domingo, 28 de junho de 2009
JORGE DE SENA - FOI HÁ CEM ANOS EM ANGOLA
Minha avó subia de tipóia
de Mossâmedes para o planalto.
Dias e dias pela serra acima,
de acampamento a outro acampamento,
o esposo e os filhos dela noutras
tipóias pelos negros carregadas.
Ao lado dela, o chefe caminhava
de lança em punho. Conversavam ambos.
Uma figura estranha perpassou (quadrúpede?)
no mato poeirento e verdejante.
O que era aquilo? E o chefe respondeu
sorrindo levemente: - Aquilo é o diabo,
mas eu não tenho medo que não sou cristão -.
Enfim chegaram, professora régia
como rainha se instalou. E o chefe,
tão agradado dela, não voltou
a comandar comboios de tipóias,
ficou vivendo co´a «senhora grande»,
Padre José da régia cardinala.
Caía a tarde um dia em rubros sóis
redondos no céu pardo. Minha avó,
sentada na varanda, conversava
com o chefe cachimbando acocorado.
Porque tão preguiçosos eram todos
os negros por ali? E o chefe disse:
- Senhora sabe que diferença que há
entre macaco e negro? Não? No tempo
em que chegou aqui primeiro branco,
macaco não falou, ficou calado.
Por isso não trabalha. Entende agora?
Sorriram-se entendidos um e outro.
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