Numa aldeia, havia uma jovem solteira e bastante bela. A sua família apesar de pobre, procurava que o comportamento dos seus membros fosse irrepreensível. No entanto, a jovem engravidou, escondendo o seu estado até que se tornou perfeitamente visível e inequívoco.
O pai, homem grave e algo rude, chamou o médico da vila mais próxima, que lhe confirmou as suspeitas. A partir daí, questionou-a centenas de vezes quanto à identidade do pai da criança. Mas por resposta apenas tinha choro e silêncio. A jovem estava numa angústia de morte e recusava-se a falar.
Nada mais lhe restava. Teria de agir pela força. Por via desta, após múltiplas agressões, a jovem confessou que o pai era o monge budista, que estava no templo em meditação constante.
A notícia depressa se propagou na aldeia, com a consequente consternação de uns e indignação de outros, que julgavam o bom monge um santo.
Os pais acompanhados por muita gente da aldeia irromperam no templo, e injuriaram o monge. Não era possível, mesmo impensável, que um homem tão respeitado pudesse ter sido consumido pelos desejos da carne e abusado depravadamente de uma jovem, violando a Santa Regra e os mais básicos princípios éticos. Disseram-lhe, depois de terem esgotado todas as humilhações:
“Sendo o pai da criança, terás de assumir a sua educação e alimentação.”
“Assim seja, assim seja” – respondeu o monge.
Quando o bebé nasceu entregaram-lho, e o monge, por sua vez, confiou-o a uma mulher da aldeia, a troco de uma retribuição acordada.
A partir deste momento a sua reputação ficou completamente destruída. Nenhum aluno o procurou, ninguém quis voltar a ouvir as palavras que haviam julgado sábias. Como é que um pecador podia dissipar as suas dúvidas ou auxiliá-los na busca da Verdade?!
Ainda não tinha decorrido um ano, e a moça cheia de remorsos e sentimentos de culpa, confessou que o monge não era o pai da criança, mas antes um jovem da aldeia por quem se apaixonara, e que não quis incriminar com receio de represálias exercidas sobre o mesmo.
Pais da moça e restantes habitantes da aldeia, arrependidos das acusações falsas que haviam proferido, foram penitenciar-se junto do monge, suplicando-lhe o perdão, e que devolvesse a criança, por não ser sua filha.
“Assim seja, assim seja” – respondeu o monge, retomando de imediato a meditação que interrompera.
JOSÉ MARIA ALVES
http://www.homeoesp.org
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