Download dos textos de ANTIPOESIA ou a insustentável arte da falsa erudição em –
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incendeio-me nos campos rodeados por sebes derrubadas
em cada árvore um amor antigo um quadro pintado com a voracidade de artista embriagado
no poço seco e na penumbra dos séculos as ninfas que faço e desfaço no torpor da mente vertiginosa
o sol nasce o rio corre as amarras estremecem com o sudoeste
nem no sexo há balanço como este no corpo a corpo do meu barco tempestade em que me trespasso das ninfas o compasso
arrasto a língua pela tua taça
bebo de teu vinho o teu mosto
o licor desse gosto infinito
quero que sejas rio o estuário sem sossego das barcas encantadas que sejas o luar dócil e mavioso nas cristas a brilhar que sejas mar e maresia o batel encantado que sejas dor quente e forte como o amor que sejas vida que sejas morte que sejas tudo
porque alma como a minha não aceita não caminha lado a lado com amor a outros dado
o meu corpo cola-se ao teu foram moldados juntos
colam-se
tantas árvores despidas na paisagem
tantas mulheres na vida encarceradas
e eu que sem ti amada
já sou nada
mas agora
forte decidido absorto
agora olho
as formas do teu corpo
a boca lhe abro
a rosa lhe desfolho
a ameixa mexe-se nas pernas tão redondas e lisas amendoadas
retorno à tua boca ao céu molhado
às ancas e ao centro do corpo
majestade nupcial no nó das cinturas
momentos de movimento na vulva que se abre ao som das nuvens
aqui estou duro e entorpecido
nado no teu corpo
na tua alma
e voo contigo no teu espírito maduro
nesse mar de calma
chamas
e abrigo
corpo suculento que me inebria e se compraz na minha solidão que é haste apetecida que é vida vulcão erupção em erecção
dez horas da noite à porta do palácio o som do ciúme da vergasta da raiva da honra ferida
no quarto dos fundos outra deitada
recordo os anos nos teus abraços os afagos as promessas a violência das palavras e a ternura o prazer a loucura a aurora e a fadiga
as tuas coxas os gemidos o amor da tua língua
dizias
ser o amor da tua vida
no corpo novo que conheci tão perfeito e apetecível
traição
mirrou-se-me o membro
cresce-me o sentimento
da culpa comprometida
pecado contra ti cometido
dedos
braços
pernas
sexos
abundam
abraços
beijos
movimentos
da vagina
pénis
dos seios
erectos
corpos vivos de uma vez modelados pelo prazer abençoados
abriu-se a flor
na boca do corpo
feroz o tacto
na carne a dor
no espelho doirado
a imagem do amor
no leito virgem
o âmbar sangrado
pelo dedo penetrado
de virgem com virgem deitado
e desse acto dessa posse
incompleto ter
o menino fez-se homem
a donzela fez-se mulher
não sei porque assim sou animal extraviado por fêmeas desejado macho de mil camas dez mil intentos e outros tantos desejos ventos e talentos vaivém de prazeres prados e lamas
raio de luar a penetrar vulvas o adultério em tardes fulvas sem que saiba ou queira saber o que é esse mistério o que é amar feliz e liberto é-se a foder
fiquei ali parado
tão quedo e sensível
por essas dunas encantado
a meio da noite ela veio trazia nos dedos esguios
o som do mar nas noites de invernia
os corpos nus a palpitação dos sexo
no coração
da maresia
um beijo no céu da boca outro no ombro despido um outro no mamilo outro que desce ao umbigo que rompe a fissura da chama roço que a vagina clama
às vezes e são muitas fujo ao amor nem a memória dele quero o vestido rasgado nas ancas nuas o coração nem longe nem perto o prazer num princípio sem fim os nossos corpos em desordem à beira do precipício
entra no meu corpo
eu entro no teu
a alma que é tua
ocupa o lugar da minha
a minha essa
ocupa da tua o espaço
aperta-me isso assim
sê em mim
o veado hasteado preso ao laço
que me guarda o eterno abraço
penetro-te e peço que me olhes
olhar aberto
ao movimento do sexo erecto
o vosso beijo na cama desfeita eleva aos céus a boca os lábios e cristalina saliva de quem homem não quer e no mais puro amor encontra o afecto e a doçura que o simples coito não tem tamanho prazer a que assisto
que poderei eu fazer
isso fode-me
não pares continua comigo
tenho fome tenho sede
não me deixes nunca
leva-me contigo
são três as graças com as três sonho às três quero
no sono com as três me deito com as três me deleito
as três lavro pedaço a pedaço mas desperto e nada faço
lamento
e choro
por ter acordado
quase nua ao piano
tocas aquela melodia
que não nos cansa
e que é diferente
a cada novo dia
quando páras
recomeçamos no passado
vário no presente
e a cada momento que foge
vejo e sinto que o fruto amado
nunca é o mesmo
nem o foi ontem
não o é hoje
nem o será para sempre
nesta noite de luar obsceno
invento-te as linhas as formas as cores
nas minhas mãos prazer e dores
as minhas pernas as tuas apertam o meu sexo penetra-te deslizando pelas formas erectas dessa porta que limpa de toda a sujidade ilumina o corpo e me transforma na mais alta potestade
há uma vida e duas canções canção do amor e a da paz hoje quero-te como amante pele contra pele mãos nas mãos e teu corpo vivo em flor
a renascer a cada orgasmo
imprudente entrego-me não estou confiante nem indiferente quero-te envolvo-me no teu perfume antigo e no cálice dos teus beijos todo eu sou tu movo-me com a doçura de uma serpente pecaminosa o meu corpo lavo nas tuas abstergentes partes e sem que o saiba teu escravo sou
pernas que se abrem
os cotovelos
roçam os lençóis brancos
mãos dadas
os longos cabelos suados
das axilas um fogo cálido
um sexo molhado
uma romã
orvalho que nu
veste a haste dura
olhos negros
de estudante
no teu colo
o sol nascente
na minha mente
o mistério do prazer passado
beijo sangrento
escultural pecado
de bruços
tu
a desejada
de joelhos
eu
o desejo
olho e vejo
o sabre
que desliza
no templo
orvalhado
estremeces
contínuos ais
gemes
e pedes mais
sentas-te no sótão o sexo despido olhaste para o lado onde o vestido caído clamava urgente pela minha presença
amo-te quero-te mas
deixa deixa que estou doente
nos céus a escuridão do vazio
tua casa silente em chamas
um bote passa no rio
cavalgando limos dourados
noite de todos os pecados
num sexo que aquece ao frio
noite de amor
na solidão em que te amas
repara como eu te reparo sufoca-me o peito
a respiração não penso sou carne
o espírito morreu na ameia dos teus seios
e não há culpa ou pecado na ausência da razão
porque quando os corpos falam
as palavras não têm significado
quando
nas mãos te tenho
te beijo
te penetro
e teu olhar vejo
com tanto desejo
por ti
outra aguardo
nas lágrimas de seiva
do meu corpo
faminto
alimento
da alma
que o anima
e se neste dia
o digo
que às duas vos quero
como a mais ninguém
olhando para o passado
já morto
é certa prova
de que vos não minto
de tanto vos querer bem
com as duas me deito
as duas exploro
homem de uma só mulher
não é homem
é manso touro
na arena a morrer
sem conhecer o vero prazer
de múltiplo orgasmo
mito
que o mundo nega
inveracidade de eunucos
que nunca irão conhecer
a mais pura realidade
no gelo
daquela cidade nórdica
vossos cabelos loiros
vestem deslumbrados
os sexos despidos
brilhantes molhados
doces e brandos
a tolherem-me a visão
quero-vos tanto que se vos vejo nessa lânguida posição mais vos quero mais vos desejo
às duas à minha mão
um beijo tão profundo e prolongado
só tem continuidade e vida
se tiver por essência o sabor do pecado
mergulho no teu ser alado no jardim as estátuas mudas os buxos calados
afagas-me o membro sorves-me o líquido da vida o éter do espírito vivificado
estou junto de ti
colunas de braços suados
os lençóis em pedaços
rasgados à fúria
de todos os momentos
em que renasço
ao teu abraço
o esperma que te escorre da boca faz-te mais bela não que o não sejas mas torna-te mais tu
imagem que reflectes nos céus de teus lábios
língua rasgada com as unhas
vinho nascido das faces rosadas
mel que sorves espasmo após espasmo em múltiplo orgasmo
a cada instante renovado
chovia
tu molhada
a roupa colada ao corpo
deitada
a cada golfada
de água
mais se adivinhava
uma beleza
suave e mestiça
já não sei
se te prefiro nua
ou vestida
sem saber onde ir
bati à tua porta
recebeste-me de rede vestida
provocadora na lascívia
parecias uma prostituta
das da noite não do dia
das que vagueiam pelas ruas
desertas e frias
à espera do cliente que tarda
do marido mal-amado
que à mulher engana
e por ti é enganado
no orgasmo que finges
e é cena de teatro
que eu seja
leda
o cisne
que te penetra
abre-te
para mim
ave alada
recebe o meu
sémen
no teu colo
e que desse acto
nasça o filho
a criança desejada
pouco importando
se morro cantando
depois de ter amado
cravo as mãos no teu corpo e a exaltação consome-me mesmo na pedra fria o sol nasce no teu sono profundo a noite foi longa como breve momento
eu ainda acordado acaricio-te o cabelo o tempo passa tão depressa a vida são dois dias quase sempre dor
envelhecemos a fazer amor
para que quero eu conhecimento
a erudição é nada o teu corpo tudo
as montanhas do medo estão longe e as túlipas não nascem nos canteiros sóbrios das divindades
há castelos que se avizinham ermos que se amotinam
os pântanos amealham o padecimento dos exércitos vencidos no horizonte o sol esbraceja sobre uma coluna de cedros do líbano
esquece tudo
quero o teu corpo e nada mais
o teu corpo e vinho
que seja esse o meu caminho
da vida o meu sentido
gosto tanto sempre gostei
de vos ver brincar nuas na floresta
os corpos brancos de amor nascente
os alegres afectos de amor inocente
os gritos abafados as palavras ditas em inefável surdina
dedos que se tocam corpos que se enlaçam
bocas que se mordem brisas que consentem
parto e na ausência do teu aroma a viagem é penitência de solidão do amante que sem amada já sem alma sem nada outra mulher não quer em noite ociosa sem virilidade
os corpos
revoltos
as bocas
mordidas
os sexos
as virilhas
odor
a canela
o sabor
da madrugada
as lianas
o grito
das hienas
e dos chacais
os lábios
famintos
sôfregos
de um sorriso
o fogo
que o coração
ateia
a paixão
do sangue
em ebulição
os lençóis
frios
o prazer
deslumbrado
à palavra
amor
a égua
que corre
no prado azul
a espada
que rasga
o fundo da dor
que a esquece
e com raiva
lambe
beija
e morde
o medo
do pecado
e eleva
pénis
e vagina
ao reino
do iluminado
esse teu desejo tão belo tão bonito
dá-me tua mão sedenta
deixa que te mostre o infinito
era eu
tu
e ela
tu eras eu
eu ela e tu
ela tu e eu
pedaço a pedaço
violado
construímos
o vício
a volúpia
o falso-pecado
com os lábios
em chama
e o coração
silente
elevo o desejo
ao cume ardente
não te vistas dorme nua liberta-te égua incerta
a romã da planície não olvida que a loucura que se acende sendo muda não te renega
tudo é terra os cabelos negros sobre os ombros os espasmos das coxas no pénis que te invade o gozo das veias a vertigem do flanco rasgado a maresia do anseio e o teu cheiro que sobe pelos dedos acidulados
bebo-te
e nado no teu seio
invoco da vitória
o suco do clitóris
e da vagina
o doce suor
a pouco e pouco incendeio o dossel ateio o fogo aos sulcos de lava enterro no teu corpo o punhal de esmeraldas que deus me deu
enfeito-te de grinaldas são flores brancas
adormeço como a antiga criança no laranjal
na tua boca rosada
os teu seios tão redondos hirtos perfeitos do peito salientes nessa blusa amarela que mostra o que esconder quer e insinua o que desejo deixa-me na alma o rastro do que perdi e não vejo
amada o teu sangue corre nas minhas veias de séculos
acendo um cigarro como quem planeia viver para sempre
a noite é longa como saudade enredada nos fios do coração a hora desperdiçada
estou só tu para aí deitada
sonhos que pairam nas vidraças da avenida
o quadro que vos alcança
que vossos corpos une
não é apenas madrasta arte
mas testemunho das bocas
que se escondem na noite
em ritmo de orgíaca dança
porque te escondes
que vergonha tens
de teu corpo nu
que olhos se cerram
para a si se não verem
o teu corpo
és tu e teus
esses olhos
se outros
te vêm
libidinosos
que interessa
à tua inocência
pureza e castidade
na loucura da noite
aos dois quiseste
e dos três um fizeste
ceptro cingido a veludo
volúpia dos sentidos
que se comprimem
nos olhos cerrados
a tua face no pescoço dela
meu sexo nas suas mãos
quente sémen que se derrama
pelas duas acariciado
que pecado pode haver
quando dois corpos luminosos
se abraçam beijam e afagam
tuas ancas coloridas nas minhas mãos doridas
tuas nádegas e meus dedos nas coxas despertadas
transparência de nervos ossos músculos e desejos
no sexo desassossegado por ti subjugado
lá fora o silêncio rumoroso dos que já não amam vagueio pelos intermináveis corredores do quarto e transformo a sede do deserto tumefacto em orgasmo o teu corpo é feito de musgo como as catedrais que fundem a volúpia dos ventres nas cúpulas ancestrais nas mais profundas grutas tenho-te e não te tenho pouco é o que vejo nado na sombra da tua vagina
de lado
boca lábios língua de menina
sugo-te os dedos o ventre a vagina
belos são teus olhos teus lábios
crescem heras no teu corpo violetas nos cabelos
és a mais antiga das novas mulheres
a palma do mais puro anseio
a força o veio de água que resplende
o caminho a via do meio
primavera de meu olhar turvo por vezes cego
se no nevoeiro te não vejo e na noite outro me sinto
na solidão já solto de tudo o que é amor lascívia e felicidade
morro de dor sôfrego da palavra e do acto de amar
oitava noite do novo ano acenderam-se os candeeiros da rua deserta na casa velha do beco iluminaram-se os candelabros o pénis ergueu-se escondido no cetim do roupão a porta silenciosa o sonho daquele corpo juvenil inebriava o espaço em suspensão as horas derrapavam no sino da torre o pénis erecto cansou-se as pálpebras vermelhas cerraram-se na visão do encantamento
sono sonho por momentos acordado
sono sonho enjeitado
quando o cansaço vier
no teu corpo ainda quente
e a arrefecer
irei aguardar que
no ventre gelado
poisemos nossos dedos
vivos como sempre
mais
toca-me fundo
vá
manso e mudo
depõe um beijo
profundo
no trilho
que te abro
beija-me
a boca faminta
sacia-me
os desejos febris
bebe-me
o corpo inteiro
a chama
do sagrado
o elixir dos anjos
mais
mais fundo
sangra-me
com teu punhal
enche-me de vinho
e deixa
que com raiva e amor
por toda a parte
meu grito se oiça
veio o vento com os seus dedos delgados enfunar as velas dos destroços no poço os corpos nus acariciados pela brisa quente que o amor liberta todo o fim de tarde
a minha mão na tua
mar que se insinua
se solta se desprende
no costado do teu ser
cobiçoso e cobiçado
saberás quanto te amo
quantos beijos deponho no leito desfeito
quantas lágrimas verto no meu peito
o ócio dos odores que percorre o ventre do vestido nu o sabor das pregas do lençol a que me entrego na sede de teu corpo ausente a sombra táctil desse elemento que me não consentes invocação de duro lamento
foste a mulher de meus dias a ilusão tardia a insónia das noites na esperança que se esvazia
amanhã virás mais não conheço que teus olhos
azuis adiamantados não sei quem és quem foste mas serás com ou sem corpo na ausência ou presente no espírito e na alma a novíssima amante
na tua boca o sabor
dos mirtilos e do gozo
não é isso o amor
deito-me contigo cansado do mundo entrego-te tudo entrego-me a mim deito os meus olhos ao céu
caio no meio das tuas pernas destapo-te liberto-te do véu
despida com o ardor da chama e a dor da lenha desfloro-te na cama quente de sangue
a boca dorida de tantos beijos a vertigem dos teus seios despes-me o olhar separas as línguas invades-me como onda no mar
tuas mãos de saliva no meu dorso doce sensação que me percorre absorve e prende à vida
gritam os sentidos à aurora
ponho uma venda azul
junto as cinturas num anel
que se não sente nem é de gente
as tuas próprias mãos transfiguram o delubro do desejo
quando te amas e assim lasciva te vejo mesmo que o digam sem jeito ou nexo
jorram lágrimas
do meu sexo
muitas te envolvem te beijam
saliva derramada em húmido canto
um beijo é sempre santo
o grito dos sentidos das palavras impensadas
do corpo em chamas nascem aromas
sémen de rosmaninho de razões despido
a uma penetro
a outra
a vagina acaricio
e grito amor
quero sexo
não quero amar
não quero dor
deitas-te contorces-te prendes as tuas próprias pernas elevas-te sentes-me e em espasmo incandescente gritas ais e quase em surdina
dizes
quero mais
mais
o hálito quente nas coxas
a palavra que me desmente
só tu existes somente
o banco de granito envelhece na casa antiga hoje em ruínas
envelhecemos ao ritmo da memória que se afunda nas ervas aquáticas do ribeiro
já não despimos os anjos mostrando-lhes as vergonhas inexistentes
tremem-nos os dedos
não construímos mais palavras de sémen naquela paixão íngreme do vale alimentado por mansos pinheirais
o verão é o inferno da lavoura do sexo não
és pedra és rio és mar
és o nascente que se aparta
e que no todo me aguarda
seguras-me o pénis com aquele especial jeito que o encaminha para as fissuras do medo a essência das fossas abismais silêncio que envolve membros descarnados beijos onde tropeço as emoções que esqueço sinto-te incendiada ao sabor de eva e odor de adão provando de ti os lábios sedentos na maçã do orgasmo vivo está o pecado original
o lume da vagina no gemido do mundo espaço circunspecto da alma perdida caio de bruços ajoelho e desfaleço
o amor desfaço
oh verdes olhos da mestiçagem
mãos renascidas ao medo da aragem
espectros famélicos da puberdade
longe de ti
das florestas tropicais
onde pássaros azuis esvoaçam
e multiplicam
a beleza da criação
lembro o dia à beira do lago os limos acesos na névoa que branda descia sobre as quietas esmeraldas aquáticas devastação do prazer
o sufoco febril
na agonia do amor
a morrer
nos umbrais da tua boca
o peso vegetal dos teus ombros sobre o meu peito
um seio na palma da mão
os dedos no sentido inverso ao eco do teu gemido
abraça-me docemente
como quem embala a criança divina e de seda pura a veste
adormeço na cúpula do tempo
ao som da harpa campestre
nos corredores do velho palácio
tão belos os amantes nus apaixonados
um amor tão vivo fogo inflamado
um olhar tão esperançado
na certeza de que a morte
nunca o verá apagado
do teu corpo
mulher
é essa
a única porta
que não conheço
dormes
noite quente de verão
a janela aberta
a um amante a deus
ao coração ausente
do que não vem
nunca chega
quem queremos
o mundo é amargo
madrasta solidão
e por cada mulher que sofre
vai perdendo a sua razão
mais não dá
criatura do passado
amei-te tanto
tanto como a nenhuma
agora
não sei
tudo é triste o tédio invade-me
quero-te e não te quero
sei que o sentes
quando contigo me deito
não há outra não há uma
e por estranho que pareça
ainda é a ti que amo
nas praias desertas os corpos nus das mulheres transformam-se em sereias
despertas ao canto dos pássaros
fizemos amor na noite clara
tens a pele levemente suada
a camisa descomposta e perfumada
incenso do sexo nuvem profunda
vontade que te mina e a mim se alastra
preparas-te lá fora é grande a borrasca a neve cai nas fragas enche os campos de branco e transforma homens em anjos
sabes que virei vergado ao vento e à tempestade enlouquecido pelo amor ao som de bandolins e banjos cercado por querubins e arcanjos
somos místicos
a noite será nossa a música das esferas rondará os ares e perfumará a espera
sabes que virei
outra não tenho outra não quero
apenas eu e tu amor meu
se o sabes
porque perguntas
nesse corpo seminu
porque pedes e me feres
ao espelho que te diga
se outra há
mais bela do que tu
verdes os teus olhos
no azul das minhas mãos
arvorado te penetro
perco-me no teu coração
suo grito e emudeço
lambe-me o sexo
vira-me do avesso
despe-me a alma
mata em mim o humano
acaricia-me o peito
inunda-me com o teu cheiro
rasga-me os sentidos
oferta-me teus orgasmos
que morrem pela mão da madrugada
quando exaustos e de uma só vez
adormecemos num mar de esperma
a suco de saliva arado
hoje fizemos amor
para sempre na carne
do acto de amor fazer
os estilhaços cravados
parto e na memória guardo o suor das catedrais
os uivos os ais
longínquos das estradas desertas das avenidas das capitais
de tantas camas tantos feitos pecados veniais
tantos seios vaginas peitos tantos sátiros tantas ninfas
tantos sonhos desfeitos
tens nos olhos e na língua
a certeza de que o corpo
mais que razão é sentidos
olhas-me
com esse olhar
que tanto ama
como mata
mostrando-me
na mão direita
o que usaste
na minha falta
este medo que insufla os dias é o segredo que aguardo
ansioso na solidão da tua partida e que morre quando tornas e nua te ponho e nua te entregas às minhas mãos razão de meu sonho
ergo-me na noite e canto
ao vento que sibila nas acácias
ao lume que crepita na lareira
à ausência do teu corpo
e sonho
com os espasmos
do último encontro
a seiva das rosas
naquela proa firme
alumia
a espuma branca
dos lábios abertos
ao nascer do dia
a ferro e fogo te penetro te lambo
para a vida te desperto
gosto
quando devagar
te mexo
no ponto certo
no sítio teu
gosto dessa
chama
que se abre
à exaustão
fogo
posto
no vulcão
que das tuas pernas
nasce
quando o toca
pequeno vulto
que cresce
e me ampara
quando o dia morrer nas pétalas floridas das roseiras beijaremos as mãos geladas dos salgueiros vergados à loucura da noite
naquela manhã o clitóris estava tenso aos dedos ainda dormentes
nos lençóis de algodão os pesadelos da solidão
na mesa de cabeceira uma espiga doirada vibrava
e mais se agitava na vagina sedenta que a aguardava
a fome dos seus dedos o amante indiferente
que não veio nem vem
cama que range
corpo sofrido
orgasmo que se abstém
de ti bebo o vinho o suor as lágrimas o sal o líquido que escorre em aroma de pinho
desassossegado de pé aguardo a tua vinda o teu cheiro teu vinho teu pecado
liberto os olhos ao horizonte se fui já não sou de vistas curtas vida de putas que se acaba
terei de escolher cedo ou tarde
amor que me cerre a fronte
palavras de sexo vertidas em taça de punhal são grinaldas de passos a percorrer os pulmões dos caminhos
lentidão da língua ao sabor meigo do corpo
gozo súbito na boca que se aquece poço sem fundo fruta doce gomo que se afunda nesse regaço nessa gruta
naquela noite
os dois lado a lado
o céu da terra aliado
amo-te
tenho sede do sangue que se transforma se desmanda se rompe e se exaure na aurora
sinto-me tão cansado
as moscas a fazer amor
e eu para aqui sentado
sem vontade nesta dor
e se assim te tenho
assim gosto de te ter
tanto
que o meu pénis
sempre cresce
banhado pelo teu pranto
na lentidão do tempo
convoco o hálito do teu corpo
e o sorriso fugaz das tuas coxas
dedos nas pernas nas nádegas na vagina
sonho contigo
edifícios que morrem na cidade
mãos que desfalecem com a idade
corpo iluminado que da penetração prescinde e que a cada palavra ao ouvido dita da matéria faz alma e espasmo a espasmo sobe ao paraíso
no inverno o corpo é lareira as formas do fumo que sobe na escuridão da aldeia
o lume na braseira calor que foge
as tuas pernas nas minhas
no pijama sémen que escorre
cortaram-te o cabelo mesmo amputada creio em ti como se crê num deus imemorial
pareces-me um rapazinho imberbe
mas és tu inamovível
nua de pernas ansiadas
a carne dura de granito cinzelado
ponho-me de joelhos beijo-te e rezo ao sexo azul celeste
enleio-me nos teus pés
a alma repartida em pedaços de pão
nas mãos que te dividem
os segredos do corpo
abrem-se as portas
que me extasiam
foder com uma duas ou três
sufocar de prazer
matar o desejo a dor
morrer de amor
as formas da água no linho do leito
desejo que em pedaços agora jaz desfeito
um fio de sangue no lugar do peito
lençóis em alvoroço onde meiga a deitas
adormeces nua tua pele na dela
a dela na tua do sonho desfeito
sendo certo que esse corpo
teu não é mas dela
sem desejo falo-te do meu desejo
deprimido a razão sem sentido
a vontade morta do corpo inerte
falo-te do que senti tua ternura teus abraços
das tuas pernas os laços de teus lábios o mel
e das contracções vaginais
os uis os ais
os gritos os salpicos
do esperma espalhado no teu ventre aguado
falo-te de tudo e do nada
do que amo e amei
do que hoje sou pobre amante
o degredado
nos meus dedos o cuspo que te molha o sexo
caem as horas no teu corpo
lusco-fusco de borco
a noite é viciosa
como rio de orvalho branco
que te inunda as palmas da mão
a noite é escura
como o deus que procuras
na nutação em que me sepultas
o paladar do destino na casa verde do lago
hino que o corpo canta e a alma encanta
cabelos negros ciganos viajados
de mãos nas mãos tocados por tantos
estranhos no perfume dos crepúsculos
róseos sedosos maduros
para mim os únicos
liberta-os ao som do vento
ilumina o candelabro de nove braços
e de bruços com esse teu jeito
sorve-me o alento
beija-me o peito
o desejo ferve no canavial lume na ínsua do coração
a palavra que se não diz nuvem que se espalha na mortalha da razão
florescem os sentidos nos ciprestes milenares
do gozo
da morte
da vida
e eu grito
estremeço
transcendo tempo
e num lamento
apunhalo o espaço
penetro o infinito
sou toda tua dizes
faz de mim o que quiseres
faço de ti o que quero
faço de ti o que queres
balbucias palavras que desconheço
tocas o teu corpo com lascívia
o meu membro não te basta
tudo em ti é flor que nasce
prazer que sempre renasce
no viçoso fim de tarde
nado no teu corpo alagado
na esmeralda do desejo contido
e pouco a pouco
desperto o sentido
que molha a pele
que te fala ao ouvido
e abre com doçura
o teu sexo escondido
gosto quando me pedes
não páres quero mais
gosto quando me dizes
vem a noite é minha
de ti não sinto nojo
em tudo que faço
e o que faço de ti
se só a ti te aproveita
por mim o faço
e por fim
no laço da união
se te deito te beijo
te abraço
te digo te amo
te entrego do amor
a lança
choro de alegria
sinto-me criança
três são os deuses que vejo três os prazeres terrenos que fruo três constroem beijo a beijo o encantamento da noite
escorre o suor nos corpos em vibração
por trás
te abraço
te amo
te desfaço
na excitação
todo me tomas
e sem que saiba porquê
pela flor de teus olhos
sou penetrado
o calor do amor arroubo interior hinos selváticos canções de fogo nas estrelas cadentes
tu és o meu refúgio nesta quietude da noite que permanece
astros pendentes no lume extático que arrefece
a embriaguez do meu peito que rasga teus impérios e fortalezas
o veneno do meu membro em doce aroma
golpe nos seios de neve que se mantêm erectos
em dúvidas e cuidados de medos e fados
os agrestes momentos
não temas és minha
sou mágico retardarei o fim dos tempos
ficas excitada
as tuas costas no meu peito
desliza o meu pénis
na tua vagina
onde desperta para a vida
o único movimento
neste mundo
julgado perfeito
como de lança sangrante
em ferida de mágoa nasce o prazer
desse modo te firo e ouço dizer
é tão bom que até faz doer
como estão longínquas
as palmeiras
que tua seiva absorvem
nesse amar inocente
a quem seu corpo basta
frémito langor carícia
escondida em curta veste
que tanta saudade liberta
por terras e mares
por humanos
nunca pisadas
nem navegados
os teus lábios tua dádiva nas mãos lentas da incerteza ajoelhada na macia nudez dos dedos
confessas-te molhada rosa das rosas
e ao meu tacto pelo caminho esguio e menos recto se entorpece aos poucos tua vagina de menina
fecho-te os olhos abro-te o vestido
noite escura
nos ares o aroma do pinho
imergimos no mesmo vinho
deixem não se atravessem no meu caminho
deus não existe e se existe pouco se importa comigo porque está doente ou enfadado
a noite debruça-se no leito e tu perguntas ansiosa pelo teu amigo
na janela a jarra de flores de rosmaninho e a fotografia do falecido com a palma feérica na mão esquerda tão novo coitado tristes são as guerras
o coração direito ferido
abraço-te saro-te a ferida viro-te
e por trás
te acaricio te consolo
amordaço e liberto teu cio
os teus cabelos são o mel
onde afundo a minha gula
os anjos também amam olhar profundo mãos dadas tão doces e delicadas
divina oração em dedos de luar
tantas deus meu
são tantas as que amei
e se de tanto prazer vivi
donde vem este sofrer
se é isso que queres
se a beleza guardas para ti
não te condeno
talvez quem mais ama
seja quem se ama a si
demoro-me no acto de amor fazer a primavera desperta lentamente e as mesmas flores de antigamente demoram a florescer curva-se o corpo suado ao prazer os orgasmos sucedem-se o meu guardo-o ciosamente para que momento a momento tarde noite manhã possa escutar teus gemidos alcançar os teus espasmos deslizando por ti na rosa dos dias até que o cansaço vença o furor do sabre empunhado ao cintilar das constelações naquele sabor de sal florente que só aos amantes é dado ter
afinal o orgasmo é parte ínfima de extenso gozo celestial
é azul
tudo o que amo
azul o céu
azul o mar
olhar azul
gestos índigo
anil de luar
no azul que digo
ao meu cheiro
a mão no teu seio
antes que te toque
e te penetre
vens-te primeiro
o hotel vazio nus na piscina interior só nós o teu corpo à superfície em provocação justo plâncton da mocidade
sucumbi às tuas formas na tentação sem medida
enleei-te e na água morna de tua fonte bebi até à exaustão
não esqueço esse dia
ela veio com a sua sombra
despiu-se vagarosamente as suas pegadas mostraram-me o caminho para o êxtase da noite queria carinho a afeição de um beijo prolongado e um pouco de sexo não tirou os brincos de jade os seios tensos manchados de lágrimas
esquece a paixão é cruel o amor no dia que finda
a meio da noite com os vestígios do prazer em subtis escorrências ergo-me do leito
um morcego atravessa o negrume alheio aos meus mais ignóbeis sentimentos na casa em frente assanha-se uma luz débil
na cama em desalinho o teu sexo descoberto outro tanto por descobrir
de leve
o poisei
nos teus lábios
com leveza
te amei
nessa tarde
punha
tirava
voltava a pôr
e a cada orgasmo
mentia
chamava-te
amor
vais voltar a partir
os nossos corpos uniram-se em incontáveis vezes noutras afastaram-se sem dizer adeus
tu ias eu ficava
ou ficávamos os dois sem dizer nada
já são tantos os anos e dias que nossas almas não têm recantos por conhecer
agora amamos mais logo fodemos tudo nos é permitido com amor tudo se pode fazer
entro em ti no teu corpo casto entras em mim nas entranhas no coração no espírito alvoraçado
subimos ao céu ao paraíso
queres gritar e não gritas
dou-te a mão e por entre gemidos nascem orgasmos sucessivos
não sossego não te deténs o gozo é tanto que muitas vezes choras lágrimas que não são de sal de chuva mel mas do mais belo temporal
os corpos ascendem às cores celestes ao azul do firmamento às nuvens brancas e puras que aconchegam os mares do sul
e amamos como nunca ninguém amou
sabes maria estou certo
que quando amamos
êxtase perfeito
nesse prazer tanto
modelado ao teu corpo santo
deus está sempre perto
vais voltar a partir
talvez seja assim sempre
esta dor esta chaga que sangra lamento que oculto
e sem ti sozinho
deus não virá comprazer-se
com tão divino amor e carinho
e eu
chorarei o caminho
pelo fado traçado
sem ti
sem deus
para aqui abandonado
são todos esses dedos longos e distantes o néctar e o veneno dos meus dias angústia do meu ser
um dia só deus saberá qual voltarei para os beber
***
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