A Lao Tse
***
o caminho que pode ser revelado
não é o caminho constante
o nome que pode ser declarado
não é o nome constante
sem-nome
é o começo do céu e da terra
com-nome
é a mãe das dez mil coisas
a constante ausência de intenção
é contemplar as manifestações do caminho
a constante manutenção da vontade
é contemplar a luminosidade
ambos são diferenciados pelos seus nomes
mas têm a mesma origem
o que é comum entre os dois
chama-se mistério
mistério que é a
convergência
e anulação dos opostos
o mistério dos mistérios
é o portal para todas as maravilhas
***
quando os seres sob o céu
reconhecem o belo como belo
isso já se transformou num mal
quando os seres sob o céu
reconhecem o bem como bem
então isso já não será um bem
a existência e a inexistência
geram-se uma pela outra
o difícil e o fácil
completam-se um ao outro
o curto e o longo
determinam-se um pelo outro
o alto e o baixo
curvam-se um ao outro
o som e a tonalidade
estão juntos um com o outro
o antes e o depois
seguem-se um ao outro
o homem sagrado
que tem o sentido de união
da consciência pura
com o absoluto infinito
realiza a sua obra sem intenção
e põe em prática o ensinamento
através da não-palavra
que é a palavra sem intenção
os dez mil seres fazem
mas não para que se realizem
iniciam a realização mas não a possuem
concluem a obra sem se apegar
por tudo realizarem sem apego
não passam
***
não valorizando os tesouros
o povo alheia-se da contenda
não honrando as coisas
de árdua aquisição
o povo mantém-se alheio à cobiça
não admirando o que é fruto dos desejos
mantém-se o coração alheio à desordem
o homem sagrado
governa
esvaziando
o seu coração
que está
pleno de razão
emoção
e intenção
enche o seu ventre
que se alimenta
da vitalidade
enfraquece
a sua vontade
destruindo os desejos
robustece seus ossos
mantém o povo permanentemente
sem conhecimentos e desejos
faz com que os que têm conhecimento
não se encorajem e não actuem
nada fica sem governo
***
o caminho é o vazio
o vazio
é a natureza
do caminho
a harmonia
é a manifestação
do caminho
o uso do caminho jamais o esgota é incomensuravelmente profundo e amplo
tal raiz dos dez mil seres
cegando o corte desatando o nó
harmonizando-se à luz igualando-se à poeira
límpido
como a eterna existência
não sei de quem sou filho
provenho de antes do rei celeste
deus omnipotente
criador de todas as formas
***
o céu e a terra
não são bondosos
tratam os dez mil seres
como cães de palha
sacrifício no desapego do ser
o homem sagrado
não é bondoso
trata os homens
como cães de palha
sacrifício no desapego do ser
o espaço entre
o céu e a terra
assemelha-se a um fole
é um vazio que não se deforma
e o seu movimento
é a criação contínua
o excesso
de conhecimento
conduz ao esgotamento
e não é melhor do que
manter-se no centro
no interior
***
o espírito do vale
a consciência do vazio
nunca morre
a isso chamamos
o orifício misterioso
espaço onde o universo se cria e se destrói
negro portal da alquimia
a porta do orifício misterioso
é a raiz do céu e da terra
seja suave e constante
usufruindo sem se apressar
a pressa causa a morte
***
o céu é constante
a terra é duradoura
o que permite a constância
e a duração do céu e da terra
é o facto de nada criar para si
o homem sagrado
deixa o seu corpo para trás
e o corpo espiritual avança
além do corpo
o corpo espiritual permanece
através do não-corpo
o corpo conclui o corpo
***
a bondade sublime
é como a água
primeiro elemento da natureza que representa o princípio
o sopro alquímico primordial
a água na sua bondade
beneficia os dez mil seres
sem qualquer preferência
permanece nos lugares
menosprezados pelos outros
e assemelha-se ao caminho
ao tao
viva
na terra
com bondade
pense
com bondade
como um lago
conviva com os outros
com bondade
e como com irmãos
fale com a bondade
de quem tem
a palavra verdadeira
governe
com a bondade
de quem tem em si a ordem
realize com a bondade
de quem é capaz
de realizar o que é bom
aja sempre com bondade
aqui agora para sempre
na eternidade
não discuta
não haverá antagonismo
***
o que é mantido cheio
não permanece
até ao fim
o que é polido intencionalmente
não é um tesouro
eterno
uma sala cheia de ouro e jade
é difícil ser protegida
riqueza e nobreza somadas à arrogância
trazem para si a própria culpa
concluir o nome
terminar a obra
retirar o corpo
é este o caminho do céu
***
quem conduz
a realização do corpo
por abraçar a unidade
pode tornar-se indivisível
quem respira
com pureza
por alcançar a suavidade
pode tornar-se criança
quem se purifica
através do conhecimento do mistério
pode tornar-se imaculado
ame o povo
e governe o reino
através do não-conhecimento
do conhecimento sem astúcia
ilumine e clareie
os quatro cantos
através da não-acção
abra e feche
a porta do céu
através da acção feminina
o que gera e cria
gera sem se apossar
age sem querer para si
cultiva mas sem dominar
a isto chama-se
misteriosa virtude oculta
***
trinta são os raios
que convergem
ao vazio do
centro da roda
através dessa não-existência
existe a utilidade do veículo
a argila é trabalhada
na forma de vasos
através da não-existência
existe a utilidade do objecto
portas e janelas são abertas
na construção da casa
através da não-existência
existe a utilidade da casa
da existência
vem o valor
e da não-existência
a utilidade
***
as cinco cores
tornam cegos os
olhos do homem
as cinco notas
tornam os ouvidos
do homem surdos
os cinco sabores
tornam a boca
do homem insensível
percursos de caça no campo
tornam o coração
do homem tresloucado
os bens de difícil aquisição
prejudicam a caminhada do homem
o homem sagrado realiza-se
pelo ventre e não pelos olhos
assim afasta este e escolhe aquele
***
o prestígio e a humilhação
geram perturbação
a nobreza e grandes preocupações
localizam-se no corpo
o que são prestígio e humilhação
prestígio é algo inferior
quando o obtemos
ficamos amedrontados
quando o perdemos
ficamos atemorizados
isto é o que quer dizer
o prestígio e a humilhação
geram perturbação
o que quer dizer
a nobreza e a
grande preocupação
situam-se no corpo
a razão de eu ter
esta preocupação
é ter um corpo
se não tivesse um corpo
com que teria eu que me preocupar
por isso
nobre
é aquele
que entrega
o corpo ao mundo
a este o mundo
pode entregar-se
quem ama faz do mundo o seu corpo
neste homem o mundo pode confiar
***
aquilo que se olha
e não se vê
diz-se invisível
aquilo que se escuta
e não se ouve
chama-se inaudível
aquilo que se abraça
e não se possui
chama-se imaterial
estes três não
podem ser revelados
por isso se fundem
e se tornam um
que enquanto superior
não é luminoso
enquanto inferior
não é vago
o constante
que não pode ser nomeado
é o retorno à não-existência
é a expressão da não-expressão
é a imagem da não-existência
a isto se chama indeterminado
encarando-o não se vê a sua face
seguindo-o não se vê as suas costas
quem mantém
o caminho ancestral
poderá governar
a existência presente
quem conhece
o princípio ancestral
encontrará
a ordem no caminho
***
os bons
executantes
da antiguidade
eram subtis
maravilhosos
misteriosos
e despertos
eram profundos
e não podiam ser compreendidos
e por não poderem ser compreendidos
é necessário esforço para os ilustrar
temerosos
como quem
atravessa
um rio no inverno
previdentes
como quem teme
os seus vizinhos
reservados
como
um hóspede
solúveis
como o gelo
que se funde
genuínos
como a
madeira bruta
vazios
como os vales
entorpecidos
como as
águas turvas
o turvo
através
da quietude
torna-se
límpido
o quieto
através do movimento
torna-se criativo
aquele que
resguarda
este caminho
não tem desejo
de se enaltecer
e por não
se enaltecer
até envelhecido
pode voltar a criar
***
alcançando o vazio extremo
e permanecendo na quietude
da extrema quietude
os dez mil seres
manifestam-se simultaneamente
e através dessa manifestação
contemplamos o nascimento da actividade
apesar da diversidade dos seres
cada um deles pode retornar à sua raiz
o regresso à raiz
denomina-se quietude
a quietude intitula-se
retornar a viver
retornar a viver
chama-se constância
conhecer a constância
chama-se iluminação
desconhecer a constância
é a incoerência
que provoca a infelicidade
quem conhece a constância
é abrangente
quem é abrangente
pode ser colectivo
o colectivo
tem o poder da criação
a criação
tem o poder do céu
o céu
tem o poder do caminho
o caminho
tem o poder do eterno
mesmo perdendo o corpo
não irá perecer
***
do superior o inferior
tem apenas
a ciência da existência
do estado que o sucede
intimidade ou admiração
do estado seguinte
temor ou desprezo
não havendo confiança bastante
surge a desconfiança
quem valoriza a palavra
realiza a obra sem deixar rasto
assim o povo pensará
que surgiu por si naturalmente
***
quando se perde
o grande caminho
surgem as cinco virtudes
bondade e justiça
sabedoria e delicadeza
fidelidade
quando surge a inteligência
surge uma grande hipocrisia
quando os
seis parentes
mãe e filho
irmão e irmão
marido e esposa
não estão em paz
surge o amor filial
e o amor paternal
quando há desordem
e confusão no reino
surge o patriota
***
anule
o sagrado
abandone
a inteligência
o povo sairá beneficiado cem vezes
anule
a bondade
abandone
a justiça
o povo retornará
ao amor filial
e ao amor paternal
anule
o talento
abandone
o interesse
não haverá
mais ladrões
nem roubos
se esta doutrina
não é o suficiente
então faça com que exista
aquilo em que se possa confiar
encontrando e abraçando a simplicidade
reduzindo o egoísmo e diminuindo os desejos
***
no ensinamento
pela supressão
não há preocupações
entre aceitar
e repudiar qual é a diferença
entre apreciar
e desprezar
qual é a distância
o que os homens temem
poderiam
não temer
abandone tudo isso
antes que se esgote
os homens agitam-se
como um festejo
na imensa prisão
ou como quando sobem
à varanda na primavera
o meu corpo não tem expressão como uma criança antes de nascer como a estrela alfa da ursa maior
espírito primordial dos seres
que não tem onde se apoiar
todos os homens
possuem em excesso
somente eu aparento
estar a perder
sou como um ignorante
que tem o coração puro
os medíocres
vivem lúcidos
somente eu
pareço estar confuso
os medíocres
vivem lúcidos
somente eu
estou introspectivo
vazio
como uma infinita
noite silenciosa
as pessoas
têm todas
um ego
somente
eu o ignoro
considerando-o
precário
***
a abrangência da virtude
do vazio da não-acção
é seguir o caminho
o caminho enquanto existência
é indistinguível e indescritível
dentro do indistinguível e indescritível
há uma existência
dentro do indistinguível e indescritível
há uma imagem
e dentro dessa profunda obscuridade
há uma essência do universo manifestado
essência que é autêntica
dentro dessa essência há uma
prova fiel à natureza do caminho
desde a antiguidade até hoje
o seu nome nunca foi olvidado
e pode observar a beleza
e a bondade de tudo o que existe
como posso saber
a causa da beleza
e da bondade de tudo
é através da prova
viva na sua essência
***
curvar-se
confirma a plenitude
submeter-se
admite a rectidão
esvaziar-se
assegura o preenchimento
romper
possibilita a renovação
pouco possuir
aprova a aquisição
possuir muito
consente a ganância
o homem sagrado
abraça a unidade
tornando-a o
modelo sob o céu
não julga por si
e por isso é óbvio
não vê por si e
por isso é resplandecente
não se vangloria
e por isso há realização
não se exalta
e por isso cresce
só por não disputar
nada há
que possa disputar com ele
antigamente dizia-se
curvar-se permite a plenitude
como poderiam ser as palavras vazias
ao alcançar a plenitude
descobre-se o retorno
***
falar pouco
é o que
é natural
um redemoinho
não dura uma manhã
uma rajada de chuva
não dura um dia
de onde provêm tais coisas
do céu e da terra
se nem o céu e a terra
podem produzir coisas duráveis
quanto mais os seres humanos
por isso quem segue
e se realiza através do caminho
adquire o caminho
quem se iguala
à virtude
adquire a virtude
quem se iguala
à perda
perde o caminho
a convicção insuficiente
leva à não convicção
***
quem respira apressado
não dura
quem alarga os passos
não caminha
quem vê por si
não se ilumina
quem aprova por si
não resplandece
quem se enriquece a si
não cria a obra
quem se exalta
não cresce
estes para o caminho
são como os restos de alimento
de uma oferenda
são coisas desprezadas por todos
quem possui o caminho
não é assim que actua
***
há algo
completamente
entorpecido
anterior à criação
do céu e da terra
quieto e só
independente e inalterável
move-se em círculo
e não se exaure
podemos considerá-lo
a mãe sob o céu
eu não conheço o seu nome
chamo-o de caminho
esforçando-me por denominá-lo
chamo-o de grande
grande significa ir
ir significa distante
distante significa retornar
o caminho é grande
o céu é grande
a terra é grande
o rei celeste é grande
no universo há quatro grandes
o rei celeste
consciência pura omnipresente
é um deles
o homem orienta-se pela terra a terra orienta-se pelo céu o céu orienta-se pelo caminho
o caminho orienta-se
pela sua própria natureza
***
a ponderação torna o leviano enraizado
a quietude torna o inquieto governado
o homem superior
termina o dia de caminhada
sem se afastar
da reflexão e dos recursos
embora existam maravilhas
em perspectiva
permanece quieto e naturalmente
transcendente
como pode um senhor
de dez mil veículos
utilizar o seu corpo
levianamente sob o céu
ao ser leviano perde a raiz
ao ser inquieto perde o governo
***
a boa caminhada
não deixa
rastos ou pegadas
a boa palavra
não deixa
imperfeição para críticas
o bom cálculo
não utiliza
medida nem número
a boa porta
não necessita
de ferrolho
para ser fechada
e não pode
ser aberta
o bom nó
não necessita
de corda
para ser atado
e não pode
ser desatado
o homem sagrado
é constante
é bondoso
salva
os homens
não os abandona
o homem sagrado
é constante
é bondoso
salva as coisas
não as
abandona
a isto
chama-se
herdar a luz
o homem bom
é mestre
do que não é bom
o homem que não é bom
é o recurso
daquele que é bom
quem não valoriza
o seu mestre
e quem não ama
o seu recurso
mesmo sendo
muito inteligente
permanece
totalmente desorientado
a tudo isso designa-se maravilha essencial
***
conhecendo
o masculino
resguardando
o feminino
sendo a ravina
sob o céu
sem se afastar
da virtude eterna
retornará a ser criança
conhecendo o branco
resguardando o negro
sendo o modelo
sob o céu
sem se enganar
com a virtude eterna
retornará ao estado anterior
à criação do universo
conhecendo a glória
abrigando a humildade
sendo o vale sob o céu
sendo o vale sob o céu
completará a eterna virtude
retornará a ser madeira bruta
a madeira bruta partida
transforma-se em instrumentos
que o homem sagrado
utiliza através de um regente
isto é tudo um
grande corte sem incisão
***
para quem deseja
possuir o mundo
e age nesse sentido
vejo
que não o conseguirá
o mundo é
um recipiente espiritual
que não se pode manipular
quem o manipula destrói
quem o retém perde
as coisas caminham
ou acompanham
sopram quente
ou sopram frio
são rígidas
ou flexíveis
ligam-se
ou rompem-se
o homem
sagrado
elimina
o excesso
elimina
a opulência
elimina
a complacência
***
aquele que utiliza o caminho para auxiliar
o senhor dos homens
não utiliza a arma
e a força
sob o céu
esta actividade beneficia
o que replica
onde se instala o exército
surgem espinhos
e ervas secas
o homem bom
é determinado
porém cauteloso
não utiliza a força
para conquistar
é determinado
sem se orgulhar
é determinado
sem se envaidecer
é determinado
sem se glorificar
é determinado
sem se tornar excessivo
determinado
sem se esforçar
coisas exuberantes
dirigem-se à velhice
a isto chama-se negar o caminho
negando o caminho
irá falecer cedo
***
as boas armas
são recipientes
da desventura
os seres
detestam-nas
armas que
os que guardam o caminho
não compartilham
o homem superior
na residência
honra o esquerdo
na utilização da arma
honra o direito
a arma
é o recipiente da desventura
não é o recipiente do homem superior
o seu uso é apenas para o inevitável
o homem superior
é como uma chama serena
não se maravilha
o homem
ao maravilhar-se teria prazer
tal prazer mata o homem
o homem
que tem prazer em matar
não pode triunfar sob o céu
assuntos
venturosos
valorizam
o esquerdo
assuntos
funestos
valorizam
o direito
sendo assim
o general-auxiliar
encontra-se à esquerda
a leste
donde provém a aurora
aurora que é o lado da vida
o general-superior
encontra-se à direita
a oeste
donde provém o ocaso
ocaso que é o lado da morte
as suas palavras são tratadas
como um rito fúnebre
matam muitas criaturas
por estas chora-se de tristeza
a guerra vencida é tratada
como um terrível rito fúnebre
***
o caminho
é eterno
e não tem nome
o caminho
é genuíno
embora pequeno
o mundo não tem coragem
para o dominar
se reis e príncipes
o pudessem preservar
os dez mil seres iriam
por si próprios obedecer
quando o céu e a terra se unem
para escorrer o doce orvalho
o povo não pode interferir
no que por si é uniforme
o princípio domina
a existência e o nome
o nome passa a existir
e irá também
saber cessar
e sabendo cessar
não perecerá
a relação do mundo
com o caminho
é como a dos ribeiros
e vales
com os rios
e com os mares
***
quem conhece
os homens
é inteligente
quem se conhece
a si mesmo
é iluminado
vencer os homens
é ter
força física
quem se vence
a si mesmo
possui a força suprema
quem se contenta
com o que tem
é rico
agir
vigorosamente
é ter vontade
quem não perde
a sua residência
perdura
quem morre
mas não perece
eterniza-se
***
o grande caminho é vasto
pode ser encontrado
na esquerda e na direita
os dez mil seres
dependem do caminho para viver
e ele não os repele
conclui a sua obra
sem que mostre
a sua existência
é o manto que cobre
os dez mil seres
sem agir como senhor
podendo ser chamado de pequeno
os dez mil seres voltam para ele
sem que aja como senhor
podendo ser chamado de grande
o homem sagrado
nunca age
como grande
podendo atingir
a sua enorme grandeza
***
conservando
a grande imagem
o mundo passa
passa sem danos
com tranquilidade
serenidade
e supremacia
a música e as iguarias
param o viajante
as palavras
que nascem do caminho
são insípidas
carecem de sabor
olhar não é suficiente
para o ver
escutar não é suficiente
para o ouvir
usar não é suficiente
para o esgotar
***
para querer iniciar o recolhimento
é necessário consolidar a expansão
para querer iniciar o enfraquecimento
é necessário consolidar o fortalecimento
para querer iniciar
o abandono
é necessário consolidar
o amparo
para querer iniciar
a subtracção
é necessário
consolidar o aumento
é esta a iluminação breve
o suave e o fraco
vencem
o rígido e o forte
os peixes
não podem
separar-se do lago
o reino que tem o instrumento afiado
não o pode colocar à vista do homem
***
o caminho
é uma não-acção constante
que nada deixa por realizar
se reis e príncipes
o pudessem resguardar
os dez mil seres
transformar-se-iam por si
porém
se na transformação
despertassem desejos
eu iria estabilizá-los
através da simplicidade
do sem-nome
a simplicidade
do sem-nome
também se inicia
no não-desejo
o não-desejo
traz a quietude
o céu e a terra estarão por si em integridade
***
Versão livre do Tao Te Ching – Lao Tse
***
José Maria Alves
https://homeoesp.blogspot.com/
Sem comentários:
Enviar um comentário