- «Por amor e caridade,
Fui dos brutinhos irmão,
De irmão dando-lhes o nome
E também o coração.
«Quantos ser´s vivos viviam
Sob a clemência dos céus,
Jumentos, sapos e piolhos,
Eram todos irmãos meus!
«Quanto mais baixo era o bicho,
Mais alto era o meu amor:
Beijei um dia uma lesma
Como quem beija uma flor!
«Quanto mais baixo era o bicho
Mais me comprazia a vê-lo:
Se era negro, via-o d´oiro,
Se era vil, achava-o belo!
«Grande amador de infelizes,
Por inspirações estranhas,
Muito mais lindas que as rolas
Achava eu as aranhas.
«E, confesso o meu pecado,
Via, com frieza acerba
O leão e a águia real,
Que são dados à soberba.
«Uma vez, vindo da esmola,
Com a alma em Jesus Cristo,
Vi uma coisa a meus pés
Como ainda não tinha visto.
«Toda eriçada de espinhos
Essa coisa repelia
Pela sua fealdade...
Mas palpitava e sofria!
«Sofria... Bastava! Então
Curvei-me humilde; e ligeiro
Do chão ergui nestas mãos
Um pobre ouriço cacheiro.
«Agonizava o infeliz
Em tremuras dolorosas!
Beijei-o e picou-me, enchendo
a minha boca de rosas!
«Morreu o pobre em meus braços,
Triste, para mim sorrindo...
Nunca vi um ser tão feio,
Nunca tive irmão tão lindo!»
EUGÉNIO DE CASTRO
JOSÉ MARIA ALVES
http://www.homeoesp.org
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