Rondam sombras pelas telhas:
não é vento, são andanças
de bruxas! As bruxas velhas
chupam o sangue às crianças.
A mãe dorme, a filha ao pé,
em casa de telha vã
onde nem há chaminé;
e de interiores deserta
é toda uma casa aberta
à chuva e sol da manhã.
E a filha diz para a mãe,
como a mãe responde à filha,
porque este drama não tem
a mais do que mãe e filha:
- Mãezinha, que é, que é?
- Não luz vidro no soalho,
nem há luz de tição;
está a gatinha ao borralho.
Oh! dorme, meu coração,
susto, filha, não te dê:
a água do bebedouro
espelha luz que se vê.
Longe vá o mau agouro,
benza-me a luz que nos olha:
quem não existe não é.
O pucarinho de folha
lá está no mesmo pé.
- Pela telha destelhada,
minha mãe, minha mãezinha,
voar negro de andorinha
com risos de gargalhada!
- Água de bica, lá fora,
corre, corre, que se chora:
filha minha, não tens sede?
- Como peixinhos na rede,
sombras, ó mãe, na parede!
- Não é nada, não é nada:
buraco da fechadura,
em rosa de luz coada
será a luz da madrugada
que vem em nossa procura.
AFONSO DUARTE
JOSÉ MARIA ALVES
http://www.homeoesp.org
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