***
as cruzes pendem errantes do canto de morte
o termo e a ausência dos impérios
a ilusão e o nada
tu
minha única amiga
sussurra-me a desgraça e a glória
a paz dos vermes furibundos e
eu sorrio e rio enquanto baixinho te digo –
leva-me contigo
***
perdi a sensatez ao celebrar-te na forma nebulosa do turíbulo
a música celeste congregou os espíritos do mistério
o meu coração gelou ao vento
na estepe os ossos dispersos dos derrotados fermentam à vista das mãos da morte
a tribo dos invencíveis repousa na paz horrenda
amanhece
***
o dia nasce com os cânticos dos pequenos cantores
cujas sombras
renascem nas árvores centenárias
a trémula harmonia penetra o granito cinzelado
no santuário perfumado pelo vento de oeste
***
uma borboleta poisa no meu braço
mil e uma cores nas suas asas –
a minha vida é tão breve como a dela
***
caminhámos ao longo das margens do ribeiro
pequenos peixes saltavam nas águas rasas
abrigadas pelos ramos dos salgueiros
***
o regato na montanha a leste está seco
pássaros de penas coloridas demoram-se à sombra da folhagem
a velha tília conta-nos histórias de amor antigas
agora as raparigas têm os corpos desfigurados pelo tempo
nós deixámos de as procurar
aguardamos com serenidade o fim da realidade
***
os dias atrofiam-se insones
as árvores da cidade repetem-se numa miragem doentia
nos becos sem saída os cães uivam
cessou o ruído dos motores
no lixo dos séculos
acumulado a par dos contentores
a sombra desfigurada de duas mulheres faz um minuto de silêncio
enquanto o tempo se dissolve nas pálpebras ardentes
***
a intimidade fecha os seus olhos ao calor intenso
o som dos corpos ecoa na parede do quarto onde os objectos são difusos
as palavras rugem no leito
os sentidos exaltam-se
excêntricos penetram nas cesuras como estilhaços de guerras perdidas
e os gritos da carne desvendam o mundo feroz que emerge ao luar
***
no regresso a casa
uma faca rasga o caminho de flores
uma fonte canta às estrelas encapotadas e o sol assustado
cai no alpendre rubro da casa desmoronada da colina azul
é primavera
desperto dos sonhos que ressoam na escuridão e
os passos cadenciados na terra quente
conquistam a visão da realidade dos plátanos e das orquídeas selvagens
***
braços de neve envolvem a aldeia
está deserta
não há crianças nem bonecos de nariz pontiagudo
o fumo das lareiras em ermo abandono
uma nuvem escura percorre o céu
circuncisando todos os desejos e delírios
já não sinto o que perdi
nem o turíbulo de prata com que incensava a alma dos pobres
restam os velhos
***
somos nómadas dispersos pelos campos ceifados
o sol queima os dedos de pedra abandonados
um cavaleiro surge na linha do horizonte
traz consigo o fardo do passado e do futuro
as algemas do século e o ofício da morte
mau presságio para o povo do vale
***
por vezes
quando a noite chega e
os prédios fazem amor
a superfície do lago enche-se de recordações
e no mistério da chuva de verão
projecto saudade e melancolia
mais morto do que vivo
mais corpo do que razão
***
as metáforas da morte ascendem ao limbo
as histórias do universo repetem-se
os guerreiros envelhecem na dor sacrificial das crenças
estão doentes e suplicantes as civilizações submersas
expostas ao vento perverso da inveja e da ganância
***
a luz brota das trevas
coléricas as feridas abertas pelo som do flautim de cana
alguém canta nos arrozais
a solidão esboroa-se ao som da melodia
pardais esvoaçam sobre os telhados de zinco dos casebres
de cócoras um velho monda um campo
o corpo ressequido pela dor
***
o calor lapida os frágeis fios tecidos pela vida
na rua principal vagabundeia a soldadesca plastificada da revolução
sinto um aperto vigoroso no peito outrora aberto aos sonhos
uma casa eleva-se do ventre da terra desvirginada
enquanto as máquinas infernais
num ritmo dantesco
poluem o asfalto de sangue coalhado
***
esta não é a minha raça
pertenço ao mundo dos minerais acesos
dos rostos transfigurados pela raiva e pelo ódio
hoje abjuro a meditação silenciosa
as brisas de antigamente rumorejam humildes perdões
no cerimonial de domingo
eu frequento a casa de satanás e de todo o seu séquito
deus dorme está exausto
as trompas magníficas emitem sons lunares
de trágicos rituais
o mundo está prestes a desabar
enquanto permaneço nesta ilusão
***
a fétida embriaguez hipotecada às ondas cadenciadas
lançou raízes nos corpos navegados pela angústia
no lugar onde a luz se transforma em cinzas
***
errante -
para além de todos os mundos imagináveis
das fontes sanguinolentas
errante
surdo e mudo
aos hinos retumbantes
jornadeou por incontáveis veredas
mendigando às ermidas construídas
em montes impenetráveis
as esmolas pelos cruzados perdidas
em prantos e ais de suplício maior
a bênção do amor consumido em segredo voraz
***
os prados desfalecem nos punhos dos regatos
os campos lavrados emitem um grito agudo
incandescentes
as cidades em chamas cumprem as profecias
são feridas abertas dos dias da minha infância
cruéis e violentas
como luta de escravos em arena fulgente
***
quantos anos ainda restam àquele que desperdiçou a vida
a lua está envolta por estrelas ofuscadas
e a sua luz bate com brandura em todas as portas
***
senhor
o teu rebanho espalhou-se pelas encostas da perdição
não te ouve nunca te ouviu
porque gastas tu a tua palavra
quando sobre as nossas cabeças jorra a infâmia
e nas nossas almas a perdição
***
levou aos lábios a taça de vinho
as mãos gretadas pelas sarças tremiam
mais tarde
a casa vazia
a solidão da morte
a chaga carcinomatosa
na certeza da laje fria
***
o poeta envelheceu
antes do segundo acto
as palavras gastas reflectidas pelo espelho
deixaram-no sozinho em cena
no palco sombrio
as cadeiras vazias nem um crítico do argumento
nem um leitor paciente declamou um qualquer verso
sem ninguém para o habitar
***
os faróis alinham-se nos retrovisores poluídos de néon
pontas de cigarro ardem nas esquinas da avenida
uma árvore quase morta ergue-se na direcção da estrada de santiago
um pássaro nocturno voa sem rumo
porventura o inverno ainda não desceu sobre os refúgios sagrados
o tempo dissolve-se na tatuagem da mulher encostada à luz do candeeiro
***
mulher
de olhos
e voz triste
névoa consumida pelo amor
de chamas frias
o teu tempo chegou como fagulha da flor solitária no pântano assombrado
exposta aos ventos da destruição
***
há uma mãe eterna
coroada pelas dez mil coisas
incontaminada
brilha no espaço infinito
que por vezes
sorri como a criança pura amamentada
na minha alma azul
***
a liberdade é a maior mentira
inventada pelo homem –
por ela sacrificam-se os pobres
***
a flor sem pétalas cintila
como diamante no coração da terra inóspita
mesmo na escuridão
aponta o caminho do sonho
que em verdade se transforma
***
impiedosas calúnias
desenhadas a negro em perversos corações
ódio e inveja cobertos pelo manto da noite
ganância ilusão
como um lago seco
tudo em vão
***
acordámos com o cansaço de milénios
os músculos doloridos
as memórias ressequidas
os passos dados na vereda do medo
enfrentando o desconhecido
e a tirania das palavras murmuradas pela calada da noite
***
nos olhos dele
víamos a satisfação
com a tragédia alheia
enquanto que da face arroxeada
escorria um pútrido suor
hipócrita como a humanidade
***
a insensatez da racionalidade
mata a beleza –
olho o fogo na floresta
***
corria na direcção do precipício
aclamando a sua superioridade moral
implacável nas convicções
intolerante às algemas do progresso
lá fora o regato não deixava de correr derramando frescor nos insectos que se preparavam para fazer amor
enquanto um lagarto se quedava em mística quietude
mais logo
na taberna
anunciaria a guerra
a destruição
a fome
a doença
a morte
para depois se deitar ao lado de um sono sem sonhos
***
frívolos e odiosos
incendiados de trevas
loucos e estúpidos
cheios de certezas
verteram com os seus machados
o sangue virgem
das cerejeiras floridas
***
ah a ordem e a liberdade
o progresso sujidade
da alma
falsidade
a criança absurda na maquinaria
nos exércitos devastadores
na civilização
na moral
na supersticiosa distinção entre bem e mal
tormento do homem que se apega às águas rasas do sofrimento
***
vencido neste e noutros mundos
choro lágrimas de sangue nas margens
das águas da babilónia
***
pecado remorsos
condenação
angústia inconsciente
medo
vigília
sonho
do sono profundo
nasce
a harmonia
o cume da montanha torna-se visível
***
os nenúfares no tanque
alegravam a escuridão do dia
em que o amor morreu
ao alcance de um beijo
perdido no nevoeiro
***
ouve-se o vento na escadaria sul
fecham-se as janelas
abrindo os portais à intimidade
no quarto duas velas acesas
dois corpos
os pássaros ainda cantam na velha oliveira com o tronco coberto de musgo
o leito guarda o segredo dos sonhos inquietos dos esposos
enquanto a casa repousa
***
os estigmas humanos do planeta
visíveis na estrada lamacenta da vida
espargem manchas negras nas flores silvestres
e varrem o brilho das estrelas
são como o amor que se perde ao crepúsculo
e a beleza ferida pela ilusão das trevas
***
a fonte da vida
espalhava a sua luz pelo alto do coração
os caminhos agitaram-se nas margens
as nuvens transportaram as suas pétalas para terras desconhecidas
onde os homens fizeram ocultos nichos de lembranças
carregadas de espinhos
***
a terra molhada
cheira a canela –
recordo a minha avó
***
sonho com uma vida sem inquietações
com a paz do fogo da lareira no frio do inverno e com os regatos da montanha no calor do verão sonho e acordo e volto a adormecer para poder sonhar com os pirilampos que tremeluzem ao redor da fonte quase seca e com as flores nos pastos e a lua nascente rodeada de estrelas que aos poucos se apagam
sonho e acordo na mesma vida de sempre
***
no auge do amor
o pensamento cessa
o corpo alimenta-se do instinto nu
as palavras emitem os sons das asas das aves nocturnas e dos astros mutantes
o amplexo veste-se de nuvens luminosas
enquanto o sol envolve os amantes num manto de luz
***
as raízes do passado
fundem-se ao fogo das estações
abandonadas ao sol
neste país de sal e cardos
os lobos devastam as estepes floridas
a civilização manifesta-se na figura de uma mulher nova
embriagada pela sua própria beleza
***
as armas cintilam
no colo do mar
navios despedaçados pela ferocidade dos canhões
flutuam dispersos
cadáveres esbranquiçados jazem ao sabor das ondas
na praia a vigília
dos órfãos e das viúvas
alheados do comércio do sangue
***
a chuva é solitária
quando o vento de oeste a faz tombar de mansinho
no lago do jardim
no banco leste a senhora descansa as mãos
no regaço um lenço bordado a rosa
no coração a saudade do amante
na alma em lágrimas a dor ardente
***
os pássaros cantam na montanha
duas pequenas nuvens acariciam os pinheiros anões do cume
na aldeia algumas crianças brincam
dois anciãos sentaram-se na fonte
os homens juntaram-se no campo da bola e as mulheres à beira do lago
porque é domingo
no retiro do caminho um eremita caminha vagarosamente à espera de nada e sem querer nada
não sabendo que todos o invejam
***
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