O Mestre Mocurai tinha um discípulo muito jovem, que insistia com este para que o iniciasse no Caminho. Mocurai, ou o Trovão Silencioso, como também era conhecido, considerava que ainda não havia chegado o tempo para iniciar o jovem nas questões mais profundas do Zen.
Mas, este insistia, e tantas eram as insistências, que Mocurai chamou-o à sua sala de meditação, dizendo:
“Consegues ouvir o som de duas mãos quando batem uma na outra. Agora, quero que me mostres o som de uma mão.”
O jovem voltou para o seu quarto, com o problema a assoberbar-lhe a mente. Pela janela entrava o som de uma flauta de bambu entoando uma melodia serena.
Na manhã seguinte, munindo-se de uma flauta, na presença do Mestre, imitou a melodia que tinha ouvido na noite anterior. Este comentou:
“Não rapaz, esse não é o som de uma mão; estás muito longe da verdade.”
Voltou a meditar, e ouviu o som de gotas de água. Quando compareceu perante Mocurai, imitou-o.
“Não, esse som é de gotas de água a cair num objecto metálico. Tenta de novo.”
O problema era de difícil resolução. Ouviu o som do vento nas frestas do mosteiro e o da brisa matinal nas folhas das árvores e arbustos, das conversas longínquas dos homens que trabalhavam nos campos, das raparigas a cantar e que em ranchos voltavam para a aldeia depois de um dia de trabalho, da água do ribeiro que por ali perto passava. Todos Mocurai rejeitou.
O piar das aves, o sussurro da noite quieta, o ranger das madeiras, sons que também foram rejeitados,
Certo dia, o jovem apercebeu-se de que não tinha quaisquer outros sons para ouvir. Tinha ouvido tudo o que era audível, e, preparava-se para desistir, quando subitamente atingiu o satori.
Nada mais podendo ouvir, tinha atingido o som sem som, e com ele o som de uma mão.
JOSÉ MARIA ALVES
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