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ISHA
o regente interior
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no coração de todas as coisas
de tudo o que existe e persiste neste universo
habita deus só ele e apenas ele
é a realidade
o coração no coração
rejeita as aparências infundadas e exulta nele
não ambiciones a riqueza de ninguém
aquele que age sem apego
e que mais de cem anos viver
que executou o seu trabalho
com devoção e sem desejo
que não permanece ansioso
pelos seus frutos
pode dizer ao mundo que existiu saciado
bem-amado bem-aventurado
quantos mundos abundam sem sóis
velados pela negrura do espaço
para esses mundos vão e vagueiam
depois da morte
os
ignorantes que assassinam o atman
os de alma imunda
os de mente corcovada
o atman é um só e só há um atman
sendo estático move-se mais veloz que o pensamento
os sentidos não o alcançam é sempre primeiro
quieto ultrapassa tudo o que anda e corre
sem o atman não há vida
sem o atman não há nada
para o insensato
o atman aparenta
deslocar-se
embora não se mova
está muito distante
se bem que esteja próximo
o ignorante não o vê
está dentro e fora de tudo
leve como o ar
macio como o veludo
abençoado o que contempla todos os seres no atman
e o atman em todos os seres
esse não abomina ninguém
para a alma iluminada o atman é tudo
e tudo é atman e só o atman
não pode haver ilusão quando a harmonia impera
não pode haver pesar quando tudo se agrega
num mesmo lugar
o atman está em toda a parte
é radioso imaterial
sem mácula imperfeição
sem ossos cartilagens
sem carne ou órgão
é puro e o mal não o pode afectar
aquele que vê
aquele que pensa
aquele que está acima de tudo
o que existe por si
é o que determinou a ordem perfeita
entre objectos e seres
desde o tempo que não tem princípio
desde o tempo que não tem fim
tempo sem tempo
às trevas estão destinados
os que tão-somente se consagram
à vida no mundo
e a negrume ainda maior
os que se entregam
apenas à meditação
viver unicamente no mundo leva a um resultado
meditar apenas a outro
assim falaram os sábios
no saber que lhes foi doado
aqueles que se consagram
tanto à vida no mundo
como à meditação
através da vida no mundo superam a morte
através da meditação obtêm a imortalidade
à escuridão estão destinados
os que veneram o corpo e
a uma escuridão ainda maior
os que veneram apenas o espírito
venerar unicamente o corpo tem uma consequência
venerar simplesmente o espírito tem outra
disseram-no os sábios
os que reverenciam corpo e espírito
pelo corpo vencem a morte e
pelo espírito atingem a imortalidade
simples e sábia verdade
a face da verdade está oculta por brahman
desvela-a para que te possa contemplar
desvenda-a para que te possa amar
contempla-a para que o possas habitar
liberto da aparência e da ilusão
o teu corpo serão cinzas arrastadas pelos ventos
lembra-te de brahman e das tuas acções
praticadas em todos os momentos da tua vida
invoca agni no momento da morte
que conhece todos os teus actos
roga-lhe a felicidade e a extinção do pecado
a libertação da reencarnação
***
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KENA
quem é que move o mundo
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quem conhece
o poder de brahman
torna-se imortal
quem é que dirige a mente
para que dela nasçam
tantos pensamentos
quem é que faz com
que a língua fale
expressando ideias
opiniões
e reflexões
quem é que dispõe para
que o corpo tenha existência
quem é o ser cintilante
que encaminha os olhos
à forma e à cor e os ouvidos ao som
o eu
é o ouvido do ouvido
a mente da mente
a fala da fala
o alento do alento
o olho do olho
se abandonares a falsa identificação do eu
com os sentidos e com a mente
conhecendo que o eu é brahman
quando abandonares este mundo
serás como o que não tem princípio nem fim
terás atingido a imortalidade
os olhos não o olham
a língua não o revela
a mente não o alcança
não é conhecido
não pode ser ensinado
é diferente do conhecido
diferente do desconhecido
foi o que disseram os iluminados
o que não pode ser mencionado por palavras
mas pelo qual a língua fala é brahman
brahman não é aquele que é venerado pelos homens
aquele que não é conhecido pela mente
mas pelo qual a mente conhece é brahman
brahman não é aquele que é venerado pelos homens
aquilo que não é visto pelos olhos
mas pelo qual os olhos vêem
entende que é brahman
brahman não é aquele que é venerado pelos homens
aquilo que não é ouvido pelos ouvidos
mas pelo qual os ouvidos ouvem
sabe que é brahman
brahman não é aquele que é venerado pelos homens
aquilo que não é guiado pelo alento vital
mas pelo qual o sopro vital é conduzido
sabe que é brahman
brahman não é aquele que é venerado pelos homens
se julgas que conheces a verdade de brahman
sabe que o teu conhecimento é pouco ou nada
o que pensas ser brahman no teu eu
o que pensas ser brahman nos deuses
não é brahman
tens de conhecer a verdade
e não a aparência
de brahman
não posso dizer que conheço brahman
em toda a sua magnificência
não posso dizer que o não conheço
aquele que melhor o conhece
compreende no seu coração
que nem sequer sabe que o não conhece
aquele que em verdade conhece brahman
é o que sabe que ele
está para além de todo o conhecimento
aquele que pensa que sabe não sabe
o insensato pensa que brahman pode ser conhecido
todavia o iluminado sabe
que ele está para além de todo o conhecimento
aquele que compreende a vida de brahman
resultado das acções do seu ser
sensações percepções ou pensamentos
é esse a quem a imortalidade é concedida
conhecendo brahman adquire o poder
pelo conhecimento de brahman alcança
a vitória sobre a morte
bem-aventurado seja o homem
que ainda em vida
compreende brahman
o homem que o não compreende
padece de uma enorme perda
quando se apartam desta vida
os iluminados que compreenderam brahman
como o eu em todos os seres
transformam-se em seres imortais
conta-se que os deuses
venceram os demónios
pelo poder de brahman
envaideceram-se
a si atribuindo
a glória do combate
brahman vendo a sua vanglória
apareceu-lhes e
eles não o reconheceram
os deuses pediram ao deus do fogo
que descobrisse quem era o espírito ininteligível
o deus do fogo acercou-se
do espírito
que o questionou
quem és tu e qual o teu poder
sou o deus do fogo
posso queimar tudo o que se manifesta na terra
o espírito colocou na sua frente uma palha
disse queima esta palha
o deus do fogo não a conseguiu queimar
junto dos outros deuses disse
este espírito é incompreensível
os deuses fizeram o mesmo pedido
ao deus do vento
que se aproximou do espírito
que o questionou
quem és tu e qual é o teu poder
sou o deus do vento
voo célere
atravessando os céus
posso arremessar para os confins da terra
tudo o que encontre à sua face
o espírito colocou na sua frente uma palha
disse sopra esta palha
o deus do vento não a conseguiu mover
junto dos outros deuses disse
este espírito é impenetrável
então
os deuses pediram
ao maior de todos os deuses
que descobrisse quem era
o espírito indecifrável
indra abeirou-se do espírito
e o espírito desapareceu
no seu lugar apareceu a deusa-mãe
bela como a mais pura beleza
indra contemplando-a com espanto
questionou-a
que espírito surgiu no nosso seio
era brahman e por ele obtivestes a vitória
por intermédio dele obtivestes a glória
o deus do fogo
o deus do vento
e indra
reconheceram brahman
antes de todos os outros deuses
sendo os maiores entre eles
mas o supremo é indra
por mais perto ter estado dele
e por ter sido o primeiro a reconhecê-lo
o poder de brahman
aparece em tudo na natureza
o poder de brahman
aparece em todos os movimentos da mente do homem
admirável nas coisas e nos seres
o homem deve meditar em brahman noite e dia
e só o que nele medita dia e noite dele é digno
o conhecimento secreto de brahman
foi-te revelado
integridade
controlo de si
desapego na acção
austeridade
este é o seu corpo
os vedas os seus membros
a verdade a sua alma
aquele que adquire o conhecimento
de brahman
que se liberta do mal
pode olhar sem se ofuscar
o que é eterno e supremo
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KATHA
A morte como mestre
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O segredo da imortalidade
é encontrado
na purificação do coração
na meditação
na realização da identidade
do eu interiormente
e de brahman exteriormente
a imortalidade
é simplesmente
a união com deus
num dia de primavera vajasrabasa
crendo alcançar uma graça divina
cumpriu um rito que lhe impunha
que se desfizesse de todos os seus bens
teve o cuidado de sacrificar somente o seu gado
e do seu gado unicamente os animais sem valor
animais velhos infecundos invisuais aleijados
nachiketa seu filho mais novo
ao ver tanta avareza
contrária às escrituras
pensou
um homem que cumpre um ritual
com presentes inúteis
está destinado à noite eterna
e disse
meu pai também eu vos pertenço a quem me doareis
dar-te-ei à morte
disse o pai
nachiketa disse para si mesmo
sou de facto o melhor dentre os filhos
e discípulos de meu pai
ou estou pelo menos na categoria intermédia
se não na melhor
também não na pior
que valor terei
para o rei da morte
pai não deploreis
a vossa promessa
considerai como tem acontecido
com aqueles que partiram antes
e como será com aqueles que agora vivem
como o milho
um homem amadurece
e cai ao solo
como o milho
ele brota novamente
na estação propícia
após assim falar
o rapaz viajou para a casa da morte
e teve de aguardar pelo seu rei
durante três dias e três noites
o rei da morte saudou o brahmin e disse
passastes três noites em minha casa
e não recebestes a minha hospitalidade
pedi portanto três dádivas
uma por cada noite
nachiketa disse
morte
que assim seja
como primeira dessas dádivas
peço que meu pai
não fique ansioso a meu respeito
que a sua ira se acalme
e quando me mandares de regresso
que ele me reconheça
e me dê as boas-vindas
a morte disse
por minha vontade
vosso pai
reconhecer-vos-á
e amar-vos-á como antes
ao ver-vos vivo
ficará com a mente tranquila
e dormirá em paz
nachiketa disse
no céu não há medo
seja do que for ó morte
ensinai-me o sacrifício
do fogo que leva ao céu
para que não mais viva
onde não há fome e sede
dor doença velhice sofrimento
onde o simples pensamento
de envelhecer
faz com que todo o meu corpo
estremeça
este é o meu segundo desejo
a morte ensinou a nachiketa
o sacrifício do fogo com
todos os seus rituais
no fim
a morte disse
concedo-te uma dádiva adicional
a partir de hoje este sacrifício chamar-se-á
sacrifício nachiketa
assim te homenageio
escolhe a terceira dádiva
nachiketa disse
quando um homem morre
há esta dúvida atormentadora
alguns dizem que ele existe
outros dizem que ele não existe
ensina-me a verdade
esse o meu terceiro desejo
a morte disse
este mistério
que te atormenta
intriga até os deuses
e é de compreensão
quase impossível
escolhe outra dádiva nachiketa
nachiketa disse
morte
vós dizeis que até os deuses
ficam intrigados com este mistério
e que não é de fácil compreensão
haverá melhor mestre
para o explicar
do que vós
que sois o rei da morte
haverá porventura qualquer dádiva que se iguale a esta
o rei da morte disse
pedi filhos e netos que viverão cem anos
pedi gado elefantes cavalos ouro
pedi um reino imenso e poderoso
pedi não apenas doces prazeres
mas também o poder
além de qualquer pensamento
para experimentar sua doçuras
farei de vós
o supremo desfrutador
de todas as coisas excelentes
não me peçais nachiketa
o mistério da morte
nachiketa disse
essas coisas durarão
somente até ao dia seguinte
ó destruidor da vida
e os prazeres que elas conferem
desgastam os sentidos
como poderá desejar a riqueza
rei da morte
aquele que por uma vez
já viu a vossa face
a dádiva que escolhi peço
tendo descoberto a companhia
do imperecível e do imortal
como quando vos conheci
como poderei eu sujeito
à decadência e à morte
e conhecendo bem a vaidade da carne
como poderei desejar uma vida longa
o rei da morte começou a ensinar
a nachiketa o segredo da imortalidade
o bem é uma coisa
o prazer é outra
estes dois diferindo nos seus propósitos
incitam à acção
abençoados são aqueles
que escolhem o bem
aqueles que escolhem o prazer
não atingem o objectivo
bem e prazer
apresentam-se ao homem
os sábios após examinarem ambos
distinguem um do outro
os sábios
preferem o bem ao prazer
os tolos guiados
por desejos carnais
preferem o prazer ao bem
vós ó nachiketa após haverdes
observado os desejos carnais
agradáveis aos sentidos
renunciastes a todos eles
vós desviastes-vos do caminho lamacento
no qual muitos homens se atolam
distantes um do outro
e levando a diferentes desígnios
encontram-se a ignorância
e o conhecimento
eu considero-vos ó nachiketa
como alguém
que anseia pelo conhecimento
já que uma infinidade
de objectos agradáveis
foram incapazes de vos tentar
vivendo no abismo da ignorância
embora julgando-se sábios
tolos iludidos dão voltas e voltas
cegos que conduzem cegos
ao jovem inadvertido
traído pela vanglória
das possessões terrenas
não é indicado o caminho
que leva à eterna morada
somente este mundo é real
não existe porvir
pensando assim ele cai
uma e outra vez
nascimento após nascimento
dentro das minhas mandíbulas
a muitos não é outorgado
ouvir sobre o eu
muitos embora ouçam a seu respeito
não o abarcam
maravilhoso é aquele
que fala a respeito do eu
inteligente é aquele
que aprende a respeito do eu
a verdade sobre o eu
não pode ser
plenamente entendida
quando ensinada
por um homem ignorante
as opiniões a seu respeito
não fundadas no conhecimento
divergem de um para outro
mais subtil do que o mais subtil
é esse eu
que está para além de toda lógica
ensinado por um mestre
que saiba que o eu
e brahman são um só
o homem deixa para trás
a vã teoria
e atinge a verdade
o despertar que conhecestes
não vem do intelecto
vem dos lábios dos sábios
bem-amado nachiketa
abençoado sois vós
porque procurais o eterno
bem sei
que os tesouros terrestres
duram pouco
a finalidade do desejo mundano
os objectos resplandecentes
que todos os homens ambicionam
os prazeres celestiais que esperam granjear
através de rituais religiosos
tudo isso esteve ao vosso alcance
a tudo isso renunciastes com firme resolução
o espírito
que habita internamente
que é imperceptível
visceralmente oculto
no lótus do coração
é difícil de ser conhecido
o homem sábio
que segue
o caminho da meditação
conhece-o
e liberta-se
tanto do prazer como da dor
o homem que aprendeu
que o eu está separado do corpo
dos sentidos e da mente
e que o conheceu integralmente
tem as portas da felicidade abertas
nachiketa disse
ensinai-me ó rei
o que está para além do certo e do errado
para além da causa e do efeito
para além do passado
do presente e do futuro
o rei da morte
disse
do objectivo
proclamado pelos vedas
dir-te-ei
ele é aum
esta sílaba é brahman
esta sílaba é suprema
aquele que a conhece
realiza o seu desejo
ela é o maior dos auxílios
é o símbolo mais elevado
aquele que a conhece é reverenciado
como um conhecedor de brahman
o eu cujo símbolo é aum
é deus omnisciente
o que não nasce
o que não morre
o que não é nem causa nem efeito
esse ser primordial
não nasceu
é eterno
embora o corpo seja destruído
ele não é aniquilado
se o assassino pensa que mata
se o assassinado crê que é morto
nenhum dos dois conhece a verdade
o eu não mata
nem é morto
menor do que o menor
maior do que o maior
o eu habita para sempre
no coração de todos
quando um homem está livre de desejos
com a sua mente e os seus sentidos purificados
observa a glória do eu e vive sem padecimento
apesar de sentado
viaja para longe
embora repousando
move todas as coisas
não possui forma
embora habite a forma
no seio do transitório
conserva-se permanente
o eu é supremo
e tudo penetra
o sábio conhecendo-o
na sua verdadeira natureza
transcende a dor
o eu
não é conhecido através do estudo das escrituras
nem através da subtileza do intelecto
nem através de muita ciência
é conhecido por aquele que por ele anseia
e a ele se revela na sua magnificência
um homem não o poderá conhecer
através da aprendizagem
se não renunciar ao mal
se não controlar os seus sentidos
se não acalmar a sua mente
se não praticar a meditação
para o eu
brahmins e kshatriyas
são apenas alimento
e a morte é em si
um condimento
tanto o eu individual
como o eu universal
penetraram na caverna do coração
possamos nós nachiketa realizar o sacrifício
que transpõe o mundo do sofrimento
possamos nós conhecer o imorredoiro brahman
que nada teme e que é o objectivo
e abrigo de todos os que buscam a libertação
sabei que o eu é o cavaleiro
que o corpo é a carruagem
que o intelecto é o cocheiro
que a mente são as rédeas
os sentidos dizem os sábios
são os cavalos
os caminhos
são os labirintos do desejo
os sábios consideram o eu
como aquele que se delicia
quando está unido ao corpo
aos sentidos e à mente
quando um homem
não possui discernimento
e tem a mente malgovernada
os seus sentidos são ingovernáveis
como os cavalos rebeldes de um cocheiro
o que não detém critério
cuja mente está abalável
cujo coração está poluído
nunca atinge o objectivo
nasce sempre de novo
aquele
que possui discernimento
cuja mente está firme
cujo coração é puro
atinge a meta
e após tê-la alcançado
não nasce nunca mais
o homem
que possui uma compreensão consistente
como cocheiro
com uma mente controlada
como rédeas
atinge a morada suprema de brahman
o que tudo permeia
brahman é a causa sem causa
brahman é o fim da jornada
brahman é a meta suprema
os sentidos do homem sábio
obedecem à sua mente
a sua mente obedece ao intelecto
o seu intelecto obedece ao ego
o seu ego obedece ao eu
acordai
o caminho é como
a lâmina afiada
de uma navalha
é estreito e difícil de trilhar
sem som
sem forma
impalpável
perdurável
sem sabor
sem odor
eterno
sem princípio
sem fim
inalterável
assim é o eu
quem o conhece está livre da morte
o que existe por si fez com que os sentidos
se voltassem para o exterior
o homem olha para o exterior e não vê
o que está no interior
raro é o que ansiando pela imortalidade
cerra os olhos para o exterior e contempla o eu
os tolos seguem
os desejos da carne
e caem na armadilha da morte
que tudo abarca
os sábios sabendo que o eu é eterno
não procuram as coisas passageiras
aquele através de quem o homem vê
saboreia cheira ouve sente e tem prazer
é o senhor omnisciente
é o eu imortal
quem o conhece
conhece todas as coisas
aquele através de quem o homem
vivencia os estados de sono ou de vigília
é o eu que tudo permeia
quem o conhece não mais sofrerá
aquele que sabe
que a alma individual
que aproveita
os frutos da acção
é o eu que está sempre presente
no coração interiormente
que é o senhor do tempo
do passado e do futuro
expulsa de si todo o medo
pois esse eu
é o eu imortal
aquele que vê o que nasceu primeiro
nascido da mente de brahman
nascido antes da criação das águas
e o vê habitar o lótus do coração
vivendo entre elementos físicos
contempla brahman
é certo que
o primeiro a nascer
é o eu imortal
o ser que é o poder de todos os poderes
que nasceu como a potência de todas as potências
que se incorpora nos elementos e neles existe
que penetrou no lótus do coração
é o eu imortal
aquele no qual o sol se levanta
no qual se põe aquele que é a fonte
de todos os poderes da natureza e dos sentidos
aquele que não pode ser transcendido por nada
é o eu imortal
o que está dentro de nós
também está fora de nós
o que está fora
também está dentro
aquele que vê diferença
entre o que está dentro
e o que está fora
segue eternamente
de morte para morte
brahman só pode ser alcançado
pela mente purificada
brahman é
nada mais é
aquele que vê o universo múltiplo
e não vê a única realidade
segue eternamente de morte para morte
aquele ser do tamanho de um polegar
habita profundamente dentro do coração
é o senhor do tempo
do passado e do futuro
quem o alcança nada mais teme
é o eu imortal
aquele ser do tamanho de um polegar
é como uma chama que não faz fumo
senhor do tempo
do passado e do futuro
do hoje e do amanhã
é o eu imortal
como a chuva
que cai numa colina
com torrentes
descendo pelos flancos
assim corre aquele que
depois de muitos nascimentos
vê a multiplicidade do eu
como a água pura derramada
dentro da água pura
permanece pura
o eu permanece puro
ó nachiketa
quando se une com brahman
ao que não nasceu
cuja luz da consciência
brilha para sempre
esse que é o eu
pertence à cidade de onze portões
ou seja
ao corpo com os seus orifícios
aquele que medita
sobre o governante dessa cidade
não conhece mais sofrimento
atinge a libertação
para esse ser não pode
mais haver nascimento ou morte
o governante dessa cidade é o eu imortal
o eu imortal
é o sol que brilha no céu
é a brisa que sopra no espaço
é o fogo que queima no altar
é o hóspede que habita a casa
é o que reside em todos os homens
é o que vive nos deuses
é o que está no éter
é o que abunda onde superabunda a verdade
é o peixe que nasce na água
é a planta que cresce no solo
é o rio que jorra da montanha
é a realidade imutável o ilimitável
é o venerável instalado no coração
é o poder que dá o sopro vital
é o que pode permanece
é o eu imortal
o homem não vive unicamente do sopro vital
vive também
do poder do eu que está dentro dele
ouve nachiketa
vou falar-te do que não pode ser visto
o brahman omnisciente e eterno
vou falar-te do que sucede
ao eu depois da morte física
dos que ignoram o eu
alguns ingressam em seres que possuem ventre
outros reencarnam em plantas
em consonância com as suas acções
e com a ampliação do seu conhecimento
o que está desperto em nós
enquanto dormimos
modelando em sonho
os objectos dos nossos desejos
esse é brahman
o puro e imortal
todos os mundos
têm nele os seus seres
e ninguém o pode transcender
esse é o eu
tal como o fogo
apesar de ser único
toma a forma
de todos os objectos
que consome
também o eu
embora único
toma a forma
de todos os objectos
que habita
assim como o sol
que revela todos os objectos
àquele que vê
não é atingido pelos olhos do pecado
nem pela impureza dos objectos que vê
também o eu que é único
habitando em tudo o que existe
não é contaminado pelos males do mundo
já que tudo transcende
é único
o senhor
o eu mais penetrante
a partir de uma forma
ele faz de si mesmo muitas formas
àquele que vê o eu revelado
no seu próprio coração
pertence a eterna bem-aventurança
ao que vê o eu revelado no seu próprio coração
pertence a paz eterna
e a ninguém mais
nachiketa disse
de que modo ó rei da morte
encontrarei esse bem-aventurado
esse eu supremo e intraduzível
que é alcançado pelos sábios
será que brilha por si mesmo
ou reflecte a luz de outro
o rei da morte disse
o eu
não é iluminado pelo sol
não é iluminado pela lua
não é iluminado pelas estrelas
não é iluminado pelo relâmpago
não é iluminado pelas fogueiras na terra
é a luz
que resplandece
que a tudo
proporciona luz
quando ele brilha
tudo brilha
este universo é uma árvore
que existe eternamente
com as raízes voltadas para cima
os ramos dispersados em baixo
a pura raiz da árvore
é brahman o eterno
em quem o céu a terra e o inferno
têm a sua existência
e a quem ninguém pode transcender
que é o eu
todo o universo
veio de brahman
move-se em brahman
para os que morrem
não há medo ou terror
quando conhecem brahman
se um homem falha em alcançar brahman
antes de abandonar o corpo
esse corpo retornará ao mundo das coisas criadas
na alma de uma criatura
brahman é percebido claramente
como se fosse visto num espelho
no céu de brahman
brahman é claramente percebido do mesmo modo
como o homem que distingue a luz da escuridão
no mundo dos espíritos dos mortos
é contemplado como num sonho
no mundo dos anjos aparece
como se estivesse reflectido na água
os sentidos podem estar activos
como no estado de vigília
ou podem estar inactivos
como no sono
quem sabe que os sentidos
não são o eu imutável
não padece mais nesta e na outra vida
acima dos sentidos está a mente
acima da mente está o intelecto
acima do intelecto está o ego
acima do ego
está a semente não manifestada
a causa primordial
para além da semente não manifestada
está brahman
o espírito que tudo permeia
o incondicionado
quem o conhece obtém a liberdade
quem o conhece alcança a imortalidade
ninguém o contempla com os olhos
ele não tem forma que seja visível
é revelado no coração pelo autocontrolo e pela meditação
os que o conhecem tornam-se imortais
quando todos os sentidos estão estáticos
quando a mente está em repouso
quando o intelecto não estremece
esse é o estado eminente do devoto
a serenidade dos sentidos e da mente
foi definida como ioga
aquele que a alcança liberta-se da ilusão
no que não está livre da ilusão
essa serenidade é incerta e irreal
vai e vem e torna a ir e vir
as palavras não podem revelar brahman
a mente não o pode alcançar
os olhos não o podem ver
existem dois eus
o eu aparente
e o eu verdadeiro
desses dois é o eu verdadeiro e unicamente ele
que deve ser sentido como existindo realmente
ao homem que o sentiu como existente
ele revela a sua mais penetrante natureza
o ser mortal em cujo coração
o desejo está morto
torna-se imortal
o ser mortal em cujo coração
os nós da ignorância são desatados
torna-se imortal
estas são as verdades supremas das escrituras
existem cento e um nervos
que irradiam do lótus do coração
desses nervos ascende
o lótus de mil pétalas do cérebro
se quando um homem morre
a sua força vital subir e passar
através desse nervo
vai atingir a imortalidade
se a sua força vital
cruzar um outro nervo
o homem
vai para um outro plano da existência
e permanece sujeito ao nascimento e à morte
a pessoa suprema
do tamanho de um polegar
o eu que habita
a caverna dos corações
de todos os seres
é puro e sempiterno
tal como extraímos a seiva da cana
assim deve o aspirante à verdade
com grande perseverança
separar o seu eu do corpo
quem conhecer o eu que vive
na caverna mais profunda do coração
unir-se-á a brahman
não morrerá jamais
***
Versão livre dos Upanishads
***
José Maria Alves
https://homeoesp.blogspot.com/
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