dias de ignorância
a insipiência é mensurável pelo pesadume da experiência
traquejo do sofrimento
negação de calendário com perfis nus
lá fora o sol incinera a sarça
cá dentro a alma em queimação
quem sou eu?
haverá um falso eu
haverá um eu verdadeiro
pássaro ferido arrojado aos pés de camélias brancas
espírito alado varado pela dúvida
ânimo acorrentado prisioneiro do destino
beatitude da mais pujante soledade
levante de noite escura
quem sou eu?
o mês das giestas já poisou nas mãos mortas da indigência quotidiana
as urgueiras brotam desejos
os pinheirais estão mudos
os relvões do cume fanados
corpo consciência intelecto
quando vigio quando no sono sonho
e quando durmo profundamente na morte do entendimento
o que é que tem subsistência?
sou este corpo mundo de órgãos e morada de biliões de seres que o habitam servem matam e são mortos
sou o que como o que desenfezo o que defeco o sémen que derramo nas horas de luxúria
suor de tardes violentas
calafrio de intempéries ancestrais
sincelo que na carne se entranha e os ossos rói
corpo que dói
quem sou eu?
a percepção da realidade e do sonho a brotarem dum corpo que se abastarda dia-a-dia
o percebimento da orbe pelos sentidos
sonhei ser borboleta ou sou agora uma mariposa que sonha ser um homem?
quem sou eu?
o ego os pensamentos aí engendrados no sonho do sono e na insonolência
esse misérrimo eu criador de todas as iniquidades
serei corpo consciência intelecto
dormirei profundamente e saberei que não
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