a noite é um convite ao banquete
contemplativo
busco a noite escura de joão da cruz sem
que a invente
não consigo fugir de mim nem ir ao encontro
dos outros
as ruas desertas arrefecem numa chuva de
dedos de areia
os sonhos arrastam-se pelas casas
sonolentas provocando a madrugada dos desejos
que entram sem convocação no requiem das
estrelas silentes
na pequena moradia do beco o ar rarefaz-se
em bocejos
cor pálida e sombria da peste
a infectar a solidão do poema
e o coração sangrante da vida
*
este inverno vai longo
e o recolhimento amorosamente doloroso –
transformá-lo-ei em eternidade
*
o recolhimento é a pedra angular do
crescimento espiritual
temos de reinventar o toque do clarim
recriar a alma
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