condenado à morte por crime de amor
nas mãos ainda o sangue coalhado e as marcas do velho punhal
naquela tarde de outono a imagem no fúnebre pinhal
tinha pousado entre grades seu olhar alucinado
dia após dia ano após ano
o vento em mangas de camisa murmurava obscenidades
o azul do céu desencanto angústia dor
doce pensamento era agora o seu
a amada
que deus lhe deu
que deus lhe tirou
a ele que matou
bem que era seu
e deus sabia que ele o faria
sempre o soube desde o princípio dos tempos
se não soubesse não seria deus
olhou para dentro de si negrura lamentos
então para que lha deu
a ele que agora gemia
mais por a ter perdido
que da morte o medo
as folhas também morrem e nos túmulos abertos repousam almas penadas
as árvores essas tombam-nas com o machado
e aos ribeiros cortam-lhes o leito por maldade
seu destino o inferno
na aldeia nessa noite haveria estrelas no charco trutas em descanso espectros de gente mau-olhado cavacas ao lume mais um doente desenganado
noite de insónia
seria amanhã
ao nascer do dia
a corda a resplender
não há amanhã pensou o condenado
e quando o padre o foi buscar para ser enforcado
rezando em latim
ouviu ao pobre homem silencioso e toldado
matei o que mais amava
não tenho mulher nem mãe
matem-me pois a mim
que em vida morri também
Sem comentários:
Enviar um comentário