I
Sobre aquele pinheiro aureolado
De inerte e vegetal melancolia,
Um passarinho alegre e alvoroçado,
Cantou, cantou durante todo o dia...
Estive a ouvi-lo mudo e extasiado...
Mas, por fim, perguntei-lhe: Que alegria,
Se fez em ti, ó corpo acostumado
À cruz das tuas asas de agonia?
Dize: que viste tu, no céu profundo?
Que foi que aconteceu sobre este mundo?
Grande coisa de certo adivinhaste...
Ou revelou-te a Luz o seu mistério?
E divina canção de amor etéreo,
Em procura do sol, alevantaste?
II
E a avezinha serena e confiada,
N´um olhar de ternura me envolveu;
E em sua doce voz iluminada
E tão cheia de graça, respondeu:
Meu canto é luz do sol em mim filtrada;
Vou a cantar... e canta a luz do céu.
E das aves da noite a voz cerrada,
É penumbra que n´elas se embebeu.
Sonho a perfeita e mística alegria!
Desejo ser apenas harmonia;
Canção de luz que todo o espaço inflama!
Ser a Esperança viva, a Eternidade;
Não ser a estrela e ser a claridade;
Ser apenas o Amor, não ser quem ama.
JOSÉ MARIA ALVES
http://www.homeoesp.org
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