Estava a bela infanta
no seu jardim assentada,
com o pente de oiro fino
seus cabelos penteava.
Deitou os olhos ao mar
viu vir uma enorme armada;
capitão que nela vinha,
muito bem que a governava.
- Dize-me, ó capitão
dessa tua nobre armada;
Se encontraste meu marido
na terra que Deus pisava.
- Anda tanto cavaleiro
naquela terra sagrada...
Dize-me tu, ó senhora,
as senhas que ele levava.
- Levava cavalo branco,
selim de prata doirada;
na ponta da sua lança
a cruz de Cristo levava.
- Pelos sinais que me deste
lá o vi numa estacada
morrer morte de valente:
eu sua morte vingava.
- Ai triste de mim coitada!
De três filhinhas que tenho, sem nenhuma
ser casada!...
- Que darias tu, senhora,
a quem no trouxera aqui?
- Dera-lhe oiro e prata fina,
quanta riqueza há por aí.
- Não quero oiro nem prata,
não nos quero para mim:
Que darias mais, senhora,
a quem no trouxera aqui?
- De três moinhos que tenho,
todos três tos dera a ti;
um mói o cravo e a canela,
outro mói do gerzeli:
rica farinha que fazem!
Tomara-os el-rei pra si.
- Os teus moinhos não quero,
não nos quero para mim:
Que daria mais, senhora,
a quem to trouxera aqui?
- As telhas do meu telhado
que são de oiro e marfim.
- As telhas do teu telhado
não nas quero para mim:
.............................................
Dá-me outra coisa, senhora,
se queres que o traga aqui.
- Não tenho mais que te dar,
nem tu mais que me pedir.
..............................................
- Este anel de sete pedras
que eu contigo reparti...
Que é dela a outra metade?
Pois a minha, vê-la aí!
- Tantos anos que chorei,
tantos sustos que tremi!...
Deus te perdoe, marido,
que me ias matando aqui.
ALMEIDA GARRETT
JOSÉ MARIA ALVES
http://www.homeoesp.org
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