Vinte meninas, não mais,
eu via ali no beiral:
tinham cabecinha preta
e branquinho o avental.
Vinte meninas, não mais,
eu via naquele muro:
tinham cabecinha preta,
vestidinho azul-escuro.
.......................................
As minhas vinte meninas,
capinhas dizendo adeus,
chegaram na Primavera
e acenaram lá dos céus.
As minhas vinte meninas,
dormiam quentes num ninho
feito de amor e de terra,
feito de lama e carinho.
As minhas vinte meninas
para o almoço e o jantar
tinham coisas pequeninas,
que apanhavam pelo ar.
.........................................
Já passou a Primavera
suas horas pequeninas:
e houve um milagre nos ninhos.
Pois foram mães, as meninas!
Eram ovos redondinhos
que apetecia beijar:
ovos que continham vidas
e asinhas para voar.
Já não são vinte meninas
que a luz do Sol acalenta.
São muitas mais! muitas mais!
Não são vinte, são oitenta!
Depois oitenta meninas
eu via ali no beiral:
tinham cabecinha preta
e branquinho o avental.
..............................................
Mas as oitenta meninas,
capinhas dizendo adeus,
em certo dia de Outono
perderam-se pelos céus.
MATILDE ROSA ARAÚJO
JOSÉ MARIA ALVES
http://www.homeoesp.org
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