***
uns jovens pediram ao mulá
que os ensinasse
este acordou e levou-os para sua casa
montou o jumento
de modo contrário
virado para a cauda
com os estudantes atrás
os passantes espantavam-se
corja de doidos
um louco de costas montado
seguido por cortejo de idiotas
os jovens ficaram envergonhados
e interpelaram nasrudin
porque é que assim vais montado
todos nos observam e criticam
estais mais preocupados
com aquilo que os outros pensam
do que com o que fazeis
vejamos em conjunto
se montasse de modo normal
convosco à minha frente
de costas para mim
seria desrespeitoso
se sou eu que à frente vou
de costas para vós
vergonhoso será
esta é pois a única forma
***
o mulá na feira
queria vender uma vaca
mas nada
defeito do bicho
ou da sua falta de jeito
um amigo ofereceu-se para o ajudar
apregoando
vaca excelente
prenhe
bezerro para nascer daqui a meses
o animal foi logo vendido
radiante nasrudin dirigiu-se a casa
onde se encontrava um jovem
que pretendia desposar sua filha
logo experimentou seu novo dote de vendedor
estranho
como o jovem de imediato se ausentou
***
um homem questionou nasrudin
quando fazes as tuas abluções no rio
como procedes
simples
tiro a roupa e mergulho
mas mesmo dentro de água
voltas-te na direcção de meca
não é assim
nasrudin pestanejou
coçou a cabeça e disse
pode acontecer
pode acontecer
mas em regra
volto-me para o local da margem
onde depositei as roupas
não vá algum ladrão levar-mas
***
nasrudin disse
caso chova
amanhã cortarei lenha
caso bom tempo faça
irei lavrar
a mulher repreendeu-o
diga se deus quiser nasrudin
porquê
se uma ou outra coisa farei
o mulá saiu com tempo bom
e começou a lavrar
quando logo copiosa chuvada caiu
encaminhou-se para o bosque
com intenção de cortar lenha
quando um homem a cavalo
lhe perguntou onde ficava certo povoado
dizendo que não sabia
empunhou um chicote o cavaleiro
obrigando-o a indicar-lhe o caminho
voltando a casa já de noite
após longa jornada
bateu à porta e a mulher perguntou
quem é
nasrudin se deus quiser
respondeu
***
nasrudin era criança
perguntou ao pai
porque é que o seu cabelo
está a ficar branco
por causa de filhos como você
de seus actos
e perguntas quer difíceis
quer extravagantes
ah percebo
por isso os cabelos do avô
são todos brancos
***
nasrudin emprestou duas panelas
o amigo homem de humor
devolveu-lhas com uma outra panela
bem mais pequena
que se passa
esta não é minha
bem pelo contrário
estando suas panelas à minha guarda
por motivo de empréstimo
nasceu delas este rebento
que por direito é seu
decorridos meses
pediu nasrudin as panelas do amigo
por não as devolver
veio este reclamá-las
disse o mulá
suas panelas faleceram
se bem se lembra
já decidimos em tempos idos
que panelas são mortais
***
o mulá
recorreu a um homem rico e poderoso
pedindo dinheiro
para que queres tu tal quantia
para comprar um elefante
se não tens dinheiro como o sustentarás
nasrudin indignado respondeu
vim pedir dinheiro
dispenso o conselho
que te não pedi
***
um dos muitos analfabetos da aldeia
pediu a nasrudin
que lhe escrevesse uma carta
não o posso fazer
tenho um pé aleijado
isso nada tem
que te impeça de o fazer
pois não mulá
pois sim idiota
ninguém consegue ler a minha letra
assim vejo-me obrigado a viajar
para me fazer entender
como é que queres então que o faça
com o pé neste estado
***
nasrudin apostou com um grupo de amigos
que suportaria uma noite inteira
na montanha gelada e coberta de neve
sobranceira à aldeia
transportou consigo
uma vela e um livro
e foi acometido por frio terrível
ao raiar da aurora
lívido e depauperado
quis receber o valor da aposta
perguntaram-lhe os apostadores
não tiveste nada para te aquecer
não
nem uma vela mulá
tinha uma vela
assim sendo perdeste a aposta
nasrudin nada argumentou
decorrido algum tempo
convidou-os para uma ceia
a que todos compareceram
aguardavam na sala
a comida que nela tardava
e impacientes começaram a reclamar
vejamos o que se passa disse nasrudin
na cozinha enorme panela cheia de água
com uma vela acesa debaixo dela
a água ainda estava fria
não entendo
não está quente
está aí desde ontem
***
nasrudin aconselhava sempre
não dêem a ninguém
a seu pedido
nada de mão beijada
aguardem pelo menos
que um dia seja passado
porquê alguém perguntou
respondeu o mulá
só damos valor às coisas
quando desconhecemos
se as iremos conseguir ou não
***
nasrudin estava cansado do seu burro
levou-o à feira da vila
para que o leiloeiro lho vendesse
e ficou para assistir
o pregoeiro começou
agora este belo jumento
forte musculoso
habituado a trabalho duro e à tormenta
de suprema inteligência e esperteza
quem oferece cinco moedas
por tão espantoso animal
cinco moedas pensou o mulá
apenas cinco moedas
por quem muito vale
vou licitar já
assim o pensou assim o fez
nasrudin licitou
entre nasrudin e um quintaneiro
fez-se disputa
e a cada lance o leiloeiro
exacerbava as virtudes do asno
o que entusiasmava o primeiro
afinal desconhecia do que seu era
tanta qualidade e virtude
com o tempo
ofereceu quarenta moedas
arrematando o jumento
que apenas dez valia
pagou a comissão de um terço ao leiloeiro
pegou no burrico e dirigiu-se a casa
dizendo para os seus botões
se coisa há que não perco é um bom negócio
***
nasrudin conduzia o burrico
por vereda de penhasco
pata em falso
e cai o jumento no desfiladeiro
em parte alguma ficando inteiro
pensativo disse o mulá
aprender a voar aprendeu
mas a aterrar não
***
um comerciante em viagem
entrou com a sua caravana
numa cidadezinha do interior do país
acometido por intensa cólica intestinal
não se conteve e fez as suas necessidades
bem em frente ao santuário
surpreendido por alguns populares
foi levado à presença do juiz nasrudin
que lhe perguntou
era sua intenção ofender-nos com tal acto
era sua intenção ofender a nossa sagrada religião
e todos os que a professam
não eminência
nunca o faria
não faz parte do meu ser
respeito e sempre respeitei
os costumes e crenças
dos lugares que percorro
no entanto padeci de tal dor de ventre
que não me consegui conter
o juiz olhou-o longamente
e perante a evidente sinceridade do réu
preparou-se para proferir sentença
o que é que o réu prefere
um castigo físico ou uma pena de multa
uma multa meritíssimo
nesse caso condeno-o
ao pagamento de um denário
o comerciante retirou da sua bolsa uma moeda
outra e ainda outra dizendo
senhor apenas tenho uma moeda de dois denários
partamo-la ao meio ficando o tribunal com metade
assim se fazendo justiça
nasrudin pegou na moeda de ouro
olhou-a calmamente e disse
não
esta moeda não deve ser partida
e como exemplo
o tribunal arroga-se o direito de ficar com ela
concedendo ao réu o direito de no dia de amanhã
voltar a fazer as suas necessidades
em frente à porta do templo
***
um vizinho pediu
um varal a nasrudin
lamento está em uso
estou a secar farinha
como replicou o vizinho
secar farinha num varal
empresa estranha irregular
diria mesmo irreal
não penso assim
respondeu nasrudin
nem estranho nem dificultoso
basta não o querer emprestar
***
nasrudin remendava o seu telhado
em baixo na rua
um faquir solicitou-o a descer
nasrudin sem questionar desceu
o faquir pediu
dê-me uma esmola por alá
podia ter subido
para falar comigo
disse o mulá
tive vergonha
ora não seja assim
suba comigo
disse nasrudin
subiram ao cume
nasrudin continuou o seu trabalho
e disse
não tenho nada trocado para lhe dar
***
havia um funeral
alguém perguntou ao mulá
devemos seguir à frente ou atrás da urna
tanto faz
desde que não se esteja lá dentro
***
nasrudin bateu à porta de uma mansão
o dono abriu a porta
poderá o senhor dar-me
um pedaço de pão
com que alivie a fome
não
não sou padeiro
vai pedinchar a outra casa
e se for um pouco de carne
claro que não
o que é que te faz pensar
que eu seja carniceiro
uma tigela de farinha
será que esta casa
tem a aparência de um moinho
pelo menos dai-me uma moeda
aqui não está instalado nenhum banco
já que nada tendes para me dar
peço-vos humildemente
que me deixeis descansar
um pouco à sombra na vossa casa
o sol queima e eu estou esgotado
vendo que assim nada perderia
o avarento concordou
e apesar de contrafeito disse
senta-te ali na sala
nasrudin entrou
dirigiu-se para a cadeira
que lhe tinha sido destinada
mas em vez de se sentar
baixou as calças e começou a cagar
no tapete persa da sala
o que é que fazes
enlouqueceste
quem pensas que és
eu sou nasrudin
e num lugar como este
tão inútil
não enxergo mais nada
para fazer além de defecar
***
nasrudin tinha um relógio
que nunca estava certo
ora adiantava
ora atrasava
um amigo perguntou-lhe
mulá nunca sabes as horas certas
será que não podes fazer algo
nasrudin pensou uns segundos
pegou num martelo
e desferiu um golpe
fazendo-o parar
que asneira que fizeste tu
assim não o compuseste
avariaste-o de vez
não me parece
antes nunca estava certo
agora pelo menos
certo está duas vezes ao dia
***
houve festa em casa de nasrudin
a mulher fizera um doce fabuloso
restaram apenas duas pequenas fatias
que guardaram para o dia seguinte
à noite não conseguindo dormir
acordou a mulher
ergue-te
temos algo de urgente para fazer
por amor de alá nasrudin
caio de sono e cansaço
vem volveu o mulá
vamos comer o doce hoje
melhor é que esteja no estômago
do que na cabeça
não me deixando repousar
***
um bêbado cambaleava
passo cá e passo lá
queda aqui e queda acolá
nasrudin auxiliou-o
mas o homem segredou algo ao mulá
que de imediato se afastou
um passante perguntou
desistiu
porque o abandonou
e não ajuda
nasrudin convicto disse
diz que não precisa
tudo lhe gira e rodopia
quando a sua casa por ele passar
para dentro dela irá pular
como vê poupa esforço
não precisa de caminhar
***
nasrudin e sua mulher voltaram a casa
encontrando a porta escancarada
e a habitação violada e assaltada
a culpa assiste-lhe disse a mulher
devia ter verificado a porta antes de sair
e também as janelas
não verificou as trancas
não se preveniu quando saiu
disseram os vizinhos
a culpa é sua disse a mulher
disseram todos
esperem alegou nasrudin
uma coisa assim
serei por acaso o único culpado
serei eu o vilão
e de quem queres que seja a culpa
perguntaram
que tal culpar o ladrão
***
nasrudin tinha um filho
numa das muitas visitas
que lhe fazia disse o jovem
meu pai
esta noite
tive um sonho extremamente agradável
sonhei que me havia dado cem moedas de prata
tem sido um bom filho
ninguém pode desejar mais reconheço
não tem vícios é respeitador e sensato
de si nada mais peço
deste modo fica em descanso
que as cem moedas que lhe dei no sonho
são suas e não lhe pedirei a sua restituição
vá e compre com elas o que quiser
tudo o que lhe aprouver
***
alguém pediu a nasrudin
que lhe emprestasse uma corda
estou a utilizá-la disse o mulá
preciso dela para uma mudança
como assim
se a vejo no chão
e se é esse o seu uso
por alá quanto tempo em tal usança nasrudin
até ao dia
em que me disponha a emprestá-la
***
nasrudin encontrou um falcão
ave que nunca houvera visto
repousando no seu quintal
nisto
cortou-lhe o bico
aparou-lhe as garras
e penas
agora sim nasrudin
pensou
temos pássaro
***
nasrudin tinha um cordeiro
gordo e desejado
amigos e vizinhos tudo faziam
tentando convencê-lo
a comê-lo
muitas foram as tentativas
todas malogradas
para com o bicho se banquetearem
até que num serão
convenceram o mulá
de que o mundo
em vinte e quatro horas iria acabar
vamos então comê-lo
não desperdicemos oportunidade
que não mais teremos disse
servida a lauta ceia
adormeceram os convivas tais lorpas
nasrudin pegou os casacos de todos eles
e deitou-os para arder na lareira
acordaram e bradaram
injuriando o mulá
calma irmãos disse
já vos esquecestes que amanhã é o fim do mundo
para que necessitais então de vossas roupas
***
o mulá enviou
um garoto à fonte
vá e não parta o pote
nisto deu-lhe uma varada
que o fez saltar
e bramir de dor
um amigo indignado
condenou-o vivamente
mulá isso não se faz
não se bate em quem
mal ainda não fez
deixe de ser asno
de que serve castigá-lo
depois do mal feito
que adianto
sem água e sem vasilha
eu sem bilha
ele com bordoada
mal de dois
assim que seja
apenas de um
respondeu
***
um cientista e um filósofo lógico
discutiam com nasrudin
a experiência e os meus olhos
são a premissa necessária
para que dê algo por existente
para que afirme a realidade
dizia o cientista
a teoria é a minha premissa
nada experimento
que antes não teorize
disse o filósofo
o mulá de joelhos
começou a verter leite no lago
mexendo-o com um galho
que faz perguntaram
iogurte
asneira iogurte não é assim feito
talvez não talvez sim
mas supondo que sim
respondeu nasrudin
***
já quase amanhecia
quando dois bêbados
discutiam a alta voz
à porta de nasrudin
levantou-se o mulá
enrolado num cobertor
disposto a acalmar a contenda
poucas palavras dissera
quando um dos discutidores
puxou do cobertor
com que fugiram
ele e o outro
nasrudin subiu a casa
e a mulher perguntou
qual o motivo da discussão
acho que por causa do cobertor
mal um mo furtou
tudo terminou
***
tarde quente de agosto
na estrada fervente
nasrudin vê um homem
com um grande cacho de uvas
um pouco de vassalagem seria útil
se tal fizesse com que algumas obtivesse
grande sheik
dás-me algumas das tuas uvas
não sou sheik
disse o dervixe
homem simples e sem pretensões
o mulá pensou estar
perante homem de maior importância
e de grande valia
alteza dais-me um pouco das tuas uvas
alguns bagos serão o bastante
não sou alteza
volveu já agastado
nasrudin confundido
disse
bom não me digas quem és
nem o que és
não importa
senão ainda vou descobrir que o que trazes
não é um cacho de uvas
falemos de outras coisas
***
nasrudin caminhava na estrada
que o conduzia à aldeia
o sol de primavera acolhia-o
decidiu tomar atalho pela floresta
para ver as flores
e ouvir o canto dos pássaros
nisto pouco acautelado
caiu num buraco
e aí se quedou em profunda reflexão
por alá
se num dia tão belo
em local tão maravilhoso
desgraça destas me acontece
o que não me poderia acontecer
naquela estrada poeirenta e suja
***
um sufi cuja sabedoria
era pacificamente reconhecida na região
disse a nasrudin
caso encontres a verdade
agarra-a e não hesites
atira-a para o fundo de um poço
decorrido algum tempo
num trilho de campos cultivados
encontrou nasrudin uma mulher cega
que reclamou o seu auxílio
nasrudin dispôs-se a auxiliá-la
dando-lhe o braço e guiando-a ao seu destino
há algum tempo que viajamos juntos
e ainda não sei o seu nome
qual é o seu nome nobre senhora
verdade respondeu a idosa cega
bonito nome pensou
a poucos metros
numa exploração agrícola
encontrava-se um poço
nasrudin não se fez esperar
pegou-a ao colo
e atirou-a para dentro dele
***
nasrudin dispôs-se a realizar longa viagem
para visitar um amigo que não via há anos
preparou uma espécie de pequena mochila
que teria de ser carregada às costas
e muniu-se de um sabre e de uma lança
durante o percurso foi acossado por um salteador
que com um simples arrocho o subjugou
deixando-o sem quaisquer dos bens
que transportava incluindo a própria camisa
chegado à cidade donde partira
sem cumprir o objectivo determinado
contou aos presentes a desgraça
que lhe havia acontecido
sem omitir qualquer pormenor
um dos presentes não se conteve
nasrudin como é que um homem
armado de sabre e lança
se deixou maniatar por um ladrão
armado com um simples garrote
há aqui um problema que não estás a considerar
e que é absolutamente determinante meu bom amigo
se eu tinha as duas mãos ocupadas
a direita com o sabre e a esquerda com a lança
diz-me tu como poderia eu servir-me delas
***
nasrudin conversava animadamente
enquanto o sol se escondia no horizonte
escurecia progressivamente
um amigo pediu
acenda a vela nasrudin
está a ficar noite cerrada
qual vela questionou o mulá
essa que está à sua esquerda
ora seu cretino
como distingo na escuridão
a esquerda da direita
***
nasrudin viajava na índia
sentado à porta de uma gruta
no isolamento da montanha
estava um homem
em profunda meditação
nasrudin interpelou-o
penso que em algo somos parecidos
sou um devoto dedicado ao criador
eu sou um yogue
dedico-me aos seres sensíveis
tenho especial afeição por aves e peixes
bem me parecia disse nasrudin
um dia um peixe salvou-me a vida
permiti que convosco fique uns dias
certamente
por serdes um devoto
e pela vossa suma experiência
que muito me compraz
o yogue foi ensinando o mulá
na arte da meditação
exercitando-o em métodos diversos
até que um dia depois de o doutrinar
lhe pediu para narrar o episódio do peixe
conhecendo agora vosso pensamento
não sei se vos satisfará a minha narrativa
insisto volveu o yogue
bom estava eu morrendo de fome
sem comer havia vários dias
que um peixe do rio com as mãos pesquei
e com ele por três dias me alimentei
***
nasrudin transportava para o mercado
um asno carregado de sal
ao atravessar um rio
dissolveu-se o sal
e aliviado do peso
jubilava o sendeiro
decorrido algum tempo
carregou-o de lã
e voltou a atravessar o rio
a lã encharcada
derreava o animal
que cambaleante se arrastava
com as forças perdendo
muito bem disse o mulá
pensavas que sairias sempre vencendo
***
houve uma caçada aos ursos
nasrudin foi convidado
e apesar de contrariado
compareceu
quando voltou à aldeia
perguntaram-lhe
que tal a caçada mulá
excelente
magnífica
quantos matou
eu nem um
quantos perseguiu
nem um
quantos viu
nenhum
então como pode ter sido a caçada excelente
quando caçamos ursos nenhum é suficiente
respondeu
***
nasrudin viajou para um país
onde abundavam cretinos e idiotas
aí pregava
tomai atenção
detestai o pecado
e todo o mal
pedi a deus perdão
meses a fio o ia repetindo
até que um santo dia
se espantou com a atitude de alguns
que permaneciam imóveis
de braços cruzados
que fazeis perguntou
já decidimos o que faremos
com o pecado de que tanto falas
renunciais ao pecado e à maldade
decidistes afastar-vos do mal
não decidimos afastar-nos de ti
responderam
***
num lago nadavam patos
nasrudin olhou-os cobiçoso
tentou apanhar um
mas nada conseguiu
começou então a pôr na água
pequenos pedaços de pão
que comia com satisfação
um passante perguntou
que faz mulá
estou a comer sopa de pato
***
numa vila próxima da de nasrudin
havia uma famosa feira de burros
os camponeses das redondezas
acorriam na expectativa
de fazer um bom negócio
numa tenda
onde se juntavam para comer e beber
alguém disse
venho há anos a esta feira
nada muda
aqui só há burros e camponeses
nada mais para além disso
nasrudin saiu da tenda e num aglomerado
que examinava um belo exemplar de burro
descortinou um homem que pelas suas vestes
não parecia agricultor ou camponês
és camponês
não
está tudo dito
não me digas mais nada
***
falava-se de halva
o mais doce dos doces árabes
nasrudin quedava-se mudo
perguntaram-lhe
e você nasrudin que nos diz
eu nunca fiz halva em casa
como é possível nasrudin
não há ninguém que não tenha feito
nunca tenho açúcar
farinha e manteiga
a um mesmo tempo
certamente alguma vez terá tido
certamente
mas dessa vez
não estava em casa
estaria fora
***
alguns jovens
prepararam uma tramóia ao mulá
estando na sauna
e chegando nasrudin disseram
imaginemos que somos galinhas
quem não puser um ovo
paga de todos a despesa
o mulá concordou
os jovens começaram a cacarejar
e um após outro
iam retirando do traseiro
um ovo atrás escondido
mostra-nos o teu nasrudin
com tanta galinha
haverá certamente um galo
não será assim
disse nasrudin
***
nasrudin visitou a capital
quando voltou os habitantes da aldeia
cercaram-no de perguntas
que viste tu
que fizeste
o que é que foi
mais importante para ti
mais que ver foi o que ouvi
que deveras me marcou
quando o próprio rei comigo falou
os ouvintes ficaram satisfeitos
apenas um o menos expedito
ficou e perguntou
o que te disse o rei
cruzou-se comigo
e em alta voz bradou
sai do meu caminho
o aldeão deu-se por contente
tinha ouvido pela boca de outrem
palavras de sua majestade
***
o mulá estava empoleirado numa árvore
alguém lhe perguntou
que fazes por aí nasrudin
estou procurando ovos
como assim
os ninhos são do ano passado
suponhamos que és um pássaro
que quer fazer um ninho
irias fazê-lo aos olhos de toda a gente
respondeu nasrudin
***
nasrudin instado pela mulher
foi à floresta buscar lenha para o fogão
depois de ter junto um bom braçado
colocou-o às costas atado com um nagalho
e montou no jumento
no caminho os transeuntes
riam-se de tal figura
um homem com lenha às costas
montado num asno
asno sobre asno pensavam
porque é que carregas nas tuas costas a lenha
quando a podias carregar no burro
que tanto prezas e gastas a alimentar
de que te serve a cabeça
apenas para usar turbante
não pensas pobre homem de alá
ah nasrudin como és casmurro
como sois parcos de vista e lerdos de espírito
não basta a este pobre animal que eu o monte
para que tenha ainda que suportar o peso da lenha
poupo-o assim a um peso suplementar
***
um amigo fez constar a nasrudin
que falar mal de dervixes
faria cair uma maldição sobre quem o fizesse
nada disso
asneira
afirmou o mulá
e do bolso retirou
uma pequena caixa
de onde tirou um sapo
vejam
este é meu irmão
criticou um dervixe
mas tem saúde
come pouco
e pode viver mais de cem anos
está bem melhor do que estava
***
não se sabia onde estava o burrico de nasrudin
os campónios da aldeia procuravam-no
nasrudin não parecia preocupado
mais parecendo os que o buscavam
um dos que auxiliavam disse
não pareces constrangido
nem sofres com a eventual perda
é assim ou engano-me
enganas-te amigo
quando procurarmos nas montanhas
que vemos no horizonte
e não o encontrarmos
então começarei a ficar apreensivo
***
nasrudin afirmava na casa de chá
sua inata hospitalidade
aproveitando-se disseram os amigos
leva-nos a tua casa para jantar
nasrudin anuiu
e partiu à frente para avisar a mulher
que não ficou entusiasmada
não tenho comida para tanta gente
mande-os de volta
não posso tal fazer
minha honra está em jogo
eu mesmo o farei
direi que não estás
decorrido algum tempo os convidados
impacientavam-se desesperados
abre a porta nasrudin
deixa-nos entrar
pois queremos comer
a mulher do mulá disse-lhes
meu marido não está
saiu a correr
não sei para que coisa fazer
os amigos disseram que tal impossível era
tinham estado sempre à porta
e ninguém viram sair
continuaram então a insistir
o mulá sem se conter
assomou à janela do andar cimeiro e disse
podia ou não eu ter saído pela porta dos fundos
***
nasrudin estava cansado de alimentar o burro
pediu à mulher que o fizesse
o que ela negou
depois de muita discussão
decidiram
que o primeiro a falar
teria de alimentar o jumento
nasrudin sentou-se no sofá
e a mulher foi ao mercado
entretanto um larápio
entrou em casa
furtando tudo o que havia para furtar
o mulá viu
mas manteve-se quedo e mudo
para a promessa não quebrar
a mulher retornou a casa
e perante tal aparato
começou a injuriar o marido
que impávido lhe disse
vai dar comida ao burro
e vê no que deu a tua teimosia
***
nasrudin caminhava
à noite em estrada deserta
um grupo de cavaleiros
dirigia-se na sua direcção
a sua imaginação movida pelo medo
apontava perigos terríveis sem fim
começou a fugir
saltou o muro de um cemitério
e estendeu-se numa cova aberta
os cavaleiros estranhando-o
seguiram-no e interpelaram-no
que fazes criatura nessa cova
podemos ajudar-te
estou aqui por vossa causa
e vós aqui por mim
respondeu tremendo nasrudin
***
nasrudin teve uma zanga com a mulher
esta irritada
aqueceu-lhe a sopa em demasia
aguardando que o mulá se queimasse
no momento de a comer
serviu-a
mas esquecendo-se do feito
foi a primeira a queimar-se
e tal foi a dor que chorou
vendo-a assim
disse nasrudin
porque choras mulher
ah minha pobre mãe antes de falecer
comeu uma sopa assim
choro com saudade
nasrudin elucidado e esfomeado
lançou-se sobre a sopa
e logo as lágrimas lhe correram pelo rosto
porque choras nasrudin
choro porque tua pobre mãe morreu
e logo te havia de deixar viva
***
o rei andava à caça
quando quis almoçar
por perto apenas a casa de chá
do afamado nasrudin
pediu uma omeleta
logo que terminou disse
mulá temos de voltar à caça
traga a conta
cem moedas de ouro
nossa majestade
por alá nasrudin
há falta de ovos nesta região
não excelência
não será bem assim
o que falta é visita de rei
***
nasrudin passeava com o seu filho
no parque municipal
quando se deparam com um ovo no chão
junto de plantas arbustivas rasteiras
diz a criança
pai como é que os pássaros entram no ovo
nasrudin ficou confuso
durante toda a minha vida
me questionei quanto ao facto
dos pássaros saírem dos ovos
e agora vens tu gerar
mais um problema na minha mente
***
nasrudin atarefado
espalhava migalhas em torno da casa
o que é que estás a fazer
perguntou um vizinho
fazendo os tigres fugir
mas aqui não há tigres
então funciona não
***
nasrudin visitou o rei
trajando fantástico turbante
estava convencido de que lho poderia vender
arrecadando umas quantas moedas de ouro
sua majestade reparou nele e perguntou
quanto pagaste pelo turbante
mil moedas meu rei
o vizir segredou ao amo
só pode ser tolo
ninguém pagaria tal maquia
porquê
é a primeira vez que tal ouço
nunca vi peça por tal quantia
disse o rei
saiba majestade que o comprei
sabendo que em toda a vasta terra
apenas um rei o compraria
encantado com tal elogio
ordenou a entrega
de duas mil moedas a nasrudin
dias após nasrudin disse ao vizir
conheces o valor dos bens
de mantos e turbantes
mas sou eu que conheço a fraqueza dos reis
***
o rei enviou uma delegação pelo país
para que se encontrasse
um homem recto e modesto
com o fim de ser nomeado juiz
encontraram nasrudin
que soubera da embaixada
com uma rede de pesca
enrolada nos ombros
um dos da comitiva perguntou
porque usas essa rede
para que nunca esqueça humilde origem
meu avô foi pescador
meu pai pescador foi
e eu também o sou
foi de imediato nomeado magistrado
e deslocado para a corte
certo dia um dos que o escolhera
encontrou-o sem rede
e questionou-o
que fizeste da rede de pescador
porque não a envergas
precisarei dela
eu que já apanhei o peixe
disse o mulá
***
nasrudin tinha acabado
de pôr mel a aquecer num tacho
quando inesperadamente surgiu um amigo
o mel começou a ferver
nasrudin retirou-o do lume
e ofereceu um pouco ao visitante
depois de o ter vertido
numa pequena malga
a visita incauta
queimou-se
nasrudin um tanto hesitante
muniu-se de um leque
correu para o fogão
e começou a agitá-lo em cima do pote
que ainda estava ao lume
intentando arrefecer o mel
***
nasrudin e um amigo
procuraram a toca de lobo
pretendiam um filhote
o mulá assomou à entrada
e foi acometido por feroz animal
iniciando-se uma luta infernal
e no meio desta
gritou o amigo
pare mulá
deixe de correr e de saltar
já estou meio coberto de terra
respondeu nasrudin
não mo diga a mim
se eu parar
ficará coberto por inteiro
***
nasrudin tinha um búfalo
com dois largos e longos chifres
uma das suas antigas fantasias
era sentar-se neles
como um rei no seu trono
certo dia não resistiu
mas assim se sentou
assim foi lançado ao ar
arremessado como leve pena
enquanto inconsciente da queda
chorava sua mulher
nasrudin retomou a consciência
e disse
não chore
se tive algum sofrimento
também um desejo realizei
***
um homem lamuriava-se
por lhe terem roubado elevada quantia
nasrudin disse
alá te acudirá
será
questionou duvidoso
o defraudado
vem comigo à mesquita
nesta o mulá estendido e aos brados
pedia a deus que restituísse o dinheiro furtado
o alarido era de tal monta
que os fieis incomodados
decidiram angariar o montante desaparecido
nasrudin filosofou
provavelmente não entendes os meios
que movimentam e equilibram o mundo
mas os fins compreendes
quando tão directos assim o são
***
nos dias de mercado
nasrudin percorria-o
pedindo uma moeda
sempre lhe ofereciam
uma grande e outra pequena
a escolher
era a pequena que sempre escolhia
tinha consciência de que se riam de si
que passava por idiota
alguém lhe disse um dia
mulá escolha a moeda maior
ganhará duas vezes
e deixarão de se rir de si
talvez seja
mas quando assim fizer esta gente
nunca mais me vai oferecer dinheiro
porque deixarei de ser mais tolo do que ela
***
um discípulo
não parava de fazer perguntas
nasrudin
ia respondendo como podia
o jovem homem insistia
mulá quero progredir
rapidamente no caminho
diga-me algo um segredo
que me faça despertar
no momento certo
respondeu nasrudin
passados meses volveu
conte-me o segredo
certo
qual é a sua primeira obrigação
seguir o seu exemplo mestre
sabe então guardar um segredo
sim mestre
não o transmitiria a ninguém
então veja como eu consigo guardar um segredo
tão bem quanto você é capaz de o fazer rematou
***
o que é o destino
perguntaram a nasrudin
uma sucessão de factos
que se encadeiam e integram
uns influenciando os outros
a sua resposta é vaga
e não me satisfaz
a explicação está
na relação causa-efeito
vejamos então disse o mulá
olhe aquele homem
está sendo levado para a forca
por que será
porque alguém lhe deu a moeda
com que adquiriu a arma do crime
porque alguém viu
ou porque ninguém
o impediu de o cometer
***
três religiosos
meio sábios
meio místicos
conhecendo nasrudin
e ouvindo falar dos seus poderes
quiseram testá-lo
perguntou o primeiro
onde está o centro do mundo
nasrudin indicando o jumento disse
no ponto em que pisa a pata dianteira
a pata direita
será como sabe pode prová-lo
se não crê em mim meça-o
perguntou o segundo
quantas estrelas existem no céu
tantas quantos pelos tem o meu burro
como o pode saber
se não crê em mim conte-os você
o terceiro nada perguntou
***
nasrudin criticava as leis da cidade
afrontavam a verdade e a autenticidade
o rei decidiu mudar a situação
a seguir ao portão de entrada
ordenou a construção de uma forca
com o seguinte édito
todos serão interrogados
quem falar verdade entrará
quem mentir morrerá
nasrudin como sempre
foi o primeiro a entrar
onde vai
perguntou o chefe da guarda
estou a caminho da forca
disse o mulá
não acredito
muito bem se estou a mentir
enforquem-me
mas se o enforcarmos por mentir
o que disse será verdade
então descobriram a verdade
a vossa verdade
exclamou nasrudin
***
a mulher de nasrudin insistia
para que este trabalhasse
não posso
dizia
estou ao serviço do senhor
peça-lhe então um salário
todo o trabalhador tem direito
a ser justamente remunerado
nasrudin foi para o jardim
e bradava aos céus
pagai-me alá
por todos estes anos de serviço
cem moedas de ouro
não será muito nem pouco
será compensação justa
um vizinho rico e chistoso
ouvindo-o em tal prece
atirou com um saco de cem moedas
que caiu aos pés de nasrudin
já recebi
já recebi
sou um santo de alá
disse o mulá
a partir daí
nasrudin fazia vida de rico
e não tardou que o vizinho
reclamasse o dinheiro
obviamente negou-lho
tinha sido enviado por alá
vou levá-lo a tribunal
afirmou o vizinho
não posso ir perante juiz
não tenho roupas decentes
nem cavalo
nem nada que respeitoso pareça
decerto julgará a seu favor
o vizinho emprestou-lhe o manto
e a montada
e dirigiram-se ao juiz
que ouviu o queixoso
para depois questionar nasrudin
qual a sua defesa mulá
o meu vizinho é louco excelência
julga de tudo ter posse e propriedade
se lhe perguntardes vos dirá
que meu cavalo e meu manto lhe pertencem
mais fácil será dizê-lo do meu ouro
mas mas eminência é tudo meu
gritou o queixoso exasperado
caso encerrado
disse o magistrado
***
nasrudin caminhava no deserto
três árabes discutiam a construção dos minaretes
o primeiro dizia
caíram dos céus
foram construídos num poço
e depois içados
afirmou o segundo
e o terceiro
cresceram como cactos
estavam já a chegar a vias de facto
quando pediram a douta opinião do mulá
estão em erro absoluto
foram construídos por gigantes antigos
muito mas muito mais altos do que nós
***
o navio estava prestes a afundar
o mulá passara a viagem com advertências
e todos se haviam rido na sua cara
agora de joelhos
suplicavam pela salvação
faziam promessas absurdas
de vultuosas quantias
de dificultosas acções
chega irmãos disse nasrudin
não se envolvam em tais compromissos
como toda a vossa vida têm feito
vejo terra segura
***
um sábio devoto
viajou para ouvir nasrudin
a sua fama de místico tinha-o atraído
nasrudin estava sentado ao lume
soprando nas mãos em forma de concha
que fazes
aqueço as mãos com o meu hálito
passado algum tempo
a mulher do mulá
serviu dois pratos de sopa
nasrudin soprava na sopa
aprenderei algo pensava a visita
que fazes agora
arrefeço a sopa com o meu hálito
partiu de imediato o sábio
o homem afinal não era místico
nem mestre nenhum
***
certo dia perguntaram a nasrudin
qual é a tua orelha esquerda
nasrudin elevou o braço direito
que passou por cima da cabeça
e o fez tocar na orelha dizendo
é esta está aqui
nasrudin porque o mostras
de forma tão anormal
não seria mais fácil mostrar
a orelha esquerda
movimentando o braço
e a mão esquerda
claro
certamente que sim
mas se o fizer como dizes
deixarei de ser nasrudin
***
nasrudin colheu abóboras na horta
para as oferecer ao rei
um amigo de brincadeira
disse-lhe para levar antes figos
sabendo que o rei nem ver os podia
assim o fez o mulá
junto de sua alteza
entregou-lhe o presente
este vermelho de raiva
um a um lhos atirou à cabeça
e a cada arremesso
nasrudin levantava as mãos ao céu
dizendo
abençoado alá obrigado
o rei intrigado perguntou
que agradeces tu tolo
ó meu senhor
agradeço ter trazido figos
e não abóboras
***
uns garotos começaram a lutar
por um saco de nozes
que haviam encontrado
nasrudin foi chamado para decidir
que lei querem vocês
que use na repartição das nozes
a dos homens ou a de deus
a de deus
disseram todos
nasrudin ia dividindo
uma a um a outro três a outro seis
e nada para os restantes
os que não receberam
de imediato reclamaram
que lei é essa que usaste
que injustiça é esta
meus filhos apliquei a lei de deus
a uns pouco a outros muito e a outros nada
se escolhessem a lei dos homens
seria diferente
***
nasrudin foi a bagdá
uma multidão imensa atropelava-se
procurou uma pensão
deitou-se
e confidenciou ao companheiro de quarto
no meio de tanta gente
como me poderei encontrar
quando acordar
ponha este balão na perna
quando acordar o homem do balão será você
respondeu o brincalhão
adormeceu e quando acordou
viu o balão na perna do vizinho
acordou-o e disse
ei esse aí sou eu
mas se esse aí sou eu
se você sou eu
por alá
então quem sou eu
***
um amigo de nasrudin foi visitá-lo
e levou de presente um pato
que foi logo cozinhado para a ceia
e compartilhado com o doador
dias depois
começaram a chegar visitantes
que nasrudin não conhecia
dizendo cada um
ser amigo do amigo
que oferecera o pato
e assim iam sendo
alimentados e hospedados
nasrudin
indignou-se com tanta
hipocrisia e descaramento
nisto apareceu em sua casa
mais um hóspede dizendo
ser amigo de um amigo do amigo
que lhe trouxera o pato
aguardando que nasrudin
lhe servisse a ceia
nasrudin encheu uma malga de água quente
e colocou-a à frente de tão abusadora visita
desculpe mas o que é que me está a servir
perguntou o forasteiro
o mulá respondeu
a sopa da sopa da sopa do pato
que me foi oferecido
há meses pelo meu amigo
***
a peste ia a caminho de bagdá
quando encontrou nasrudin
este perguntou-lhe
onde vais tu peste
vou a bagdá
matar dez mil pessoas
passado tempo
voltou a encontrar-se com nasrudin
irritado disse o mulá
peste mentirosa
disseste que matavas dez mil
e mataste cem mil
eu não te enganei
o que disse fiz
só dez mil matei
o resto dessa gente
morreu de medo
***
5/2021
José Maria Alves
https://homeoesp.blogspot.com/
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