Já dissemos noutro lugar, que a poesia é algo vivo, um algo que não tem definição. É Beleza e Verdade, é Vida; a Vida no seu permanente deslumbre.
Elaborar uma antologia poética não é tarefa fácil e muito mais dificultosa se torna, quando a mesma é dirigida a crianças e jovens.
Penso, tal como Antero de Quental, que para as crianças, se a escola não for jardim, será apenas insuportável prisão e a doutrina caso não seja encanto, será tão somente tortura, como tortura é também nos tempos conturbados em que vivemos, o relacionamento familiar.
Não há que culpar os jovens dos seus hábitos, mas antes, seus educadores e progenitores. Estes últimos, sempre demasiadamente assoberbados por inúmeras tarefas e lazeres, para contribuírem como lhes incumbe, na formação do carácter e personalidade de seus filhos.
O século XXI é o século das “baratas-tontas”, sempre atarefadas com as suas carreiras mesquinhas e com os seus pertences e aparência; o século dos deuses, “poder” e “ouro”.
Neste cenário pouco convidativo, convenhamos que urge despertar a imaginação e a inata tendência poética das crianças, se ansiamos no porvir, à existência de um mundo melhor.
Esse despertar da sensibilidade, nunca será conseguido caso as confinemos por comodismo, ao “escuro” progresso da electrónica: dos ordenadores e seus descendentes e derivados.
O sentimento ético e estético, provocado instintivamente pela poesia, poderá ter a virtualidade de animar uma mundividência, que alicerçará uma afeição ao Todo, sensibilidade à Vida e exaltação da Alma, contrariando deste modo uma estereotipia gerada pela especialização.
Para além dos poetas consagrados, todos de língua portuguesa, coligimos algumas canções populares.
A edição dos poemas, cerca de 130 – alguns sofreram ligeiras alterações ou supressões para melhor compreensão –, não tem como numa antologia exemplar uma ordem estruturada por datas e autores, mas antes, pela maior ou menor dificuldade de entendimento, permitindo um movimento de leitura sequencial às crianças e jovens.
Os que aparentam maior complexidade interpretativa constituem-se como provocação ao trabalho conjunto de leitores, pedagogos e progenitores.
Que estes poemas possam ser lidos em família, que possam despertar nas nossas crianças o sentimento do Belo e do Bem, é a minha mais sincera esperança.
AS CRIANÇAS
Repele alguém do Mestre, brutalmente,
os louros querubins de rostos finos.
- Mas o sábio Rabi lhes diz, clemente:
«Deixai virem a mim os pequeninos.
Deixai-os vir a mim. Sou o ceifeiro
que nada perde, e os mundos vem ceifar.
- Feliz de quem como estes é rasteiro.
- Ai daquele, cruel, que os molestar!»
GOMES LEAL
À Kika, Yara, Bernardo,
e ao Vasquinho – este que por “injustiça” natural nunca conseguirá ler ou entender qualquer um destes poemas, mas que na nossa pequena aldeia Beirã, comigo lê, sem interpretar, comparar ou julgar, o maior de todos os poemas: A Beleza da Natureza e da Vida.
A todas as crianças do mundo.
JOSÉ MARIA ALVES
http://www.homeoesp.org/
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