O jovem visitava todos os dias o Mestre, deleitando-se com algumas das suas raras dissertações. Mas, o que mais o impressionava era a sua abertura de espírito, e a capacidade de pôr em dúvida e questionar fosse o que fosse. Não só o fazia, como instigava todos a que o fizessem.
Habituara-se a pensar com plena autonomia, a observar o mundo e a si próprio, sem recurso a tradições, fórmulas, crenças, opiniões. Os seus livros iam sendo progressivamente destruídos, e em sua casa apenas restavam dois, de uma biblioteca que chegara a ter cerca de três milhares.
Uma noite de Inverno rigoroso, daquelas em que o frio gélido se entranha nas carnes, estando ambos sentados ao lume, disse o Sage:
- Tenho algo para ti. Algo que te pode ser precioso. Um livro que recebi do meu mestre e que antes deste foi de extrema utilidade a várias gerações. Encontrarás nele a resposta a muitas das tuas questões.
- Não necessito de livros. Tudo o que aprendi de ti, será muito mais do que esse amontoado de palavras me poderá oferecer. Assim continuarei – respondeu reverencialmente o jovem.
O Sage insistiu poisando-lhe o livro no colo. O jovem, inesperadamente lançou-o ao fogo crepitante, sendo de imediato consumido pelas chamas.
- Que loucura é que estás a fazer?
- Que loucura estás tu a dizer? – disse o jovem.
JOSÉ MARIA ALVES
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