Aquela velha coitada!
Se lhe soubessem a vida,
Não passaria na estrada
Assim desapercebida.
Vive só; mas vive agora,
Que num tempo já volvido,
Houve na casa em que mora
Filhos, netos e marido.
Morreu primeiro o marido
Duma morte desastrosa:
Com o coração partido
Rezou por ele, piedosa.
Morreram-lhe os filhos todos
No tempo da epidemia:
Ela com os mesmos modos
Rezou de noite e de dia.
Ficara só com três netos;
Morreram de tenra idade:
E ela, viúva de afectos,
venceu, rezando, a saudade.
E ainda vive! O que alenta
Aquela alma atribulada?
É a fé, que lhe alimenta
Uma crença inabalada.
Ai, quem me dera esse alento
Nestes combates da sorte!
Que paz para o pensamento!
Que paz na hora da morte!
JÚLIO DINIS
JOSÉ MARIA ALVES
http://www.homeoesp.org
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