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ARTE

quinta-feira, 25 de junho de 2009

GIL VICENTE (1465-1539) - ROMAGEM DOS AGRAVADOS


ROMAGEM DOS AGRAVADOS

(...)

Colopêndio

Pois amor o quis assi
que meu mal tanto me dura,
não tardes, triste ventura,
que a dor não se dói de mi
e sem ti não tenho cura.
Foges-me, sabendo certo
que passo perigo marinho;
e sem ti vou tão deserto,
que, quando mais cuido que acerto,
vou mais fora de caminho.
Porque tais carreiras sigo
e com tal dita nasci
nesta vida em que não vivo,
que eu cuido que estou comigo,
e ando fora de mi.

Quando falo, estou calado;
quando estou, entonces ando;
quando ando, estou quedado;
quando durmo, estou acordado;
quando acordo, estou sonhando;
quando chamo, então respondo;
quando choro, entonces rio;
quando me queimo, hei frio;
quando me mostro, me escondo;
quando espero, desconfio.

Não sei se sei o que digo,
que cousa certa não acerto.
Se fujo de meu perigo
cada vez estou mais perto.
De ter mor guerra comigo.
Prometem-me uns vãos cuidados
mil mundos favorecidos,
com que serão descansados;
e eu acho-os todos mudados
em outros mundos perdidos.
Já não ouso de cuidar,
nem posso estar sem cuidado;
mato-me por me matar;
onde estou não posso estar,
sem estar desesperado.
Parece-me quanto vejo
tudo triste, com razão.
Cousas que não vêm nem vão
essas são as que desejo,
e todas pena me dão.

Eu remédio não no espero,
porque aquela em que me fundo
para mim, que tanto a quero,
tem o coração de Nero
para me tirar do mundo!


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