continuo sem dormir no marulho das ondas contra a praia o mar soçobra como um afogado asfixia-se
é urgente construir uma nova alma como quem obra sólida barca para atravessar o abismo
esta não me apraz nela nada pode morar para além das imprestáveis velharias acumuladas pela miserável angústia dos espaços nebulosos
xavecos dum ontem apagado à percussão do badalejo das cava-terras velhas à soalheira
enegrecidas são suas paredes lamacenta na profundidade condicionante e inquinada à superfície
de madrugada ascende-se à serra
na noite escura o pedreiro tomando em si desmedida paciência
com mãos sedentas irá armar pedra a pedra até que o multíplice seja uno
vazio de porta aberta ao porvir e à sua querença
sem escolha sem desejo por onde tudo passa sem criar raízes
como espelho vário de tudo e nada
como espelho cintilante e astuto
lúcido corajoso solitário
apenas uma alma desapossada das mil e uma formas pode adquirir o absoluto
por ora
dele não digo sim nem não nada assevero ou refuto não me atenho à aparência não
tenho apenas por companheiro
o fiel silêncio
e um dedo
aventando o caminho
sem realidade e existência
bem-aventurado o que não observa o dedo
e se queda no mutismo
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