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ARTE

sábado, 27 de junho de 2009

EUGÉNIO DE CASTRO (1869-1944) - UMA CANÇÃO INÉDITA DE S. FRANCISCO DE ASSIS


- «Por amor e caridade,
Fui dos brutinhos irmão,
De irmão dando-lhes o nome
E também o coração.

«Quantos ser´s vivos viviam
Sob a clemência dos céus,
Jumentos, sapos e piolhos,
Eram todos irmãos meus!

«Quanto mais baixo era o bicho,
Mais alto era o meu amor:
Beijei um dia uma lesma
Como quem beija uma flor!

«Quanto mais baixo era o bicho
Mais me comprazia a vê-lo:
Se era negro, via-o d´oiro,
Se era vil, achava-o belo!

«Grande amador de infelizes,
Por inspirações estranhas,
Muito mais lindas que as rolas
Achava eu as aranhas.

«E, confesso o meu pecado,
Via, com frieza acerba
O leão e a águia real,
Que são dados à soberba.

«Uma vez, vindo da esmola,
Com a alma em Jesus Cristo,
Vi uma coisa a meus pés
Como ´inda não tinha visto.

«Toda erriçada de espinhos
Essa coisa repelia
Pela sua fealdade...
Mas palpitava e sofria!

«Sofria... Bastava! Então
Curvei-me humilde; e ligeiro
Do chão ergui nestas mãos
Um pobre ouriço cacheiro.

«Agonizava o infeliz
Em tremuras dolorosas!
Beijei-o e picou-me, enchendo
a minha boca de rosas!

«Morreu o pobre em meus braços,
Triste, para mim sorrindo...
Nunca vi um ser tão feio,
Nunca tive irmão tão lindo!»


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