Tendo a cigarra em cantigas
folgado todo o Verão,
achou-se em penúria extrema
na tormentosa estação.
Não lhe restando migalha,
que trincasse, a tagarela
foi valer-se da formiga,
que morava perto dela.
Rogou-lhe, que lhe emprestasse,
pois tinha riqueza, e brio,
algum grão, com que manter-se
té voltar o aceso Estio.
«Amiga (diz a cigarra)
prometo à fé de animal
pagar-vos antes de Agosto
Os juros, e o principal.»
A formiga nunca empresta,
nunca dá, por isso ajunta:
«No Verão em que lidavas?»
À pedinte ela pergunta.
Responde a outra: «Eu cantava
noite e dia, a toda a hora».
«Oh, bravo! (torna a formiga)
cantavas? Pois dança agora».
BOCAGE (Traduzido de La Fontaine)
JOSÉ MARIA ALVES
http://www.homeoesp.org
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