Pela ribeira dum rio
que leva as águas ao mar
vai o triste de Avalor,
não sabe se há-de tornar.
As águas levam seu bem;
ele leva o seu pesar.
Só vai e sem companhia,
que os seus fora deixar:
que quem não leva descanso,
descansa em só caminhar.
Descontra onde ia a barca
se ia o sol abaixar;
indo-se abaixando o sol
escurecia-se o ar;
tudo se fazia triste
quanto havia de ficar.
Da barca levantam remos
e ao som do remar
começaram os remeiros
do barco este cantar:
“Que frias eram as águas!
quem as haverá de passar?”
dos outros barcos respondem:
“quem sabe que é bem amar
e quem a vontade pôs
onde a não pode tirar.”
Trás a barca o levam olhos
quanto o dia dá lugar.
Não durou muito, que o bem
não pode muito durar.
Vendo o sol posto, contra ele,
soltou os olhos ao chorar;
soltou rédea a seu cavalo,
da beira do rio a andar:
e a noite era calada
pera mais o maguar,
que o compasso dos remos
era o do seu suspirar:
querer contar suas máguas
seria areias contar:
Quanto mais se ia alongando,
se ia alongando o soar:
de seus ouvidos aos olhos
a tristeza foi igualar.
Assi como ia a cavalo
foi pela água dentro entrar;
e dando um longo suspiro
ouvira longe falar:
“Onde máguas levam alma,
vão também corpo levar”:
mas indo assi por acerto
foi com um barco n´água dar,
que estava amarrado à terra
e seu dono era a folgar.
Salta assi como ia dentro
e foi a amarra cortar:
a corrente e a maré
acertaram-no ajudar.
Não sabem mais que foi dele
nem novas se podem achar,
sospeitou-se que era morto,
mas não é para afirmar,
que não no embarcou ventura
para isso o foi guardar.
Mas são as águas do mar
de quem se pode fiar.
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