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OS TRATAMENTOS SUGERIDOS NÃO DISPENSAM A INTERVENÇÃO DE TERAPEUTA OU MÉDICO ASSISTENTE.

ARTE

domingo, 20 de maio de 2018

CANTO IV - MEMÓRIAS DE EROS (II)



Download dos textos de ANTIPOESIA ou a insustentável arte da falsa erudição em –



***



incendeio-me nos campos rodeados por sebes derrubadas
em cada árvore um amor antigo      um quadro pintado com a voracidade de artista embriagado
no poço seco e na penumbra dos séculos as ninfas que faço e desfaço no torpor da mente vertiginosa
o sol nasce      o rio corre      as amarras estremecem com o sudoeste
nem no sexo há balanço como este no corpo a corpo do meu barco     tempestade em que me trespasso      das ninfas o compasso

arrasto a língua pela tua taça
bebo de teu vinho o teu mosto
o licor desse gosto infinito

quero que sejas rio        o estuário sem sossego das barcas encantadas que sejas o luar dócil e mavioso nas cristas a brilhar que sejas mar e maresia   o batel encantado que sejas dor quente e forte como o amor que sejas vida que sejas morte que sejas tudo
porque alma como a minha não aceita não caminha lado a lado com amor a outros dado
o meu corpo cola-se ao teu        foram moldados juntos
colam-se

      tantas árvores despidas na paisagem
      tantas mulheres na vida encarceradas
      e eu que sem ti amada
                                     já sou nada

mas                               agora

    forte   decidido   absorto
                                      agora olho
    as formas do teu corpo
                    a boca lhe abro 
    a rosa lhe desfolho


      a ameixa mexe-se nas pernas tão redondas e lisas amendoadas
      retorno à tua boca ao céu molhado
      às ancas e ao centro do corpo
      majestade nupcial no nó das cinturas

      momentos de movimento na vulva que se abre   ao som das nuvens
      aqui estou              duro e entorpecido

nado no teu corpo
na tua alma
e voo contigo no teu espírito maduro

nesse mar de calma
chamas
e abrigo

corpo suculento que me inebria e se compraz na minha solidão que é haste apetecida que é vida vulcão            erupção em erecção

dez horas da noite à porta do palácio o som do ciúme da vergasta da raiva da honra ferida
no quarto dos fundos outra deitada
recordo os anos nos teus abraços        os afagos        as promessas a violência das palavras e a ternura o prazer a loucura a aurora e a fadiga
as tuas coxas os gemidos o amor da tua língua

dizias
ser o amor da tua vida

no corpo novo que conheci tão perfeito e apetecível
traição
      mirrou-se-me o membro
      cresce-me o sentimento
      da culpa comprometida
      pecado contra ti cometido

dedos
braços
pernas
sexos
abundam
abraços
beijos
movimentos
da vagina
pénis
dos seios
erectos
corpos vivos de uma vez modelados        pelo prazer abençoados

abriu-se a flor
na boca do corpo

feroz o tacto
    na carne a dor

no espelho doirado
                         a imagem do amor

no leito virgem
                  o âmbar sangrado

pelo dedo penetrado
                          de virgem com virgem deitado

e desse acto                            dessa posse
incompleto ter
o menino fez-se homem
a donzela fez-se mulher


não sei porque assim sou      animal extraviado por fêmeas desejado      macho de mil camas      dez mil intentos e outros tantos desejos ventos e talentos      vaivém de prazeres prados e lamas
raio de luar a penetrar vulvas      o adultério em tardes fulvas sem que saiba ou queira saber o que é esse mistério o que é amar      feliz e liberto é-se a foder

fiquei ali parado
tão quedo e sensível
por essas dunas encantado


a meio da noite ela veio      trazia nos dedos esguios
o som do mar nas noites de invernia
os corpos nus                       a palpitação dos sexo
     no coração
     da maresia

um beijo no céu da boca outro no ombro despido um outro no mamilo outro que desce ao umbigo que rompe a fissura da chama roço que a vagina clama

às vezes      e são muitas       fujo ao amor      nem a memória dele quero      o vestido rasgado nas ancas nuas o coração nem longe nem perto      o prazer num princípio sem fim      os nossos corpos em desordem à beira do precipício


entra no meu corpo
eu entro no teu

a alma que é tua
ocupa o lugar da minha

a minha      essa
ocupa da tua o espaço

aperta-me   isso   assim
sê em mim

o veado hasteado preso ao laço
que me guarda o eterno abraço


penetro-te e peço que me olhes
olhar aberto
ao movimento do sexo erecto


o vosso beijo na cama desfeita eleva aos céus a boca os lábios e cristalina saliva de quem homem não quer e no mais puro amor encontra o afecto e a doçura que o simples coito não tem        tamanho prazer a que assisto
que poderei eu fazer

isso      fode-me
não pares      continua comigo

tenho fome      tenho sede
não me deixes nunca

leva-me contigo




são três as graças com as três sonho às três quero
no sono com as três me deito com as três me deleito
as três lavro pedaço a pedaço mas desperto e nada faço
lamento
e choro
por ter acordado


quase nua ao piano
tocas aquela melodia
que não nos cansa
e que é diferente
a cada novo dia

quando páras
recomeçamos no passado
vário no presente
e a cada momento que foge
vejo e sinto que o fruto amado
nunca é o mesmo

nem o foi ontem
não o é hoje
nem o será para sempre

nesta noite de luar obsceno
invento-te as linhas as formas as cores
nas minhas mãos prazer e dores

as minhas pernas as tuas apertam      o meu sexo penetra-te deslizando pelas formas erectas dessa  porta que limpa de toda a sujidade ilumina o corpo e me transforma na mais alta potestade

há uma vida e duas canções      canção do amor e a da paz        hoje quero-te como amante        pele contra pele mãos nas mãos e teu corpo vivo em flor
a renascer a cada orgasmo

imprudente entrego-me        não estou confiante nem indiferente        quero-te        envolvo-me no teu perfume antigo e no cálice dos teus beijos        todo eu sou tu        movo-me com a doçura de uma serpente pecaminosa      o meu corpo lavo nas tuas abstergentes partes e sem que o saiba teu escravo sou

pernas que se abrem
os cotovelos
roçam os lençóis brancos

mãos dadas
os longos cabelos suados

das axilas um fogo cálido
um sexo molhado

uma romã
orvalho que nu
veste a haste dura

olhos negros
de estudante

no teu colo
o sol nascente

na minha mente
o mistério do prazer passado

beijo sangrento
escultural pecado


de bruços
tu
a desejada
de joelhos
eu
o desejo

olho e vejo
o sabre
que desliza
no templo
orvalhado

estremeces
contínuos ais
gemes
e pedes mais

sentas-te no sótão o sexo despido        olhaste para o lado onde o vestido caído clamava urgente pela minha presença
amo-te      quero-te         mas
deixa   deixa que estou doente

    nos céus a escuridão do vazio
            tua casa silente em chamas

        um bote passa no rio
                   cavalgando limos dourados

             noite de todos os pecados
                          num sexo que aquece ao frio

noite de amor
na solidão em que te amas

repara como eu te reparo        sufoca-me o peito
a respiração        não penso                sou carne

o espírito morreu na ameia dos teus seios

e não há culpa ou pecado na ausência da razão

    porque quando os corpos falam
    as palavras não têm significado


quando
nas mãos te tenho
te beijo
te penetro
e teu olhar vejo
com tanto desejo
por ti
outra aguardo
nas lágrimas de seiva
do meu corpo
faminto
alimento
da alma
que o anima

e se neste dia
o digo
que às duas vos quero
como a mais ninguém
olhando para o passado
já morto
é certa prova
de que vos não minto
de tanto vos querer bem


com as duas me deito
as duas exploro

homem de uma só mulher
não é homem
é manso touro

na arena a morrer
sem conhecer o vero prazer
de múltiplo orgasmo

mito
que o mundo nega

inveracidade de eunucos
que nunca irão conhecer
a mais pura realidade


no gelo
daquela cidade nórdica
vossos cabelos loiros
vestem deslumbrados
os sexos despidos
brilhantes     molhados
doces e brandos
a tolherem-me a visão

quero-vos tanto que se vos vejo nessa lânguida posição mais vos quero mais vos desejo
às duas                                             à minha mão

um beijo tão profundo e prolongado
só tem continuidade e vida
se tiver por essência o sabor do pecado


  mergulho no teu ser alado      no jardim as estátuas mudas os buxos calados
    afagas-me o membro sorves-me o líquido da vida o éter do espírito vivificado
     estou junto de ti
      colunas de braços suados
       os lençóis em pedaços
        rasgados à fúria
         de todos os momentos
                 em que renasço
                                     ao teu abraço

o esperma que te escorre da boca faz-te mais bela      não que o não sejas mas torna-te mais tu
imagem que reflectes nos céus de teus lábios
língua rasgada com as unhas
vinho nascido das faces rosadas
mel que sorves espasmo após espasmo em múltiplo orgasmo
a cada instante renovado


chovia
tu molhada
a roupa colada ao corpo

deitada
a cada golfada
de água

mais se adivinhava
uma beleza
suave e mestiça

já não sei
se te prefiro nua
ou vestida


sem saber onde ir
bati à tua porta

recebeste-me de rede vestida
provocadora na lascívia

parecias uma prostituta
das da noite não do dia

das que vagueiam pelas ruas
desertas e frias

à espera do cliente que tarda
do marido mal-amado

que à mulher engana
e por ti é enganado

no orgasmo que finges
e é cena de teatro


    que eu seja
      leda
        o cisne
          que te penetra

            abre-te
              para mim
                ave alada

                  recebe o meu
                  sémen
                  no teu colo

              e que desse acto
            nasça o filho
          a criança desejada

        pouco importando
      se morro cantando
    depois de ter amado

cravo as mãos no teu corpo e a exaltação consome-me mesmo na pedra fria        o sol nasce no teu sono profundo        a noite foi longa como breve momento
eu ainda acordado acaricio-te o cabelo        o tempo passa tão depressa        a vida são dois dias        quase sempre dor
envelhecemos a fazer amor

para que quero eu conhecimento
a erudição é nada o teu corpo tudo
as montanhas do medo estão longe e as túlipas não nascem nos canteiros sóbrios das divindades
há castelos que se avizinham      ermos que se amotinam
os pântanos amealham o padecimento dos exércitos vencidos        no horizonte o sol esbraceja sobre uma coluna de cedros do líbano
esquece tudo
quero o teu corpo e nada mais
o teu corpo e vinho
que seja esse o meu caminho
da vida o meu sentido


gosto tanto                 sempre gostei
de vos ver brincar nuas na floresta
os corpos brancos de amor nascente
os alegres afectos de amor inocente
os gritos abafados as palavras ditas em inefável surdina
dedos que se tocam corpos que se enlaçam
bocas que se mordem brisas que consentem


parto e na ausência do teu aroma a viagem é penitência de solidão do amante que sem amada já sem alma sem nada outra mulher não quer em noite ociosa sem virilidade


os corpos
revoltos
as bocas
mordidas
os sexos
as virilhas
odor
a canela
o sabor
da madrugada
as lianas
o grito
das hienas
e dos chacais
os lábios
famintos
sôfregos
de um sorriso
o fogo
que o coração
ateia
a paixão
do sangue
em ebulição
os lençóis
frios
o prazer
deslumbrado
à palavra
amor
a égua
que corre
no prado azul
a espada
que rasga
o fundo da dor
que a esquece
e com raiva
lambe
beija
e morde
o medo
do pecado
e eleva
pénis
e vagina
ao reino
do iluminado

esse teu desejo tão belo tão bonito
dá-me tua mão sedenta
deixa que te mostre o infinito

era eu
tu
e ela

tu eras eu
eu ela e tu
ela tu e eu

pedaço a pedaço
violado
construímos
o vício
a volúpia
o falso-pecado

com os lábios
em chama
e o coração
silente
elevo o desejo
ao cume ardente


não te vistas dorme nua        liberta-te égua incerta
a romã da planície não olvida que a loucura que se acende sendo muda não te renega

tudo é terra      os cabelos negros sobre os ombros      os espasmos das coxas no pénis que te invade      o gozo das veias      a vertigem do flanco rasgado      a maresia do anseio e o teu cheiro que sobe pelos dedos acidulados
      bebo-te
      e nado no teu seio
      invoco da vitória
      o suco do clitóris
      e da vagina
      o doce suor
a pouco e pouco incendeio o dossel      ateio o fogo aos sulcos de lava      enterro no teu corpo o punhal de esmeraldas que deus me deu
enfeito-te de grinaldas      são flores brancas
adormeço como a antiga criança no laranjal     
                 na tua boca rosada

os teu seios tão redondos hirtos perfeitos do peito salientes nessa blusa amarela que mostra o que  esconder quer e insinua o que desejo deixa-me na alma o rastro do que perdi e não vejo

amada     o teu sangue corre nas minhas veias de séculos
acendo um cigarro como quem planeia viver para sempre
a noite é longa como saudade enredada nos fios do coração        a hora desperdiçada
estou só       tu para aí deitada
sonhos que pairam nas vidraças da avenida

o quadro que vos alcança
que vossos corpos une
não é apenas madrasta arte
mas testemunho das bocas
que se escondem na noite
em ritmo de orgíaca dança

porque te escondes
que vergonha tens
de teu corpo nu

que olhos se cerram
para a si se não verem

o teu corpo
és tu e teus
esses olhos

se outros
te vêm
libidinosos

que interessa
à tua inocência
pureza e castidade

na loucura da noite
aos dois quiseste
e dos três um fizeste

ceptro cingido a veludo
volúpia dos sentidos
que se comprimem
nos olhos cerrados

a tua face no pescoço dela
meu sexo nas suas mãos
quente sémen que se derrama
pelas duas acariciado

que pecado pode haver
quando dois corpos luminosos
se abraçam beijam e afagam


tuas ancas coloridas nas minhas mãos doridas
tuas nádegas e meus dedos nas coxas despertadas
transparência de nervos ossos músculos e desejos
no sexo desassossegado por ti subjugado

lá fora o silêncio rumoroso dos que já não amam        vagueio pelos intermináveis corredores do quarto e transformo a sede do deserto tumefacto em orgasmo      o teu corpo é feito de musgo como as catedrais que fundem a volúpia dos ventres nas cúpulas ancestrais      nas mais profundas grutas tenho-te e não te tenho      pouco é o que vejo      nado na sombra da tua vagina 
de lado

boca        lábios        língua de menina
sugo-te os dedos o ventre a vagina
belos são teus olhos teus lábios
crescem heras no teu corpo violetas nos cabelos
és a mais antiga das novas mulheres
a palma do mais puro anseio
a força o veio de água que resplende
o caminho      a via do meio
primavera de meu olhar turvo por vezes cego
se no nevoeiro te não vejo e na noite outro me sinto
na solidão já solto de tudo o que é amor lascívia e felicidade
morro de dor sôfrego da palavra e do acto de amar


oitava noite do novo ano        acenderam-se os candeeiros da rua deserta        na casa velha do beco iluminaram-se os candelabros        o pénis ergueu-se escondido no cetim do roupão        a porta silenciosa        o sonho daquele corpo juvenil inebriava o espaço em suspensão        as horas derrapavam no sino da torre        o pénis erecto cansou-se        as pálpebras vermelhas cerraram-se na visão do encantamento
sono        sonho por momentos acordado
sono        sonho enjeitado


quando o cansaço vier
no teu corpo ainda quente
e a arrefecer
irei aguardar que
no ventre gelado
poisemos nossos dedos
vivos como sempre

mais
toca-me fundo
manso e mudo
depõe um beijo
profundo
no trilho
que te abro

beija-me
a boca faminta
sacia-me
os desejos febris

bebe-me
o corpo inteiro
a chama
do sagrado
o elixir dos anjos

mais
mais fundo
sangra-me
com teu punhal
enche-me de vinho
e deixa
que com raiva e amor
por toda a parte
meu grito se oiça


veio o vento com os seus dedos delgados enfunar as velas dos destroços        no poço os corpos nus acariciados pela brisa quente que o amor liberta todo o fim de tarde
a minha mão na tua
mar que se insinua
se solta   se desprende
no costado do teu ser
cobiçoso e cobiçado


      saberás quanto te amo

      quantos beijos deponho no leito desfeito

      quantas lágrimas verto no meu peito

o ócio dos odores que percorre o ventre do vestido nu        o sabor das pregas do lençol a que me entrego na sede de teu corpo ausente a sombra táctil desse elemento que me não consentes invocação de duro lamento
foste a mulher de meus dias a ilusão tardia a insónia das noites na esperança que se esvazia
amanhã virás        mais não conheço que teus olhos
azuis adiamantados        não sei quem és quem foste        mas serás com ou sem corpo na ausência ou presente no espírito e na alma a novíssima amante

na tua boca o sabor
dos mirtilos e do gozo
não é isso o amor

deito-me contigo cansado do mundo entrego-te tudo entrego-me a mim deito os meus olhos ao céu
caio no meio das tuas pernas      destapo-te      liberto-te do véu
despida      com o ardor da chama e a dor da lenha desfloro-te na cama quente de sangue
a boca dorida de tantos beijos a vertigem dos teus seios despes-me o olhar separas as línguas invades-me como onda no mar
tuas mãos de saliva no meu dorso        doce sensação que me percorre absorve e prende à vida

gritam os sentidos à aurora

ponho uma venda azul

junto as cinturas num anel
que se não sente nem é de gente


as tuas próprias mãos transfiguram o delubro do desejo
quando te amas e assim lasciva te vejo mesmo que o digam sem jeito ou nexo
jorram lágrimas
do meu sexo


muitas te envolvem te beijam
saliva derramada em húmido canto
um beijo é sempre santo

o grito dos sentidos das palavras impensadas
do corpo em chamas nascem aromas
sémen de rosmaninho de razões despido

    a uma penetro
     a outra
      a vagina acaricio
       e grito        amor
          quero sexo
                     não quero amar
                     não quero dor

deitas-te        contorces-te        prendes as tuas próprias pernas        elevas-te        sentes-me e em espasmo incandescente gritas ais e quase em surdina
dizes
quero mais
               mais

o hálito quente nas coxas
a palavra que me desmente
só tu existes        somente


o banco de granito envelhece na casa antiga hoje em ruínas
envelhecemos ao ritmo da memória que se afunda nas ervas aquáticas do ribeiro
já não despimos os anjos mostrando-lhes as vergonhas inexistentes
tremem-nos os dedos
não construímos mais palavras de sémen naquela paixão íngreme do vale alimentado por mansos pinheirais
o verão é o inferno da lavoura        do sexo não

és pedra        és rio        és mar
és o nascente que se aparta
e que no todo me aguarda

seguras-me o pénis com aquele especial jeito que o encaminha para as fissuras do medo        a essência das fossas abismais        silêncio que envolve membros descarnados        beijos onde tropeço        as emoções que esqueço        sinto-te incendiada ao sabor de eva e odor de adão provando de ti os lábios sedentos na maçã do orgasmo        vivo está o pecado original
o lume da vagina no gemido do mundo        espaço circunspecto da alma perdida        caio de bruços        ajoelho e desfaleço
o amor desfaço

    oh verdes olhos da mestiçagem
    mãos renascidas ao medo da aragem
    espectros famélicos da puberdade

    longe de ti
    das florestas tropicais
    onde pássaros azuis esvoaçam
    e multiplicam
    a beleza da criação
lembro o dia à beira do lago        os limos acesos na névoa que branda descia sobre as quietas esmeraldas aquáticas        devastação do prazer
o sufoco febril
na agonia do amor
a morrer
nos umbrais da tua boca

o peso vegetal dos teus ombros sobre o meu peito
um seio na palma da mão
os dedos no sentido inverso ao eco do teu gemido
abraça-me                            docemente
como quem embala a criança divina e de seda pura a veste
         adormeço na cúpula do tempo
         ao som da harpa campestre


nos corredores do velho palácio
tão belos os amantes      nus      apaixonados
um amor tão vivo      fogo inflamado
um olhar tão esperançado
na certeza de que a morte
nunca o verá apagado


do teu corpo

mulher

é essa
a única porta
que não conheço

dormes
          noite quente de verão

a janela aberta
                    a um amante      a deus

ao coração ausente
                          do que não vem

nunca chega
                 quem queremos

o mundo é amargo
                          madrasta solidão

e por cada mulher que sofre
vai perdendo a sua razão

mais não dá
criatura do passado
amei-te tanto
tanto como a nenhuma

agora
não sei

tudo é triste      o tédio invade-me
quero-te e não te quero

sei que o sentes
quando contigo me deito

não há outra      não há uma
e por estranho que pareça
ainda é a ti que amo


nas praias desertas os corpos nus das mulheres transformam-se em sereias


despertas ao canto dos pássaros
fizemos amor na noite clara
tens a pele levemente suada
a camisa descomposta e perfumada
incenso do sexo      nuvem profunda

vontade que te mina e a mim se alastra

preparas-te        lá fora é grande a borrasca      a neve cai nas fragas enche os campos de branco e transforma homens em anjos
sabes que virei vergado ao vento e à tempestade enlouquecido pelo amor ao som de bandolins e banjos cercado por querubins e arcanjos
somos místicos
a noite será nossa        a música das esferas rondará os ares e perfumará a espera
sabes que virei
outra não tenho      outra não quero
apenas eu e tu amor meu


se o sabes
porque perguntas
nesse corpo seminu
porque pedes e me feres
ao espelho que te diga
se outra há
mais bela do que tu

verdes os teus olhos
no azul das minhas mãos

arvorado te penetro
perco-me no teu coração

suo grito e emudeço

lambe-me o sexo
vira-me do avesso
despe-me a alma

mata em mim o humano
acaricia-me o peito
inunda-me com o teu cheiro
rasga-me os sentidos
oferta-me teus orgasmos

que morrem pela mão da madrugada
quando exaustos e de uma só vez
adormecemos num mar de esperma
a suco de saliva arado


hoje fizemos amor
para sempre na carne
do acto de amor fazer
os estilhaços cravados


parto e na memória guardo o suor das catedrais
os uivos                                               os ais
longínquos das estradas desertas das avenidas das capitais
de tantas camas tantos feitos pecados veniais
tantos seios vaginas peitos tantos sátiros tantas ninfas
tantos sonhos desfeitos

tens nos olhos e na língua
a certeza de que o corpo
mais que razão é sentidos

olhas-me
com esse olhar
que tanto ama
como mata

mostrando-me
na mão direita
o que usaste
na minha falta

este medo que insufla os dias é o segredo que aguardo
ansioso      na solidão da tua partida e que morre quando tornas e nua te ponho e nua te entregas às minhas mãos        razão de meu sonho

    ergo-me na noite e canto
     ao vento que sibila nas acácias
      ao lume que crepita na lareira
       à ausência do teu corpo
        e sonho
         com os espasmos
          do último encontro


     a seiva das rosas
                     naquela proa firme
    alumia
    a espuma branca
                     dos lábios abertos
    ao nascer do dia


a ferro e fogo te penetro te lambo
para a vida te desperto

      gosto
       quando devagar
        te mexo

          no ponto certo
           no sítio teu
            gosto dessa

                     chama
                     que se abre
                     à exaustão

            fogo
           posto
          no vulcão

         que das tuas pernas
        nasce
       quando o toca

      pequeno vulto
     que cresce
    e me ampara


quando o dia morrer nas pétalas floridas das roseiras beijaremos as mãos geladas dos salgueiros vergados à loucura da noite

naquela manhã o clitóris estava tenso aos dedos ainda dormentes
nos lençóis de algodão os pesadelos da solidão
na mesa de cabeceira uma espiga doirada vibrava
e mais se agitava na vagina sedenta que a aguardava
a fome dos seus dedos      o amante indiferente
que não veio nem vem

    cama que range
    corpo sofrido
orgasmo que se abstém


de ti bebo o vinho o suor as lágrimas o sal o líquido  que escorre em aroma de pinho
desassossegado de pé aguardo a tua vinda o teu cheiro      teu vinho      teu pecado
liberto os olhos ao horizonte        se fui já não sou de vistas curtas      vida de putas que se acaba
terei de escolher cedo ou tarde
amor que me cerre a fronte

palavras de sexo vertidas em taça de punhal são grinaldas de passos a percorrer os pulmões dos caminhos
lentidão da língua ao sabor meigo do corpo
gozo súbito na boca que se aquece      poço sem fundo      fruta doce      gomo que se afunda nesse regaço      nessa gruta

naquela noite
os dois lado a lado
o céu da terra aliado



amo-te
tenho sede do sangue que se transforma se desmanda se rompe e se exaure na aurora

sinto-me tão cansado
as moscas a fazer amor
e eu para aqui sentado
sem vontade nesta dor

e se assim te tenho
assim gosto de te ter
tanto
que o meu pénis
sempre cresce
banhado pelo teu pranto


na lentidão do tempo
convoco o hálito do teu corpo
e o sorriso fugaz das tuas coxas




dedos nas pernas   nas nádegas   na vagina
sonho contigo

edifícios que morrem na cidade
mãos que desfalecem com a idade

corpo iluminado que da penetração prescinde e que a cada palavra ao ouvido dita da matéria faz alma e espasmo a espasmo sobe ao paraíso

no inverno o corpo é lareira as formas do fumo que sobe na escuridão da aldeia
o lume na braseira        calor que foge
as tuas pernas              nas minhas
no pijama                     sémen que escorre


cortaram-te o cabelo        mesmo amputada creio em ti como se crê num deus imemorial
pareces-me um rapazinho imberbe
mas és tu                    inamovível
nua de pernas ansiadas
a carne dura de granito cinzelado

ponho-me de joelhos      beijo-te e rezo ao sexo azul celeste
enleio-me nos teus pés
a alma repartida em pedaços de pão

    nas mãos que te dividem
     os segredos do corpo
      abrem-se as portas
       que me extasiam


foder com uma duas ou três

sufocar de prazer

matar o desejo      a dor

morrer de amor


as formas da água                 no linho do leito
desejo que em pedaços          agora jaz desfeito

um fio de sangue                   no lugar do peito
lençóis em alvoroço                 onde meiga a deitas

adormeces nua                        tua pele na dela
a dela na tua                           do sonho desfeito
sendo certo que esse corpo
teu não é mas dela


  sem desejo falo-te do meu desejo
 deprimido                  a razão sem sentido
a vontade morta         do corpo inerte

falo-te do que senti      tua ternura   teus abraços

das tuas pernas os laços    de teus lábios o mel

    e das contracções vaginais
    os uis      os ais
    os gritos   os salpicos

do esperma espalhado no teu ventre aguado

    falo-te de tudo e do nada
    do que amo e amei
do que hoje sou                   pobre amante

                      o degredado


nos meus dedos o cuspo que te molha o sexo
caem as horas no teu corpo
lusco-fusco de borco


a noite é viciosa
   como rio de orvalho branco
    que te inunda as palmas da mão

     a noite é escura
      como o deus que procuras
       na nutação em que me sepultas


o paladar do destino na casa verde do lago
hino que o corpo canta e a alma encanta

cabelos negros      ciganos      viajados
de mãos nas mãos      tocados por tantos
estranhos      no perfume dos crepúsculos
róseos      sedosos      maduros
para mim os únicos

liberta-os ao som do vento
ilumina o candelabro de nove braços
e de bruços com esse teu jeito
sorve-me o alento
beija-me o peito


o desejo ferve no canavial lume na ínsua do coração
a palavra que se não diz nuvem que se espalha na mortalha da razão
florescem os sentidos nos ciprestes milenares
    do gozo
     da morte
      da vida

      e eu grito
     estremeço
    transcendo tempo
         e num lamento
         apunhalo o espaço
         penetro o infinito


sou toda tua      dizes
faz de mim o que quiseres

faço de ti o que quero
faço de ti o que queres

balbucias palavras que desconheço
tocas o teu corpo com lascívia

o meu membro não te basta
tudo em ti é flor que nasce

prazer que sempre renasce
no viçoso fim de tarde

nado no teu corpo alagado
na esmeralda do desejo contido

e pouco a pouco
desperto o sentido

que molha a pele
que te fala ao ouvido

e abre com doçura
o teu sexo escondido

gosto quando me pedes
não páres      quero mais

gosto quando me dizes
vem       a noite é minha

    de ti não sinto nojo
     em tudo que faço

    e o que faço de ti
     se só a ti te aproveita
      por mim o faço

    e por fim
     no laço da união

    se te deito      te beijo
     te abraço

    te digo te amo
     te entrego do amor
      a lança

             choro de alegria
             sinto-me criança


três são os deuses que vejo      três os prazeres terrenos que fruo      três constroem beijo a beijo o encantamento da noite
escorre o suor nos corpos em vibração
por trás
te abraço
te amo
te desfaço

      na excitação
         todo me tomas
          e sem que saiba porquê
            pela flor de teus olhos
               sou penetrado

o calor do amor      arroubo interior      hinos selváticos      canções de fogo nas estrelas cadentes
tu és o meu refúgio nesta quietude da noite que permanece
astros pendentes no lume extático que arrefece
a embriaguez do meu peito que rasga teus impérios e fortalezas
o veneno do meu membro em doce aroma
golpe nos seios de neve que se mantêm erectos
em dúvidas e cuidados de medos e fados
            os agrestes momentos
não temas                             és minha
sou mágico            retardarei o fim dos tempos

ficas excitada
as tuas costas no meu peito

desliza o meu pénis
na tua vagina

onde desperta para a vida
o único movimento
neste mundo
julgado perfeito

como de lança sangrante
em ferida de mágoa nasce o prazer

desse modo te firo e ouço dizer
é tão bom que até faz doer



como estão longínquas
as palmeiras
que tua seiva absorvem
nesse amar inocente
a quem seu corpo basta

frémito     langor     carícia
escondida em curta veste
que tanta saudade liberta

por terras e mares
por humanos
nunca pisadas
nem navegados


os teus lábios      tua dádiva nas mãos lentas da incerteza ajoelhada na macia  nudez dos dedos
confessas-te molhada      rosa das rosas
e ao meu tacto pelo caminho esguio e menos recto se entorpece aos poucos tua vagina de menina
fecho-te os olhos                     abro-te o vestido
noite escura
nos ares                                 o aroma do pinho
imergimos                                no mesmo vinho

deixem        não se atravessem no meu caminho   
deus não existe e se existe pouco se importa comigo porque está doente ou enfadado
a noite debruça-se no leito e tu perguntas ansiosa pelo teu amigo
na janela a jarra de flores de rosmaninho e a fotografia do falecido com a palma feérica na mão esquerda      tão novo coitado      tristes são as guerras
o coração direito ferido
abraço-te      saro-te a ferida      viro-te
e por trás
te acaricio   te consolo
amordaço e liberto teu cio


os teus cabelos são o mel
onde afundo a minha gula


os anjos também amam      olhar profundo      mãos dadas tão doces e delicadas
divina oração em dedos de luar


tantas deus meu

são tantas as que amei

e se de tanto prazer vivi

donde vem este sofrer


se é isso que queres
se a beleza guardas para ti

não te condeno

talvez quem mais ama
seja quem se ama a si


demoro-me no acto de amor fazer        a primavera desperta lentamente e as mesmas flores de antigamente demoram a florescer        curva-se o corpo suado ao prazer        os orgasmos sucedem-se        o meu guardo-o ciosamente para que momento a momento tarde noite manhã possa escutar teus gemidos alcançar os teus espasmos deslizando por ti na rosa dos dias até que o cansaço vença o furor do sabre empunhado ao cintilar das constelações naquele sabor de sal florente que só aos amantes é dado ter
afinal o orgasmo é parte ínfima de extenso gozo celestial

é azul
tudo o que amo

azul o céu
azul o mar

olhar azul
gestos índigo

anil de luar
no azul que digo

ao meu cheiro
a mão no teu seio
antes que te toque
e te penetre
vens-te primeiro

o hotel vazio      nus na piscina interior      só nós      o teu corpo à superfície em provocação      justo plâncton da mocidade
sucumbi às tuas formas na tentação sem medida
enleei-te e na água morna de tua fonte bebi até à exaustão
            não esqueço esse dia

ela veio com a sua sombra 
despiu-se vagarosamente        as suas pegadas mostraram-me o caminho para o êxtase da noite      queria carinho a afeição de um beijo prolongado e um pouco de sexo      não tirou os brincos de jade         os seios tensos manchados de lágrimas
esquece a paixão        é cruel o amor no dia que finda

a meio da noite com os vestígios do prazer em subtis escorrências ergo-me do leito
um morcego atravessa o negrume alheio aos meus mais ignóbeis sentimentos        na casa em frente assanha-se uma luz débil
na cama em desalinho o teu sexo descoberto        outro tanto por descobrir

de leve
o poisei
nos teus lábios

com leveza
te amei
nessa tarde

punha
tirava
voltava a pôr

e a cada orgasmo
mentia
chamava-te
amor


vais voltar a partir

os nossos corpos uniram-se em incontáveis vezes      noutras afastaram-se sem dizer adeus

tu ias      eu ficava
ou ficávamos os dois sem dizer nada

já são tantos os anos e dias que nossas almas não têm recantos por conhecer
agora amamos      mais logo fodemos      tudo nos é permitido      com amor tudo se pode fazer

entro em ti      no teu corpo casto      entras em mim      nas entranhas no coração no espírito alvoraçado
subimos ao céu      ao paraíso
queres gritar e não gritas
dou-te a mão e por entre gemidos nascem orgasmos sucessivos

não sossego não te deténs      o gozo é tanto que muitas vezes choras lágrimas que não são de sal de chuva mel mas do mais belo temporal
os corpos ascendem às cores celestes      ao azul do firmamento      às nuvens brancas e puras que aconchegam os mares do sul

e amamos como nunca ninguém amou

sabes maria      estou certo
que quando amamos
êxtase perfeito
nesse prazer tanto
modelado ao teu corpo santo
deus está sempre perto

vais voltar a partir

talvez seja assim sempre
esta dor      esta chaga que sangra      lamento que oculto
e sem ti      sozinho
deus não virá comprazer-se
com tão divino amor e carinho

e eu
chorarei o caminho
pelo fado traçado
sem ti
sem deus
para aqui abandonado



são todos esses dedos longos e distantes o néctar e o veneno dos meus dias      angústia do meu ser
um dia      só deus saberá qual      voltarei para os beber



***


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