a brevidade da vida estampada nos ponteiros do relógio
o sentimento lúgubre da aproximação da morte nos passos do coveiro
cedros que se achegam ao olhar turvo da idade
um diário a arruinar-se na noite profunda
um diário é como a filosofia
subsiste porque a morte existe
perdurará cavalgando-a
subsistirá nela não na morte iminente
a que irrompe num lampejo na sequência dos dias sobranceados pelo enfado
mas a que nasce do apelo inaudível do vazio existencial
um diário em fragmentos é um verdadeiro aborrecimento que ninguém se dá ao transtorno de ler
gazeta de promiscuidade intelectual
questão de pouca monta
poema de circunstância dito em conjuntura garrida e domingueira
simbolismo realismo surrealismo promessas por decifrar
sentido aparente palavras improfícuas masturbações (para não dizer punhetas)
mentais
cuas africanas atoladas na selva impermeável
clamores obstinados de régulos apeados
algo que pouco importa ao amontoado impiedoso da ralé
populacho entorpecido pela propaganda de canapés ortopédicos
abdico de o escrever como delineado
que nele fiquem as estilhas apenas as lascas
os estilhaços pertencem-nos rasgam-nos a carne integram a nossa interioridade mais profunda sangram-nos as emoções
mergulham no abismo da alma decrépita
ferrugem obsoleta dos dias
não são passíveis de censura
somos nós os delinquentes e os julgadores dos delitos da vida
sem que nada haja para julgar censurar ou expurgar
são tão-somente o que são e o que é nada mais é para além do seu ser
da sua íntima essência
apenas ápices como um ornato
que se usa em dia de gozo de romagem
diário da hipocrisia circunscrito ao poema
amálgama intrincada de letras
seja esse o nosso lema
nosso desgostoso emblema
má prosa pior poesia
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