44. –
Os exercícios antecedentes assumem-se como preparação para o que denominamos de “Consciência Constante”. São parcelares, não encaram a realidade como um todo, apesar de em determinados momentos existir um apelo à atenção como fenómeno global e não como concentração. Têm a sua utilidade aferida pelas suas próprias limitações, mas não deixam de ser instrumentos úteis para os iniciados no trajecto que os poderá eventualmente conduzir à meditação no seu sentido mais nobre: o de “Caminho para a Realidade”.
A consciência constante é atenção, é a pura percepção do agora, que é a única coisa que realmente possuímos. É estar atento em cada instante; atenção que engloba as próprias distracções.
A atenção é uma realidade mais ampla que a concentração. Esta incide sobre um objecto, um pensamento, enquanto que aquela incide sobre tudo que em determinado momento nos envolve e ainda sobre a actividade da nossa mente.
A atenção global é uma forma de meditação – porventura a única que não nos divorcia integral ou parcialmente da realidade –, desde que a consciência do que vemos, escutamos, sentimos, cheiramos e saboreamos não esteja contaminado por impressões, sensações e pensamentos guardados em memória.
Olho para o pinheiro do meu jardim. Limito-me a pensar: é o meu pinheiro. E já não o vejo, como aliás talvez nunca tenha visto.
Vejo a fraca lembrança que dele tenho. Contento-me com o rótulo.
No entanto, é sempre novo, a cada dia e instante. Em todo o planeta inexistem duas árvores semelhantes, mesmo que da mesma espécie. O facto de estarem vivas, num enérgico turbilhão de partículas atómicas, faz com que sejam totalmente diferentes. São os nossos olhos e depois o nosso cérebro, que definindo-as, matam o espírito, que de sublime se transforma em algo de mesquinho e estreito.
Uma mente renovada vê o pinheiro todos os dias como se fosse a primeira vez.
Por isso, por saber morrer para o passado, está viva e não morreu antes de ter morrido, já que morta está a que vive de rótulos, recordações ou memórias.
A consciência constante é o corolário de alguns dos exercícios já enunciados.
Em rigor não pode ser considerada como um exercício, mesmo que completo, antes um estado de espírito de natureza permanente.
É a tomada de consciência do que vemos, escutamos, sentimos, cheiramos e saboreamos.
Vamos estar conscientes do que se passa em nós e à nossa volta.
Ver o teatro da vida como verdadeiros espectadores. Assistir ao jogo que é a existência, na qualidade de testemunhas.
Estar atentos em cada instante sem nos evadirmos da realidade que nos dá tudo aquilo de que necessitamos, sendo certo que o intelecto é o seu grande assassino.
Vamos tornar-nos vigilantes, recebendo atentamente tudo o que a vida nos traz: a alegria e a dor, a fortuna e a miséria, o amor e ódio, o desespero e a paz.
Com um olhar neutro, o da testemunha que vivencia o que no seu interior se manifesta e ainda o que a envolve, e a mente fresca, vamos ver as coisas que agora passam a ter uma novo significado espontâneo: um olhar, um gesto, um aperto de mão, a mímica donde intuímos sentimentos, as verdades ocultas.
Estamos conscientes do céu azul, das nuvens, daquela árvore que contorcida se ergue, do rochedo que parece fender-se, do musgo, das flores silvestres da orla do bosque, da montanha e dos vales verdes, do rio, do regato, do cachorro ou gatito que brinca na soleira da porta, desse magnífico pôr-do-sol.
Somos conscientes de nós próprios, da cólera, dos desejos e medos, de todos os nossos actos por mais insignificantes que pareçam, dos sentimentos, dos estados de alma, do cheiro e do sabor das coisas, até da respiração, perscrutando em profundidade o nosso interior.
Conscientes dos homens, das suas palavras e obras.
Esta atenção acabará por nos conduzir ao silêncio, à sabedoria, à paz e à beleza.
JOSÉ MARIA ALVES
www.homeoesp.org
Os exercícios antecedentes assumem-se como preparação para o que denominamos de “Consciência Constante”. São parcelares, não encaram a realidade como um todo, apesar de em determinados momentos existir um apelo à atenção como fenómeno global e não como concentração. Têm a sua utilidade aferida pelas suas próprias limitações, mas não deixam de ser instrumentos úteis para os iniciados no trajecto que os poderá eventualmente conduzir à meditação no seu sentido mais nobre: o de “Caminho para a Realidade”.
A consciência constante é atenção, é a pura percepção do agora, que é a única coisa que realmente possuímos. É estar atento em cada instante; atenção que engloba as próprias distracções.
A atenção é uma realidade mais ampla que a concentração. Esta incide sobre um objecto, um pensamento, enquanto que aquela incide sobre tudo que em determinado momento nos envolve e ainda sobre a actividade da nossa mente.
A atenção global é uma forma de meditação – porventura a única que não nos divorcia integral ou parcialmente da realidade –, desde que a consciência do que vemos, escutamos, sentimos, cheiramos e saboreamos não esteja contaminado por impressões, sensações e pensamentos guardados em memória.
Olho para o pinheiro do meu jardim. Limito-me a pensar: é o meu pinheiro. E já não o vejo, como aliás talvez nunca tenha visto.
Vejo a fraca lembrança que dele tenho. Contento-me com o rótulo.
No entanto, é sempre novo, a cada dia e instante. Em todo o planeta inexistem duas árvores semelhantes, mesmo que da mesma espécie. O facto de estarem vivas, num enérgico turbilhão de partículas atómicas, faz com que sejam totalmente diferentes. São os nossos olhos e depois o nosso cérebro, que definindo-as, matam o espírito, que de sublime se transforma em algo de mesquinho e estreito.
Uma mente renovada vê o pinheiro todos os dias como se fosse a primeira vez.
Por isso, por saber morrer para o passado, está viva e não morreu antes de ter morrido, já que morta está a que vive de rótulos, recordações ou memórias.
A consciência constante é o corolário de alguns dos exercícios já enunciados.
Em rigor não pode ser considerada como um exercício, mesmo que completo, antes um estado de espírito de natureza permanente.
É a tomada de consciência do que vemos, escutamos, sentimos, cheiramos e saboreamos.
Vamos estar conscientes do que se passa em nós e à nossa volta.
Ver o teatro da vida como verdadeiros espectadores. Assistir ao jogo que é a existência, na qualidade de testemunhas.
Estar atentos em cada instante sem nos evadirmos da realidade que nos dá tudo aquilo de que necessitamos, sendo certo que o intelecto é o seu grande assassino.
Vamos tornar-nos vigilantes, recebendo atentamente tudo o que a vida nos traz: a alegria e a dor, a fortuna e a miséria, o amor e ódio, o desespero e a paz.
Com um olhar neutro, o da testemunha que vivencia o que no seu interior se manifesta e ainda o que a envolve, e a mente fresca, vamos ver as coisas que agora passam a ter uma novo significado espontâneo: um olhar, um gesto, um aperto de mão, a mímica donde intuímos sentimentos, as verdades ocultas.
Estamos conscientes do céu azul, das nuvens, daquela árvore que contorcida se ergue, do rochedo que parece fender-se, do musgo, das flores silvestres da orla do bosque, da montanha e dos vales verdes, do rio, do regato, do cachorro ou gatito que brinca na soleira da porta, desse magnífico pôr-do-sol.
Somos conscientes de nós próprios, da cólera, dos desejos e medos, de todos os nossos actos por mais insignificantes que pareçam, dos sentimentos, dos estados de alma, do cheiro e do sabor das coisas, até da respiração, perscrutando em profundidade o nosso interior.
Conscientes dos homens, das suas palavras e obras.
Esta atenção acabará por nos conduzir ao silêncio, à sabedoria, à paz e à beleza.
JOSÉ MARIA ALVES
www.homeoesp.org
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