sábado, 27 de junho de 2009
ANTÓNIO BOTTO - HISTÓRIA BREVE DE UMA BONECA DE TRAPOS
Era uma vez uma boneca
Com meio metro de altura.
Insinuante, bonita,
Mas, pobremente vestida.
Um ar triste – uma amargura
Diluída no olhar...
Grandes olhos de safira,
E um sorriso combalido
Como flor que vai murchar.
Quase a meio da vitrine
Lá daquela capelista
Essa boneca de trapos
A ninguém dava na vista!
Ninguém via o seu sorriso!
Ninguém sequer perguntava:
Quanto vale a “marafona”?
Quanto querem pela “Princesa”?...
Passaram anos. – Com eles,
Foi a minha mocidade
E cresce a minha tristeza.
- Quem é que dá p´la Boneca
Que os meus olhos descobriram
Lá naquela capelista
Quase à esquina do jardim?...
Quem dá por Ela? Ninguém.
E quantas almas assim!
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