domingo, 28 de junho de 2009
SOPHIA DE MELLO BREYNER - HOMENS À BEIRA-MAR
Nada trazem consigo. As imagens
Que encontram, vão-se deles despedindo.
Nada trazem consigo, pois partiram
Sós e nús, desde sempre e os seus caminhos
Levam só ao espaço como o vento.
Embalados no próprio movimento
Como se andar calasse algum tormento
O seu olhar fixou-se para sempre
Na aparição sem fim dos horizontes
Como o animal que sente ao longe as fontes
Tudo neles se cala p´ra auscultar
O coração crescente da distância
E longínqua lhes é a própria ânsia
É-lhes longínquo o sol quando os consome
É-lhe longínqua a noite e a sua fome,
É-lhes longínquo o próprio corpo e o traço
Que deixam pela areia, passo a passo.
Porque o calor do sol não os consome
Porque o frio da noite não os gela
E nem sequer lhes dói a própria fome
É-lhes estranho até o próprio rastro.
Nenhum jardim nenhum olhar os prende,
Intactos nas paisagens onde chegam
Só encontram o longe que se afasta
As aves estrangeiras que os trespassam
E o seu corpo é só um nó de frio
Em busca de mais mar e mais vazio.
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