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ARTE

sábado, 17 de julho de 2021

SHANKARACHARYA - VIVEKA-CHUDA-MANI - A JÓIA SUPREMA DO DISCERNIMENTO III

 





SHANKARACHARYA

VIVEKA-CHUDA-MANI

A JÓIA SUPREMA DO DISCERNIMENTO III



***



***


SAMADHI


***


O iniciado espiritual dotado de tranquilidade, autocontrolo, equilíbrio mental e paciência devota-se à prática da contemplação,

e medita sobre o Atman, que habita no seu ser como o Atman que habita em todos os seres.

Deste modo aniquila completamente a consciência da separação, que brota das trevas da ignorância,

e regozija-se na identificação com Brahman, livre dos pensamentos perturbantes e das ocupações egoístas.


***


Aqueles que repetem os ensinamentos alheios não estão livres do mundo.

Aqueles que atingiram o samadhi, fundindo o universo exterior, os órgãos sensoriais, a mente e o ego na consciência pura do Atman,

esses estão livres do mundo, com os seus grilhões e armadilhas.


***


O Atman que é único surge como múltiplo devido à variedade dos seus envoltórios exteriores.

Quando esses envoltórios irreais se dissolvem, só o Atman existe.

Que o homem sábio se consagre à realização do nirvikalpa samadhi* para que os envoltórios se dissipem da sua consciência.


- * Nirvikalpa Samadhi - Especializando-se no Savikalpa, o praticante atinge o estado de infinita beatitude e poder, que lhe é concedido pelo Nirvikalpa, estado de êxtase supremo. -


***


Quando o homem ama Brahman com uma devoção exclusiva e constante, torna-se Brahman.

Por pensar unicamente na vespa, a barata transforma-se numa vespa.

Assim como a barata se transforma em vespa, porque renuncia a qualquer outra actividade e não pensa senão nesse insecto,

assim o aspirante espiritual que medita na realidade do Atman se converte no Atman graças à sua devoção constante.


***


A verdadeira natureza do Atman é extremamente subtil.

Não pode ser percebida pela mente.

Deve ser conhecida no estado de samadhi,

que só pode ser alcançado pelas almas nobres,

cujas mentes se purificaram

e que possuem um extraordinário poder de discernimento espiritual.


***


Assim como o ouro que foi purificado no fogo é expurgado das suas impurezas e restaurado na sua própria natureza,

assim a mente, pela meditação, expurga de si mesma as impurezas de sattva, rajas e tamas

e compreende Brahman.


***


Quando a mente, assim purificada por meio de uma incessante meditação, se funde com Brahman,

o estado de samadhi é atingido.

Nesse estado não existe consciência da dualidade.

A alegria permanente de Brahman é então vivenciada.


***


Quando um homem atinge o samadhi,

todos os laços dos desejos são desfeitos

e liberta-se da lei do karma.

Brahman é-lhe revelado, interior e exteriormente, sempre e em toda parte.


***


É cem vezes melhor reflectir sobre a verdade de Brahman, do que ler nas escrituras acerca dela.

A meditação é cem vezes melhor do que a reflexão.

Mas o nirvikalpa samadhi é infinitamente superior a tudo isso.


***


No nirvikalpa samadhi, e em nenhum outro estado, a verdadeira natureza de Brahman é clara e definitivamente revelada.

Em qualquer outro estado, a mente permanece instável, cheia de pensamentos perturbantes.


***


Portanto, permanece constantemente absorto na consciência do Atman que habita no íntimo do teu Coração.

Controla os teus sentidos e deixa que a tua mente fique tranquila.

Conquista a visão clara de tua unidade com Brahman, destruindo a ignorância criada por Maya. 


***


CONTROLO INTERIOR E EXTERIOR


***


Estes são os primeiros passos no caminho da união com Brahman:

controlo da linguagem, recusa em aceitar dons desnecessários, renúncia às ambições e desejos mundanos e contínua devoção a Brahman.


***


Consagra-te a Brahman e serás capaz de controlar os teus sentidos.

Controla os teus sentidos, e obterás o domínio da tua mente.

Domina a tua mente e a consciência do ego será dissolvida.

Deste modo, o yogue alcança uma ininterrupta realização da alegria de Brahman.

Que aquele que busca se empenhe na entrega do seu Coração a Brahman.


***


Controla a linguagem pelo esforço mental;

controla a mente pela faculdade do discernimento;

controla essa faculdade pela vontade individual;

mergulha a tua individualidade no Atman absoluto e infinito e alcança a paz suprema.


***


O corpo, a energia vital, os órgãos sensoriais, a mente, o intelecto e o ego são os envoltórios de Brahman.

Quando o homem se identifica com qualquer um desses envoltórios, assume a sua natureza e aspecto.


***


Quando essa identificação cessa,

o homem meditativo desprende-se desses envoltórios

e experimenta eternamente a plenitude da alegria eterna.


***


Desprender-se completamente de todos esses envoltórios é possuir tanto a renúncia exterior como a interior.

Essa renúncia só pode ser praticada pelo homem dotado de impassibilidade.

O homem imperturbável que aspira à libertação pode praticar tanto a renúncia interior quanto a exterior.


***


O apego exterior é o apego aos objectos dos sentidos.

O apego interior é a auto-identificação com o ego e com as mudanças da mente.

Só o homem desapaixonado, ardentemente devotado a Brahman, será capaz de renunciar a ambos.


***


Conhece, ó sábio, que o homem necessita da impassibilidade e do discernimento,

tal como o pássaro necessita de duas asas.

Sem eles, o homem não pode atingir o topo da vinha de onde flui o néctar da libertação.

Não poderá atingir a libertação por quaisquer outros meios.


***


Só o homem provido de uma impassibilidade intensa pode alcançar o samadhi.

Aquele que alcançou o samadhi vive num estado de constante iluminação.

O Coração iluminado é libertado da escravidão.

Só o liberto vivencia eterna alegria.


*** 


Para o homem munido de autodomínio, a impassibilidade é a única fonte de felicidade.

Se estiver concertada com o despertar do puro conhecimento do Atman,

o homem torna-se independente de tudo o mais.

Esta é a porta para a posse da sempre jovem donzela, chamada libertação.

Se buscas o bem supremo, pratica a impassibilidade interior e exterior e preserva uma constante percepção do eterno Atman.


***


Evita o desejo sensual como um veneno, porque ele é morte.

Abandona o orgulho de casta, família e posição social e abstém-te das acções ditadas pelo interesse próprio.

Abandona a ilusão de que és o corpo ou qualquer um dos envoltórios; todos eles são irreais.

Mantém a tua mente absorta no Atman.

Na verdade, tu és Brahman, a testemunha não agrilhoada pela mente, o um-sem-segundo, o supremo.


***


Fixa a tua mente em Brahman, que é a tua meta.

Não deixes que os órgãos sensoriais operem externamente; obriga-os a permanecer nos seus respectivos centros.

Conserva o corpo erecto e firme. Não te sirvas de nenhum pensamento para a sua conservação.

Devota-te completamente a Brahman e compreende que tu e Brahman são um.

Bebe incessantemente a alegria de Brahman. As fontes dessa alegria nunca secam.

De que valem as coisas deste mundo?

São todas desprovidas de felicidade.


***


Não permitas que a tua mente se deleite com qualquer pensamento que não seja o Atman.

Medita sobre o Atman, cuja natureza é a bem-aventurança.

Este é o caminho da libertação.

O auto-iluminado Atman, a testemunha de todas as coisas, está sempre presente no teu Coração.

O Atman permanece separado de tudo o que é irreal.

Conhece-o como sendo tu mesmo e medita sobre ele persistentemente.


***


Mantém-te em comunhão ininterrupta com o Atman, livre de todos os pensamentos perturbadores.

Deste modo alcançarás a convicção de que o Atman é a tua verdadeira natureza.


***


Agarra-te à verdade de que és o Atman.

Renuncia à identificação com o ego ou com qualquer dos envoltórios.

Permanece completamente alheio aos envoltórios, como se fossem jarros de argila quebrados.


***


Fixa a mente purificada no Atman, a testemunha, a Consciência Pura.

Empenha-te a acalmar gradualmente a tua mente.

Obterás a visão do Atman infinito.


***


O UM


***


Medita sobre o Atman como indivisível, infinito, como um éter que a tudo impregna.

Apreende que ele está separado do corpo, dos sentidos, da energia vital, da mente e do ego,

limitações impostas pela nossa ignorância.


***


O éter, embora preencha centenas de recipientes, como jarros e potes de grãos e arroz, e pareça vário e divisível, é na verdade um, e não muitos.

Do mesmo modo o puro Atman, quando liberto das limitações do ego e da mente, é um e apenas um.


***


Todas as coisas, de Brahma* o criador, a uma simples folha de erva,

são as formas e os nomes aparentemente diversos do Atman único.

São simples aparências e não a Realidade.

Medita sobre o Atman como único e infinito.


- * Brahma é o primeiro Deus da trindade do hinduísmo. Os outros são Vishnu e Shiva.

É o Deus da música e é representado com vários rostos. É-lhe imputada a força criadora do universo.

Os hindus consideram que um universo cíclico é criado por Brahma. Shiva destrói-o enquanto Vishnu está a dormir. Quando o próximo universo estiver para ser criado, surge Brahma que o recria. -  


***


O Atman é o princípio e a realidade.

A aparência de um universo só é vista por via da ilusão dos nossos olhos.

Quando surge o verdadeiro conhecimento, o Atman é revelado como a própria existência,

e o universo na sua aparência não pode ser visto separado dele.

Podes confundir uma corda com uma serpente se estiveres iludido.

Mas, quando a ilusão cessa, compreendes que a suposta serpente não passava de uma simples corda.

Assim, também, este universo não é outra coisa senão o Atman.


***


Eu, o Atman, sou Brahma*. Sou Vishnu*. Sou Shiva*.

Eu sou o universo. Nada existe, porém Eu Sou.

Estou no interior; estou no exterior.

Estou à frente e atrás. Estou no Sul e estou no Norte.

Estou em cima e estou em baixo.


- * Brahman é o Absoluto, o Atman, não devendo ser confundido com Brahma. O primeiro estágio da manifestação de Brahman é Ishwara, o Deus Pessoal. Ishwara é então concebido sob o tríplice aspecto de Brahma o Criador, Vishnu o Protector e Shiva o Destruidor. - 


***


A onda, a espuma, o redemoinho e a bolha são em essência água. 

Analogamente, o corpo e o ego nada mais são, na verdade, do que consciência pura.

Todas as coisas são essencialmente consciência, pureza e alegria.


***


Todo este universo a respeito do qual falamos e pensamos nada mais é do que Brahman.

Brahman está fora do alcance de Maya. Nada mais existe.

Os jarros, os potes e outras vasilhas diferem da argila de que são feitos?

O homem bebe o vinho de Maya, fica iludido e começa a ver as coisas como separadas umas das outras,

e por isso fala de “tu” e de “eu”.


***


Dizem as escrituras: “O Infinito existe onde não se vê nada mais, não se ouve nada mais, não se sabe nada mais”.

No Infinito, dizem as escrituras, não existe dualidade, corrigindo a nossa ideia falsa de que a existência é múltipla.


***


Eu sou Brahman, o supremo, aquele que a tudo impregna, como o éter, imaculado, indivisível, ilimitado, imóvel e imutável.

Não tenho interior nem exterior. Só Eu Sou. Sou o primeiro-sem-segundo.

Que mais existe para ser conhecido?


***


Que mais há para ser dito? Não sou outro senão Brahman.

Brahman é este universo e todas as coisas que nele existem.

As escrituras declaram que nada existe fora de Brahman.

Os homens iluminados pelo conhecimento de que “Eu sou Brahman” renunciam ao apego a este universo aparente.

É certo que esses iluminados vivem em constante união com Brahman, a Consciência Pura, bem-aventurada.


***


A LIBERTAÇÃO


***


Renuncia a todas as esperanças terrenas e a todos os prazeres físicos;

cessa de te identificar com o corpo material.

Depois, cessa de te identificar com o corpo subtil.

Compreende que és Brahman, cuja forma é eterna bem-aventurança,

cujas glórias são declaradas nas escrituras. 

Deste modo, poderás viver em união com Brahman.


***


Enquanto amar este corpo mortal, o homem permanecerá impuro, sendo ameaçado de todas as formas pelos seus inimigos, continuando sujeito ao renascimento, à doença e à morte.

Mas se meditar sobre o Atman como a Consciência Pura e imutável, como a essência do bem, ele libertar-se-á de todos os males.

Verdade confirmada pelas escrituras.


***


Cessa de te identificar enganadoramente com todos os envoltórios, como o ego, que cobrem o Atman.

Só Brahman permanece, supremo, infinito, imutável, o um-sem-um-segundo.


***


O MUNDO FANTASMA


***


Quando a mente está completamente absorta no Ser supremo, o Atman, Brahman, Absoluto,

o mundo das aparências desvanece-se.

A sua existência não passa de um mundo vazio.


***


O mundo das aparências é um mero fantasma.

Não há senão uma Realidade, imutável, sem forma e absoluta.

Como poderia ser dividida?


***


Não há nem observador, nem observação, nem coisa observada.

Não há senão uma Realidade, imutável, sem forma e absoluta.

Como poderia ser dividida?


***


Não há senão uma Realidade, como um vasto oceano no qual todas as aparências se dissolvem. 

É imutável, sem forma e absoluta.

Como poderia ser dividida?


***


Nela, as causas da nossa ilusão desvanecem-se, tal como as trevas se desvanecem na luz.

É suprema, absoluta, o primeiro-sem-segundo.

Como poderia ser dividida?


***


Não há senão uma Realidade suprema. É a própria natureza da unidade.

Não pode ser dividida em muitos.

Se a multiplicidade é real e não apenas aparente, qual a razão de nunca a vivenciarmos no sono sem sonhos?


***


O universo deixa de existir depois que despertamos para a suprema consciência no eterno Atman, que é Brahman, desprovido de qualquer distinção ou divisão.

Em época alguma, seja no passado, no presente ou no futuro, existiu, existe ou existirá uma serpente dentro de uma corda ou uma gota de água numa miragem.


***


As escrituras declaram que este universo relativo não passa de uma aparência.

O Absoluto é não-dual.

Também no sono sem sonhos o universo desaparece.


***


É a nossa ilusão que sobrepõe o universo a Brahman.

O sábio sabe que este universo não tem nenhuma realidade separada.

O universo é idêntico a Brahman, seu princípio.

A corda pode dar a impressão de ser uma serpente, mas a identidade aparente entre a corda e a serpente só dura enquanto persistir a ilusão.


***


Essa ilusão de identidade tem a sua origem na mente material.

Quando a mente é transcendida, deixa de existir.

Que tua mente se absorva na contemplação do Atman, a Realidade, a tua íntima essência.


***


UNIÃO COM BRAHMAN


***


Quando a mente alcança a perfeita união com Brahman, o sábio apreende Brahman no seu coração.

Brahman está para além de qualquer palavra ou pensamento. É Consciência Pura, eterna. É a suprema bem-aventurança.

É incomparável e incomensurável. É perpetuamente livre, está para além de toda acção e é ilimitado como o céu, indivisível e absoluto.


***


Quando a mente alcança a perfeita união com Brahman, o sábio apreende Brahman no seu Coração.

Brahman está além da causa e do efeito. É a realidade que se encontra para além de todo o pensamento.

É eternamente o mesmo, incomparável, fora do alcance de qualquer concepção mental.

É revelado pelas escrituras sagradas e manifesta-se constantemente em nós através da nossa consciência.


***


Quando a mente alcança a perfeita união com Brahman, o sábio apreende Brahman no seu Coração.

Brahman não conhece o declínio nem a morte. É a Realidade sem começo e sem fim.

É como um vasto lençol de água, sereno e sem margens.

Está para além do jogo das gunas. É o único, o eterno, perpetuamente tranquilo.


***


Absorve-te na união com teu verdadeiro Ser e contempla o Atman de infinita glória.

Liberta-te da servidão e do cheiro nauseabundo do mundanismo.

Empenha-te com perseverança e alcança a libertação.

Deste modo não terás nascido em vão neste mundo.


***


Medita sobre o Atman, o teu verdadeiro Ser, livre de todos os envoltórios e limitações,

e que é a existência, o conhecimento e a bem-aventurança infinitos, o um-sem-um-segundo.

Assim te libertarás da roda dos nascimentos e das mortes.


***


O DESAPEGO


***


Os efeitos das acções passadas fazem com que o vidente iluminado continue a viver no corpo.

Para ele o corpo é uma mera aparência, como a sombra de um homem.

Quando abandonar o corpo, que se transformará num cadáver,

nunca mais regressará para nascer num outro corpo.


***


Realiza o Atman, a consciência e a bem-aventurança puras e eternas.

Desapega-te desse invólucro, o corpo, que é indolente e imundo.

Feito isto, nunca mais voltes a pensar nele.

Lembra-te de que o teu próprio vómito é repugnante.


***


O homem verdadeiramente sábio consome a sua ignorância no fogo de Brahman, o Absoluto, o Eterno, o Eu real.

E permanece absorvido no conhecimento do Atman, a consciência e a bem-aventurança puras e eternas.


***


A vaca fica indiferente à grinalda colocada em torno do seu pescoço.

O conhecedor de Brahman fica indiferente ao destino deste corpo,

que continua a viver pelo efeito das suas acções passadas.

A sua mente está absorvida pelo bem-aventurado Brahman.


***


O conhecedor de Brahman realizou o seu verdadeiro Ser, o Atman, que é alegria infinita.

Que motivo ou desejo poderá ter para se apegar a este corpo, alimentando-o?


***


Experimentar no seu Coração e no mundo exterior, a bem-aventurança infinita do Atman,

tal é a recompensa obtida pelo yogue que atingiu a perfeição e a libertação nesta vida.


***


A IMPASSIBILIDADE


***


O fruto da impassibilidade é a iluminação;

o fruto da iluminação é a pacificação do desejo;

o fruto do desejo aquietado é a experiência da bem-aventurança do Atman, da qual provém a paz.


***


Os primeiros passos são inúteis quando não se percorre o caminho até ao fim.

A impassibilidade, a suprema alegria e a incomparável bem-aventurança devem suceder-se naturalmente.


***


O fruto da iluminação é a extinção do sofrimento.

Um homem pode cometer muitas más acções como consequência da sua ignorância.

Mas poderá continuar a cometer o mal quando o discernimento despertou em si?


***


A iluminação faz com que o homem se afaste do mal e do irreal;

o apego ao mal e ao irreal resulta da ignorância.

Compara o homem que sabe o que é uma miragem com o homem que lhe ignora a natureza.

O primeiro afasta-se dela; o segundo corre na sua direcção para saciar a sua sede.

O homem que alcançou a compreensão já não é atraído pelo mundo das aparências: é esta a sua recompensa.


***


Quando se desfaz o nó da ignorância do Coração, o homem liberta-se de todo o desejo dos objectos materiais.

Quando tal sucede, haverá neste mundo alguma coisa capaz de o levar a sentir qualquer apego?


***


Quando os objectos do prazer deixam de estimular o desejo, adquire-se a renúncia perfeita.

Quando a consciência do ego deixa de existir, alcança-se o conhecimento perfeito.

Quando a mente está embebida em Brahman e deixa de ser perturbada por qualquer outro pensamento, alcança-se o recolhimento.


***


O homem que permanece continuamente absorto na consciência de Brahman está livre da tirania do mundo objectivo.

Os prazeres que os outros julgam tão irresistíveis, parecem-lhe tão insignificantes quanto o pareceriam a um bebé ou a um homem profundamente adormecido.

Quando, por alguns momentos, esse mundo se mostra à sua consciência, ele vê-o como um mundo de sonhos.

Ele goza os frutos do mérito infinito.

Tal homem é verdadeiramente bem-aventurado e estimado na Terra.


***


Diz-se que o homem dotado de autodomínio é iluminado quando goza da eterna bem-aventurança.

Está inteiramente absorto em Brahman, sabe que é a Realidade imutável, que está para além da acção.


***


A ILUMINAÇÃO


***


O estado de iluminação é descrito como se segue.

Há uma consciência ininterrupta da unidade de Atman e de Brahman.

Não existe mais nenhuma identificação do Atman com os seus envoltórios.

Toda a consciência de dualidade é dissipada.

Há uma Consciência Pura, unificada.

O homem que se encontra firmemente alojado nessa consciência é tido por iluminado.


***


Diz-se que um homem se liberta durante esta vida, quando se alojou na iluminação.

A sua bem-aventurança não tem fim. Nele, este mundo de aparências foi praticamente olvidado.


***

 

Embora a sua mente esteja dissolvida em Brahman, está plenamente desperto, livre da ignorância da vida no estado de vigília.

Está totalmente consciente, mas livre de qualquer desejo.

Tal homem é considerado livre, mesmo nesta vida.


***


Para ele, as tristezas deste mundo findaram.

Embora possua um corpo finito, permanece unido com o infinito.

O seu Coração não conhece a ansiedade.

Esse homem é considerado livre, mesmo nesta vida.


***


Embora viva no corpo, este parece-lhe uma simples sombra que o acompanha.

Já não está perturbado pelo pensamento do “eu” e do “meu”.

Tais são as características do homem que é livre mesmo nesta vida.


***


Não se preocupa em investigar o passado.

Não está interessado em indagar o futuro.

É indiferente ao presente.

É assim que podes reconhecer o homem que é livre já nesta vida.


***


O bem e o mal parecem existir no mundo.

Pessoas e objectos parecem distinguir-se entre si.

No entanto encara tudo do ponto de vista da igualdade,

porque vê Brahman em todas as coisas.

É assim que podes reconhecer o homem que é livre já nesta vida.


***


A boa e a má fortuna podem ocorrer.

Esse homem encara-as a com indiferença, permanecendo impassível e desapegado.

É assim que podes reconhecer o homem que é livre já nesta vida.


***


Como a sua mente está continuamente absorta na bem-aventurança de Brahman é incapaz de distinguir o interior do exterior.

É assim que podes reconhecer o homem que é livre já nesta vida.


***


A vida passa. Ele vê-a como um espectador desinteressado.

Não se identifica com o corpo, os órgãos sensoriais, a mente.

Está acima da ideia do dever.

É assim que podes reconhecer o homem que é livre já nesta vida.


***


Com o auxílio das escrituras realizou a sua unidade com Brahman.

Não anseia por renascer, é-lhe indiferente morrer.

Assim é que podes reconhecer o homem que está livre já nesta vida.


***


Nunca se identifica com o corpo ou com os órgãos sensoriais.

Não tem sentido de posse. 

Assim é que podes reconhecer o homem que está livre já nesta vida.


***


Através da sua visão transcendental, compreendeu que não há diferença entre o homem e Brahman

ou entre Brahman e o universo, pois vê que Brahman é tudo.

Assim é que podes reconhecer o homem que está livre já nesta vida.


***


O homem santo pode honrá-lo, o homem mau pode insultá-lo.

As suas reacções são as mesmas.

Assim é que podes reconhecer o homem que é livre já nesta vida.


***


Há rios que correm para o oceano, mas o oceano não é perturbado.

Os objectos sensoriais fluem pela sua mente, mas ele não sente reacção, pois vive na consciência da Realidade una.

É verdadeiramente livre, já nesta vida.


***


A CESSAÇÃO DO SONHO


***


Aquele que conheceu a realidade de Brahman não pode continuar apegado a este mundo.

Aquele que sente esse apego não conheceu Brahman, continuando iludido e limitado pelos seus sentidos.


***


De um homem que conheceu Brahman não se pode dizer que ainda está apegado aos objectos sensoriais,

como consequência de intensas impressões residuais e dos velhos hábitos dos seus desejos pretéritos.

Os seus desejos e tendências foram dissipados a partir do momento em que compreendeu que ele é Brahman.


***


Um homem, mesmo sendo muito concupiscente, não sente desejo algum quando está na presença de sua mãe.

Do mesmo modo, o homem liberta-se da mundanidade quando compreende Brahman, a infinita bem-aventurança.


***


As escrituras declaram, que mesmo o homem absorto na meditação, está consciente do mundo exterior,

devido às tendências produzidas pelo seu modo de vida anterior.


***


Enquanto o homem experimentar prazer e dor,

as suas inclinações passadas haverão de persistir.

Todo o efeito é antecedido por uma causa.

Onde não existe causa, não existe efeito.


***


Quando o homem desperta do seu sonho, as suas acções oníricas desfazem-se no nada.

Quando o homem desperta para o conhecimento de que ele é Brahman,

todas as causas acumuladas, todas as acções praticadas ao longo de milhões e milhões de vidas dissolvem-se.


***


Enquanto dorme, o homem pode sonhar que está a praticar boas acções ou a cometer pecados.

Mas quando o sonho termina, como podem essas acções oníricas levá-lo ao céu ou ao inferno?


***


O Atman é eternamente livre, puro e intocável como o éter.

Aquele que realizou o Atman jamais será agrilhoado pelas suas acções, sejam elas passadas, presentes ou futuras.


***


O éter encerrado num cântaro não é afectado pelo odor do vinho.

O Atman encerrado nos seus envoltórios não é afectado pelas propriedades desses envoltórios.


***


A FLECHA NÃO SE IRÁ DETER


***


O discípulo disse:

Entendo que depois de se alcançar a iluminação, nenhuma acção pode afectar o Atman.

E as acções praticadas antes do despontar do conhecimento?

O conhecimento não pode anular-lhes os efeitos.

A seta atirada contra um alvo não pode ser desviada.

Suponhamos que confundimos uma vaca com um tigre e lhe atiramos uma flecha.

A flecha não se deterá quando descobrirmos que a vaca não é um tigre e atingirá a vaca.


***


O Mestre disse:

Sim, tens razão. As acções passadas são muito influentes, caso já tenham começado a produzir os seus efeitos.

Devem esgotar o seu poder através da experiência actual, mesmo no caso de uma alma iluminada.

O fogo do conhecimento destrói toda a acumulação dos karmas presentes e futuros e dos karmas passados que ainda não começaram a produzir os seus efeitos.

Mas não pode destruir os karmas passados que já começaram a produzir consequências.

No entanto, nenhum desses karmas pode afectar aquele que compreende a sua identidade com Brahman e vive continuamente concentrado nessa consciência.

Tais homens uniram-se a Brahman, o Um que está para além de todos os atributos.


***


O vidente vive absorvido na consciência do Atman.

Apreendeu a sua identidade com Brahman.

Brahman é puro e está livre das qualidades que pertencem aos envoltórios materiais e subtil.

Os karmas passados pertencem a esses envoltórios; não podem afectar o vidente.

Quando um homem está desperto, deixa de estar sujeito ao mundo aparente dos seus sonhos.


***


O homem que despertou deixa de se identificar com o seu corpo onírico,

com as suas acções oníricas ou com os objectos do seu sonho,

voltando a si pelo simples despertar.


***


Não tenta afirmar que os objectos do seu sonho são reais, nem os procura possuir.

Se continuar a buscar os objectos do mundo onírico, certamente ainda não terá despertado do seu sono.


***


Aquele que despertou para o conhecimento de Brahman, vive absorto na união com o eterno Atman.

Não vê nada mais. Necessita de comer, alimentar o corpo enquanto viver neste mundo.

Mas essas acções são praticadas de memória. São como as acções que rememoramos de um sonho.


***


O nascimento num corpo é o resultado do karma.

Pode dizer-se, que as acções passadas afectam unicamente o corpo.

O Atman não tem princípio. Não se pode dizer que nasceu em consequência do karma.

Por isso, é insensato pensar que o karma pode afectar o Atman.


***


As palavras infalíveis das escrituras declaram que “o Atman é não-nascido, eterno, nunca sujeito ao declínio”.

Como presumir, que algum karma afecte o homem que vive na consciência do Atman?


***

 

As causas acumuladas devido às acções passadas afectam o homem que se identifica com o corpo.

A alma iluminada sabe que essa identificação é falsa, e por isso não é afectada por esse karma.


***


É insensatez pensar, que as causas acumuladas em consequência das acções passadas podem afectar o corpo.

Como pode esse corpo ser real quando a sua existência é meramente ilusória?

Como pode uma coisa irreal ter um nascimento?

Como pode morrer uma coisa que nunca nasceu?

Como podem as acções, os seus efeitos, afectar o que é irreal?


***


Quando desponta o conhecimento, a ignorância e os seus efeitos desaparecem.

O ignorante pode perguntar: “Se assim é, como pode o corpo de uma alma iluminada continuar a existir?”.

Mas quando as escrituras dizem que a continuidade do corpo é causada pelas acções passadas,

elas estão simplesmente a explicar as coisas de modo a que o ignorante as possa entender.

Não querem demonstrar a realidade do corpo e dos demais envoltórios, do ponto de vista de uma alma iluminada.


***


BRAHMAN É TUDO


***


Do ponto de vista da alma iluminada, 

Brahman está em todas as coisas, sem princípio, sem fim,

incomensurável, imutável, o primeiro-sem-segundo.

Em Brahman não há diversidade.


***


Brahman é pura existência, pura consciência, eterna bem-aventurança,

está para além da acção, é o primeiro-sem-segundo.

Em Brahman não há diversidade.


***


Brahman é a consciência oculta, repleta de bem-aventurança, infinita, omnipresente, o primeiro-sem-segundo.

Em Brahman não há diversidade.


***


Brahman não pode ser evitado; está em toda parte.

Brahman não pode ser apreendido; é transcendente.

Não pode ser encerrado; encerra todas as coisas. 

É o um-sem-um-segundo.

Em Brahman não há diversidade.


***


Brahman é sem partes e sem atributos.

É subtil, absoluto, imaculado, o um-sem-um-segundo.

Em Brahman não há diversidade.


***


Brahman é inexprimível, está fora do alcance da mente e da palavra, é o primeiro-sem-segundo.

Em Brahman não há diversidade.


***


Brahman é a própria realidade, instalado na sua glória, puro, consciência absoluta, sem igual, o primeiro-sem-segundo.

Em Brahman não há diversidade.


***


Os aspirantes espirituais, as almas magnânimas, que se libertaram de todos os desejos,

recusando todos os prazeres sensuais, serenas e autocontroladas, compreendem esta verdade suprema de Brahman.

Tais almas, realizam a união com Brahman e alcançam a suprema bem-aventurança.


***


Tu também deves discernir e compreender a suprema verdade de Brahman.

Apreende a verdadeira natureza do Atman como a totalidade de toda a bem-aventurança.

Desenvencilha-te das ilusões criadas pela tua mente.

Desse modo, tornar-te-ás livre e iluminado e alcançarás a bem-aventurança.


***


Tranquiliza a tua mente no seu todo e atinge o samadhi.

Terás a visão desobscurecida, discernindo claramente a verdade do Atman.

Dos lábios do teu mestre aprendeste a verdade de Brahman tal como ela é revelada nas escrituras.

Deves agora compreender essa verdade de modo directo e imediato.

Só então o teu Coração ficará livre de qualquer dúvida.


***


Como podes saber, com toda a certeza, que estás libertado da servidão da ignorância e compreendeste o Atman,

que é existência absoluta, consciência pura e eterna bem-aventurança?

As palavras das escrituras, a tua capacidade de raciocínio e o ensinamento do teu mestre podem ajudar a persuadir-te,

mas a única prova absoluta é a experiência directa e imediata na tua própria alma.


***


Escravidão e libertação, contentamento e ansiedade, doença e saúde, fome e fartura,

são coisas que pertencem à experiência pessoal. 

Conhece-te a ti mesmo.

Os outros só podem fazer conjecturas sobre a tua condição.


***

 

Os mestres e as escrituras podem estimular a percepção espiritual.

Mas o discípulo sábio cruza o oceano da sua ignorância pela iluminação directa, pela graça de Deus.


***


Obtém a experiência directamente.

Realiza Deus por ti mesmo. Conhece o Atman como o Ser uno e indivisível e torna-te perfeito.

Liberta a tua mente de todas as perturbações e absorve-te na consciência do Atman.


***


Esta é a declaração final do Vedanta: Brahman é tudo, este universo e cada criatura.

Estar liberto é viver em Brahman a realidade indivisa.

Brahman é o um-sem-um-segundo, como testemunham as escrituras.


***


O DISCÍPULO REGOZIJA-SE


***


O discípulo ouviu atentamente as palavras do mestre.

Aprendeu a suprema verdade de Brahman, da qual as escrituras dão testemunho e que é confirmada com o auxílio dos seus próprios poderes de raciocínio.

Afastou os seus sentidos do mundo objectivo e concentrou a sua mente no Atman.

O seu corpo parecia tão imóvel quanto uma rocha.


***


A sua mente estava totalmente embebida em Brahman.

Pouco depois voltou à consciência normal.


Então, na plenitude da sua alegria, disse:

O ego desapareceu. Compreendi a minha identidade com Brahman e todos os meus desejos se desvaneceram.

Ergui-me acima da minha ignorância e do meu conhecimento deste universo aparente.

Que alegria é esta que eu sinto? Quem a poderá avaliar?

Tudo o que sinto é uma alegria ilimitada, infinita.


***


O oceano de Brahman está cheio de néctar, o néctar da alegria do Atman.

O tesouro que nele encontrei não pode ser descrito por palavras.

A mente é incapaz de o conceber.

A minha mente caiu como granizo na vasta superfície do oceano de Brahman.

Ao tocar numa só gota, dissolvi-me e tornei-me um com Brahman.

Agora, embora de volta à consciência humana, eu vivo na alegria do Atman.


***


Onde está este universo? Quem o arrebatou? Ter-se-á fundido com outra coisa?

Ainda há pouco contemplava-o e agora não tem mais existência. É deveras maravilhoso!


***


Eis o oceano de Brahman, cheio de alegria infinita.

Como posso aceitar ou rejeitar alguma coisa?

Existe alguma coisa separada ou distinta de Brahman?


***


Finalmente e com clareza, eu sei que sou o Atman, cuja natureza é eterna alegria. 

Nada vejo, nada ouço, nada conheço que esteja separado de mim.


***


Curvo-me ante vós, ó grande alma, meu mestre!

Estais livre de todo apego, sois o maior dentre os homens sábios e bons.

Sois a personificação da eterna bem-aventurança.

A vossa compaixão é infinita, um mar sem praias.


***


Os vossos olhos estão cheios de misericórdia.

Um simples olhar é como uma torrente de raios de luar que alivia o cansaço da minha mortalidade,

e a dor da minha escravidão aos nascimentos e às mortes.

Num simples instante, pela vossa graça, encontrei esse tesouro inexaurível, indiviso; o Atman, o eterno bem-aventurado.


***


Estou feliz! Realizei o único propósito da vida.

O dragão do renascimento nunca mais tornará a arrebatar-me.

O infinito pertence-me.

Reconheço a minha verdadeira natureza com eterna alegria.

E tudo isto graças à vossa misericórdia!


***


Nada me prende a este mundo. Já não me identifico com o corpo físico nem com a mente.

Sou um com o Atman, o imortal!

Eu sou o Atman, infinito, puro, eterno, perpetuamente em paz.


***


Não sou nem o que age nem o que sofre as consequências da acção. Estou para além da acção e sou imutável.

A minha natureza é Consciência Pura. Sou a Realidade absoluta, a eterna bondade.


***


Não sou eu quem vê, ouve, fala, age, sofre ou tem prazer.

Eu sou o Atman eterno, imortal, para além da acção, ilimitado, livre;

nada mais que pura e infinita consciência.


***


Não sou nem este nem aquele objecto. Sou Aquele que torna manifestos todos os objectos.

Sou supremo, eternamente puro. Não estou nem dentro nem fora.

Sou o infinito Brahman, o primeiro-sem-um-segundo.


***


Eu sou a Realidade sem princípio, incomparável.

Não participo da ilusão do “eu” e do “tu”, do “isto” e do “isso”.

Eu sou Brahman, o um-sem-um-segundo, a bem-aventurança infinita, a Verdade eterna, imutável.


***


Sou o Senhor e o refúgio de todas as coisas.

Sou o destruidor de todos os pecados e impurezas.

Sou a pura e indivisível consciência. 

Sou a testemunha de todas as coisas.

Não tenho outro senhor além de mim mesmo.

Sou livre do significado do “eu” e do "meu".


***


Estou em todos os seres como o Atman, a Consciência Pura, o princípio de todos os fenómenos, internos e externos.

Sou ao mesmo tempo o que frui e a coisa usufruída.

Nos dias da minha ignorância, costumava pensar nestas coisas como separadas de mim mesmo. 

Agora sei que eu sou Tudo.


***


Em mim está o oceano da alegria, infinito, indiviso.

O vento de Maya sopra sobre ele, criando e dissolvendo as aparências deste mundo, como ondas.


***


Tomando a aparência pela realidade, as pessoas imaginam, na sua ignorância, que estou encerrado numa forma corporal e mental.

Do mesmo modo, imaginam que o Tempo, que é indivisível e contínuo, está dividido em ciclos, anos e estações.


***


Não importa o que a imaginação dos insensatos iludidos e ignorantes possa sobrepor à Realidade; a Realidade permanece imaculada.

A miragem de um grande rio não pode molhar as areias do deserto.


***


Como o éter, não posso ser contaminado.

Como o Sol sou diferente dos objectos que revelo.

Como a montanha, permaneço imóvel.

Como o oceano, sou ilimitado.


***


O céu não é confinado pelas suas nuvens. Eu não sou confinado pelo corpo.

Como posso ser afectado pelos estados de vigília, de sonho e de sono sem sonhos, meras condições corporais?


***


A minha forma exterior vem e vai. Age e prova os frutos das suas acções, definha e morre.

Mas eu permaneço, como uma grande montanha, firme e imóvel para sempre.


***


Não conheço nem o desejo, nem o fim do desejo, porque sou sempre o mesmo, incapaz de me dividir.

Como pode qualquer acção ser possível para aquele que é eterno, universal e infinito como o céu?

Em que deveria empenhar-se?


***


Sou desprovido de órgãos, de forma e de mente. Sou alheio à mudança. Sou a Consciência Pura e indivisa.

Como posso imiscuir-me na acção, seja ela justa ou iníqua?

As escrituras declaram que “o Atman permanece igualmente alheio ao bem e ao mal”.


***


O homem é diferente da sua sombra.

Não importa o que essa sombra venha a tocar, quente ou frio, bom ou mau,

ele permanece completamente intacto.


***


As propriedades dos objectos observados não afectam a testemunha que deles se mantém separada, sem apego.

Do mesmo modo, as propriedades de um aposento não afectam a lâmpada que as revela.


***


O Sol testemunha as acções, mas é distinto delas.

O fogo queima todas as coisas, mas é distinto delas.

A corda é confundida com uma serpente, mas continua sendo uma corda.

Do mesmo modo eu, o imutável Atman, a Consciência Pura, sou distinto desta forma aparente.


***


Eu não ajo nem faço os outros agirem,

não experimento nem faço com que os outros experimentem,

não vejo nem faço com que os outros vejam.

Eu sou o Atman, auto-iluminado, transcendente.


***


O Sol reflecte-se na água. A água move-se e o tolo pensa que é o Sol que se move.

O Atman reflecte-se nos corpos físico e mental.

Os corpos movem-se e agem, e o tolo pensa: “Eu ajo, eu vivencio, eu sou assassinado.”


***


O corpo pode cair morto na água ou na terra.

Não sou afectado por isso.

O éter contido num jarro não é afectado quando o jarro se parte.


***


Agir ou ter prazer, ser tosco ou astuto ou embriagado, ser livre ou escravo,

tudo isto são condições transitórias do intelecto.

Nada têm a ver com o Atman, que é Brahman, o absoluto, o um-sem-um-segundo.

Quer Maya passe por dez, cem ou mil transformações, que têm elas a ver comigo, se não participo delas?

Uma nuvem pode manchar o céu?


***


Todo este universo, de Maya até às formas físicas exteriores, é visto como uma mera sombra de Brahman.

Eu sou esse Brahman, o primeiro-sem-um-segundo, subtil como o éter, sem princípio nem fim.


***


Eu sou esse Brahman, o primeiro-sem-um-segundo, o princípio de todas as existências.

Torno manifestas todas as coisas. Dou forma a todas as coisas.

Estou em todas as coisas, mas nada me pode afectar.

Sou eterno, puro, imutável, absoluto.


***


Eu sou esse Brahman, o primeiro-sem-um-segundo.

Maya, a de múltiplos aspectos, está fundida em mim.

Estou fora do alcance do pensamento, sou a essência de todas as coisas.

Eu sou a verdade. Sou o conhecimento. Sou o infinito. Sou a bem-aventurança absoluta.


***


Estou para além da acção, sou a realidade imutável.

Não tenho partes nem forma. Sou absoluto. Sou eterno.

Não há nada que me sustente, eu sustento-me a mim mesmo. 

Sou o primeiro-sem-um-segundo.


***


Eu sou a alma do universo. Sou todas as coisas e estou acima de todas as coisas.

Sou o primeiro-sem-segundo. 

Sou Consciência Pura, única e universal. Sou alegria. Sou a vida eterna.


***


Mais uma vez vos saúdo, nobre senhor, meu mestre.

Pela suprema majestade da vossa graça, eu atingi este abençoado estado.

Sou soberano do reino de mim mesmo.


***


Até agora estive a sonhar.

No meu sonho, vagueei pela floresta da ilusão, de um nascimento a outro,

assediado por todos os tipos de atribulações e misérias, sujeito à reencarnação, ao declínio e à morte.

O tigre do ego atacou-me cruelmente, sem cessar.

Agora, pela vossa infinita compaixão, ó mestre, acordastes-me do meu sonho.

Libertastes-me para sempre.


***


Saúdo-vos, ó grande mestre.

Vós sois uno com Brahman.

Sois uno com a resplandecente luz que dissipa as sombras deste mundo.


***


A JÓIA SUPREMA


***


O discípulo encontrou a alegria do Atman no samadhi e despertou para sempre para a consciência da Realidade.

Agora prostra-se diante do seu grande mestre.


O mestre torna a falar-lhe, dizendo:

A nossa percepção do universo é uma contínua percepção de Brahman,

embora o homem ignorante não esteja disso consciente.

Este universo não é outra coisa senão Brahman.

Vê Brahman em toda a parte, sob todas as circunstâncias, com o olho do espírito e o Coração tranquilo.

Como podem os olhos físicos ver alguma coisa mais que os objectos físicos?

Como pode a mente do homem iluminado pensar em alguma outra coisa que não seja a Realidade?


***


Como pode um homem sábio rejeitar a experiência da suprema bem-aventurança

e deleitar-se com as meras formas exteriores?

Quando a Lua brilha com a sua sublime beleza, quem pensaria em olhar para uma Lua pintada?


***


A experiência do irreal não nos oferece nenhuma satisfação nem uma evasão da miséria.

Encontra satisfação na experiência da doce bem-aventurança de Brahman.

Devota-te ao Atman e vive feliz para sempre.


***


Ó nobre alma, assim deves passar os teus dias.

Vê o Atman em toda parte,

goza da bem-aventurança do Atman,

fixa o teu pensamento no Atman,

o primeiro-sem-um-segundo.


***


O Atman é uno, absoluto, indivisível. É Consciência Pura.

Idealizar nele formas múltiplas é como imaginar castelos no ar.

Sabe que és o Atman, o eterno bem-aventurado, o primeiro-sem-segundo,

e encontra a paz final.

Permanece absorvido na alegria que é silêncio.


***

 

Esse estado de silêncio é o estado de paz total, no qual o intelecto deixa de se ocupar com o irreal.

Nesse silêncio, a grande alma que conhece, e é una com Brahman, goza de pura e eterna bem-aventurança.


***


Para o homem que compreendeu o Atman como o seu verdadeiro ser,

e que experimentou a bem-aventurança íntima do Atman,

não existe alegria mais excelente do que esse estado de silêncio

no qual todos os desejos são mudos.


***


Não importa o que se esteja a fazer, andando, de pé, sentado ou deitado,

o vidente iluminado cujo deleite é o Atman vive na alegria e na liberdade.


***


Quando uma grande alma encontrou a perfeita tranquilidade,

pela libertação da sua mente de todos os pensamentos perturbadores,

e pela completa realização de Brahman,

já não necessita de lugares sagrados, disciplinas morais, horas fixas, posturas, instruções ou objectos para a sua meditação.

O seu conhecimento do Atman não depende de circunstâncias ou condições especiais.


***


Para se saber que um jarro é um jarro são exigidas condições especiais?

Basta que o nosso meio de percepção, os olhos, esteja livre de defeito.

Isso basta-nos para revelar o objecto.


***


O Atman está eternamente presente.

É revelado pela experiência transcendental,

que não depende de lugar, de tempo ou de rituais de auto-purificação.


***


Não preciso de nenhuma condição ou prova especial para saber

que o meu nome é Devadatta.

Analogamente, para um conhecedor de Brahman,

o conhecimento de que “eu sou Brahman” não requer nenhuma prova.


***


O Atman, cintilando com a sua própria luz, causa este universo aparente.

Mas como pode alguma coisa neste universo revelar o Atman?

Fora do Atman, essas aparências são desprezíveis, incorpóreas, irreais.


***


Os Vedas, os Puranas*, todas as escrituras e todas as criaturas vivas só existem porque o Atman existe.

Como pode qualquer um deles revelar o Atman, que é o revelador de todas as coisas?


- * Puranas – textos religiosos hindus antigos, que se referem a várias divindades, narrando os seus feitos e elogiando as suas qualidades, para além de conterem, nomeadamente relatos sobre a criação do universo, cosmologia, filosofia, genealogia de reis. -


***


O Atman brilha com a sua própria luz.

O seu poder é infinito. Está para além do conhecimento dos sentidos.

É a fonte de toda a experiência.

Aquele que conhece o Atman está livre de todos os tipos de servidão.

Repleto de glória é o maior entre os maiores.


***


As coisas percebidas pelos sentidos não lhe causam dor nem prazer.

Não lhes está apegado, nem tão-pouco as evita.

Comprazendo-se constantemente no Atman, está sempre no seu íntimo, como quem brinca.

Experimenta a doce e eterna bem-aventurança do Atman e sente-se feliz.


***


A criança brinca com os seus brinquedos e esquece-se da fome e da dor física.

De maneira análoga, o conhecedor de Brahman retira o seu deleite do Atman e esquece-se do pensamento do “eu” e do “meu”.


***


Obtém o seu alimento com facilidade, pedindo esmola, sem cuidados nem ansiedades.

Bebe no riacho límpido. Vive livre e independente. Dorme sem medo na floresta ou no chão da cremação.

Não precisa lavar e secar as suas roupas, porque não as usa.

A terra é a sua cama.

Brilha no caminho do Vedanta.

O seu companheiro é Brahman, o eterno.


***


O conhecedor do Atman não se identifica com o seu corpo.

Permanece no seu interior como dentro de uma carruagem.

Se lhe oferecem comodidade e luxo, desfruta-os e brinca com eles como uma criança.

Não tem sinais exteriores de um homem santo.

Permanece perfeitamente desapegado das coisas deste mundo.


***


Pode usar roupas caras, velhas ou nenhuma roupa.

Pode vestir-se com pele de gamo ou de tigre, ou com o puro conhecimento.

Pode parecer um louco, ou uma criança, ou às vezes um espírito impuro.

Assim vagueia pela Terra o santo conhecedor do Atman.


***


O homem contemplativo caminha sozinho.

Vive sem desejo no meio dos objectos do desejo.

O Atman é a sua eterna satisfação.

Vê o Atman presente em todas as coisas.


***


Às vezes parece um néscio, outras sábio.

Às vezes parece esplêndido como um rei, outras mendigo.

Às vezes é calmo e calado.

Às vezes atrai os homens a si, tal como uma jibóia atrai a sua presa.

Às vezes as pessoas veneram-no, outras insultam-no.

Às vezes ignoram-no.

Assim vive a alma iluminada,

sempre absorta na suprema bem-aventurança.


***


Não tem riquezas, mas está sempre feliz.

É desabrigado, mas provido de um grande poder.

Não usufrui nada, mas está sempre satisfeito.

Não tem igual, mas vê todos os homens como seus iguais.


***


Ele age, mas não é limitado pela acção.

Colhe os frutos das acções passadas, mas não é afectado por eles.

Tem um corpo, mas não se identifica com ele.

Parece ser um indivíduo, mas está presente em todas as coisas, em toda a parte.


***


O conhecedor de Brahman,

que vive livre da consciência corporal,

nunca é atingido pelo prazer ou pela dor,

pelo bem ou pelo mal.


***


Se o homem se identificar com os envoltórios materiais e subtis dentro dos quais habita,

experimentará o prazer e a dor, o bom e o mau.

Mas nada é bom ou mau para o sábio contemplativo,

porque compreendeu o Atman e os seus grilhões caíram por terra.


***


Durante um eclipse solar, o Sol é encoberto pela Lua.

O ignorante, que não entende o que aconteceu, diz que o Sol foi devorado por um demónio.

No entanto, o Sol nunca pode ser devorado.


***


Do mesmo modo, o ignorante vê o corpo de um conhecedor de Brahman e identifica-o com ele.

Em verdade, ele está livre do corpo e de qualquer outro tipo de servidão.

Para ele, o corpo não passa de uma sombra.


***


Habita no corpo, mas vê-o como uma coisa separada dele, como a pele abandonada de uma cobra.

O corpo move-se de lá para cá, impelido pela força vital.


***


Um toro é levado pelo rio para um lugar mais baixo ou mais alto.

O corpo do conhecedor de Brahman, transportado pelo rio do tempo,

usufrui ou padece os efeitos das acções passadas.


***


Em vidas passadas, enquanto ainda permanecia na ignorância, produziu alguns karmas.

Na vida actual usufrui ou sofre os seus efeitos.

Depois de alcançar a iluminação deixou de se identificar com o corpo.

O seu corpo move-se entre os objectos externos e aparenta usufruir ou padecer os efeitos das acções passadas,

tal como um homem que continua ignorante.

Na verdade, vive em Brahman e só habita o corpo como um espectador sereno, desprendido.

A sua mente está livre de toda perturbação e mantém-se impassível, como o eixo de urna roda.


***


Não dirige os seus sentidos para os objectos exteriores nem deles os retira.

Permanece como um espectador indiferente.

Não deseja nenhuma recompensa pelas suas acções, porque está inebriado pelo Atman,

o néctar da pura alegria.


***


Aquele que renuncia à busca de qualquer objectivo,

seja neste mundo ou mesmo no céu,

e permanece absorto no Atman, 

é na verdade o próprio Shiva.

É o excelente conhecedor de Brahman.


***


Embora habite no corpo é eternamente livre.

Atingiu a meta abençoada.

É o excelente conhecedor de Brahman.

Quando o corpo o abandona, ele funde-se com Brahman,

o um-sem-um-segundo.


***


Todo o actor é sempre a mesma pessoa,

mesmo quando vestido para desempenhar um papel.

O admirável conhecedor de Brahman é sempre Brahman, e nada mais.


***


Quando uma alma iluminada alcançou a unidade com Brahman,

o seu corpo pode definhar e cair em qualquer lugar,

como a folhagem murcha de uma árvore.

Que importa?

Se já se libertou da consciência corporal, consumindo-a no fogo do conhecimento.


***


A alma iluminada vive eternamente consciente da sua unidade com Brahman,

o primeiro-sem-segundo.

Ao despojar-se dessa roupagem de pele, carne e osso,

não precisa considerar se o lugar, a época e as circunstâncias são apropriados.


*** 


Estar livre do corpo não é libertação.

Tão-pouco um homem é libertado por formas exteriores de renúncia.

A libertação consiste em desfazer o nó da ignorância no Coração.


***


Uma árvore ganha ou perde alguma coisa,

porque as suas folhas caem num fosso

e não num rio, ou num terreno sagrado,

em vez de caírem em campo aberto?


***


A destruição do corpo, dos órgãos sensoriais, da respiração vital e do cérebro,

é como a destruição de uma folha, de uma flor ou de um fruto.

Porém o Atman, como a árvore, permanece de pé, não é afectado.

É o Eu real, o verdadeiro Ser, a personificação da alegria.


***


As escrituras definem o Atman como “Consciência Pura” expondo assim, que ele é a eterna verdade.

Só os envoltórios exteriores morrem; são compostos de ignorância e ocultam o Atman.


***


As escrituras dizem que “O Atman é imortal”,

apontando que permanece indestrutível

entre as coisas que mudam e perecem.


***


Pedras, árvores, relva, grãos, palha, roupa e todas as outras substâncias,

quando queimadas, são reduzidas a cinzas.

O corpo, os sentidos, as forças vitais, a mente e todas as outras manifestações físicas,

quando consumidas pelo fogo do conhecimento, tornam-se Brahman.


***


A escuridão funde-se na luz do Sol, o seu oposto.

Este mundo aparente funde-se em Brahman.


***


Quando se parte uma vasilha, o éter que está dentro dela torna-se uno com o éter circundante.

Quando os envoltórios são destruídos, o conhecedor de Brahman torna-se Brahman.


***


Quando se despeja leite no leite, óleo no óleo, água na água, misturam-se em absoluta unidade.

O vidente iluminado, o conhecedor do Atman, toma-se uno com o Atman.


***


Aquele que se libertou nesta vida

alcança a libertação na morte

e une-se eternamente com Brahman,

a Realidade absoluta.

Esse iluminado jamais renascerá.


***


Sabe que é uno com Brahman e que consumiu os envoltórios da ignorância no fogo desse conhecimento.

Assim, tornou-se Brahman.

Como pode Brahman estar sujeito ao nascimento?


***


De modo análogo, tanto a servidão como a libertação são invenções da nossa ignorância.

Não existem realmente no Atman, tal como um pedaço de corda continua sendo corda,

quer o confundamos ou não com uma serpente.

A suposta serpente não existe realmente na corda.


***


As pessoas falam de escravidão e libertação,

aludindo à presença ou à ausência do véu da ignorância.

Na realidade, Brahman não tem envoltório.

Não existe outro senão Brahman, o primeiro-sem- segundo.

Se houvesse um envoltório, Brahman não seria único.

As escrituras não admitem tal dualidade.


***


Servidão e libertação existem apenas na mente,

mas o ignorante atribui-as falsamente ao próprio Atman,

da mesma forma que afirmam estar o Sol escurecido

quando está apenas coberto por uma nuvem.

Brahman, o primeiro-sem-segundo, a realidade imutável, permanece independente.

É Consciência Pura.


***


Imaginar que o Atman pode ser escravizado ou libertado é falso.

Tanto a servidão como a libertação são estados mentais.

Nenhum deles pode ser imputado a Brahman, a realidade eterna.


***


Tanto a servidão como a libertação são fantasias da ignorância.

Não estão no Atman.

O Atman é infinito, sem partes, está além da acção.

É sereno, imaculado, puro.

Como podemos imaginar a dualidade de Brahman,

que é inteiro como o éter, sem-um-segundo, a realidade suprema?


***


Não existe nem nascimento nem morte,

nem alma limitada ou magnificente,

nem alma libertada ou em busca da libertação.

Esta é a verdade final e absoluta.


***


Revelei-te hoje o mistério supremo.

A mais recôndita essência de todo o Vedanta.

A suprema jóia de todas as escrituras.

Considero-te o meu próprio filho,

um verdadeiro aspirante à libertação.

Estás purificado de todas as máculas desta época de trevas e a tua mente está livre do desejo.


***






***


Ao ouvir estas palavras do seu mestre, o discípulo prostrou-se diante dele com reverência.

Com a bênção do mestre, seguiu o seu caminho, livre da servidão da ignorância.


O mestre também seguiu o seu caminho, levando pureza ao mundo inteiro,

com a mente submersa no oceano da existência e da alegria absolutas.



***






***



Neste diálogo entre mestre e discípulo, a verdadeira natureza do Atman foi exposta de modo a que os aspirantes à libertação a compreendam facilmente.


Possam os aspirantes espirituais à libertação, que se desembaraçaram de todas as impurezas do coração pela prática de obras altruístas, que são adversos aos prazeres mundanos, que se deleitam nas palavras das escrituras, cujas mentes entraram na paz, acolher com devoção estes benignos ensinamentos.


E àqueles, que por ignorância vagueiam no deserto deste mundo, trilhando o círculo da morte e do renascimento, cansados, sedentos e oprimidos pela miséria como pelos raios abrasadores do Sol, possam também estes ensinamentos revelar Brahman, o primeiro-sem-um-

espraia diante dos nossos próprios pés. Que estes ensinamentos de Shankaracharya coroem de êxito os seus esforços e os conduzam à libertação.



Templo Vidyashankara em Shringer



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José Maria Alves


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