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ARTE

domingo, 28 de junho de 2009

VITORINO NEMÉSIO - A ÉGUA VELHA


Pobre égua velha, minha vida,
Quem te dá água e feno?
Aos teus cascos de mãe de tanto andar,
Que azeite doce?
A mosca é mais que abelhas
Na sarna da samarra ainda quente do trilho,
E o poldro do teu sonho ao longe,
Tão bonito, o teu filho!

Pobre égua velha, já de manta e tonta ao cabo,
Entre uma corda e um cardo
Cuida que é milho um tojo!
Por barriga sem erva, no espinhaço sem fardo,
Vai um saco de rojo.

Égua baldia, os mais cavalos novos,
Cruzando-te no pasto, é coice bravo!
Pela estrela da testa te mataram
Os ciganos que sem dó te compraram
E de égua criadeira te tingiram:
Cria era a morte, - tudo o mais fingiram.

No ermo de relinchos ainda um passo
Te arredonda a garupa retardada;
Mas quem, pobre égua velha e sem comida?
O poço aonde e a água desejada?

Sinal de terra mexida
Era da égua enterrada.


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