***
como é feliz o homem
que não segue
o conselho dos descrentes
que não se detém
no trilho dos pecaminosos
que não se reúne
com os viciosos
que põe toda a sua esperança
na palavra do senhor
nela meditando dia e noite
é como árvore plantada
à margem de água corrente
ou que junto de um nascente
dá fruto na estação própria
e a sua folhagem não fenece
tudo o que o crente produz
é um bem que se parece
com a mais pura luz
o descrente
é como palha
que o vento leva
e para sempre espalha
o senhor tudo conhece
seja a verdade dos justos
seja a falsidade dos corruptos
uns vivem no seu coração
outros na chama da perdição
***
porque se revoltam as nações
e os povos fazem planos insensatos
revoltam-se os reis terrenos
príncipes maquinam juntos
contra o senhor e contra o seu ungido
dizem
quebremos os grilhões
e lancemos para longe o seu domínio
a terra animais o prazer a lascívia
vinho alimentos sexo
são as valias do nosso império
para que necessitamos nós
no nosso viver de valores e regulamentos
de um senhor que não vemos
o senhor sorri complacente
confunde-os na sua ignorância
de meros vasos de argila
instiga-os ao conhecimento da verdade
à libertação da maldade
para que com temor o sirvam
e façam do amor seu forte
e com piedade se afastem
da eterna morte
***
senhor são tantos os meus inimigos
tantos são os que se levantam contra mim
dizem
nem deus o poderá salvar
mas tu
senhor
és o meu escudo protector
és a minha glória
quem me faz erguer a cabeça
invoco-te senhor
a ti que da montanha santa
me socorres
e libertaste do temor
deito-me pensando em ti
adormeço em teus braços
acordo com o teu nome
vivo em oração permanente
já não sou eu que vivo
és tu que vives em mim
não temo os homens
não temo multidões
não temo as feras
nem os demónios
que de todos os lados me cercam
quebraste as lanças do inimigo
os dentes dos que me assediam
rasgaste o corpo do maligno
senhor tu estás comigo
tu és a salvação
dos que te amam
desça sobre nós a tua bênção
***
quando te invocar
escuta-me senhor
minha justiça e meu amor
libertaste-me
da angústia
do medo
da depressão
dos desejos
e dos apegos
senhor
de mim tem compaixão
ouve a minha oração
os homens desprezaram
a tua grandeza
a tua misericórdia
amam
a ilusão e a mentira
a falsidade e a discórdia
o ouro e a corrupção
a riqueza e a luxúria
que estremeçam de temor
e não voltem a pecar
na paz do silêncio
meditem todos eles nos seus leitos
na sua vida e morte
confiando a sua sorte
nas mãos do senhor do cosmos
eu vivo em paz
em oração incessante
e tu
derramaste no meu rosto
a luz da tua face
preencheste o meu coração
mais do que vinho e pão e mulheres
ou riquezas ornamentos prata e oiro
palácios carros e cavalos ornados de jóias
preciosidades impuras e impermanentes
o pouco que me deste é muito
em paz me deito
em paz adormeço
em paz me levanto
em paz vivo elevado
quando durmo
contigo sonho
quando vigio
em ti me estabeleço
sem quebrar os elos da esperança
sei senhor que quando a ti recorro
que quando te imploro
em ti está a minha segurança
***
ouve senhor as minhas palavras
recebe no teu seio a minha prece
escuta a voz do clamor
que nasce do meu coração
quando te elevo a minha oração
ouve-me logo que me levanto
as minhas palavras e sentimentos
são-te dirigidos senhor
o sol nasce
perante ti
me confesso
a ti me entrego
aguardo confiante
tu és um deus do bem
repudias o mal
da tua mesa são arredados os pecadores
os arrogantes os iníquos os falsos
os violentos perversos e avarentos
pela grandeza do teu amor
entrarei na tua mansão
no templo santo da justiça
no santo amor do perdão
defende-me do maligno
da sua boca imunda
da malícia que me mortifica
e me procura seduzir e tentar
a sua garganta
é um sepulcro aberto
a sua língua
um campo de morte
a sua imagem
terrível ilusão
suas ofertas
perdição e queda
eu amo o teu nome senhor
não tenho outro amigo
envolve-me no teu manto protector
defende-me com o teu escudo
do inimigo
diante de mim aplana o teu caminho
***
senhor não me condenes
nem me castigues
senhor
tem piedade de mim
porque desfaleço neste tormento
cura-me
sinto-me alquebrado
a minha alma
está desassossegada
vem a mim senhor
salva a minha vida
põe fim à minha dor
livra-me do mal
pela tua clemência
não suporto mais a tua ausência
esgotado por gemidos
choros e lamentos
vagidos e ais
com o leito alagado
de lágrimas ardentes
mirram-se os meus olhos
consumidos pela tristeza
nesta terrífica depressão
haverá quem te louve na mansão dos mortos
não
em ti creio
a ti desejo
ouve a minha oração
***
senhor a ti me confio
liberta-me dos que me perseguem
salva-me
que não seja dilacerado pelas feras
que os homens não me torturem
rasgando-me impunes as vísceras
mas
se algum mal fiz em vez do bem
se há injustiça nas minhas mãos
se há sangue na minha túnica
se ludibriei o meu único amigo
se ao pobre não acudi
se caluniei o inocente
se difamei o inofensivo
se o fraco agredi
se uma ou três vezes te neguei
julga-me senhor pela tua justiça
dou-te por penhor
a minha vida
que entrego às cinzas e ao pó
tu és o justo o santo dos santos
o que vê o invisível
o coração dos ímpios e inocentes
a intenção dos que retesam o arco
e que afiam as suas espadas
que trespassam o bem com as setas
e o corpo do homem com lâminas
cavam a sua eterna sepultura
retornam ao pó da terra
feridos de morte pelas suas armas
que deus seja louvado
pela justiça
que destinou ao inculpado
***
senhor tu és o nosso deus
notável é o teu nome
até aos confins da terra
tua majestade
mais elevada que os céus
das crianças e dos pequeninos
fizeste uma fortaleza
contra teus inimigos
dos meninos
fizeste os mais sérios amigos
quando enlevado contemplo os céus
a lua e as estrelas que com amor criaste
penso
quem serei eu para que te lembres de mim
quem é o efémero filho do homem
para que te preocupes
criaste um ser quase divino
a quem coroaste de glória
e que se apropriou das tuas obras
submeteste ao seu poder
as árvores e os seus frutos
a madeira para se aquecer
rebanhos e animais selvagens
aves do céu e peixes do mar
bendito seja o teu nome
***
quero louvar-te senhor
com todo o meu coração
e o meu amor
ser a voz da tua palavra
das tuas maravilhas
exultarei de alegria
cantar-te-ei salmos
os inimigos que me afrontam
estremecem e abandonam a minha alma
tropeçam e arrastam-se na poeira
vencidos por tua autoridade
batem em retirada
és tu que me defendes
que sensato me julgas
ó justo juiz
tu és
o refúgio do humilde
a capa do oprimido
a defesa do injustiçado
o repouso do angustiado
o alimento do pobre
a esperança dos infelizes
és
o que não abandona os que te buscam
que persegues os assassinos da alma
que proteges os justos do luto e da morte
o que julga com equidade
com o ceptro da verdade
senhor tem piedade de mim
que eu não veja a mansão dos mortos
que minha alma seja um forte
livrai-me dos portais da morte
***
senhor estás distante
és um deus escondido
porque é que te encobres
neste tempo de angústia
e de melancolia
o ímpio atormenta o infeliz
o pecador alardeia seu desejo e apego
o ambicioso maldiz e desvenera-te
o perverso diz
deus não existe
é uma ilusão do medo
nunca serei castigado
hei-de
vencer
prosperar
enriquecer
jamais serei enfraquecido
não serei um desgraçado
sua boca é um ataúde fendido
em si vive
a maldição a mentira
a malícia e maldade
de tocaia elimina os seus inimigos
mata o inocente e despreza os amigos
vive para o ouro e para o poder
escondido como o leão no seu covil
prepara emboscadas para assaltar o indefeso
arrojando-o na sua rede de malha estreita
vede como o lucro o cegou
o poder o manietou
o sexo o transtornou
com as garras da ganância
dilacera os pobres
de deus olvida a vigilância
estupra furta corrompe mente
vive à custa do pão dos desvalidos
corre atrás do lucro como um demente
julgando que viverá para sempre
senhor lembra-te
dos miseráveis
dos desvalidos
dos desprezados
dos oprimidos
dos humildes
dos humilhados
dos injustiçados
dos que te temem
que te amam
e a ti se entregam
és o amparo das viúvas e dos órfãos
dos sem-abrigo e repudiados
dos que pelos ambiciosos foram espoliados
conforta-os no seu triste coração
qual a razão pela qual o iníquo despreza deus
e diz no seu coração manchado pelo vício
que tu não castigas a impiedade e a iniquidade
tu que vês a angústia e o pesar
tu que tudo com rigor examinas
quebra os membros do ímpio e do pecador
pune a sua malícia libertinagem e despudor
ouve senhor o grito dos humildes
e que ninguém nesta terra
volte a espalhar a morte e o terror
***
não tenho medo
angústia ou pavor
refugio-me no senhor
repito incessante o seu santo nome
adormeço e oro
acordo e dou graças
como ousais dizer-me
foge para o monte como as aves
como os animais selvagens
o maligno retesa o arco
alinha as flechas
dispara às ocultas
contra os de coração recto
que me poderá acontecer
o senhor habita o monte sagrado
seus olhos contemplam o mundo
suas pupilas examinam os filhos dos homens
investiga o que é justo e o blasfemo
abomina os que amam a violência
sobre os iníquos hão-de cair
carvões acesos e enxofre
e um vento tormentoso
será a taça que lhes cabe
porque o senhor
é justo
ama a justiça
o amor e a caridade
os homens honrados
contemplarão o seu rosto
***
os justos
extinguem-se na terra
onde poderemos encontrar um deles
numa ilha deserta
numa gruta na serra
entre os filhos dos homens
não há lealdade
há mentira
não há amizade
há hipocrisia
não há pureza
há um coração vazio
o humilde baixa a sua cabeça
o pobre geme em surdina
o rico espezinha a tua palavra
que é prata lavada no cadinho
com zelo sete vezes refinada
pela agonia dos simples
dos gemidos dos pobres
dos gritos dos oprimidos
ergue-te senhor
salva os desprezados
acode aos desesperados
***
esqueceste-me senhor
até quando
até quando encobrirás o teu rosto
a minha alma está perturbada
o coração angustiado
o maligno triunfa na minha vida
ilumina-me
não permitas
que adormeça na morte
que o mal vença a minha mente
que a minha alma seja discórdia
confio na tua misericórdia
***
não há quem faça o bem
diz o insensato
não há deus
como é tolo agindo maliciosamente
corrupto ratoneiro embusteiro ganancioso
dissimulado trapaceiro e traiçoeiro
onde estão os que disseminam o bem
quantos há neste mundo de gente
onde estão que os não vejo
o senhor olhou por entre as nuvens
buscando um só crente sensato
que incessante o busque no coração
viu filhos do homem
extraviados e corrompidos
pela carne e pelo oiro
onde estão os que fazem o bem
os iníquos devoram o povo
como quem come o pão
descurando o senhor
sem que compreendam
a verdade doada pelo amor
o senhor é o abrigo
a fortificação e libertação
dos necessitados
***
senhor
quem poderá
habitar no teu santuário
quem poderá
morar na tua montanha santa
o que vive uma vida sem mácula
que é justo e verdadeiro
cuja boca não difama nem injuria
que mal não faz ao próximo
nem causa prejuízo a ninguém
que despreza o que é desprezível
que não falta à palavra e ao juramento
mesmo que contrário ao seu bem
que não empresta dinheiro com usura
nem se deixa subornar contra o inocente
quem assim proceder
há-de viver para sempre
***
em ti me amparo senhor
defende-me do maligno
e da malícia dos homens
tu és o meu deus
és o meu bem
sem ti nada sou
és o primeiro sem causa
o derradeiro sem fim
aquele que a mim me abriga
não confio nos ídolos
e nos seus sacerdotes
na palavra dos homens
e nos seus deleites
em ti creio
oiço teus conselhos
durante todo o santo dia
ou no sossego da noite escura
a ti te tenho
perante os meus olhos
no âmago do meu coração
que se alegra e me faz exultar
ensina-me o caminho
sacia-me com a tua presença
meu destino está nas tuas mãos
***
senhor ouve a minha causa
atende meu clamor
escuta a minha oração
que é sincera
como o é a minha dor
que seja tua
a minha sentença
para que seja justa
examina o meu coração
mesmo durante o sono
sujeita-me à prova de fogo
a minha boca nada transgrediu
conservei-me fiel às tuas palavras
dirigi meus passos por duras veredas
os meus pés não tremeram nos teus caminhos
responde-me senhor
escuta as minhas palavras
invoco tua misericórdia
a ti que salvas os inocentes
dos atacantes
protege-me como à pupila dos teus olhos
guarda-me na sombra das tuas asas
longe dos que me fazem violência
dos inimigos mortais que me rodeiam
e que me julgam segundo a aparência
são como leão à espera da gazela
livra-me dos homens
sacia-me com a tua presença
nesta vida e na morte
***
senhor amo-te
és a minha rocha
fortaleza e amparo
és o abrigo
em que me refugio
o meu escudo
o meu bastião de defesa
invoquei o teu santo nome
salvaste-me do maligno
fui cercado pelos sorvedouros da morte
vagas arrasadoras cobriram-me de terror
fui rodeado pelos laços do abismo
lançaram-me redes de cerco inevitáveis
na angústia invoquei o senhor
deus ouviu a minha voz
o meu clamor
a terra tremeu
as montanhas vibraram
dispersou os meus inimigos
recolheu-me das águas torrenciais
livrou-me do maligno
contendores mais fortes do que eu
recompensou a minha rectidão
a pureza das minhas acções
dos meus pensamentos e intenções
segui o seu caminho
do pecado apartado
fui-lhe fiel
leal e humilde
o senhor acendeu em mim o fogo celeste
iluminou para sempre as minhas trevas
o seu caminho
é irrepreensível
a sua palavra
testemunhada pelo fogo
protege
os que nele confiam
e todos os que o amam
aplanou o meu caminho
a sua direita sustentou-me
a sua bondade fez-me engrandecer
dispersou o maligno tal poeira carreada pelo vento
e libertou-me das terríficas garras do homem violento
por isso eu louvo-te senhor
entre todos os povos terra
e entoarei hinos ao teu nome
senhor meu amo e meu amor
***
os céus
glorificam o nome de deus
as estrelas anunciam suas obras
o dia diz ao dia o que foi dito
a noite di-lo à outra noite
seu eco ressoou por toda a terra
sua palavra até aos confins do mundo
a lei do senhor é perfeita
consola o espírito
as suas ordens têm autoridade
sabedoria dos simples
os seus mandamentos são rectos
deleitam o coração
os seus preceitos são claros
iluminam os olhos
o temor ao senhor
é puro e permanente
suas sentenças
são justas
mais apetecíveis que o ouro
mais doces que o mel puro
eu sei que não é fácil
examinar os próprios erros
e todos os nossos pecados
somos imperfeitos
perdoa-me do mal que fiz e sei
e do mal que fiz sem que o saiba
defende-me da arrogância do orgulho da raiva
do desejo da riqueza e da maldade
que eu seja simples e humilde
a teus olhos irreprovável
imune a falta grave
***
que o senhor te responda
no dia da angústia
e o nome do deus de jacob te defenda
que te socorra
e acompanhe do monte sagrado
que relembre
todas as tuas preces
que acolha
a tua renúncia
conceda
paz ao teu coração
concretize
sua presença em tua alma
aí cantarás
hinos de louvor
encantado por um único amor
serás o seu ungido
o seu filho preferido
uns confiam nos carros ornamentados
por pedrarias ouro metais preciosos
nos seus cavalos de batalha
nos seus palácios tesouros mulheres
amantes soldados e escravos
nós confiamos no senhor
eles os vencidos
nós os vencedores
***
senhor
teu poder é meu júbilo
rejubilo no teu auxílio
saciaste o desejo
do meu coração
não recusaste
meus pedidos
concedeste-me
uma vida longa
preencheste-me
com tua presença
com o teu amor me ungiste
nada temo na terra e no mar
não há quem me possa matar
a tua direita aniquilará
os que te detestam
os que amam a traição
serão reduzidos a cinzas
na fornalha ardente
devorados pelo fogo
serão banidos da terra
ergue-te senhor
permite que te ame
no mais puro amor
***
meu deus meu deus
porque me abandonaste
porque rejeitaste meu lamento
meu grito de socorro
clamo por ti durante o dia
e não me respondes
clamo por ti à noite
e não tenho conforto
os que em ti confiaram foram libertados
do jugo do sofrimento e foram salvos
não permitiste que fossem confundidos
ou pelo maligno ferozmente atormentados
sou um parasita não um homem
sou a desonra dos senhores
tenho a vista turva porque sou pecador
o povo escarnece quando me vê
proferem injúrias em surdina
condenam-me com seus olhares
dizem
confiou no senhor
ele que o liberte
se é seu amigo
que seja o seu salvador
pertenço-te senhor
não me abandones na aflição
estou só
cercam-me touros em manada
seus chifres preparam a minha morte
como ferozes leões com suas garras
estou abandonado à minha sorte
os meus ossos desconjuntam-se
meu coração transformou-se em cera
derramada por todo o meu peito
tenho a garganta seca como barro
estou rodeado por matilhas de cães selvagens
por bandos de malfeitores
que perfuraram minhas mãos e pés
dividem entre si
as minhas vestes
e sorteiam a minha túnica
vem senhor
não me desabrigues
ampara-me
tu que abrigas os pobres nas tuas asas
dá-lhes do teu pão e serão saciados
aos que te procuram
faz com que vivam
para sempre seus corações
em todas as nações
***
o senhor é meu pastor
não há nada que me falte
em verdes prados me faz repousar
conduz-me às águas que refrescam
o corpo cansado e a alma confusa
conforta a minha alma
guia-me no teu caminho
mesmo que cruze vales sombrios
de nenhum mal terei medo
tu estás comigo
não há mais lugar para o maligno
a tua vara e teu cajado meu senhor e amigo
não me deixam estremecer
ninguém pode matar o meu corpo
nada tenho a temer por nada tremerei
ungiste-me com óleo
serviste-me
e a taça transbordou
por tua compaixão
e amor
estarei contigo
meu amo
minha bondade
e amor
agora senhor
na hora da morte
e eternamente
***
a terra e o que nela existe
o mundo e os que nele habitam
são actos do senhor
quem poderá subir à montanha sagrada
o inculpado
de coração puro
que não deseja o mal
nem as coisas mundanas
ou o luxo das festas nas cidades
este arrecadará o prémio
que o senhor seu salvador
guardou para si
porque buscou em vida
o rosto do deus de jacob
nas cavidades profundas
do seu coração
***
para ti senhor
elevo o meu espírito
em ti confio
mostra-me teus caminhos
as tuas veredas
tu és a verdade
compaixão
amor
o meu salvador
esquece os meus pecados
erros e imperfeições
faz com que o pecador
encontre o teu caminho
guia os humildes
pela vereda da justiça
da fidelidade e do amor
eu oiço o teu clamor
a voz da tua aliança
e temente te peço
liberta-me do pecado
da minha solidão
de todo este sofrimento
e angústia do coração
salva-me
que em ti confio
deus da rectidão
e da compaixão
***
faz-me justiça deus meu
tenho vivido com rectidão
no caminho da verdade
não tomo assento com criminosos
não me dou com traidores
nem sequer com malfeitores
com os que subornam
e com os que se deixam corromper
estou inocente
perante ti
no teu altar sagrado
lavo as minhas mãos
olha-me nos olhos
vejo a tua bondade
não abandono a tua verdade
purifica o meu coração
***
senhor
tu és a luz
que ilumina o caminho
tu a minha salvação
tu o vinho novo
da minha existência
terei de alguém medo
haverá alguém que me assuste
não
nem inimigos
nem malvados
nem opressores
celerados
desalmados
cruéis
e malditos
mesmo que exércitos me cerquem
e o meu corpo pela espada matem
não terei medo
porque o senhor é fiel aos que o desejam
e o que minha alma quer
é habitar na sua casa
no seu santuário sagrado
onde abunda a felicidade e o encanto
templo inviolado
da paz na eternidade
mas se possível
deixa que ainda nesta terra
seja por ti acolhido
mesmo que por todos abandonado
mesmo que falsamente acusado
não desvies
deste teu servo
teu santo rosto
***
tu és a minha rocha
não fiques surdo à minha voz
não emudeças às minhas súplicas
eu dedico-te
as minhas orações
dia e noite
até quando durmo
te guardo no meu coração
a ti ergo as minhas mãos
não seja eu igual
aos que descem à sepultura
ainda nesta vida
pecadores
iníquos
pagãos
e salteadores
aos que apregoam a paz
mas que nos seus actos
só existe impiedade
tu és a minha força
tu és o meu escudo
guia-me no caminho do bem
***
orai ao senhor
a sua voz ressoa
em toda a terra
e sobre as águas
honra e glória
ao seu nome
que tudo pode
da terra fértil
ao deserto
orai ao senhor
rei eterno
pai dos infelizes
e dos perseguidos
e vossa alma
será inundada de paz
***
senhor salvaste-me
por ti clamei
e curaste-me
livraste-me
da mansão dos mortos
do túmulo imundo
quando a noite cai
com ela vem o pranto
quando a aurora raia
com ela vem a alegria
se estás perto
abunda no meu ser
a felicidade
se te ausentas
e deixo de te ter
nasce em mim
a angústia
e a ansiedade
***
refugio-me em ti
inclina os teus ouvidos
na minha direcção
ouve a minha oração
liberta-me
fortaleza impenetrável
guia-me a mim
que sou um miserável
o meu espírito
deposito nas tuas mãos
tu que és a minha salvação
libertaste-me do maligno
e de quantos mal me querem
nos meus olhos
já tristeza não existe
o meu corpo
não mais definhou
tenho forças para combater
as ameaças que me assolam
já se não ouvem meus gemidos
o meu destino está nas tuas mãos
os meus anos vividos e por viver
pertencem-te senhor
a luz da tua face
desceu sobre mim
prostrado
assim a recebo
***
feliz a quem é perdoada a culpa
e absolvido do pecado
e que não é acusado de iniquidade
as minhas forças estavam no fim
confessei-te minhas culpas e pecados
meus muitos erros e imperfeições
perdoaste-me
e de ti me aproximaste
dando-me a mão
mostrando-me o caminho
para a libertação
abençoando-me com a salvação
és o deus verdadeiro
meu único conselheiro
***
louvai o senhor
com a cítara
com a harpa de dez cordas
que se ouçam vossos cânticos
na terra por si criada
de bondade por si inundada
sua palavra criou os céus
juntou as águas dos oceanos
ama a rectidão e a fidelidade
o amor e a justiça
ele é o senhor
que nos liberta da fome e da guerra
que formou o nosso coração
***
o senhor louvarei
seja na desgraça
seja na alegria
os meus lábios
pronunciam
e pronunciarão sempre
o seu sagrado nome
a minha alma glorifica-se
que pobres e humildes
o saibam e exultem
o senhor respondeu-me
no meu coração
libertou-me do pânico
e dos meus medos
a minha face é pacífica
já não estou abatido
e consumido pela depressão
pela angústia
pelo medo do perigo
temo o senhor
não sou como os ricos
que têm fome de amor
cujas bocas estão podres
e os corações mortos
corruptos e mentirosos
ladrões e viciosos
nada me há de faltar
seja na pobreza
seja na prosperidade
porque estou liberto
do mal e da privação
do seu amor eterno
bem e felicidade
que guardo no coração
***
julga senhor
os que me acusam
estou inocente
combate os que me combatem
que falsos testemunhos levantam
vem em meu auxílio
a minha alma ouve-te
tu és a minha salvação
confunde e envergonha
os que intentam tirar-me a vida
que premeditam a minha desgraça
para que fujam humilhados
como palha levada pelo vento
que os teus anjos os persigam
e expulsem do meu caminho
que sejam eles a cair na armadilha
que para mim montaram
não permitas
que o bem que faço
pelo mal seja pago
visto-me como um penitente
o meu corpo jejua
a minha oração é constante
não fiques em silêncio
não te afastes de mim
és tu que libertas
o desvalido do prepotente
o miserável e o pobre
do rico que os explora
faz-me justiça
***
o ímpio tem a lei do pecado no coração
para ele não existe penitência ou oração
não teme o senhor
a sua vida é uma ilusão
sem que tenha amor
falso e mentiroso
desonesto e infiel
avarento e orgulhoso
com o seu irmão
é desonesto e mau
como desalmado
inundado pelo pecado
tudo o que tem
é tudo o que ele é
trocou o bem
pelo maléfico
mas a tua justiça
é como os montes mais altos
e os abismos mais profundos
refugio-me debaixo
das tuas asas brancas
no leito da tua casa
no rio da tua bondade
tu és a fonte da vida
a luz da luz
que brilha e se reflecte
como única maravilha
no meu coração
***
que os malfeitores não te irem
não invejes os injustos que enriquecem
não invejes os que no mal prosperam
os corruptos e trapaceiros
violentos e desordeiros
que comem o pão dos necessitados
nem os que vivem de intrigas
calúnias e difamações
os que desembainham a espada
e retesam o arco
para abaterem o pobre e o desvalido
depressa hão-de secar como o feno
e murchar como a erva verde no verão
e a sua espada irá trespassar-lhes o coração
e o seu arco será quebrado
a pobreza do justo
vale cem mil vezes mais
do que a riqueza do injusto
liberta-te do ódio
e abandona a indignação
não te inquietes
nem te impacientes
pois tal conduz ao mal
confia no senhor e faz o bem
deixa que ele penetre o teu coração
confia-lhe o teu destino
tem esperança no caminho
assim habitarás a terra e viverás tranquilo
feliz e em paz
***
senhor estou doente
a tua mão caiu sobre mim
não me castigues mais
as tuas setas
penetraram a minha carne
feriram os meus ossos
o meu corpo está apodrecido
tenho chagas e pus
exalo um odor fétido
tudo por causa do meu pecado
que me oprime como pesado fardo
estou abatido
triste e deprimido
ardo em febre
fraco e sem sentido
numa vida de dor
o meu coração geme
os meus olhos não vêm
os ouvidos não ouvem
paralisam-se os membros
ao longe no horizonte
ouvem-se meus lamentos
afastam-se de mim
parentes e amigos
como de um leproso
todos se protegem
e alguns me atacam
sei que pequei
que o meu pecado
não é do teu agrado
mas a ti me confesso
e perdão peço
com confiança
e sem desespero
por ti clamo
não me abandones
nesta dor
vem em meu auxílio
cinge-me com teu amor
tu minha salvação
e meu senhor
***
a mim mesmo disse
vou vigiar
para não pecar
em silêncio
agravou-se a minha dor
com o coração a arder no peito
a angústia
instalou-se no meu ser
por tanto pensar na morte
peço-te senhor
dá-me a conhecer o meu fim
qual a minha sorte
ainda ontem menino
hoje velho e decadente
que sou eu para além
de um homem doente
com a morte de atalaia
a minha existência nesta vida
mais não é que um puro nada
a efemeridade
é tudo o que tenho
um sopro que se desfaz
uma sombra que se esvai
para quê acumular riqueza
fugir da pobreza
se a vida é breve
e logo em pó e cinzas acaba
ouve a minha oração
a canção que te canto
o meu triste lamento
meu pedido de perdão
em ti senhor
deposito minha esperança
liberta-me do pecado
para que possa partir
em segurança
***
com confiança invoquei o senhor
que ouviu o meu clamor
retirou-me das negras profundezas
dos pântanos de lodo
em pedra firme assentou meus pés
não deixou que tropeçasse nos meus passos
mostrou-me o seu caminho
canto-lhe um cântico novo
um hino de louvor
feliz é o homem que confia em deus
e que pela rectidão é um exemplo para os seus
ninguém se compara ao senhor
não quer sacrifícios nem oferendas
holocaustos e vítimas
o senhor é grande
abriu-me os olhos para que possa ver
os ouvidos para que possa escutar
proclamo a sua fidelidade aos que o buscam
aclamo a sua promessa de salvação
ouçam-no pois
todos os que querem ser libertados
dos pesados grilhões do mundo
do maligno e do pecado
***
o que cuida do pobre
com amor e carinho
será salvo no dia da calamidade
terá felicidade nesta terra
será guardado da adversidade
e o senhor
assisti-lo-á na doença
e no sofrimento
eu disse
senhor tem piedade de mim
repito-o noite e dia
a cada momento
senhor tem compaixão
e guardo estas palavras
na caverna mais profunda
do meu coração
peço-lhe sem pedir
que me cure
que me salve
me perdoe
apesar de ser um pecador
família e amigos
abandonaram-me
já lhes não sou úteis
sou um pesado fardo
e dizem
para que sirvo eu
acamado e acometido
de doença mortal
ergue-me deste suplício
liberta-me desta dor
vivo com sinceridade
rectidão e fidelidade
e mesmo sofrendo
com amor
por ti senhor
***
povos da terra
habitantes do mundo
escutai
vós que sois humildes
vós os poderosos
vós os que viveis na riqueza
e os que vivem na pobreza
os santos e criminosos
sábios e loucos
insensatos e cautelosos
todos terão a sua última morada
no sepulcro
os que confiam na sua riqueza
e se vangloriam da sua opulência
não conseguirão comprar a vida
nem pagar o resgate do pecado
serão como o humilde e o pobre
em campos de morte sepultados
primeiro inchados
em putrefacção
arroxeados
de vermes que
os corpos percorrem
e comem
serão em pouco tempo
ossos abandonados
cinzas e pó
tal como os animais
que jazem na terra
e por humanos
são sepultados
caminham para o túmulo
como um rebanho sem dono
com a morte por pastor
os iníquos vorazes
não terão a palavra
do consolador
a sua grande dor
começa com a morte
e na sua morada permanente
nunca verão o senhor
***
deus em compaixão de mim
pela tua santa bondade
pela tua imaculada misericórdia
apaga o meu pecado
esquece os meus erros
liberta-me das imperfeições
lava-me com a água da vida
admito as minhas culpas
e tenho sempre diante de mim
os meus pecados
contra ti pequei
contra os meus irmãos
contra mim
sou réu de morte
o mal pratiquei diante dos teus olhos
que tudo vêem
mesmo nos lugares mais recônditos
ninguém tem onde se esconder
e se alguém o faz
maior é sua culpa e pecado
assim
senhor
a tua sentença é de justiça
e o teu julgamento recto
nasci e cresci na culpa
amei a falta e o erro
deleitei-me no pecado
foram tantos os que ofendi
sem que ofendido fosse
a ti te peço
agora que de tudo me arrependo
purifica-me
lava-me
desvia o teu rosto do meu pecado
dá-me um coração puro
branco como a neve
brilhante como a lua
uno com o teu espírito
santo como a tua piedade
oferta-me deus meu
a tua salvação
a mim
que tenho o coração
contrito e arrependido
não me afastes de ti
***
glorifica-se o despótico
fustigando os que amam o senhor
a sua língua é uma espada afilada
elege o mal ao bem
e a mentira à verdade
língua pérfida
que proclama palavras
que são falsidades
deus tirar-te-á da sua montanha
da terra dos vivos
onde habitam os que lhe são tementes
e na morte viverás eternamente
***
o imprudente afirma
não há deus
corruptas e abomináveis
são as suas palavras
deploráveis as suas acções
não há quem faça o bem
deus poisou os seus olhos nos homens
não há um que o busque
com pureza de coração
perderam-se
corromperam-se
pela riqueza
e pelo poder
não há quem faça o bem
nem um deus encontrou
os ricos e poderosos
devoram o povo
espoliando-o dos seus direitos
são humanos sem fé
sem coração
sem compaixão
que se divertem
comendo o pão
dos que se não defendem
um dia
na hora da morte
com o anjo à porta
ricos e poderosos
hão de tremer
e aí
nada os poderá salvar
do que para sempre
os fará morrer
***
meu deus
salva-me
faz-me justiça
ouve a minha oração
as palavras da minha boca
os arrogantes
levantam-se contra mim
procuram tirar-me a vida
tu és o meu auxílio
meu destino e minha sorte
aquele que me acolhe no seu manto
nas suas asas brancas
que conserva a minha vida
me liberta do pranto
e da morte
***
senhor
ouve a minha súplica
estou torturado pela angústia
agitado pela ameaça do inimigo
oprimido pelos pecadores
a desgraça cai sobre mim
como presa de caçadores
sou perseguido com ódio e furor
acossado com aversão e rancor
sinto o coração no peito agrilhoado
quero respirar e não consigo
atormentam-me o terror e o tremor
o pavor da morte cai sobre mim
o medo circunda-me por todo o lado
na cidade só vejo
violência e discórdia
inveja e ódio
crime e intriga
opressão e fraude
tanto mal
tanta falsidade
corrupção
compadrio
prostituição
tanta indignidade
não há quem fale verdade
quem aja com lealdade
há ruína e maldade
ao mundo dos mortos
descem ainda vivos
com a sua crueldade
liberta-me deles senhor
digo
quem me dera ter asas
voar
abrigar-me
bem longe daqui
no deserto árido
refúgio do mal
viveria solitário
em oração constante
vigiando tua vinda
meu senhor
e meu único amigo
e se mo concederes
senhor
ainda nesta vida
que seja um contigo
que não seja
eu que vivo
mas tu em mim
***
Versão livre dos Salmos de David
***
5/2021
José Maria Alves
https://homeoesp.blogspot.com/
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